Na Melodia do Amor escrita por J R Mamede


Capítulo 20
Capítulo XX




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Algumas semanas após o Show de Talentos, os preparativos para o baile de formatura estavam a todo vapor.

Os corredores de Sweet Amoris começavam a ser decorados para o tão grande evento. Os alunos se desempenhavam ao máximo para que tudo ocorresse bem, esforçando-se muito além do que se dedicavam em sala de aula.

Na noite do baile, Rosalya havia passado em minha casa para entregar o vestido que Alexy e ela fizeram para mim.

O tecido azul celeste era macio, caindo muito bem no corpo. O vestido era longo, não permitindo que meus pés ficassem à mostra. O tom claro e o corte delicado lembravam-me do vestido de Elizabeth Bennet no filme “Orgulho e Preconceito”, quando ela finalmente tem sua primeira dança com o Sr. Darcy.

Eu, nesta noite, não dançaria com o meu Sr. Darcy. Porém, iria acompanhada de um cavalheiro tão sensível e delicado quanto à personagem de Jane Austen. Aliás, Lysandre era o Sr. Darcy em questões de personalidade, porém, em relação aos meus sentimentos, ele era um Sr. Darcy substituto.

O meu elegante companheiro chegara a minha residência no horário marcado, trajando um lindo smoking a seu modo vitoriano.

– Você está belíssima, Chiara. – disse-me ele quando eu abri a porta para recepcioná-lo.

Como de costume, Lysandre fez seus gestos galanteadores e pegou minha mão para beijá-la.

Meu pai e meus tios apareceram logo depois, querendo tirar uma fotografia de nós.

– Você está tão linda, Jujuba. – disse meu pai emocionado. – Está tão parecida com a sua mãe.

– Ela está linda mesmo. – começou a chorar meu tio Jack.

– Pare de ser menininha, Jack. – repreendeu tio Bill. – Pare de chorar. Santo Deus!

– Eu não consigo. – afirmava tio Jack, abanando seu rosto com as mãos, fazendo meu tio Bill revirar os olhos e bater a mão em sua própria face.

A fotografia fora tirada, fazendo-me pensar que, futuramente, olharia para meu álbum de recordações e lembraria que não havia ido ao meu baile de formatura com Castiel. Para piorar, recordaria que o rapaz por quem me apaixonara, havia ido à festa com a garota mais chata e arrogante do colégio.

Estes pensamentos se dispersaram quando Lysandre pediu-me para acompanhá-lo.

Despedi-me de meus homens queridos e acompanhei o rapaz até seu carro.

Lysandre abrira a porta do automóvel para eu entrar. Olhei para a janela, a fim de acenar para os três sujeitos que nos espreitavam na varanda de minha casa.

– Podemos ir? – perguntou o jovem motorista.

– Podemos. – concordei com um singelo sorriso nos lábios.

***

A música de uma banda contratada envolvia o ambiente escolar. Alunos divertiam-se e dançavam no salão, felizes com a chegada de um futuro incerto.

Alguns, nitidamente, estavam embriagados. Logicamente, a escola não permitia o consumo de bebidas alcoólicas, mas os jovens dão suas peripécias quando o assunto diz respeito ao seu divertimento extravagante.

– Ei, Chiara! – escutei um rapaz acompanhado de duas garotas me chamar.

Sua figura não me era estranha, dando-me a sensação de conhecê-lo há muito tempo.

– Não vai cumprimentar seu velho amigo? – perguntou ele.

Seus olhos verdes, seu cabelo castanho e seu sorriso meio tímido me fizeram reconhecer o sujeito: era o meu amigo Ken.

– Ken? – falei aturdida.

Kentin, por favor. – corrigiu-me meu amigo. – Agora prefiro ser chamado de Kentin.

Não acreditava na mudança radical que ocorrera com Ken... Quero dizer, Kentin. Ele havia crescido um pouco mais, estava mais forte, possuía um penteado da moda e não usava mais seus enormes óculos.

Havia sido um espanto vê-lo tão transformado!

Até suas atitudes estavam bem mais confiantes, embora um tanto audaciosas.

Kentin contara-me como fora passar tanto tempo em um colégio militar. Decidira juntar-se a sua velha turma da Sweet Amoris no baile de formatura, pois, apesar do pouco tempo que passara no colégio, foram os melhores momentos de sua vida. Nossa conversa fora interrompida, pois suas duas amigas estavam impacientes para terem mais atenção.

Despedimo-nos, então Lysandre e eu pudemos andar um pouco mais pelo salão.

– Olá, vocês! – Rosalya saudou-nos aos gritos, visto que a música estava muito alta.

Minha amiga estava linda naquela noite. Trajava um longo e elegante vestido roxo, acentuando bem as suas curvas. Ela estava acompanhada de seu namorado, Leigh, o qual cumprimentou a mim e a seu irmão com sua sincera educação.

– Chiara, você está um arraso, menina! – gritou a garota.

– Obrigada! – agradeci no mesmo tom de voz. – Você está linda, Rosalya!

Minha amiga e seu namorado pediram licença para dançar, fazendo Lysandre me convidar a fazer o mesmo.

O rapaz teve que fazer o pedido duas vezes, pois comecei a me distrair, procurando um certo ruivo acompanhado de uma loura estúpida.

Não havia, até o momento, encontrado Castiel na festa. Começara a pensar que ele desistira de ir, preferindo ficar em casa a ir ao baile com a Ambre. Recordei da conversa dos dois no Show de Talentos, em que Ambre acusava Castiel de não “cumprir com a sua palavra”, deixando o ruivo bem ofendido.

Eu ainda persistira na ideia de descobrir o que acontecia entre aqueles dois, pois, de fato, Ambre só conseguiu que Castiel a convidasse ao baile por alguma armação sua.

Estas reflexões foram interrompidas ao perceber que o tal casal havia chegado ao salão: Ambre, de fato, estava deslumbrante em seu vestido dourado, feliz e triunfante; enquanto Castiel, apesar de estar lindo em seu smoking e seu cabelo preso em um pequeno rabo de cavalo, demonstrava apatia e desgosto.

Ambre arrastava Castiel para o centro do salão como se ele fosse um cachorrinho. O rapaz bufava e revirava os olhos, com nenhuma vontade de dançar com a garota.

Ao me ver, Castiel me lançou um sorriso triste e fitava-me de cima a baixo. Pude ver que ele estava encantado com a minha aparência e confirmou quando consegui ler em seus lábios: “Você está linda”.

Ambre percebera que seu acompanhante olhava para mim, então lhe agarrou pelo pescoço, ficando mais perto de Castiel. A loura lançou-me um olhar de vitória e um sorriso malicioso.

A música eletrizante tocava na festa, fazendo todos dançarem energicamente no salão. Pouco depois, a música fora substituída por uma mais lenta, obrigando os casais a se aproximarem.

Lysandre pegara em minha cintura e eu enlacei meus braços em seu pescoço, deixando minha cabeça apoiada sobre seu ombro, enquanto ele apoiava a sua cabeça na minha.

– Eu sinto muito. – sussurrou-me ele.

Levantei o rosto e pude ver seus olhos tristes.

Eu percebera o quanto estava sendo egoísta, estragando aquela noite de meu companheiro com minhas frustrações e com os meus ciúmes.

– Não. – falei. - Eu quem sinto muito, Lysandre. Estou estragando a sua noite, não é?

– Você não tem que pedir desculpas por nada, Chiara. – assegurou-me o rapaz. – Você está alegrando a minha noite, de verdade. Eu sinto muito por você não estar aqui, neste exato momento, com Castiel. Sei que era isso que os dois queriam.

Não tinha como enganar Lysandre, pois ele possuía uma alma sensível. Ele tinha uma percepção de mundo que pouquíssimas pessoas tinham. Conseguia enxergar a alma de cada um de uma forma maravilhosa, sabendo o que realmente se passava no interior de cada um.

– Castiel é um homem honrado, Chiara. – continuou Lysandre. – É um homem que cumpre com seus deveres, não importa o que seja: se ele prometeu, ele cumpre.

Começava a perceber que Lysandre sabia algo sobre Castiel ter convidado Ambre ao baile. O jovem estava pensativo, brigando com suas reflexões.

– Eu também mantenho a minha palavra. – falou mais para si mesmo do que para mim. – Mas há momentos que devemos ser racionais.

– Do que você está falando, Lysandre? – perguntei curiosa.

O rapaz olhou-me com ternura, acariciando meu rosto.

– Eu gosto de você, Chiara. – disparou. – Mas sei que este amor é impossível, visto que seu coração já pertence a outro. – suspirou, então continuou. – O amor não deve ser egoísta. Não posso permitir que a infelicidade de minha amada e de meu melhor amigo seja efetivada se eu tenho a possibilidade de inverter isso.

– Lysandre...

– Por favor - interrompeu-me. – Deixe-me continuar, bela Chiara. – começou a pensar, medindo bem suas palavras. – Eu prometi a Castiel não lhe contar, mas sinto que devo. Meu amigo só está aqui com a Ambre porque esta queria planejar algo contra você no Show de Talentos. Castiel escutara quando ela e suas amigas planejavam jogar um balde de tinta sobre você, Chiara, quando se apresentasse no evento.

Fiquei boquiaberta e indignada com o mau-caratismo de Ambre. Eu sabia que ela era mimada e cruel, só que nunca se espera que uma pessoa vá tão longe para ver outra ser constrangida e humilhada, sem se importar com as consequências.

– Elas colocariam o balde amarrado a uma corda sobre os suportes do palco, - continuou. – assim, quando você subisse, elas simplesmente puxariam a corda para a tinta caiar. – Lysandre balançou a cabeça negativamente. – Não sei o que faz uma pessoa ter ideias tão diabólicas quanto esta.

– Nem eu. – concordei com indignação.

– Castiel ouvira tudo, – prosseguiu Lysandre. – não permitiria que Ambre agisse de tal forma. Porém, para ter certeza de que tal crueldade não fosse feita, aceitou a proposta da garota...

– Ir ao baile com ela. – finalizei.

– Exatamente. – concordou Lysandre com ar cansado.

Respirei fundo, assimilando toda aquela história horrorosa. Ambre era uma garota extremamente estúpida, cruel, mau caráter e sem escrúpulos. Se era amor aquilo que ela dizia sentir por Castiel, ela devia rever seus conceitos sobre tal sentimento.

Como Lysandre havia dito, amor não é egoísta. Não é ter posse da pessoa ou manipulá-la de forma que ela fique ao seu lado. Amor não é desrespeitar e nem agredir.

Amor é querer a felicidade da pessoa amada.

Era isso que Lysandre sentia por mim e eu sabia que ele apenas queria me ver feliz, não importava com quem.

Lysandre sabia amar.

Ambre precisava aprender.

Olhei para Castiel, meu coração começou a disparar.

Castiel me amava também, pois só o amor verdadeiro é capaz de agir como ele agiu. Ele se submeteu a ir ao baile com Ambre só para me proteger.

Senti meus olhos umedecerem de emoção.

Se restavam dúvidas que Castiel me amava, naquele momento todas elas haviam sumido.

– Vá lá. – apontou Lysandre com a cabeça em direção ao casal. – Vá buscar sua felicidade, bela Chiara. – sorriu e concluiu: - Assim eu também serei feliz.

Agradeci com um beijo em sua bochecha e fui até Castiel.

Ambre agarrava-se ao pescoço do ruivo, forçando-o a dançar a música lenta que tocava.

Puxei Castiel para minha frente, escutando Ambre exclamar um “Ei!”.

O rapaz estava confuso, enquanto eu ria de uma alegria que há muito tempo não sentia.

Sem pensar, puxei-o para perto de mim até nossos lábios se encostarem.

Senti as mãos de Castiel sobre a minha cintura, enquanto as minhas se apoiavam em seu rosto macio.

O beijo foi intenso, romântico, delicado, extasiante e maravilhoso. Beijávamos com fervor. Ambos esperávamos por este momento tão sublime.

Seu gosto era de menta com tabaco: o melhor gosto que já provara em toda a minha vida.

Quando nossos rostos se separaram, estávamos ambos sorrindo e com os olhos brilhando de prazer.

– Solte o meu acompanhante! – vociferava Ambre.

– Eu já sei de tudo, Castiel. – falei, sem me importar com Ambre e com o resto da turma a nos observar. – Lysandre me contou.

– Aquele fofoqueiro. – brincou o ruivo.

– Esperem ai! – Ambre se colocou em minha frente para encarar Castiel. – Você me fez uma promessa, Castiel! Você vai mostrar que não é um homem de palavra?

Castiel concordou com a cabeça, sendo vencido pela loura.

– Ela tem razão, Chiara. – disse. – Eu prometi e cumpro com minhas promessas.

– Eu sei. – falei orgulhosa. – Não vou pedir para que a deixe. Cumpra com a sua palavra.

Pisquei o olho esquerdo para ele, fazendo-o rir. Virei às costas para os dois, deixando-os continuarem com a dança.

Aproximei-me de Lysandre, o qual me encarava com carinho. Pedi-lhe desculpas por tudo, mas ele garantiu que eu não tinha que pedir desculpas nenhuma. Ele não se arrependia do que havia feito e sentia-se honrado por ajudar um novo casal a se formar.

Por mais que ele gostasse de mim, ele queria me ver bem, mesmo que isso significasse que nós dois nunca teríamos nada, exceto uma linda amizade.

– Desculpe ter estragado a sua noite. – falei envergonhada.

– Você não estragou nada, Chiara. – afirmou Lysandre. – Só me deu o privilégio de desfrutar de sua presença.

Pegou a minha mão e a beijou.

Falei para ele que achava melhor encerrarmos nossa noite por ali. Lysandre concordou e se dispôs a levar-me para casa.

Estávamos a caminho da porta de saída, quando escuto uma voz conhecida falar no microfone:

– Ei, Chiara!

Olho para a direção do palco e me deparo com a figura esguia do lindo ruivo segurando a guitarra azul do músico da banda. Castiel estava sem o smoking, apenas de camiseta branca com as mangas dobradas e o colete que ia por cima. Pensei o quanto ele estava sexy daquele jeito, fazendo-me rir de meus pensamentos pecaminosos.

– Já que o meu amigo Lysandre, o cara mais honrado e confiável deste mundo não cumpriu com a sua palavra, - falou Castiel. – então, só desta vez, eu também não irei cumprir com a minha.

Ele começou a tocar a guitarra e os outros músicos da banda contratada para o baile o seguiram.

– Esta é a nossa música, Chiara. – concluiu Castiel.

Começo a chorar quando reconheço a melodia, lembrando-me daquela tarde estranha e surpreendentemente maravilhosa que Castiel passara em casa. Naquele momento nos conhecemos um pouco melhor e pude parar com meus preconceitos em relação ao rapaz.

Castiel começou a tocar a nossa música, fazendo-me me aproximar mais do palco para deslumbrá-lo.

"There's nothing you can do that can't be done

Nothing you can sing that can't be sung

Nothing you can say but you can learn how to play the game

It's easy

All you need is love

All you need is love

All you need is love, love

Love is all you need"



Ambre, esta hora, já havia saído raivosa do salão, acompanhada de suas duas fiéis amigas.

Lysandre também havia ido embora, porém, ao contrário da loura, estava satisfeito com a sua participação.

Eu e todos os alunos presentes começamos a aplaudir.

Castiel desce do palco para vir até mim. A banda começa a tocar mais uma vez uma linda música romântica, fazendo o rapaz envolver-me em seu corpo e começarmos a dançar.

– Nunca mais vou te soltar, Jujuba. – zombou Castiel.

– E eu nunca mais vou deixar você fugir de mim.

Beijamo-nos com carinho e encosto minha cabeça em seu peito.

Estávamos unidos e não nos soltaríamos tão cedo.


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