Na Melodia do Amor escrita por J R Mamede


Capítulo 17
Capítulo XVII




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Eu estava entre o sono e o despertar. Escutava cochichos ao meu redor, mas não queria abrir os olhos para verificar o que acontecia.

Na verdade, estava com tanto sono, que nem sei se os cochichos eram do mundo real ou do mundo dos sonhos.

– Ela quem escreveu? – escutei uma voz, muito parecida a de tio Bill.

– Provavelmente. – respondeu outra voz, a qual se assemelhava a de meu pai.

– Temos outra compositora na família, hein, Bruce. – comentara a voz que parecia de tio Jack.

Aos poucos, a coragem foi surgindo e os meus olhos foram abrindo tranquilamente.

Ainda sonolenta, senti uma forte dor no pescoço e nas costas. Meus braços estavam formigando e minha cabeça latejando.

Endireitei meu corpo e pude ver que havia dormido debruçada sobre o piano.

Olhei para o lado e encontrei as figuras costumeiras de meu cotidiano: papai, tio Bill e tio Jack.

– Você quem escreveu isto daqui, Jujuba? - perguntou meu pai, levantando no ar um bloquinho de notas.

Fitei o objeto com curiosidade, recordando da madrugada que passara escrevendo minha primeira canção.

– Sim. – falei sobre um bocejo e espreguiçando-me, tentado aliviar as dores no corpo.

– Ficou muito bom. – disse meu pai olhando para o bloco com admiração. – Muito bom mesmo.

– Essa garota é muito talentosa, Bruce. – engrandeceu-me tio Bill.

– Já pode vir trabalha conosco, Jujuba. – afirmou tio Jack. – Fica no lugar do seu pai, que já não tem muitas ideias boas.

Enquanto tio Jack ria de seu próprio comentário, meu pai se defendeu batendo com o bloquinho de notas na cabeça de seu amigo.

– E que hora são? – perguntei, ainda com sono.

– Ah! – exclamou meu pai. – Você só chegará vinte minutos atrasada para a aula.

Arregalei os olhos e corri para as escadas, indo direto para o meu quarto para me arrumar.

Meu Deus! Vinte minutos atrasada?

Só desejava que a professora da primeira aula não me humilhasse com seus comentários maldosos na frente da sala inteira.

***

Na escola, eu evitara o quanto eu podia a figura esguia do ruivo. Não queria vê-lo por um bom tempo.

Nas aulas, eu sentava-me o mais distante possível de Castiel, o que garantia a Ambre a sua oportunidade de ficar mais perto de seu acompanhante do baile.

Deixei de ir ao meu local favorito para fazer minhas leituras, porquanto, Castiel sempre estava ali por perto fumando seus terríveis cigarros.

Comecei a passar os intervalos acompanhada mais de meus amigos, evitando ficar sozinha e me remoendo de angústia.

Também procurava esperar o ruivo ir ao seu armário primeiro para, só depois, eu utilizar o meu.

Como era detestável, naquele momento, ter o armário perto do de Castiel.

Uma única vez, após a apunhalada que ele me dera, dizendo-me que iria ao baile com a irmã mimada de Nathaniel, nos encontramos em nossos armários.

Peguei as minhas coisas o mais rápido possível, evitando contato visual com ele.

Ao me retirar, senti seus dedos em meu braço, impedindo-me de dar mais algum passo.

– Solte-me. – ordenei, cravando-lhe um olhar severo.

– Chiara... – balbuciou Castiel. – Precisamos conversar...

– Conversar sobre o que, Castiel? - simulei desinteresse.

– Você sabe. – alegou ele. – Você anda me evitando ultimamente, e eu sei que é por conta do baile... De eu ter convidado...

– A Ambre. – terminei a frase que ele tinha dificuldades de concluir.

– Isso. – afirmou constrangido. – Eu não quero que você fique magoada comigo...

– Não se preocupe, Castiel. – interrompi-o. – Está tudo bem.

Era óbvio que não estava tudo bem, mas eu queria mostrar que estava firme e forte, que nada me abalava. Além disso, mostrar para Castiel que eu estava triste com aquela história toda, só engrandeceria o ego do ruivo, pois, desta forma, ele suporia que eu sentia algo a mais por ele.

Por mais que eu tentasse negar, eu estava apaixonada por Castiel.

Por mais que tentasse, essa paixão persistia em habitar o meu coração.

– Não parece que está tudo bem, Chiara. – disse ele, por fim. – Você me evita porque ficou chateada comigo. Eu só quero que você saiba que, se eu pudesse, se eu tivesse escolha, - falava com firmeza, segurando meus ombros com determinação e observando-me profundamente nos olhos. – eu iria a esse baile com você. Aliás, eu só quero ir a esse maldito baile com você! Mas não posso... – murmurou, tirando suas mãos de mim. – Há coisas que devem ser evitadas, enquanto outras acontecem...

Fiquei estática, não compreendendo o que Castiel dizia. Não fazia sentindo ele ir à festa com a Ambre, quando, na verdade, ele queria ir comigo.

Por mais feliz que esta notícia havia sido, ao mesmo tempo ela era a mais deprimente.

Eu sonhava ir ao baile com Castiel, vê-lo de smoking só para mim, dançando as músicas cafonas juntinhos.

Isso nunca iria acontecer, visto que a loura arrogante havia conseguido, de alguma forma, que Castiel fosse ao baile com ela.

Ele mirava o chão com seu semblante depressivo.

Segurei seu queixo, obrigando-o a encarar-me nos olhos.

Apesar de não saber bem o que estava acontecendo entre Castiel e Ambre, aquela conversa fez desaparecer a raiva e a mágoa que eu sentia do ruivo.

Sorri para ele, o qual me retribuiu com o seu meio sorriso galanteador.

Aproximei-me dele e lhe dei um beijo na bochecha. O beijo foi uma mistura de carinho e fervor.

Ele segurou sua bocheche recém-beijada com uma expressão boba em seu rosto.

– Tenta se divertir no baile. – desejei e, desta vez, foi de forma sincera.

– Não vou conseguir. – falou Castiel. – Não será do mesmo jeito sem você ao meu lado.

– Eu sempre vou estar ao seu lado, Castiel. – pisquei o olho esquerdo, fazendo-o rir.

– E eu ao seu. – garantiu-me ele. – Mesmo longe, eu estarei perto de você, Chiara.

O sinal bateu.

Quando virei meu corpo para sair, escutei Castiel dizer em um sussurro quase inaudível:

– Eu te amo.

Fui para a sala de aula primeiro, deixando Castiel a sós em seu armário. Apesar de ter escutado, não virei para trás e nem disse que o amava também, pois achei que só dificultaria ainda mais a situação, tanto para mim, quanto para ele.

Não posso confirmar que tudo estava resolvido entre nós, porque não estava.

Mas foi como se um elefante houvesse saído de minhas costas, libertando-me de seu peso infernal e fazendo-me endireitar meu corpo para poder caminhar de forma ereta para a vida.

***

Tocava em meu piano a minha composição. Cantava, tentando arrumar as notas que não ficaram muito relevantes.

Percebi que meu pai descia as escadas e parara em um patamar para ficar me observando. Fiz-lhe uma careta como sinal de reprovação por ele estar me espionando.

– Qual é, Jujuba! – exclamou. – Deixe-me escutar a sua música, vai?

– Não quero que você crie falsas expectativas. – brinquei.

Meu pai começou a insistir e a me perturbar, então tive que lhe mostra o meu produto.

Eu ficava meio envergonhada, já que meu pai e meus tios eram compositores excelentes, enquanto eu era uma iniciante com uma letra medíocre.

Toquei as notas que eu havia criado, acompanhando a partitura que havia escrito. A letra da canção já grudara em minha mente sem nenhuma dificuldade.

– Essa música você escreveu para a sua mãe, não foi? – perguntou meu pai, com uma expressão melancólica.

– Sim. – respondi. – Sonhei com ela noite passada, pai.

– É mesmo? – falou meu pai com um sorriso triste. – E como foi?

– Meio estranho... – afirmei. – Eu não a reconheci de início... Isso me deixou angustiada. – olhei meu pai e ele me encarava com carinho. – Tenho medo de esquecê-la, pai. As suas lembranças estão sumindo em minha mente.

– Não vou permitir que isso aconteça, Jujuba. – abraçou-me. – Eu prometo.

Ambos não conseguimos conter as lágrimas. Falar de mamãe sempre era algo doloroso tanto para mim, quanto para papai. Ele, provavelmente, sofria bem mais do que eu, pois perdera sua amiga, parceira e amor de sua vida.

Meu pai já tentou ter outros relacionamentos, mas nunca deram certo por parte dele. Acho que nenhuma das candidatas eram tão boas quanto a minha mãe.

Nossas recordações tristes foram interrompidas pelo barulho da campainha.

– Deixa que eu atendo. – assegurou meu pai, enxugando suas lágrimas.

Escutei uma voz mansa e bem familiar conversando com o meu pai, o qual pediu para a visita entrar em nossa casa.

Eu continuava no piano, tocando apenas a melodia de minha música. Quase nem percebi quando a pessoa que estava na porta se encontrava ali a me observar.

– Então você é o famoso Lysandre? – perguntou meu pai.

Imediatamente, meus dedos pararam de sintonizarem com as teclas, interrompendo as notas de forma brusca.

– Lysandre? – espantei-me ao vê-lo ali materializado em minha casa.

– Sou eu mesmo. – respondeu o heterocromático de forma brincalhona, tanto para mim, quanto para o meu pai.

– Prazer em conhecê-lo. – cumprimentou-o o meu pai. – Compositores são bem-vindos em minha casa.

– Obrigado. – agradeceu Lysandre e, dirigindo-se a mim, falou: - Como você me convidara para vir ao seu lar, aqui estou.

Eu ri e fui cumprimentá-lo. Meu pai deixou-nos a sós, afirmando que esperaria meus tios no estúdio, começando a aquecer os instrumentos por lá.

– Depois dá uma passadinha no nosso estúdio, Lysandre. – convidou. – Tenho certeza que Jack e Bill vão adorar conhecê-lo.

Após a retirada do “Miss Simpatia Bruce”, Lysandre e eu fomos ao piano automaticamente. Acho que, assim como eu, Lysandre também era atraído pelos instrumentos musicais.

– Você tem um belo piano em casa, Chiara. – disse-me ele.

– Obrigada. – sorri.

O rapaz olhou para as partituras e pegou o bloquinho de notas sobre o piano para examiná-lo.

– Você quem criou? – perguntou com brilhos nos olhos.

– S-sim. – garanti, um tanto sem jeito.

– É a sua apresentação para o “Show de Talentos”?

Nossa! Eu havia esquecido completamente do Show de Talentos. Já nem sabia se me apresentaria ou não; não estava muito disposta a fazer isso.

– Você tem que apresentar isso para a escola. – insistiu Lysandre.

– Eu acho que não vou participar. – disse.

– Mas eu pensei que você iria. – ficou confuso o jovem. – Você tem que participar, Chiara. Por favor.

Após essa súplica, eu acabei cedendo.

Lysandre me pedira para mostrar minha criação. Relutante, toquei e cantei para ele.

O jovem aplaudia-me com intensa sinceridade e extrema euforia.

– Lindíssimo, bela Chiara! – aplaudia-me de pé.

Eu ria de suas reações exageradas e cavalheirescas. Já havia me habituado com o jeito de Lysandre, muito distinto dos rapazes que eu conhecia.

– Então está decidido. – falou Lysandre. – Você tocará esta belíssima canção no “Show de Talentos” e será a minha acompanhante no baile de formatura.

Olhei-a espantada.

Não me recordava de termos citado o baile, muito menos de ele ter me convidado para ser sua acompanhante.

– Oi? – questionei-o

– Ora, bela Chiara. – retrucou Lysandre com galanteio. – Achou mesmo que eu vim até sua residência apenas para visitá-la? Embora visitá-la seja uma grande honra, - disse, pegando minha mão direita. – não podia vir sem algo planejado em mente.

Senti meu rosto arder. Lysandre era tão poético e romântico, que fazia qualquer garota se apaixonar por ele.

Qualquer garota, menos eu.

Embora eu adorasse a companhia do rapaz de cabelos brancos, eu amava mesmo era o ruivo. Castiel era tão oposto a mim, mas acho que ambos nos complementávamos. Mesmo não estando juntos, não seria tão fácil esquecer este amor.

Pigarreei para disfarçar o rubor.

– Você quer ir ao baile comigo? – perguntei pateticamente.

– Sim, Chiara.

Para a minha surpresa, Lysandre ajoelhou-se a minha frente e continuou a segurar a minha mão, a qual beijou com delicadeza. Parecia que ele estava prestes a pedir-me em casamento, mas, para o meu alívio, ele apenas perguntou:

– Chiara, aceita fazer-me feliz, dando-me o privilégio de desfrutar de sua companhia durante o baile de formatura de Sweet Amoris?

Espantada, porém, com um riso encantador nos lábios, aceitei o tão carinhoso convite de Lysandre, o qual ficou deslumbrantemente feliz com a minha resposta.

Não seria com Castiel, mas pelo menos tentaria fazer daquela noite uma das mais divertidas e agradáveis de minha vida.


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