Na Melodia do Amor escrita por J R Mamede


Capítulo 14
Capítulo XIV




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Fazer compras com o meu pai nunca é uma tarefa fácil.

Acabamos trocando os papéis: ele é o jovem irresponsável que quer comprar todas as besteiras que vê pela frente, enquanto eu sou a adulta sensata, que evita o exagero do consumismo.

– Me deixa comprar só este daqui, Jujuba? – pedia-me ele com expressão de cachorrinho abandonado, mostrando-me uma enorme barra de chocolate.

– Não, pai. – repreendia eu. – Já temos chocolates demais em casa. E, além disso, você sabe que o tio Jack deve evitar doces.

Tio Jack era uma formiga gigante em casa: não podia ver um doce, que logo ia atacando-o. O problema desse excesso de doces é que ele acabava ficando elétrico demais, perturbando-nos a noite, pois não conseguia dormir e queria conversar ou fazer qualquer coisa para gastar suas energias.

Caminhávamos pelos enormes corredores do Supermercado, colocando no carrinho o que eu achava relevante levar.

Com a caminhada, comecei a pensar em Castiel. Talvez tenha sido a seção de molhos de tomates que me fez lembrar do ruivo.

– Jujuba! Jujuba? – escutei meu pai me chamar.

– O que foi?

– Posso levar este? – perguntou, mostrando-me uma caixa de cereais matinais.

– Pode. – respondi, sem dar a devida atenção.

Meu pai fitou-me, colocando a caixa de cereais o mais rápido que podia, antes que eu mudasse de ideia.

Percebendo que eu estava mais quieta e pensativa, perguntou de forma descontraída:

– O que está a refletir?

A pergunta foi feita mais uma vez, pois minha mente viajava para outra dimensão.

– Bobagens. – falei.

Minha resposta não pareceu ser o bastante para o meu pai, mas este não insistiu no assunto.

Vendo-o passar os olhos nos produtos da prateleira do Supermercado, resolvi puxar conversa, pois queria uma opinião masculina.

– Pai?

– Sim, Jujuba? – perguntou distraidamente, dando mais atenção a seção de biscoitos do que em mim.

– Você acha que... – comecei, meio relutante. – Você acha que um garoto como o Castiel é capaz de se apaixonar?

– Acho que sim. – afirmou meu pai, desta vez olhando para mim.

– Mas você não acha que ele é do tipo que sai com várias garotas e depois as manda pastar?

Meu pai riu deste questionário, mas respondeu com seriedade:

– Acho que Castiel é um cara que se apaixona sim, Jujuba. – fez um ar pensativo e continuou: - Eu era assim como ele antes de conhecer a sua mãe. Eu era um roqueiro doido, que só usava camisetas de bandas e calças rasgadas. Vivia com um cigarrinho em uma mão e a guitarra em outra. Seus tios também eram assim. Pensávamos que éramos o Guns N’ Roses. – riu meu pai. – Eu saia com garotas só para me divertir, sabe? Não queria nenhum relacionamento sério. Mas ai surgiu a sua mão. – falou ele de forma romântica e sonhadora. – Quando eu a vi pela primeira vez, foi como se a minha vida antes dela fosse só uma piada. Sua mãe tinha a chave do meu coração, Jujuba. – ele me olhou e fez uma careta: - Muito brega isso que eu disse agora?

– Um pouco. – ri.

– Mas isso que é o amor, Jujuba. – continuou. – Deixa as pessoas mais descoladas, como eu, abobalhadas e cafonas.

– E quem disse que você um dia foi descolado, pai? – brinquei com ele, fazendo-o rir.

– Você precisava me conhecer na juventude. – retrucou. – As minas piravam no seu pai aqui.

Demos boas gargalhadas, divertindo-nos com as histórias de meu pai.

Eu já havia visto fotos dele e da minha mãe juntos na época da faculdade, e meu pai realmente tinha um estilo bem semelhante ao de Castiel.

– Por que você perguntou isso, Jujuba? – fitou-me com ar malicioso. – Você acha que Castiel está apaixonado por você?

– Claro que não. – apressei-me a negar. – Só era curiosidade mesmo.

– E você gosta dele? – novamente o sorriso maroto lhe cobriu a face.

– Pai! – exclamei.

– O que eu falei? – perguntou confuso. – Só quero saber, ué! Afinal, eu gostei de conhecer o... Espera!

Meu pai pediu para eu segui-lo.

Saímos correndo pelos corredores do Supermercado. Meu pai procurava por alguma seção em especial.

Fiquei sem saber o que ele estava planejando, mas quando finalmente chegamos à seção desejada, ele concluiu sua frase:

– ...cabelo de molho de tomate. – ele segurava um pote de molho, o produto que procurava para finalizar sua piada sem graça.

Ele ria abobalhadamente, enquanto eu o encarava com ar de desdém.

Como é bobo esse meu pai!

– Ah! – falou ele, após parar de rir. – A piada foi boa, vai?

– Não, não foi. – afirmei, apesar de começar a rir depois.

– Eu gosto do Castiel. – falou. – E não me importaria se ele fosse meu genro.

– Pai! – exclamei novamente. – Você deveria ser igual aos outros pais: não ficam empurrando suas filhas para garotos. Pelo contrário, fazem de tudo para que isso não aconteça.

– Mas ai eu não seria um pai legal que sou. – abriu um enorme sorriso.

Ele enlaçou seu braço em meus ombros, beijando a minha testa com carinho.

Eu posso não ter uma família padrão, mas é a melhor família do mundo. Amo meu pai e meus tios, os quais cuidaram muito bem de mim.

Acho que uma mãe nunca é substituída, mas a vida dá um jeitinho de fazer com que as coisas funcionem de forma correta.

Sinto saudades de minha mãe, mesmo nem ao menos lembrar dela. Gostaria de ter essas conversas femininas com ela, porém, agradeço por conseguir ter essas conversas abertas com o meu pai, pois sei que posso confiar nele e que ele sempre será compreensível.

Terminados de fazer nossas compras e fomos ao estacionamento pegar o carro. Ríamos das piadas um do outro; das besteiras que falávamos e fazíamos.

Minha mãe foi uma mulher de muita sorte, porquanto encontrou um homem maravilhoso para construir uma família.

Bruce é um ótimo músico, um homem excepcional e, o mais importante para mim, um excelente pai.

Seria Castiel para mim o Bruce que foi para a minha mãe?


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