Na Melodia do Amor escrita por J R Mamede


Capítulo 12
Capítulo XII




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Eu havia ido à confeitaria “Lucy Star” buscar um bolo de nozes encomendado pelo meu pai. Era Sábado e ele queria muito comer uma sobremesa especial.

A “Lucy Star” vende as melhores tortas e os mais suculentos bolos de toda a região. Não há regime que suporte as belas sobremesas da confeitaria.

Lucy, a dona do estabelecimento, era uma senhora gentil e simpática, que conhecera a minha avó e a minha mãe. Ficava muito feliz quando eu ia visitá-la, dando-me sempre um pedaço de suas tortas maravilhosas de presente.

Eu havia ido de bicicleta, como de costume.

Ao chegar em casa, anunciei a minha chegada:

– Cheguei, meninos! E trouxe o bolo!

– Estamos aqui na cozinha, Jujuba! – escutei meu tio Jack gritar.

Fechei a porta e fui em direção à cozinha, cantarolando e levando o delicioso bolo, esperando um grande sorriso infantil daqueles três homens.

Aos poucos, ao me aproximar do local, escutei as três vozes masculinas costumeiras, rindo abobalhadamente. Porém, espantei-me ao escutar uma quarta voz.

Não sabia que iríamos receber visitas, talvez fosse algum produtor musical.

Mas, para a minha surpresa, era um jovem rapaz que se encontrava em minha cozinha, rindo descontroladamente das baboseiras que meu tio Bill contava.

O rapaz estava sentado em uma cadeira, segurando a guitarra de meu pai.

Meu pai e meus tios se divertiam com a presença do jovem, o qual, de vez em quando, tocava algumas músicas no instrumento de sua posse.

– Venha, Jujuba! – disse meu tio Bill, fazendo um gesto com a mão para eu me aproximar. – Junte-se a nós.

– Venha logo, Jujuba! – falou meu pai animadamente. – Seu amigo Castiel veio fazer-nos companhia.

Olhei-os com a expressão mais abobalhada que sabia fazer, confusa e perplexa com a imagem que eu via a minha frente.

Comecei a deduzir que tudo aquilo não passava de um sonho maluco e que, logo, logo eu iria acordar, refletindo o quanto o cérebro humano é brincalhão.

Mas não era um sonho. Tive a confirmação quando Castiel falou:

– Olá, Jujuba. Como está?

Eu o fuzilei com os olhos, desejando que ele caísse daquela cadeira.

Meu tio Jack pegou de minhas mãos o bolo de nozes, abrindo o embrulho com olhar faminto.

– Nossa, essa Lucy me mata! – falou.

Ainda meio atônita, aproximei-me de Castiel para perguntar o que ele fazia em minha casa. Aliás, como ele sabia o meu endereço?

– Lysandre me deu seu endereço. – explicou, levantando-se da cadeira e colocando a guitarra de meu pai em um canto. – Disse que você o tinha convidado para visitá-la em sua casa.

– Pois é. – retruquei. – Eu convidei ele. Não me lembro de ter dito que podia enviar outra pessoa no lugar.

Castiel riu do meu comentário sarcástico, afirmando que Lysandre só deu o endereço após a insistência do ruivo.

– Eu fique um bom tempo no pé dele.

– E por que você queria tanto me visitar, Castiel? – perguntei confusa.

O ruivo não conseguiu responder, pois fomos interrompidos pelo meu pai.

– Jujuba, por que você não disse que tinha um amigo músico?

– Porque eu não sabia ter um amigo músico, pai. – respondi secamente, olhando para Castiel.

Sem perceber o tom ríspido de minha voz, meu pai continuou alegremente:

– Esse cara é sensacional. – disse, batendo amigavelmente no ombro de Castiel.

– Ele tem um amigo compositor. – comentou tio Jack. – Lysandre, não é?

– Toca muito bem guitarra. – interrompeu tio Bill. – Já é um profissional.

Os comentários positivos dos três já estavam começando a me irritar. Estavam engrandecendo Castiel, como se ele fosse um cara super legal e simpático.

– Bem, gente. – falei. – Acho que Castiel está cheio de coisas para fazer e precisa ir embora agora, não é mesmo? – olhei-o, pedindo telepaticamente para ele concordar.

– Para dizer a verdade, - contrariou-me o ruivo. – não estou, não.

– Que bom! – exclamou meu tio Jack. – Então vai ficar para comer o bolo de nozes.

Revirei os olhos e suspirei forte.

Aquilo só podia ser um pesadelo.

Após comer o tão delicioso bolo, o qual desceu em minha garganta com dificuldades, visto que eu estava com vontade de estrangular um certo ruivo metido, meu pai e os meus tios foram para o porão continuar com o trabalho, deixando Castiel e eu a sós.

– Volte sempre, Castiel. – desejou meu pai.

– E traga seu amigo Lysandre para que possamos fazer umas gravações lá no estúdio. – sugeriu tio Bill.

– Seu pai e seus tios são tão legais, Jujuba. – comentou o ruivo quando ficamos sozinhos na cozinha. – Nem parece que você pertence a essa família.

Fiz uma careta para ele após essa alfinetada e por me chamar pelo meu apelido íntimo.

Sugeri que fôssemos para sala, pois seria melhor ficar no sofá. Também estava pensando na possibilidade dele querer ir embora logo ao ver a porta que direcionava para a rua.

Ao ver o piano, Castiel olhou-o com delicadeza. Acho que fora a primeira vez que o via com uma expressão tão tranquila.

– Você toca piano, não é mesmo? – perguntou.

Fiz que sim com a cabeça, admirada com a serenidade na expressão de Castiel.

Eu já não estava tão atormentada assim com a presença dele em minha casa.

Olhando-o com mais atenção, percebi o quão bonito e atraente ele era. Esses pensamentos me deixaram desajeitada, acho que até me fizeram corar um pouco.

– Agora sei o porquê você fica tão brava quando tocam no nome da sua mãe. – murmurou, fazendo-me desvencilhar de meus pensamentos comprometedores. – Seu pai me contou que a sua mãe morreu quando você era pequena. Eu sinto muito. – fitou-me com ternura, fazendo-me desviar de seu olhar.

– Então foi para isso que você veio? – perguntei. – Queria me bisbilhotar?

– Claro que não. – retrucou. – Só queria entender o motivo.

– Então o senhor é um curioso? – brinquei.

– Um pouco. – confessou Castiel, rindo do comentário.

Eu olhei para o piano e sentei-me no banco que ficava em frente a ele. Comecei a tocar algumas notas e aos poucos a melodia de “All You Need Is Love”, dos Beatles, foi aparecendo.

Castiel sentou-se ao meu lado e, surpreendentemente, começou a cantar.

Fiquei espantada, não por ele ter uma bela voz, porquanto isso eu deduzira ao saber que ele fazia parte de uma banda; mas por ele saber a letra. Sempre pensei que Castiel soubesse apenas letras de Heavy Metal.

Continuei tocando, escutando-o cantar:

"There's nothing you can do that can't be done

Nothing you can sing that can't be sung

Nothing you can say but you can learn how to play the game

It's easy."

Quando chegou a parte do refrão, Castiel olhou para mim, esperando que eu continuasse.

– Não, não. – falei. – Não vou cantar.

– Vamos, Jujuba. – riu o ruivo. – Solte a sua voz.

– Não me chama de Jujuba, seu abusado. – sorri para ele.

Comecei a tocar as notas exigidas pelo refrão, então “soltei a minha voz” e, pela primeira vez, para outra pessoa, além da minha família.

"All you need is love

All you need is love

All you need is love, love

Love is all you need."

Castiel me olhava encantado, percebi que sua face brilhava de satisfação. Nunca pensei em vê-lo tão sorridente e feliz como estava naquele momento.

– O refrão de novo. – pediu o ruivo.

Cantamos juntos, rindo um para o outro sem nenhuma finalidade:

"All you need is love

All you need is love

All you need is love, love

Love is all you need."

Acho que a letra estava certa: tudo que precisamos é amor.


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