"July 09, 2015.

Hey Sammy,

É bom finalmente receber uma resposta. Fico feliz que você esteja indo bem na faculdade. Você merece isso, irmão. Eu entendo que você é muito ocupado por aí, não se preocupe em ficar respondendo diariamente. Apenas não se esqueça de me dizer se algo acontecer, ok?

Castiel acordou, cara. Ele vai ficar bem.

Deus, eu estava tão preocupado com aquele idiota! Os médicos continuaram me dizendo que a perda de sangue foi muita e toda essa porcaria. Eles me disseram que seria melhor apenas desligar os aparelhos e deixá-lo partir pra um lugar melhor. Eles não sabem que não há nada melhor do que estar com sua família.

Eu chamei pela Hannah e ela conseguiu curá-lo da melhor maneira que podia. (Eu não a ameacei, cale a boca. Talvez apenas um pouco. Ou muito. Quem sabe pra caralho?).

Ninguém conseguia me explicar o que aconteceu pra ter acordado tão de repente - eles não precisavam, também. Cas ainda estava com cicatrizes e embora estivesse curado, ele ainda demorou um dia inteiro pra acordar. Ele não precisava mais da ajuda das máquinas e sua respiração já estava normal.

As enfermeiras me deixaram ficar no quarto dele. Você sabe, com todo o charme Winchester e essas coisas. Assim que ele acordou, eu fui a procura de um médico. O doutor disse que ele teria que ficar em observação e eu concordei. Não posso dizer a mesma coisa do Cas. Teimoso do caralho, queria sair de qualquer jeito.

De qualquer forma, depois disso nós retornamos ao bunker. Eu ainda não posso acreditar que tudo o que ele tinha a dizer sobre o incidente foi "Você não deveria ter dormido tanto tempo no hospital, Dean."

Yeah, claro. Como se eu fosse deixá-lo lá.

E não é como se eu tivesse conseguido dormir nessa situação.

Enfim, ele está uma bagunça. Seu tronco no lado esquerdo está com uma cicatriz enorme e seu rosto ainda tem alguns cortes do arame farpado. Com a perda de sangue, ele está mais pálido do que nunca. E pra ajudar, o desastrado ainda torceu o pé enquanto tentava pegar uma caixa de cereal no armário de cima. Depois disso eu o obriguei a se deitar no sofá e eu cuidaria do resto.

Só que nenhum desses detalhes importam agora.

Ele está vivo e não há nada que possa se comparar a isto.

Eu não queria admitir isso, mas huh, acho que já não preciso da caça na minha vida. Ela sempre foi um meio de me sentir mais perto do pai e da mãe, de alguma forma. Fazia eu me sentir menos sozinho. Salvar pessoas, caçar coisas, o negócio da família.

Mas eu tenho que aceitar que eles se foram e a família que eu tenho é outra. Tenho que aceitar que o pai está no inferno e que a mãe está segura.

Os mortos podem esperar. Nunca ouvi nada mais verdadeiro na televisão.

Agora devo aceitar o fato de que meu irmão está na faculdade pra tentar fazer um mundo mais justo. E que Cas, a outra parte da minha família, está em casa tentando me fazer acreditar que eu sou o homem justo.

Começo a pensar que ele pode me convencer de que eu realmente sou.

É ruim que eu ainda me sinta culpado pela morte do pai e da mãe? Sinto como se fosse minha responsabilidade cuidar deles e eu falhei. Mesmo quando eu tinha apenas quatro anos. Essa sensação de que eu nunca sou o suficiente sempre esteve aqui. Desde o primeiro motel em que paramos até o último em que tivemos que dormir. Só que isso se foi, agora. Já não faz parte da minha rotina.

Vou me libertar de tudo o que me prende ao passado. Desilusões, mágoas, sofrimento. Dor. E principalmente, culpa própria.

Não é uma estrada fácil, eu ainda tenho minhas quedas. Só que caminhar para um futuro sem culpa é mais simples quando tem alguém para te distrair das pedras que têm no caminho. E neste momento, eu tenho alguém que consegue fazer isso.

Nós vamos assistir Star Wars agora. Ninguém é oficialmente humano até assisti-los. Algumas cervejas, pipoca, filmes e boa companhia. Deus, até me sinto uma pessoa normal.

Acho que nada compensa isso. Estou contente com a vida que levo e não é nem mesmo um sonho. Talvez tudo o que aconteceu tenha valido alguma coisa, afinal.

É isso, garoto. Cas está mandando um abraço pra você. Tome cuidado por aí.

Até logo,

Dean Winchester."