"July 03, 2015.

Hey Sammy,

Porra, o que foi que eu fiz?! Isso dói, Sam, dói pra caralho. Eu não sei como pude deixar isso acontecer. Eu deveria ter sido mais rápido, eu não sei, qualquer coisa que pudesse ajudar!

Ele está morrendo. Castiel está morrendo.

Estávamos em um pomar na fazenda, onde o corpo do fantasma foi enterrado. Estava tudo indo tão bem mas quando ele começou a salgar o corpo, o fantasma apareceu. Eu tentei de tudo, Sammy, eu juro. Mas foi tarde demais e o maldito tinha jogado Cas longe, longe de mim e longe se sua consciência. Ele bateu com força em cima da cerca de arame farpado e caiu com um baque no chão, rolando alguns metros um pouco adiante. Queimei o corpo do desgraçado e corri ao lado do Cas. Corri mais do que em toda minha vida.

E lá estava ele, desmaiado. Uma poça de sangue ao seu lado no chão, cortes em todo seu rosto e um ferida aberta em seu lado esquerdo do corpo. Eu não sabia o que fazer, Sam! Tudo o que eu vi foi uma sombra de vermelho e minha mente continuava gritando Ele se foi. Ele se foi. Ele se foi.

Estava tudo tão nebuloso e só vi o que estava fazendo quando parei o carro na frente do hospital local. Aquelas luzes frias só faziam meus olhos arderem - eu não tinha notado que estava chorando. Eu carreguei ele comigo e uma linha de sangue me acompanhou. Talvez eu seja destinado a seguir uma trilha de sangue e de destruição.

Não dessa vez. Não dessa, por favor, não. O tiraram de mim e mandaram-no para a sala de emergência. Eu não podia seguir. Eu já vi Cas morrer diante dos meus olhos antes, muitas vezes. Acredite em mim, ainda me estilhaça todas as vezes que lembro disso.

Eu invoquei Crowley e praticamente implorei para fazer alguma coisa, qualquer coisa. Só que ele não pode, porque eu não tenho uma alma mais. Minha alma se foi quando tornei-me um demônio. Eu não me importo com isso agora, eu só preciso que ele fique bem. Por Deus, eu iria para o inferno de novo se fosse preciso pra que ele ficasse bem.

Eu estou na sala de espera faz algumas horas, talvez um dia, já? Pouco importa. Os médicos disseram que Cas perdeu muito sangue e a chance dele se recuperar é pequena. Você sentiu seu mundo desabar enquanto os outros continuam suas vidas perfeitas? Porquê eu senti quando me disseram. Não é fácil perder a única pessoa na qual você não precisa se esconder. A pessoa que é seu veneno e sua cura. A pessoa que te quebra pra te reconstruir melhor do que antes.

A pessoa que é Cas.

Ele vai ficar bem. Eu sei disso. Castiel vai voltar e isso terá sido apenas um susto. Ele vai voltar pra reclamar da minha musica alta e do café sem açúcar. Ele vai voltar, certo, Sammy? Por favor, me diz que sim. Não sei mais o que fazer.

Isso é tudo culpa minha! Tem que ser. Eu deveria tê-lo ensinado mais, avisá-lo pra tomar cuidado. Deveria ter o deixado em casa, onde ele estaria a salvo. Onde ele seria ele mesmo e estaria vivo, onde ele poderia respirar sem todos esses tubos que estão usando nele agora.

Porra Sam, eu estou prestes a quebrar pela única pessoa que pode me colocar junto.

Não aguento mais isso aqui. Não aguento mais essa televisão ligada em um show qualquer, esse cheiro insuportável de mistura entre morte e remédio, e olhar pra essas pessoas que fingem se importar. É como se elas soubessem que a última coisa que restasse em minha vida de merda estivesse sendo tirada de mim e elas não estivessem nem aí pra isso.

Mas eu não vou sair daqui. Cas precisa de mim e eu preciso dele. É um vício. É o início de um destino que não tem fim. E por não ter fim, nós vamos ficar juntos. Ele voltará pra mim assim como ele voltou todas as vezes.

A quem eu estou enganando? Eu estou morrendo junto a ele. Não posso viver assim. Quebrado e desgastado. Ele é a única coisa boa que a caça já trouxe a mim e a caça quer ser a única a tirá-lo. Eu ainda posso sentir o sangue dele em minha pele, mesmo depois de ter tomado um banho no dia anterior - eu não queria sair mas os seguranças chegaram e me pediram pra ir pra casa e a última coisa que eu precisava era encontrar uma briga.

Daqui a pouco eu vou entrar pra vê-lo. Eu não deveria, já que sua situação não é boa. Só que eu sou sua família. A única família que ele já teve. Céu? Lá era uma hierarquia. Mas aqui, juntos, nós só temos uma regra: não importa como e não importa onde, nós voltaremos uns para os outros.

Por isso, eu ainda acredito que há esperança. Bem no fundo, escondido dentro desse universo de dúvidas e sofrimento, há esperança.

E eu me deixo acreditar que Cas voltará. Aos poucos e fraco. Devastado e com medo. Mas ele voltará e eu não posso dizer o contrário. Não quando ele é a única pessoa que já me viu no meu pior e não me abandonou.

Me sinto num abismo, onde quanto mais eu caio, mais distante eu fico do fim. Cas é o chão que eu não sinto fisicamente mas eu sei que está lá, em algum lugar. Eu só preciso descobrir como cair bruscamente. Como cair diretamente nele e sentir que é real, que ele está firme, confiante e pronto para outra. Sentir que ele sabe que escalar para o topo do abismo é perigoso e quase impossível, mas ele quer tentar porque estamos nisso juntos.

Eu vou concertar isso, Sam, você verá. Os médicos me disseram que seria melhor esperar um milagre, já que eles ainda não podem fazer nada. E nem que eu tenha que encontrar o maldito Deus ou invocar a maior entidade desse mundo, eu vou fazer Castiel ficar bem.

Porque eu devo isso a ele. Eu devo a ele a minha vida. Eu devo a ele minha sanidade e humanidade.

Eu devo a ele a minha felicidade.

Nem que eu vá até o inferno pra que ele fique bem,

Dean Winchester."