Chamem os Bombeiros escrita por Juliana Rizzutinho


Capítulo 6
Primeiro round


Notas iniciais do capítulo

Olá, chegando com 6º capítulo de Chamem os Bombeiros, e a Gi cobrindo ainda o 1º turno das eleições^^



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Não me pergunte como, mas, chegamos à Vila Mariana em 25 minutos. O colégio em que Eduardo Jorge vota, ainda está fechado, por isso ficamos no carro com Jura. Enquanto repasso a pauta, o Felipe arruma o maquinário ao som “Let’s Dance” da Donna Summer.

8 horas, nos dirigimos à porta do colégio e ficamos de campana à espera do presidenciável. Passam-se 15 minutos e ouço o fotógrafo dizer:

— Olha lá, Bee! – e aponta em direção ao Eduardo Jorge. Ele vem de bicicleta e na garupa um garotinho.

O meu fotógrafo afetado desata a correr. Pode falar o que quiser, mas o Fefê é desajeitado. Sua alma feminina custa a se adaptar em um corpo masculino alto, magro, de orelhas salientes, pouco cabelo (e por isso mesmo ele passa máquina a zero) e óculos com uma armação que parece ter saído do closet do seriado “As Panteras”, bem anos 70.

Ele corre em direção ao candidato e começa a tirar fotos. Ele não é o único, mas devido às pernas compridas, consegue obter alguma vantagem sobre os outros profissionais.

Aproximo-me de Eduardo Jorge e acompanho a sua votação. Ele nos revela que o garotinho que o acompanha, é um de seus netos, de 5 anos. Depois, declara aos jornalistas que sua posição não ficará neutra como em 2010. Ele apoiará um dos candidatos ao segundo turno.

Pois bem, tudo teria corrido como previsto, bem ao gosto do presidenciável do Partido Verde. Eu disse: teria... Isso porque num arrombo de tietagem, o Felipe agarra o Eduardo Jorge e o abraça. Revela que se não fosse “a Lulu Genro, meu voto seria seu, cara!”.

Bem, após os acontecimentos, tomamos rumo ao bairro de Higienópolis, onde o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso vota. Ok, essa parte do trabalho corre tranquila. Sem sobressaltos.

A próxima parada: Morumbi. Dessa vez, vou acompanhar a votação do candidato a deputado federal, Celso Russomanno. Vou azeda à cobertura, porque não gosto nem um pingo desse sujeito.

Mal entramos na seção eleitoral do candidato e com quem damos de cara? A Melissa! A Melissa é a típica repórter fura-olho. Se possível, ela passa a mão no seu entrevistado, na sua pesquisa e no seu furo. E depois de tudo isso, ela ganha os louros da glória! E sabe por quem, está acompanhada? Sabe por quem? O Júlio! É! Pelo Júlio! Não consigo disfarçar a minha irritação! Algo está errado, muito errado!

Porque é assim: nas coberturas das eleições, cada repórter tem a sua equipe e acompanha um campo, um mapa a ser explorado. Pode ser que alguém se confundiu e nos mandou para o mesmo lugar. Aliás, vontade de mandá-la para aquele lugar!

— Bee! O que aquela amapô do mal está fazendo aqui? – me pergunta o fotógrafo.

— Não sei – respondo entre os dentes.

Acontece que a cena está bem próxima como àquelas de filmes faroestes. Algo como um duelo, onde eu e o Felipe de um lado, e a ordinária e o Sardinha de outro. Nada mais irônico, sendo que o Russomanno não é chamado de xerife do consumidor?

— Maldita! – xinga o Felipe – Dá um close na cara de nojo da amapô!

Dou uma rosnada e ela vem em minha direção. Oh, Deus! Não permita que enfie cinco dedos na cara dela.

A garota masca chiclete, com aqueles cabelos tingidos da cor de água de salsicha. O corpo dela é todo malhado e veste uma regatinha brilhante, calça jeans com salto alto. Repito: calça jeans e salto alto! Alguém em sã consciência poderia avisar a garota que ela é uma repórter e não uma modelo?

E o perfume, meu Deus? Sabe daquele da garrafinha azul, em forma de estrela, importado? Pois é! Sabe quando custa um daqueles vidrinhos? No mínimo 400 reais! E é impensável que nosso salário comporte uma compra daquelas!

— Também, né, Bee? Onde ela mora mesmo? Tatuapé, só pode ser! Duvido que se empanturre de fast-food, se mata na academia e à noite esfola o rabo dando para o namorado de pinto pequeno, que provavelmente ande com aquelas geladeiras ambulantes importa... Oi, querida!!! – Felipe muda o tom de forma radical. Só falta tocar aquela música “Venenosa” na voz da Rita Lee, de tanto veneno escorre pela língua do meu fotógrafo. Também, quer saber? Ela bem merece!

Quando me dou conta, Melissa Tavares está à minha frente. Aquela cara de “nova rica” desprezando qualquer ser que for diferente dela. Logo atrás da ordinária, está o Júlio. E com aquele maldito tique de enrolar a barba com os dedos finos e com a outra mão segurando a câmera. Por um segundo, acredito que ele esteja com olhos fixos na bunda da “repórter”. Que ódio desse cara! Mas num piscar de olhos, vejo-o me encarando e abrindo um sorriso.

— O que vocês estão fazendo aqui? – a Melissa me pergunta.

— O mesmo que vocês! – minha resposta sai tinindo.

Ela faz um sinal de desagrado, estala a língua e mexe a cabeça de forma que seus cabelos balancem. A garota pensa que está em um comercial de xampu? E o Júlio? Fixo com cara de tarado para o corpo da maldita. Que nojo desses dois!

— Querida, é melhor você se retirar – avisa o Felipe – Até porque já estamos no campo oh, faz tempo! – e estaleja os dedos.

— Negativo! Eu e o Juju...

Perai, eu escutei Juju? E desde quando esses dois estão cheios de intimidades? Não, não combinam! Até porque não tem como um casal ser formado por uma periguete e um hipster!

— Xuxu! – Felipe a chama carinhosamente sem deixá-la terminar a frase. – Já tomou seu café da manhã naquela padaria metida à besta na Francisco Marengo?

Deixe-me explicar. Caso você queira ir ao um lugar onde quer ver e ser visto, não se importando nem um pingo da qualidade do que lhe é servido, o Tatuapé é seu lugar! Bairro com uma ascensão imobiliária meteórica, reduto de “novos ricos”, onde pagar dois expressos com cartão de crédito black é chique. E tem mais, há padarias que não servem café da manhã, é breakfast! Quer coisa mais pernóstica do que isso? Pois é, e foi justamente esse estabelecimento que o Felipe apontou.

— Você é preconceituoso, meu queridinho esquerdopata! – retruca.

Ah, agora ela quer encrenca, não quer? Pois então irá ter! Avanço em direção a ela, de modo que posso sentir sua respiração bem próxima do meu rosto. Mesmo sendo mais baixinha do que ela, aliás, bem mais baixinha, eu a intimido. O Felipe fica atrás de mim, com a máquina pendurada no pescoço e as mãos na cintura. Enquanto isso, o Júlio dá alguns passos para trás, como quem quisesse fugir. Ué, ele não iria defendê-la?

— Escute aqui, garota! – chamo a sua atenção. – É bom você enrolar o seu rabinho, pegar esse fotógrafo hipster e chispar daqui! Porque...

Vi agora que o Júlio arregalou os olhos ou foi impressão minha? E ouço o Felipe completar a minha frase do seguinte modo:

— Porque vai ser barraco, babado, é con-fu-são!!!


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Notas finais do capítulo

Bem, antes dos agradecimentos, uma breve explicação sobre alguns trechos da história.
“(...) que provavelmente ande com aquelas geladeiras ambulantes importa...” – aqui, o Felipe quis falar sobre aqueles carros brancos importados. E no Tatuapé parece uma febre... De 10 carros, 7 são dessa cor (francamente, não sei como o povo tem grana para comprar... e depois reclamam tanto).
“(...) com cartão de crédito black é chique”. – Cartão de crédito black é aquele sem limite. Posso?
Glossário: * esquerdopata – forma de chamar outra pessoa de esquerda, mas com desdém.
Agora aos agradecimentos^^:
Beijos para Pamis que é a nova integrante acompanhando aí nossa história.
Beijos à Karina A. de Souza, ao Lucão, à Querida Paolla, ao meu querido Vini, que está com nome de White Lightning, autor do bacana The Hunting Game e à Filha de Atena! Beijos e muito obrigada por comentarem a história.
O próximo capítulo é uma coisa só... Então, espero você na terça-feira! Beijos :*



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