Chamem os Bombeiros escrita por Juliana Rizzutinho


Capítulo 43
O mistério da joaninha


Notas iniciais do capítulo

Bem-vindos ao antepenúltimo capítulo de Chamem os Bombeiros!



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— Então vamos fazer assim: você me traz o anel da Gi e te deixo ler a minha coleção da Sailor Moon. – proponho para Bárbara.

— Ah! Agora estamos começando a negociar! – diz com certo deboche.

Pedi para que a Bárbara pegar “emprestado” o anel do dedo anular da minha namorada. Eu poderia fazer isso? Poderia, mas ficaria muito na cara. E o que pensei? A repórter é perfeita para o trabalho. Sei que a Gi o tira toda vez que vai lavar as mãos e deixa em cima da pia. E para que preciso desse anel? Como vou comprar a aliança da minha pequena?

— Mas sei como ela gosta dos anéis dela, Jú. E se ela surtar que ele desapareceu do nada?

— Mas é uma bijuteria. Ela tem milhares.

— Sei que ela tem milhares de anéis. Não tem uma semana que não vem com um novo. Você a conhece melhor do que eu. Porém, duvido e faço o dó que Gi não fique encanada durante o dia inteiro.

Para não estender muito a conversa, vou direto ao ponto:

— Bárbara, quando você consegue isso para mim?

— Para quando você precisa? – ela devolve a pergunta.

— O quanto antes...

— Então... – ela abaixa a voz o tanto quanto consegue e continua: - é isso mesmo? Vai pedi-la em casamento?

— Vou! – digo convicto. – Estou pensando em fazer uma surpresa.

— E que surpresa? – ela me pergunta com as sobrancelhas levantadas e com cara bem curiosa.

— Bárbara... – me aproximo e ela fica esperando que vá entrar em mais detalhes sobre o meu pedido de casamento. – Sabia que você é uma xereta?

— Pô, Júlio!

— Oooooooiiiiiiiiii! O que rola, Bees?

Ai, caramba, para completar o mais “discreto” do jornal, o Felipe.

— Nada! – respondem eu e a Bárbara. E na boa? Numa sintonia que parece que combinamos!

— Hum, sei! Vocês estavam de conchavo. Tem rolo aí...

— É que... –a Bárbara começa, e dou uma cotovelada. Mas, para meu desespero, ela solta: - é que a Gi gosta de usar... sorvete num jogo erótico!

Juro que escutei isso mesmo? Encaro a repórter que agora viajou na maionese.

— Mas, bicha, com esse frio? Tem outros métodos para dar arrepio!

— Arrepio? – pergunta agora a Juliana que chega com um expresso afanado da sala do chefe. Depois da expulsão da Melissa, confesso que ela virou abusada e toda hora apanha sachês da Nesspreso e vai a outra seção só para fazê-los.

— É que a Gi curte uns lances geladinhos na hora H! – comenta a Felipe.

— Lances geladinhos? Pô, coisa estranha! E está frio, Jú! Sério mesmo que ela curte isso? Por que vocês não tentam algo com chocolate?

— Chocolate? – indaga o Décio. Ah, tenha dó, isso está virando uma comédia! - Quem está oferecendo chocolate? – ele pergunta.

— Ei, vocês! – berra a Lilian. Viramos praticamente todos juntos. – Turma da bomboniere, bora para reunião de pauta?

Quando vejo a Gi está atrás da Lilian. Ela tinha ido checar como ficou o infográfico que o Amauri fez para ilustrar a sua matéria mais recente. Droga! E o jeito que ela nos olha, todos juntos ali, fica evidente que esteja matutando algo. O que será que ela suspeita?

Começamos a nos organizar e seguir para a sala de reunião. Nessa hora, a Juliana passa por ela e diz:

— Geladinho, hein?

A minha pequena a encara como quem perguntasse “Como que é?”, vira-se para mim e questiona:

— Como assim geladinho?

— Não faço a mínima ideia, Gi. – respondo rápido.

****

Sigo para as últimas entrevistas para terminar a reportagem especial sobre a ciclovia que será inaugurada na Avenida Paulista. Desta vez, estou com Décio e o Jura. Conversamos animadamente, mesmo que eu esteja triste... Isso porque fico pensando: “Onde deixei meu anel de joaninha?”.

— Então já tinha falado para ele: Qual é a lógica de pescar se você vai devolver o peixe para água? – pergunta o Jura.

— Pô, em falar em peixe, bem que poderia rolar uns rangos com pescada... – diz o fotógrafo esfregando as mãos.

— Camarão... – completa o Jura. E o Décio continua:

— Ostras, manjubas...

E fico encarando a minha mão pensando: “Onde deixei o bendito anel?”.

— Algum problema, Gi? – indaga o fotógrafo.

— Não sei, perdi meu anel de joaninha. Eu gosto tanto dele!

— Repassa mentalmente em todos os lugares que você andou hoje e quem sabe...

— Jura, estava com ele quando cheguei no jornal.

— Olhou dentro da bolsa? – pergunta o Décio.

— Já e várias vezes!

— E como ele era, Gi? Olhou aqui pelo carro? – questiona o motorista.

— Aqui no carro? Boa ideia! – digo. E o Décio começa a procurar comigo no banco traseiro.

Nisso chega uma mensagem de whatsApp, mas ignoro. Porque agora quero meu anel de joaninha.

— Quando pararmos no próximo local, dou um pulo aí atrás e desencostamos o banco traseiro. Quem sabe caiu em algum canto? – o Jura diz com certa esperança.

— Pode ser!

— Olhou nos bolsos da calça? – interroga o fotógrafo.

O encaro ironicamente.

— Você reparou que estou com uma legging hoje?

— Ah, é, né? Não tinha reparado. – ele me diz sem-graça.

— Caso você se vestisse de bolo, ele iria te reparar. – brinca o motorista.

Bem, o que me resta? Vou esperar até a próxima vez que o Jura for parar e a gente dá uma olhada nos vãos do banco. Enquanto isso, verifico a mensagem que chegou.

“Oi, meu amorzinho ♥ Gostaria de jantar comigo? ;)”

Sorrio, antes de tudo. Afinal, só um homem poderia mandar essa mensagem carinhosa: o Júlio.

“Hoje?^^”

“Hum... hoje, não! Na verdade... Esse jantar vai ser especial (╭☞^^)╭☞

Ai, ai... quando o Júlio começa nesse pique a mensagem, já vem besteira...

“Só nós dois?”

“Hum... na verdade vai ter mais gente...”

Ahãm? Como assim, mais gente? Não vai me dizer que... será que ele quer fazer algo diferente, tipo ménage à trois? Não, não curto esse tipo de coisa. Nunca fiz, mas não curto!

E aí respondo:

“Depende...”

“Como assim, depende?”

“Oras, depende... e nem me venha com coisas estranhas, Jú! Eu não gosto”

“Como? Que coisas estranhas? Gi, só estou falando de um jantar!”.

“Bom, pode ser!”

“Isso é um sim ou não?” – ele me pergunta.

Oh, inferno! Esqueceu que sou libriana? Droga! Nunca coloque uma libriana contra a parede!

“Tá bom, vai! Eu topo! Mas olha lá o que você aprontar!”.

E aí recebo uma mensagem assim:

“Aeeeeeeeeeee ˆ)ノヽˆ)ノヽˆ)

O Júlio é tonto ou o quê?

“Espere pelos futuros procedimentos! ;)”

Ele pensa que é médico agora? Procedimentos! Hunf! Acho que ele surtou!

“Vou indo amorzinho que estou indo para próxima entrevista!”.

“Opa! Boa entrevista! Um beijinho para meu amorzinho!^^ Manda abraços para o Jura e para o Décio”.

— O Júlio mandou abraços para vocês dois!

— Opa, manda outro para ele! – fala o Jura.

— Oh, manda o meu também! – avisa o Décio.

— Gi, chegamos! Mas antes de entrarmos, a gente dá uma olhada aí atrás para achar o seu anel, beleza? – avisa o motorista.

— Tudo bem! – digo.

****

— Tó! – a Bárbara me passa o anel na surdina dentro do carro e com Cristovão como motorista.

— Já?

— É!

O motorista dá aquela espichada de olho no retrovisor para ver o que está rolando.

— Então... – a repórter deixa na entrelinha.

Digo:

— Certo! A senhorita venceu! Quando?

— O mais rápido possível.

— Assim? – indago.

Dá para ver que o Cristovão faz cara de nó cego, mas até disfarçou para baixar o volume do rádio para pegar alguma coisa de nossa conversa.

— Júlio, você não vai me engabelar, né? – pergunta a Bárbara.

— Não, né?

Pelo retrovisor dá para ver que o motorista franze o cenho. Não! Não estou traindo a Gi, caspita! Mas se contar para esse matuto, duvido e faço dó que ele vai comentar com o Coelho, depois passa para o Carlos, até chegar no Jura e... lógico, a Gi!

— Me diga: quando e onde! – ordena a repórter.

— Logo!

Disfarço e a repórter me encara.

— Júlio, tudo que quero é a Sailor Moon, posso?

Aproveitando o farol fechado, o Cristovão vira o rosto para nós e diz:

— Também gosto da Sailor Moon!

Isso é fim dos tempos!

Horas mais tarde...

Ufa! Nada como chegar em casa! Abro a porta e lá vem o Mozart fazendo festa.

— Oi, meu amigo!

Ele pula em mim, abana o rabo, me lambe, corre para lá e para cá. Depois quer levar a minha mochila.

“Que saudades, papai!”.

— Deixa só o papai lavar as mãos, vou colocar a sua comida.

Enquanto isso, fico matutando de que forma vou sair para comprar as alianças. Bem, sem contar que hoje eu e o Márcio vamos combinar uma data para todo mundo, avisar meus pais, e aí... Caramba! Preciso já reservar o número um da Sailor Moon para a Bárbara.

Água e ração frescas para meu amigo, vou no meu quarto das nerdices. Abro a porta e começo a procurar a coleção de mangá. E aí... me dá um frio na espinha. Não está no lugar o número um da Sailor Moon. Logo eu que organizo em volumes crescentes. Olho em volta e nada do bichinho. Olho de novo... Lembrei! Vem na minha mente: Emprestei para Gi! Agora sim que a coisa desandou.

Nesse mesmo minuto toca o celular. Vou busca-lo e o Mozart me olha curioso.

“Xi! Quando ele arregala os olhos desse jeito, sei que ele está encrencado”.

Assim que pego o aparelho, vejo a foto da minha namorada. Caramba, e agora? Pergunto?

— Alô!

— Oi, meu docinho!

— Tudo bem, meu amor?

— Sim! E com você? Estou com saudades!

— Eu também. – respondo. – Logo hoje que não podemos sair juntos para o campo.

— Pois é! Bem, eu liguei porque...

Outra chamada? E chamada de espera.

— Espera só um pouquinho, amor. – digo.

Assim que vejo, o número do Márcio.

— Fala, cunhadão!

— Oi, Márcio, tudo bem?

— E como vão os preparativos? Já falou com seus pais? Já posso combinar com você?

Ah, não, cara! Agora toca o telefone fixo!

— Viu? Você espera só um minuto?

Deixo na espera, mas sem querer, desligo o telefonema da Gi. É hoje! É hoje! E o telefone lá berrando.

— Alô?

— Oi, filho! – agora é minha mãe. – Tudo bem com você?

— Oi, mãe! Tudo! E com a senhora!

— Ah, com saudades do meu filho querido. Liguei para saber...

E agora o celular que toca! Faço um “ah!”, indignado! E sai de forma tão, assim, efusiva que até o Mozart levanta as orelhas.

— Espera só um pouco, mãe!

Atendo, e lá estava de novo a Gi.

— Ué? Caiu a linha! Tudo bem com você? Aconteceu alguma...

Ela nem termina de me perguntar e oh, lá de novo: o meu cunhado! Agora entendi porque todo mundo zoa com “se cunhado fosse tão bom, não começaria com...”, bem, você sabe.

— Gi, faz o seguinte, estou com uns probleminhas aqui e já te ligo.

— Ah, é? – fala desconfiada. – Que tipo de problemas?

— Depois te conto, tá?

— Tá bom! Você que se sabe...

— Gi!

— Hum?

— Já te ligo, já! Tá bom?

Ela nem me responde e desliga na minha cara. Oh, céus! Ela age assim quando está com TPM. Depois fala que está gorda, feia e cheia de espinhas, “isso porque estou com 26 anos! Não é mais época para nascerem espinhas!”, reclama enfurecida.

— Oh, cunhadão! Pô, quase desliga na minha cara!

— Márcio, estou com a minha mãe no telefone. Deixa só ver a data que eles podem vir...

— Opa! Joia! Espero na linha... Posso?

Respiro fundo para não dar aquela patada que estou acostumado a fazer quando perco a paciência.

— Tá!

Deixo do lado e volto a falar com a minha mãe:

— Filho, você está ocupado?

— Não é isso, mãe! Todo mundo resolveu ligar e na mesma hora.

— Ah! Estou te atrapalhando?

— Não, mãe!

— Ligo mais tarde!

Por que as pessoas são tão complicadas?

— Mãe, que dia a senhora e o pai podem vir para cá? Já sabem quando?

— Mas a gente tinha combinado há um tempinho atrás. Ainda está de pé o convite?

E o Mozart chama a atenção com focinho.

“Papai, relaxa! Daqui a pouco, você vai estar babando! E quem irá dar comida e água para mim? Só se for a Dona Belinha!”.

E o celular toca de novo! Cacete! Será que desligou sozinho? É hoje! É hoje! Não penso duas vezes e atento:

— Pô, Márcio! Calma que estou falando...

— Márcio?

Puta que pariu! Não é a voz do Márcio e muito menos é masculina... Aliás, é bem entonada, cheio daquele jeito cantado que só ela tem...

— Júlio, você disse: Márcio? Mas é o nome do meu irmão!

— É... é...

— Como você conhece o meu irmão?

Agora ferrou de vez!

****

Essa é boa! O que o Júlio está aprontando? Quando menciono o nome do meu irmão, ele fica num:

— É... é... é que o fornecedor dos meus equipamentos ligou para cá para saber...

— Sei!

— Gi! O que está acontecendo com você?

— Nada! Só queria conversar um pouco com você e...

— Gi, escuta! O que está te incomodando? – me pergunta.

— Que você esteja escondendo alguma coisa...

— Não estou escondendo nada! Caramba, é que estou com a minha mãe no telefone fixo e...

Ih, ferrou! Eu aqui surtando e a mãe dele esperando no outro telefone. Prometi para mim mesmo não ser chata com a família dele. Sei, acho que sou um pouco ciumenta ou até possessiva, mas família para ele é algo sagrado. Também, eles moram longe, não é?

— Jú! Então faz o seguinte: você me liga mais tarde? Estou preocupada.

— Preocupada? – ele indaga surpreso.

— Sim! Vá falar com a sua mãe.

— Tá bom, meu amorzinho. Te ligo mais tarde.

Coloco o telefone no gancho, confusa. Ele falou o nome do Márcio ou impressão minha? Mas ele não o conhece, ou melhor, já ouviu falar muito dele. Mas daí ter o telefone, aí é outra coisa. Bem, e lá vem o fantasma daquele e-mail. Aquele e-mail que teremos uma reunião com todos do departamento, incluindo outros setores. Fico de cabelos em pé. Será que vai rolar demissão em massa? O que vou fazer da minha vida?

O Ernesto me olha como analisasse uma presa. Sempre com aquela cara de descaso.

“Humana, qual é a sua? Já brigou de novo com barbudinho? Vocês cansam a minha beleza!”.

Respiro fundo e vou até a cozinha preparar algo para comer. Mais tarde, troco a água e a comida do meu gato, limpo a caixa de areia e vou tomar banho. Quando vou entrar no chuveiro o telefone toca. Vai ver que é o Júlio. Quer saber? Ele que espere!

Tomo banho tranquilamente, saio, passo todos os meus cremes, escovo meus cabelos e mais uma vez o telefone toca. Ele que espere! Tá muito engraçadinho para meu gosto.

“Humana, deixa de birra e vá atender”, mio.

— Ele pode esperar, Ernesto!

“Vixe! Pobre barbudinho!”.

Agora é o celular que toca. E atendo.

— Pronto, minha onça! Sou todos ouvidos! Tudo bem com você?

— Tudo!

— Liguei duas vezes e...

— Estava no banho. – digo de modo seco.

— Não está brava comigo, né? Gosto tanto de você. Um simples oi seu me acalma e faz que todas as atribulações do dia desapareçam.

E com isso, ele quebra as minhas pernas.

— Para mim também, meu docinho.

— Diga, o que te aflige.

— Bem, - respiro fundo e continuo, sob o olhar atento do Ernesto. Agora que percebo que ele entrou no quarto. – Você recebeu o e-mail do jornal, enviado pelo chefe?

— Que e-mail? – ele me pergunta surpreso.

— O que o chefe mandou agora à tarde!

— Espera aí, amor! Vou buscar o note e ligar.

— Você não pode ver pelo celular?

— Hum, não...

Em que época o Júlio vive? No meu tem! Apesar de que... bem, deixa para lá!

— Estou ligando e a gente vai conversando.

— Deu tudo certo com seu fornecedor?

— Que fornecedor? – ele me pergunta.

— O Márcio!

— Ah, sim! Tudo ótimo.

Estranho... resposta muito vaga para o meu gosto. O que ele está aprontando?

— Tãm, tãmtãm, tãm

— O que você está fazendo?

— Cantando.

— E aí?

— Calma que o bicho é devagar!

E escuto um latido ao longe.

— O Mozart te mandou boa-noite.

— Júlio, não me enrola! Abriu?

Agora dá para sentir o silêncio quase constrangedor que ele faz do outro lado da linha.

— Mas, o que significa isso?

— Pois é!

— Reunião de pauta não é! É reunião geral?

— Isso! Será que vamos ser despedidos?

— Nem pense nisso, minha pequena! E logo agora!

— Mas há outras publicações reclamando que muitos foram despedidos.

Ele me tranquiliza.

— Calma! O peru não morre na véspera não é mesmo?

— Mas Júlio, você leu direito? São todos os departamentos.

— Eu sei! Se acalma e qualquer coisa seguramos o tranco, certo?

Respiro profundamente procurando uma forma de me acalmar.

— Tá bom!

— Promete que me fica bem? – ele me pergunta.

— Sim!

— Bom, mudando de assunto... Amanhã não vou trabalhar, aliás, vou mais tarde. – me informa.

— Mas... Por quê?

— Bem... eu...

— Júlio, o que está acontecendo? – indago. E a minha voz sai mais dura e metálica do que gostaria.

— Não é nada! Na verdade preciso dar um pulo na Receita Federal!

— Na Receita Federal?

— É! Chegou uma carta que preciso comparecer lá com urgência! – ele diz.

— Mas informa o que é?

— Hum... Não! Só disse que preciso ir lá!

— Quer que eu avise o chefe?

— Hum... Não!

— Não? – estranho com a resposta.

— Na verdade, já falei com o Murilo!

— Uau! Vocês viraram amigos, hein?

— É verdade! Bem, vamos indo, né?

— Vamos!

— Antes...

— O que foi, Jú?

— Gi, você poderia me devolver o número um de Sailor Moon?

— Já? É que ainda não tive tempo de ler. – respondo.

— É que... é que... – ele parece vacilante. O que Jú está escondendo, hein? E completa: - É que meu priminho vem nesse final de semana e me pediu! Mas devolvo rapidinho, tá?

— Júlio, o volume número um de Sailor Moon é seu!

— Ah, é!

— E você nunca me disse sobre seu priminho...

— É que você não conhece... Ainda! Sabe? Então, você me leva amanhã?

— Amanhã? Mas você disse que não iria trabalhar?

— Disse? Ah, é! Mas vou mais tarde. E até porque...

— Júlio, aconteceu alguma coisa que não estou sabendo? – indago sem que ele termine a explicação.

— Nada! Por quê?

— Você não está no seu normal!

— Imagina! Sempre fui assim! – e ri.

Deuses, será que ele possui lapsos de personalidade e não tinha percebido?

— Tudo bem, levo a Sailor Moon amanhã. Mas como faço para te entregar?

— Oras, te mando uma mensagem quando estiver chegando. Acho que vai ser rapidinho!

— Tá bom! Então, beijinhos, meu amor!

— Beijinhos, meu doce! E sonhe comigo!

— Sonharei.

E desligo.

“Humana, como você pode ser tão estúpida?”, mio e vou embora.

****

Saio da joalheira todo contente. Ufa, consegui! Vou trocar as alianças com a mulher que amo. Coloco na mochila, mando uma mensagem para Bárbara.

“Estou indo aí no jornal. Primeiro me encontro com a Gi e depois a gente marca em outro lugar. E aí te entrego a Sailor Moon!”.

“Oba!!! (^^)ノヽ(^^)ノヽ(^^) Você já vai trazer a Sailor Moon^^?”

Respiro fundo, desolado. Caramba! E aí escrevo meio receoso.

“Na verdade, ainda não...”

“Não? Por quê? ¬¬”

“Primeiro vou me encontrar com a Gi. Ela está com o número um da Sailor Moon. ¯_(ツ)_/¯”

“Que graça!...Só que não! ¬¬' Júlio! Você me prometeu!”

“Calma! Pego o volume e me encontro com você. Só que preciso de outro favorzinho^^”

“Qual é? ¬¬' ”

“Que você devolva o anel da Gi!”

“Tá louco? Vou entregar para ela e dizer: ‘Oh, Gi! Peguei seu anel para que o Júlio comprasse uma aliança para você’”.

“É claro que não! Deixe em cima da mesa dela, beleza?”

“Tá bom, vai!”

“Beijos e obrigado por tudo ♥”

“Chato!”.

Envio uma mensagem para Gi.

“Queridinha! Estou voltando!”

“Oba! Estou com saudades! Quer tomar café comigo? ♥”.

“Sim, sim! Assim vejo a garota que amo *___*”

“Já almoçou?”, ela pergunta.

“Já! Mas topo um lanchinho^^ Você quer?”

“Opa, sim, sim J Onde te encontro”.

“Em meia hora estou na padoca! Beijos :*”

Meia hora depois...

Estou esperando a Gi na padaria. E no fundo, explodindo de ansiedade e alegria. Próximo sábado! É, no próximo sábado! Sábado vai ser o dia das duas famílias se conhecerem e vou pedir a minha pequena em casamento! O Márcio disse que vai marcar em uma pizzaria. Porque pizza é como um consenso geral! E...

— Júlio!

É a voz da minha pequena que me traz à realidade. Abro um sorriso e a acolho em um abraço.

— Tudo bem com você? – indago quase num sussurro em seu ouvido.

— Tudo!

Nos soltamos, a encaro no fundo dos seus olhos e revelo:

— Quer jantar comigo no sábado à noite?

— Júlio! Vai depender de...

— Do quê?

Ela suspira e me solta.

— Júlio, sexta! Sexta-feira é um dia decisivo para todos nós!

— Pô, pequena! Se ficar nisso não aproveita a vida!

E aí ela dispara:

— E se formos despedidos? Você vai ainda ficar em São Paulo?

— Claro que sim! Por que eu iria embora?

— Desculpe, Jú, estou tão nervosa.

— Relaxa! – e a abraço de novo.

Ficamos um tempinho assim, mesmo que a padaria esteja um pouco cheia e barulhenta. Nos largamos e sentamos no balcão.

— Deu tudo certo na Receita Federal? – ela me pergunta.

— Ah, sim!

— E o que era?

O que falo? Caramba, vou dizer que...

— Estou com um problema no CPF.

— No CPF?

— É!

— Mas que tipo de problema?

Pronto! Isso que dá para namorar uma jornalista.

— Ah, Gi, nem esquente com isso! Quer comer alguma coisa?

— Claro!

Peço o cardápio e ficamos juntos escolhendo algo. Agora, pergunto ou não pergunto? Logo mais se conheço a Bárbara, ela vai me mandar uma mensagem: “E aí, meu?”.

— Gi!

— Hum! – ela continua com os olhos voltados para o cardápio.

— Você trouxe o número um da Sailor Moon?

— Sim!

— E onde está?

— Na minha mesa.

Puta que pariu! Vou ter que entrar lá no jornal?

— Mas... por que você não trouxe para cá?

— Ah! Você não disse que iria entrar mais tarde? Aí...

— Poxa, Gi! Não tem como você ir buscar?

Ela larga o cardápio e me encara:

— Júlio Schiavon! O que você esconde?

A princípio fico meio sem ação, mas aí falo:

— Nada! É que não queria entrar no jornal hoje... – termino com a minha voz quase sumindo.

Ele franze as sobrancelhas e indaga:

— Não queria ser bombardeado por perguntas sobre...

— A Receita Federal? É isso!

Ufa! Quase!

— Então faz o seguinte. Vou lá buscar e já volto. Vá pedindo um misto quente e um guaraná, tá bom?

— Tá!

Espero ela sair e aí envio uma mensagem para a Bárbara.

“Fique a postos!”

“Oi? Já conseguiu o número da Sailor Moon?^^”

“Ainda não! A Gi vai aí na redação para buscar. Na volta vou comer um lanche com ela. E depois, te mando uma mensagem, entrego a Sailor Moon. Te devolvo o anel e você coloca na mesa dela, belê?”

“Belê!”.

Não dá nem uns 7 minutos e a Gi volta. Devolve o mangá, o que me deixa aliviado. E logo após, chegam nossos lanches.

Caminho até uma travessa antes do jornal. Nos despedimos com um beijo e prometo que vou busca-la no comecinho da noite. Dou a volta e mando mensagem para a Bárbara.

“Dá para descer?”

E não dá nem 30 segundos e... ouço a resposta do meu lado.

— Dá, né? Aliás, já estou aqui há um tempinho.

— Seja discreta, Bárbara.

— Fica frio, Jú! Passa o pacote.

E aí abro a mochila e me encosto na parede com cuidado para dificultar que alguém nos veja. Um moço que está em uma oficina que conserta motos, começa a nos observar. Me sinto um traficante nesse meio tempo.

Ela abre o saquinho, olha o conteúdo e fala:

— E o anel?

Mexo no bolso lateral. E de relance, percebo que o moço começa a limpar as mãos em estopa e vem mais para frente da oficina, com tremendo olhar desconfiado.

— Pronto? – digo.

— Pronto!

— Posso ir embora?

— Pode!

— Beleza! E...Bárbara...

— Sim?

— O cara da frente está com um celular.

Ela olha para o lado e diz:

— Sim. Por quê?

— Daria para você mostrar o conteúdo do saquinho para ele?

— Ué! Mas por quê?

— Ele pensa que estamos traficando drogas.

Ela deixa cair o queixo. Remexe a bolsa, retira o saquinho e de dentro dele, o número da Sailor Moon. E aí, ela faz algo imprevisível.

— Ei, moço!

Ele nos encara assustado ainda com celular na mão.

— O senhor está achando que estamos traficando? O meu amigo só veio me entregar isso!

E mostra o mangá. O rapaz comprime os olhos e nos devolve um sorriso amarelo.

****

Desligo o notebook, dou uma ajeitada na mesa e vou ao banheiro dar um retoque. Afinal, o Júlio vem me buscar. Na ida, recebo uma mensagem.

“Já estou esperando aqui embaixo, viu? ^~^~”

E sorrio olhando para o celular. Faço xixi, lavo as mãos, escovo os dentes e penteio os meus cabelos. Retiro da nécessaire um batom e passo. Bom, ao menos não fico com aspecto de Mortícia Adams. Vou dando tchau para o pessoal enquanto volto para a minha mesa. Pronto, agora é só pegar a bolsa e...

E lá está ele! Não consigo acreditar em meus próprios olhos. Checo ao redor para ver se capto algo. Como ele veio parar aqui? Não sei! E a Melissa nem trabalha mais com a gente. Portanto, ninguém o raptou para fazer mandiga.

O apanho com a mão direita e sorrio como uma boba. Meu anel de joaninha está de volta.


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Notas finais do capítulo

Ainda está chorando? Calma! Pensa que seria má e não traria spins-offs para vocês? Pois é...Ainda está em fase de produção. Mas calma que a gente conta tudo depois. Bora para o glossário que está curtinho como semana passada?
Glossário – Chamem os Bombeiros
Mortícia Adams – ela é matriarca da família Addams, casada com Gomez Addams, mãe de Wandinha e Feioso. Tá na cara que quando você pensa na personagem vem a imagem da diva, Anjelica Huston e que fez par com falecido (e ótimo) Rául Júlia. Ela é pálida, alta, de cabelos e olhos bem negros... quase uma morta.
É ritmo! É ritmo de festa! Oeeeeeeeeeeiiiiiiiiii! Bem, galera, estamos chegando à reta final! Monte de gente comenta, dá oi e por aí vai! Cara, você aí caladinho(a)....”Má má má, vem pra cá! Vem pra cá! Como você chama? O que a você faz, meus colegas de trabalho?” (baixou o espírito do Silvio na autora).
Ah! #momentopropaganda! Vocês já leram The Hunting Game do LJ Lopes? Pois é! Se eu fosse você corria lá! Sabe por quê? Temos uma participação da Gi e do Ju na história. Corre lá: https://fanfiction.com.br/historia/472674/The_Hunting_Game/capitulo/20
Para quem ainda não acompanha, leia a partir da primeira temporada, hein? Bom!
Bem, e é isso aí! Beijos para meus pães de ló e meus queridinhos que sempre dão o ar da graça aqui! E até a próxima sexta com... Chamem os Bombeiros! Até lá! E todo rodando! “É ritmo! É ritmo de festa! Oeeeeeeeeeeeeeeeeiiiiiiii”



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