Chamem os Bombeiros escrita por Juliana Rizzutinho


Capítulo 33
Só quero passar um weekend com você


Notas iniciais do capítulo

Com a mesma pontualidade britânica, chega o novo capítulo. Enjoy ;)



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— Então podemos deixa-lo em casa e saímos para jantar. Que tal? – o Júlio me pergunta.

Assim que saímos do jornal, passamos na casa do Júlio, deixamos minha mala e a mochila lá e fomos buscar o Ernesto. Mas desta vez a viagem foi de carro. Já foi um sufoco levar as minhas coisas e na base de improviso. Mas como iria saber que o Jú viria de moto? Aliás, de Vespa?

Olho para o banco de trás, e o Ernesto está na gaiola. Ele me encara com um olhar maligno, de poucos amigos. Mas isso já é seu normal. Me volto para o Júlio que espera a minha resposta.

— Eles não irão se matar, não?

— Você diz o Ernesto e o Mozart?

Afirmo com a cabeça.

— Bem, eles não se mataram quando... – e dá um sorriso de canto de boca.

— Digo, agora, sem a gente lá, entendeu?

Ele mexe os ombros, mas continua atento dirigindo.

— A não ser que...

— O que você tem mente, Jú?

— E se a gente os separasse em cômodos diferentes?

— Tá! Mas como?

— Assim, o Mozart gosta do meu miniescritório e o Ernesto ficaria na área de serviço.

— Jú, o Ernesto gosta de explorar o ambiente. Ele fica nervoso confinado em um lugar!

“Estão falando de mim? Certo! E agora o que irão me aprontar?”

— E se a gente passar naqueles pets shops grandões e comprar alguns brinquedos para cada um se distrair?

“Eu já tenho brinquedos! Se for para ser novidade quero aqueles trecos para escalar! Brinquedos, brinquedos! Esse cara pensa que está lidando com uma criança? Idiota!”.

A ideia não é de toda má, mas... Vai ficar tarde para sair ou não?

— Jú, mas se gente for jantar fora vai ficar muito tarde e os restaurantes cheios...

— Relaxa, pequena! O nosso final de semana só está começando. – E ele aproveita para dar um selinho enquanto o farol está fechado.

E ouço o Ernesto fazer um fizzzzz.

O Júlio também percebe, vira para ele e diz:

— Pode reclamar! Agora você vai ter que repartir sua dona! – e mostra a língua.

E mais uma vez o meu gato faz fizzzzzz.

******

Conclusão: estamos em uma daquelas lojas de uma grande rede que só tem produtos para animais. Entramos com o Ernesto e, por milagre, parece anestesiado. Anestesiado não seria a palavra mais correta e, sim, vidrado.

“Sinto que a humana vai comprar aquelas coisas para escalar! Aí, sim, hein?”.

Passamos pelos produtos de cachorros, que o Júlio até se volta para trás para olhar.

— Vamos comprar uma árvore para o Ernesto escalar e depois a gente escolhe algumas coisas para o Mozart, beleza? – ele avisa.

— Boa! Acho que vai dar certo nosso plano, hein?

Paramos em frente a vários escaladores. E há de todos os tamanhos. O Ernesto fica agitado na caixa.

— Gi, quer testar? – ele me indaga com um olhar de doido varrido.

— E se ele fugir da loja?

— Ah, vá! Vai nada!

Ele abaixa a gaiolinha, destranca e o Ernesto sai. A princípio me encara e depois o Júlio.

— Vai, rapaz! Escolha o que você quer!

O jeito que o meu gato fica... Bem, ele fica deslumbrado e meio que boquiaberta! É possível isso? E aí, sim, o meu gato avança devagarinho e vai para o mais alto. E escala, como fosse a razão de sua vida.

— Jú! E a se a vendedora vier reclamar? – indago baixinho.

— Relaxa! A gente tá testando o produto, ué?

— Mas é um brinquedo para gato!

— Eu sei! Gi, quando você vai comprar um celular, não testa?

— Sim, mas não um escalador para gatos!

— Mas pense! Se o Ernesto não testar, como ele vai saber...

— Senhor! – escutamos a vendedora dizer: - O seu gato não pode ficar circulando pela loja!

— Bem! Ele está testando o brinquedo dele, certo?

Me volto para o meu felino que está no ponto mais alto do escalador atento à conversa. E o Ernesto olha... com jeito amoroso para o Júlio! Não, isso não é possível!

— Mas, senhor! Quem me garante que ele possa fazer algum alvoroço aqui dentro? – pergunta a atendente com os braços cruzados.

— Imagina! Ele é um gato bem compor...

E escutamos um barulho estrondoso. Voltamos para cima e o Ernesto deu um pulo de um escalador para o outro. E uma peça do menor cai lá do alto. O gato nos encara com “O que foi?”.

O Júlio na maior cara de pau se volta à vendedora:

— Eu não disse? Ele escolheu o mais alto! Vamos leva-lo!

A resposta da atendente? Ela nos encara com uma expressão: Vou enforca-los.

Saímos de lá, com um escalador que imita uma árvore e no meio tem casinhas, alguns brinquedos para o Mozart, mais um espaguete de borracha. Para quê? Eu não sei! Só escutei do Júlio: “O Mo adora correr com um desses!”. Bem, não sei como ele vai correr dentro de um apartamento com um espaguete de borracha, mas enfim...

Chegamos em casa. O Mozart nos recepciona feliz e o Ernesto implora para sair da gaiola.

— Pera! Vou montar e aí você pode dormir até em uma das casinhas! – avisa o Júlio.

Por obra do destino, do acaso, sei lá, de Oxalá, o Ernesto o obedece. Enquanto isso, lavo as minhas mãos e vou até a área de serviço aprontar as tigelinhas de cada um dos bichos.

— Jú, você acha que deveríamos separar as tigelinhas, né? – pergunto e o pego olhando atento ao manual de instruções para montar a escalada.

— Sim, meu amorzinho! Posso deixar do Mozart na varanda. Apesar de que deixo o conezinho e o tapete dele lá.

— Bichos não curtem muito colocar comida e a área de necessidades juntas.

Ele para de ler o manual, olha para mim e ri.

— Você é uma figura, Gi!

— Ué? Pode perguntar para o Mozart se ele curte.

E por incrível que pareça o golden presta atenção em cada palavra da nossa conversa.

“Ela tem razão, papai! Nem vem que não tem! Não vou mudar a minha rotina por causa desse.... desse...Que gato irritante!”.

*****

Bem, a árvore está pronta e o Ernesto a explora super empolgado. Enquanto isso, o Mozart sai correndo de lá para cá com o espaguete. O apartamento do Júlio vira um playground para bichos. Quando o meu gato alcança o ponto mais alto da árvore começa a miar! E mia tanto! Nunca o vi tão feliz.

“Sou o dono do mundo!!! Sou dono de tudo!!!”.

— Caramba, Gi! Nunca o vi tão feliz! – se espanta meu namorado.

Sorrio feliz. Mesmo que eles não consigam ainda se interagir, digo o Ernesto e o Mozart, com os brinquedos é possível que eles consigam conviver no mesmo ambiente. Isso é bom, me dá mais segurança para passar o final de semana sossegada.

— E aí, quer tomar um banho e vamos comer? – me convida o Jú.

— Tenho uma proposta melhor! – digo.

— Opa e o que seria? – me pergunta com um sorriso malicioso.

— E se a gente comesse qualquer coisa agora e de manhã fossemos tomar café da manhã na padaria?

— Gostei, hein, pequena? Topa pedir um lanche?

— Ótimo! E que chegue logo que estou com fome! – aviso.

O Júlio volta para a sala com um folder de uma lanchonete e repentinamente o abraço. E o abraço apertado. Ele retribui com a mesma intensidade.

— Obrigada por deixar a minha vida mais divertida. – digo em seu ouvido baixinho.

Ele me encara com sorriso, acaricia meu rosto e diz:

— Eu que agradeço por você entrar na minha vida. Parecia que vivia em uma eterna “Sessão da tarde”.

E assim corre a noite. Os bichos brincando, nós saboreando nossos lanches, o rádio ligado. Olha, não esperava que a minha vida fosse mudar tanto com o Júlio. E isso porque neguei o quanto podia o que sentia por ele. A vida é engraçada, sempre nos prega peças de forma intrigante.

Separamos as tigelinhas de comida e água para que não ocorram conflitos durante a noite. A caminha do Mozart vai ficar no miniescritório do Júlio e o Ernesto, na cozinha.

— Vou deixar os abajures ligados, tudo bem?

— Mas, o Ernesto tem medo do escuro? – indaga o Júlio. – Quando ele ficou aqui foi de boa.

Me viro para meu querido e coloco as mãos na cintura.

— Até parece que você não conhece o seu cachorro!

— Mas Gi, ele tem que acostumar!

— Júlio, dá um tempo, né? O que me importa agora é tomar um belo banho e...

— E posso dar banho em você? – indaga mexendo as sobrancelhas.

— Sou grandinha! – respondo debochada.

— Mas, pensa... com a crise de água, bem que a gente poderia tomar banho juntos. Estamos colaborando com a natureza, não é mesmo?

Ele me propõe enquanto sigo para o quarto.

— Júlio!

— Ah, vá! Vamos tomar banho juntos, vai! – ele pega pela cintura e me levanta.

— Dá para você me colocar no chão? – indago, enquanto ele fecha a porta do quarto.

*****

“Ando pelas ruas, apressada. E passo na frente de uma cafeteria. O cheiro de café expresso me invade as narinas. Estou em Londres. Frio, garoa e um vento gelado. Tento ignorar a vitrine preenchida por bangels, donuts e doces confeitados. Mas a fome fala mais alto. Mexo a cabeça e continuo andando. Mas, a minha barriga ronca. Indecisa, fico pensando se não seria uma boa ideia voltar e tomar um expresso quentinho e saborear um donuts. Mas... será que tenho dinheiro? Verifico a carteira e parece que tem algumas notas e graúdas! Caramba, tenho tudo isso de libra esterlina? Quer saber? Vou voltar e tomar café da manhã.

O Júlio não se incomodaria se demorasse um pouco, né? Nem o chefe? Volto e abro a porta do estabelecimento. Ele é aconchegante, e quente. O aroma fica mais forte e sento-me perto da janela para observar o movimento.

— Bom-dia! O que a senhorita gostaria para hoje?

Viro-me e... o garçom... O garçom é o George Clooney!? Sim, ele está de meio-fraque, exatamente como naquela propaganda da Nespresso! Cacetada!

Ele me encara com aqueles olhos brilhantes, grandes... aí que vontade de agarrar esse homem! Limpo a garganta e digo:

— Bom-dia, senhor! Gostaria de um expresso e um donuts de creme.

— Pois não! Não gostaria de aproveitar e experimentar nosso café da manhã completo? Tem torradas, geleia, chá ou expresso e um pão doce do seu gosto.

— Gi?

— Hum... E tem tortas?

— Tortas doces? Salgadas?

— E na Inglaterra têm tortas?

— Gi, amor! Acorda!

E o George Clooney me responde de forma irônica:

— Pense você que está em fanfic de banda? Nessas histórias só têm Starbucks, coque frouxo e ... E desde quando se esqueceram de falar do Nespresso?”.

— Gi?

Abro os olhos e dou de cara com o Júlio rindo de mim.

— Jú! Estava sonhando que estava na Inglaterra!

— Eu percebi! Você fala enquanto sonha!

Zonza, levanto-me e puxo o edredom para meu corpo.

— Está com frio? Vem cá que te aqueço...

— Júlio, você é terrível! – digo.

— Você acha? – diz ele. – Só um pouquinho.

*****

Cara, como é maravilhoso acordar com a garota que você ama. Já disse isso antes? Pois é, mesmo que ela fale enquanto dorme. Banho tomado, eu secando o cabelo (com secador dela) enquanto a minha garota passa diversos cremes pelo corpo.

Ela volta do quarto com uma bolsinha lotada de maquiagem.

— Vou guardar, viu?

— Tá na hora do senhor comprar um secador, né?

— Ah, você me empresta quando vier para cá. – e a beijo.

Deixo o secador em cima da cama e volto para o banheiro e a observo enquanto se maquila. Como ela é linda, só de calcinha e sutiã, os cabelos presos em coque e conversa comigo enquanto se enfeita.

— Jú! O que você acha que o Murilo esconde?

— Olha, Gi, estava louco para tocar nesse assunto com você. – confesso.

— Não sei, Jú. Tô com a Juliana... Tem algo aí que a gente não sabe.

— Como, por exemplo? – pergunto.

— Vejamos! Ele tem um chip com o mesmo número do celular vermelho do chefe.

— Mas nesse caso, ele usou para nos ajudar, não?

— Isso é. – ela concorda. – Mas, que nem, percebeu que ele entra sempre um pouquinho depois do chefe?

— Gi... – fico um pouco receoso do que vou falar, mas com ela... Bem, com ela tenho liberdade. – Você acha que os dois têm um caso?

Ela me encara com o pincel do blush suspenso no ar.

— Pensei nisso também. Mas não é isso, não!

— Não?

— Definitivamente, não! Temos aí algumas possibilidades...

— Quais? – pergunto curioso.

— Ele pode ser um filho bastardo do chefe...

— Bastardo? – confesso que me assusto.

— Essa é uma das possibilidades... Pode ser que ele seja um espião...

— Espião?

— Jú! Tudo que falo você me devolve com uma pergunta.

Dou risada. Pior que estou fazendo isso mesmo.

— Mas também, Gi, você percebeu que somos viciados em informação?

— É. – concorda. – Mas o que o Murilo deve ter feito para a Juju ficar louca da vida?

— Isso não sei, Gi. Mas... suspeito que a Juliana descobriu algo que estamos discutindo agora.

— Tem razão! – fala e para de passar o rímel para continuar: - E do jeito que a conhecemos...

— Ela irá atrás do que realmente ele esconde e vai até o fim!

— Isso mesmo!

— Agora, falando seriamente... – digo e ela me olha. – Há algo que mais me intriga...

— O que é? – me indaga, curiosa.

— Quando vamos tomar café que estou morrendo de fome?

Ela sorri. E é a coisa mais linda, maquiada, de roupas íntimas e com jeito de menina. Pensando bem... acho que não só o café da manhã que quero devorar, não...


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Notas finais do capítulo

Quero dar boas-vindas à Bella Rose, à Bells, à Mel Blande que entraram para a trupe de Chamem os Bombeiros. Muito bem!
Bora para o Glossário que está de boa hoje?
Só quero passar um weekend com você – o título do capítulo é uma referência à musica Weekend do grupo Blitz, uma banda ícone dos anos 80, de onde saíram Fernanda Abreu e Evandro Mesquita.
Figura - alguém engraçado, debochado.
Nem vou precisar explicar a correlação: George Clooney/Nespresso, né?
Antes de terminar, vou abrir uma brincadeira com vocês. Tem vontade de perguntar algo para algum dos personagem? Fique à vontade, que o trago aqui e ele responderá nas notas finais. Mas, aposto (e ganho) que o mais solicitado será o Ernesto e depois o Mozart. Estou certa?
E no próximo capítulo, nós vamos ver como transcorre o final de semana entre a Gi e o Jú.
Beijinhos e bom final de semana! E ah, boa semana também!



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