Chamem os Bombeiros escrita por Juliana Rizzutinho


Capítulo 22
Armadilha


Notas iniciais do capítulo

Olá! E aqui estamos com novo capítulo de Chamem os Bombeiros. E quero dedica-lo à Karina A. de Souza, que deu a 7ª recomendação à história! Aeeeeeeeeee! Obrigada, querida, e esse vai para você!
Bora para história?



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“Sinto-me livre! Ele corre com a Vespa como não houvesse amanhã. E a toda velocidade. Mas em certo momento, o seu comportamento se torna brusco. Júlio começa a ultrapassar ônibus, outras motos, uma perua, caminhões.

— Vá devagar, Júlio! – o repreendo. Mas tudo que ouço é sua risada. Tão transloucada como Light Yagami em Death Note.

O fotógrafo hipster diz:

— Veja do que sou capaz!

A partir daí, ele acelera mais ainda a ponto que a motoca começa a trepidar. E logo tenta emparelhar com um Land Rover branco.

— Pare, Júlio! Pare! – ordeno.

Ouço mais uma vez o ronco do motor renegando o meu pedido. Não! Agora, estamos lado a lado com o carro. Quando viro do lado, dou de cara com a Melissa. É ela que está no volante do carro chique.

— Vou mata-los! Muaahhh! – e gargalha de um jeito que me deixa arrepiada.

— Não! – grito.- Pare os dois!

— Jamais!! – respondem os dois ao mesmo tempo.

O carro de Melissa começa a trombar conosco e ela solta uma gargalhada mais alta.

— Veja! Olhe suas mãos! – a garota periguete me ordena.

Me volto às minhas mãos e elas seguram apenas a camisa de Júlio. A moto continua a guiar sozinha. Pelo retrovisor, vejo um corpo caindo ao chão de bruços, ensanguentado e sem vida. E sim, é do Júlio, sem dúvida!”.

*****

— Não!!!!! – acordo com o meu próprio grito. Sento-me na cama atordoada com o pesadelo que tive. O Sol tenta invadir as frestas das persianas e dos vãos da janela. Ernesto chega sem fazer barulho. Para na porta do quarto e mia.

“Maluca! Agora deu de gritar sonhado, é? Você deveria é ser internada!”, mio.

— Desculpe, Ernesto! Mamãe acordou você?

“Não! Imagina! Quase me levou a um infarto! Doida!”

O gato me olha mais uma vez com desprezo, depois dá meia-volta e vai embora.

Passo as mãos pela cabeça, levanto-me e procuro uma piranha para prender os meus cabelos. Preciso lavar o rosto, quem sabe afasto esse sonho horroroso de minha mente. Sonho, não! Pesadelo! Nunca vi o Júlio naquele estado. E nem quero ver! Afinal... O que a Melissa fazia no sonho?

O celular toca, enquanto termino de escovar os dentes. Tento bochechar, mas quase engulo a pasta. Corro para atendê-lo e, no meio do caminho, o meu dedo dá de encontro com a perna da cama. Agarro o celular e digo:

— Ai!!

— Gi?

— Jú?

— Por acaso estou atrapalhando alguma sessão sadomaso? – pergunta debochado.

— Vá à merda antes que me esqueça! Bati o meu dedinho no pé na cama quando fui te atender.

— Oh, que dor! Mas, você está bem? – me pergunta.

— Sim, acabei de acordar. – digo enquanto tento massagear o dedinho para amenizar a dor. E completo: - Não tanto quanto você.

Olho para o relógio que fica na cabeceira da cama. São oito horas da manhã de um sábado. Ouço uma risada. Mas daquelas gostosas, que ele dá quando dou respostas mal educadas.

— Oh, minha pequenina, então você é mal humorada quando acorda?

— Por que você quer saber? – é... acho que a TPM me atacou, taí a razão do sonho.

— Nada! Só comentei!

Odeio gente que acorda com aquele sorriso no rosto com cara de propaganda de margarina dizendo: “Bom-dia”! Será que o Júlio é assim? Inferno!

— Já tomou café?

— Hum... ainda não!

— Então, vou levar o Mozart para tomar banho, posso passar aí e tomamos café da manhã juntos, que tal?

— Tudo bem! Mas que horas termina o banho dele? – indago.

— Fica fria, teremos pelo menos duas horas. Depois podemos ir ao parque, mais tarde almoçar...

— Nossa, já pensou em tudo! – brinco. E me pego sorrindo. Fico pensando, estamos namorando?

— Podemos passar o dia juntos! Que tal? – ele me propõe.

— Ótimo! – respondo sorrindo que nem boba.

Ernesto aparece de novo na porta e mia.

“Vai sair, né? Nem para ficar em casa me mimando! Francamente, odeio você, o barbudo e aquele cachorro imbecil!”

— Então, quanto tempo você demora para se arrumar?

— Me dê... uns 45 minutos?

— Hum... tudo bem! – ele me responde.

Corro para me arrumar enquanto o gato vem atrás. De novo, ele mia e até se agarra nas minhas pernas.

— Ernesto! Calma! Vou colocar comida e água!

“Que ódio de você! Quero atenção! Entendeu? ATENÇÃO!”.

Passam-se os 45 minutos e o interfone toca. Estou só finalizando o rímel. Tudo pronto, corro para o interfone.

— O Júlio está aqui, Giovanna. Posso manda-lo subir?

— Claro!

Olho em volta se a casa está em ordem e até que está apresentável. Corro de novo para o quarto a fim de fechar a porta. Não deu tempo para arrumar a cama. Quando a deixo desarrumada parece que ouço minha mãe dizendo: “Isso não é um ninho de rato! É uma cama”. Nesse momento a campainha toca. E vou lá atender. O Ernesto me segue com cara de poucos amigos. E assim que abro a porta.

— Bom-dia! – diz o Júlio com uma eco bag, suco, um bolo e ... flores? Ele comprou flores?

Ele me oferece e mal tenho tempo de cumprimenta-lo porque ele me beija.

— Mas... Mas não iriamos sair?

— Bem, o rapaz do pet shop disse que poderia levar onde estaríamos. Como não sabia onde iríamos tomar café, tive a ideia de vir para cá. Te incomoda?

E respondo dizendo:

— Não... Não.. Não! Tudo bem!

— Mas nosso plano de passarmos o sábado inteiro ainda está de pé, né? – indago.

— Tenha certeza. – responde com piscadela.

Por mais que estou gostando dessa fase com o Júlio, algumas dúvidas começam a me assombrar. “Por quanto tempo ficaremos assim? Será que é algo passageiro? Estamos namorando?” Sinceramente, não sei o que pensar.

Ele deixa as coisas na pia da cozinha e me pergunta:

— Vou lavar as mãos e coloco a mesa, tudo bem?

— Bem, quer café normal ou na máquina de...

Não tenho tempo de terminar a frase, ele me agarra na pia e me beija com vontade. Tirando o fato que estou com fome, o beijo é bom, chega a ser sensual. Ele me abraça com gosto e passa as mãos em minhas costas. Fico tonta até que... o estômago pede por atenção. Ele ri divertido, mas não me solta. E chega a sussurrar no meu ouvido:

— Estava morto de saudades de você.

A voz dele é rouca, chega a me deixar arrepiada, mas sinceramente? A fome fala mais alto. E é fome de comida. Com jeito, o empurro e digo.

— Vamos comer? Estou morta de fome e...

— Tudo bem! Temos o dia inteiro para aproveitar. – e termina a frase piscando.

Não entendi muito bem esse sinal. Ele quer... Sexo? Caramba, mas, o que ele quer de mim? Desvencilho dele, abro a gaveta e pego dois jogos americanos e os levo até a mesa. Ele vem atrás.

— Gi, aconteceu alguma coisa?

— Não!

— Fala, tem alguma coisa incomod...

Agora quem o corta sou eu.

— Vamos comer, está bem? Não consigo raciocinar quando estou com fome.

O café corre normal, animado e com Ernesto nos rodeando. Sinto que ele não gosta do Júlio ou tem ciúmes. O Jú até tenta oferecer um pedaço de pão para conquista-lo, mas o esforço é em vão. Quando estamos levando a louça para pia, o interfone toca novamente.

— Dona Giovanna, o seu cachorro Mozart chegou. – o porteiro parece confuso de modo que para e pergunta: - a senhora tem cachorro? Eu não sabia...

— Não é meu! É do... – e agora como devo chamar o Júlio? Namorado? Amigo? Rolo? Nem eu sei. Para piorar ele me olha com curiosidade para ver como termino a frase. Mal de jornalista... e isso é algo que detesto.

— Bem, em todos os casos, peça para o moço do pet shop subir. – falo.

Para piorar bem a situação, o Ernesto vira do nada e encara a porta. Me olha e depois foca no Júlio. Será que ele sentiu o cheiro do Mozart? Inferno, quando isso vai terminar?

— Gi, deixe a louça aí. Assim que o Mozart chegar podemos sair, certo?

— E vamos deixa-lo aqui?

— Não, bobinha. Vamos leva-lo para passear no parque. Está aí um pretexto para a gente namorar, né?

Fico surpreendida com a afirmação. Certo, pode ser cedo demais para definirmos o que somos. Mas, alguém, por favor, aplaque a minha ansiedade!

Vamos para o parque do Ibirapuera. E o dia está quente, com Sol forte e muitas pessoas aproveitando o tempo bom. Mozart se diverte correndo para lá e para cá. Nunca vi um cachorro com tanta energia. E ele brinca com pouco. Encontro um pedaço de galho de árvore e jogo longe. O cachorro corre para busca-lo e o Júlio me enlaça pela cintura.

— Sabia que você fica uma graça com esse vestido? – sussurra no meu ouvido. Tento parecer natural, mas não sei o porquê fico sem-jeito.

*****

Na hora do almoço, nos dirigimos ao restaurante que há dentro do parque, que só abre aos finais de semana. E o público tem todo o tipo de gente. Quando chega nossa vez, somos barrados.

— Não pode entrar animais de estimação. – alega o hostess.

O Júlio tenta convencê-lo.

— Mas ele é praticamente um membro da família. Não é amor? – o hipster tenta o meu apoio.

Perai, ele falou família? Eu, ele, o cachorro... E onde fica o Ernesto? Ele quis dizer que somos... casados?

— Não! Sinto muito as regras são categóricas aqui!

Aperto o braço do Júlio e pergunto baixinho no seu ouvido:

— E agora, o que a gente faz?

— Topa um food truck? – indaga meu querido hipster.

— Boa ideia!

Damos as costas e o Mozart consegue largar da coleira e volta para fazer xixi bem na porta do restaurante. Nada como um protesto canino.

Isso que me encanta no Júlio. Esse jeito despachado e sem preocupações. E se não dá certo algo, ele logo arranjar outra opção. E o dia corre assim, com novas descobertas, piadas, passeios e beijos.

Júlio está me trazendo de volta para casa, e já é noite. Viro para trás, e o Mozart está desmaiado no banco de trás. Esparramado e com a língua para fora, nem parece o cãozinho que brincava com cada pessoa que passava.

Assim que paramos na frente do meu prédio, tomo coragem e pergunto:

— Quer entrar? Posso fazer um café.

— Hum... eu aceito! Mas veja o Mozart, ele está dormindo tão profundo, Gi. Pode ser outro dia?

— E se você deixa-lo em casa e voltar para cá? – até estranho o meu convite. O que me deu na cabeça? Falar assim é como quem dissesse: “Quero dormir com você”. Não é?

Ele me olha espantando e me diz:

— Posso? Só fico preocupado com...

— Ernesto. – completo.

— Isso! Então fazemos o seguinte, vamos para minha casa e...

— Não! – até eu me surpreendo com a minha negativa.

Ele fica com cara de quem levou um susto.

— Gi, eu...

Não sei o que me dá. Tenho medo que apenas a gente passe uma noite juntos e ele me abandone. Mas como vou dizer isso a ele? O clima fica meio tenso. Não tenho ideia como conserta-lo e aí tenho uma ideia.

— Bem, podemos passar o Natal juntos, não? Mamãe sempre...

— Gi! Vou passa-lo com os meus pais. Eu tinha prometido para eles...

— Não vamos passar juntos? – pergunto indignada.

— Gi, eu prometi aos meus pais que...

— Mas e os presentes que compramos um para o outro? Os presentes que...

— Gi! – ele me pega pelas mãos e olha no fundo dos meus olhos. – Tinha prometido para os meus pais bem antes de começarmos a ficar...

— Somos só isso? Ficantes? – empurro. – Sabia! Duvido que você irá fazer comigo, o mesmo que fez com a Melissa!

— O que fiz com a Melissa? E o que tem a haver ela em nosso relacionamento? – ele fala mais alto. Nunca o vi assim bravo. Só quando algo ou alguém não permitia que realizasse o trabalho.

— Você comeu ela, né?

“Giovanna Strambolli, por que você não cala a boca?”, penso.

Ele respira fundo, fecha os olhos e me encara. E os olhos dele ficam quase negros. Ops, lá vem encrenca.

— De onde você tirou essa ideia esdrúxula que dormi com a Melissa?

— Você estava olhando a bunda dela enquanto acontecia aquela treta maligna durante o primeiro turno! – berro.

Ele solta as minhas mãos e diz:

— Gi, vá para casa! Não quero brigar com você!

Pego a minha bolsa que está no chão do carro, abro a porta do carro e antes de batê-la, digo:

— E eu não quero vê-lo nem pintado na minha frente! Passe bem!

Bato a porta do carro e vou zunindo de raiva até o portão do prédio. Empurro-o com tanta força que por pouco pega meu dedinho. E só ouço os pneus do carro cantando e os latidos do Mozart ao fundo.

— Que morra no próximo poste! Maldito hipster. – grito e sigo rumo ao meu canto para chorar. O que me resta fazer?


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Notas finais do capítulo

Ai, caspita! Logo aí a primeira briga do casal! É dose, viu? Mas que eles não se definem, não se definem, né? Oh, tenha dó!
Ah, quero mandar um beijo para Alyssa Sullivan. Ela disse que era uma fantasminha até que... Disse que não aguentou e comentou. Não é muito amor? Pois é, faça como a Alyssa que te mando um beijo! Também quero mandar um beijo para Lari Mello que favoritou a fic.
Bora para o glossário?
Glossário – Chamem os Bombeiros
Light Yagami em Death Note – Personagem principal do anime/mangá Death Note. Light assume o codinome de Kira, quando começa a fazer uso de um caderno, onde quem tivesse seu nome escrito, morreria em poucos segundos.
Sadomaso – diminuição de sadomasoquismo.
eco bag – são aquelas sacolas retornáveis. Geralmente são feitas de pano ou outros materiais recicláveis.
food truck – Traduzindo literalmente, seria “caminhão de comida”. É comida de rua, que recebeu o tal raio gourmetizador. Às vezes, vale a pena, outras, não. Geralmente são montados eventos só para os food trucks. É preciso xeretar primeiro, porque os preços nem sempre são convidativos, partindo do princípio que seria como comida de rua. Mas aqui a coisa ficou um pouco mais refinada.
No próximo capítulo... Iremos para Brasília! Assistir junto com a trupe do jornal a posse da Dilma! Oh, só! Estamos chiques! Então, espero vocês! Beijos e muito obrigada pelo carinho.



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