Chamem os Bombeiros escrita por Juliana Rizzutinho


Capítulo 16
Desgraça pouca é bobagem!


Notas iniciais do capítulo

Olá, garotada, chegando ao 16º capítulo de Chamem os Bombeiros! E dedico aos fantasminhas que têm tanta vergonha de aparecer... Vai que a história é tão boa.. que vocês não têm nem palavras para comentar XD Bora para história?



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— Juro que não acredito! – reclamo em alto e bom som, com a toalha, o meu sabonete caro e luxuoso, de toquinha e com sutiã e calcinha.

O Ernesto mia, como falasse: — Orra!

Respiro resignada, jogo a toalha no boxe e coloco o sabonete na pia. Sabe o que vou fazer? Procurar aqueles serviços “Pra que marido?”. E que venha ainda hoje! TEM que ser hoje!

Ligo o notebook puta da vida. Anoto os estabelecimentos mais próximos de casa e começo a ligar. Um só chama, outro cai na caixa postal. E no terceiro, a atendente fala:

— A agenda está lotada, senhora! Pode ser amanhã?

— Amanhã? – indago indignada. – Como vou tomar banho hoje?

— Sinto muito, senhora! Mas nossos atendentes estão todos ocupados!

Ocupados, é? Já escutei de amigas minhas que há determinadas esposas que utilizam esse tipo de serviço para outros fins... E não é para consertar a casa! Mas enfim, né?

Bufo, nervosa. O que mais posso fazer?

— Tá bom, então, né? Bem, ele poderia vir após às 17 horas.

— Senhora, não tenho esse horário disponível. Posso manda-lo ao meio-dia?

— Mas, nesse horário estou no trabalho!

— Há alguém que poderia acompanhar o serviço?

Que porra é essa? Preciso tomar banho hoje, caspita! Vim da 25 de março, entendeu, garota? 25 de março!

— Então, está bem! Marque nesse horário, paciência. Mas... Tem certeza que não há um horário mais tarde?

— Sim, senhora! – a resposta dela vem bem rápida e com convicção.

Passado todos os dados, desligo o telefone. O dia foi de calor, me sinto suja e suada. Eu que não vou tomar banho de canequinha! E aí, mesmo contra a vontade me vejo ligando para minha mãe. Se fizesse academia, poderia usar o banheiro de lá, não? Mas detesto academia. Já corro todo o dia, e ainda ficar suando à noite? Não, não, não mesmo! Absolutamente não!

Escuto o telefone chamar. Bem, de qualquer maneira ligaria para ela, afinal quem mais poderia estar por aqui nesse horário?

E então ouço uma voz tão conhecida do outro lado da linha:

— Alô?

— Mãe?

— Fiiiiiiiilha! Tudo bem com você?

— Tudo mal, isso sim!

— O que houve? Sou toda ouvidos!

— Mãe, é o seguinte: o meu chuveiro queimou e liguei para aqueles serviços “Pra que marido?” e...

— Por que você não pediu para seu pai consertar? Ele faria com...

— Mãe! – digo firme: - Sou uma mulher feita! Só te liguei para pedir um favor.

— E o que não faria para filha que me orgulhar tanto?

“Deixar todos os meus objetos seja pessoais como os de casa no seu devido lugar e não na sua bolsa?”. Mas, respondo:

— Então, o rapaz que irá consertar vem ao meio-dia. Será que a senhora poderia estar para acompanhar o serviço?

— Claro! E faria companhia para seu gato adorável, o Ernesto.

Viro para o gato e digo:

— Ouviu, Ernesto? Vovó vem aqui amanhã para te fazer companhia!

“Aquela perua maluca? E por que ela não fica em casa?”, mio.

— Escuta, filha! E como você vai fazer para tomar banho?

Passado quinze minutos...

Lá estou eu, dentro do táxi, com o Ernesto na caixinha, os braços com alguns arranhões (porque quando o coloco nesse compartimento, geralmente, é que vou leva-lo ao vet), uma mochila com troca de roupa, uma nécessaire, as tigelinhas e a ração para o meu “filho”.

O motorista é um amor, até lembra o Jura. Ele não corre, ele voa! E em poucos minutos estou em frente ao prédio de meus pais. Confesso que não tenho um pingo de saudades de morar aqui. Não que eu não gostasse, mas, o preço da independência mesmo sendo caro, vale muito a pena paga-lo. Se estivessem velhinhos e doentes, vá lá. Mas não é o caso.

O meu pai, Jorge, é professor de alemão em duas faculdades no curso de Letras. Ele tem um temperamento até que tranquilo, para aturar minha mãe que tem seus altos e baixos. Mamãe foi funcionária pública, e agora está aposentada. Recebe uma boa aposentadoria, porém usa e abusa da boa vontade de seu marido.

Desde que o Márcio, meu irmão, foi morar com a Ana, parece que os meus pais meio que deram o aval para que eu saísse de casa também. Queriam até me ajudar. Na época pensei que estava sendo rejeitada, mas aí percebi que estavam sempre se recolhendo ao quarto, saindo e voltando muito tarde. E até arranjavam desculpas porque eles não voltavam no mesmo dia.

Ah, sim, é isso aí, eles voltaram a “namorar”. Vai ver que é o efeito que afeta certos casais: acompanharem o florescimento dos seus filhos para voltarem aos tempos que não tinham nem horário para fazer amor. É... e, diga-se de passagem, se a minha mãe não tivesse entrado na menopausa, vai ver que teria mais um irmão. Vai saber...

O porteiro me anuncia e vou levando toda a minha tralha. Quando o mesmo vê que tem um gato na gaiolinha, até tenta brincar. Mas o máximo que o Ernesto faz é um “ fizzzz!”.

Agora estou na frente do apartamento dos meus pais. Coloco as coisas no chão e quando vou tocar a campainha:

— Fiiiiilha! – a minha mãe abre a porta com estrondo e me cumprimenta de modo bem espalhafatoso como ela só faz.

— Tudo, mãe! Bem, não quero incomodar.

— Vamos, vamos! Entre! Jorge, venha cá! Ajude a Gi trazer as coisas para cá. – grita para o meu pai.

Quando ela vê a gaiolinha, fala:

— E vejo que trouxe seu fiel companheiro...

E Ernesto repete seu famoso “fiiiizzzzz!”.

— Mãe, eu sei que deveria deixa-lo lá, mas...

— Vai dormir aqui com a gente hoje, né? – pergunta meu pai que aparece de robe e chinelos.

E reparo que ela está descabelada. E... ops, é um chupão no pescoço dela?

— Mil perdões se a casa está um pouco bagunçada, filha. – me avisa. – Isso porque a Raimunda pediu para sair mais cedo hoje e...

— Não! Tudo bem! Nem vou reparar.

O meu pai leva as minhas coisas para o meu antigo quarto, que hoje virou um microescritório.

— Você não se incomoda de ficar aqui, né? – ele me pergunta.

— Mas amanhã cedo, vou para o trabalho e depois para casa, viu? É só provisório.

— Eu levo o Ernesto! – avisa a minha mãe.

Já livre da sua gaiolinha, o meu gato aparece no cômodo e nos olha com desdém.

“Tem certeza que devo ir com essa perua velha?”, mio indignado.

— Vê só? Ele me ama! – informa minha mãe.

Alguns minutos depois, estou debaixo do chuveiro e me delicio com a água. É disso do que estou precisando: banho! Lavo os cabelos e sinto a força da água como fosse uma massagem. E nasce uma pitada de inveja. Caramba, se o chuveiro do banheiro em frente ao meu antigo quarto é moderno, imagina o da suíte deles? Pois é... Deu para perceber que eles “mandaram bala” no apartamento. Ficou melhor e mais bem equipado depois que eu e meu irmão saímos. Sem-vergonhas!

Saio do banheiro com roupão, cabelos molhados e encontro a minha mãe fazendo a cama. Isso me dá certa nostalgia, da Giovanna que nem sempre precisava se preocupar com tudo. Mas é um pouquinho só.

— Mãe!

Ela vira o rosto para mim e percebo que Ernesto já virou amigo dela. Ele está deitadinho com as patinhas largadas e com rabo balançando para lá e para cá. Que efeito calmante ela deu para o gato? A última vez foi a lata de atum sólido que, diga-se de passagem, é cara para caramba, enquanto roubava minhas taças de cristal.

— Diga, filha.

— A senhora poderia me emprestar o secador.

— Claro! – ela me diz. – Aliás, acredito que seu cabelo ficou mais fácil de arrumar depois da progressiva, não? – me fala enquanto anda em direção ao seu quarto e a acompanho.

Entramos no banheiro da suíte e agora até tem banheira! Ela abre o armário e pega um secador moderno.

— É verdade! Logo mais vou marcar com cabeleireiro e...

Ela me vira e com secador me cutuca o peito enquanto fala:

— Escute aqui! Não se esqueça de fazer manutenção no seu cabelo! Progressiva deve ser retocada de dois em dois meses, no máximo. Você tem feito hidratação?

Depois que fez a pergunta, ainda para e coloca as mãos na cintura. Pera lá, só pedi o secador.

— Bem... Nem sempre dá tempo e...

— Tsc! Tempo se arruma, Giovanna! Tenha dó, não? Vou te dar um dos potinhos extras de óleo de argan que é ótimo!

Espero sinceramente que tenha comprado e não roubado. Ela me entrega o secador e abre o outro compartimento do armário. E desta vez, retira vários frasquinhos cor de mel.

— A senhorita deve passar entre o xampu e o condicionador. E deixe nos cabelos pelo menos cinco minutos! – e empurra os potinhos. E ainda inclina de forma ameaçadora. – E nada de pegar com os dedos!

— Então como eu o pego? – me vejo fazendo a pergunta de forma estúpida.

— Oras, Gi! Com uma espátula! – e me empurra uma que não sei de onde saiu.

— Agora, uma pergunta: por que não posso pega-lo com as mãos?

Ela suspira e revira os olhos. Até parece que ela é vendedora de alguma loja de cosméticos e que está falando com uma total ignorante. Caramba, me cuido, tá?

— Porque seus dedos estarão molhados! E água entrando no pote, faz o creme perder a força. Ele vira um condicionador normal, não um creme hidratante.

— O jantar está pronto! – aparece o meu pai na porta do banheiro e me salva das aulas de beleza e estética de minha mãe.

Bem, dou uma leve secada nos cabelos e corro para mesa. Afinal, o dia foi tão atribulado que só agora percebi que estava com fome.

Para a minha surpresa, há uma cumbuca enorme na mesa, sobre um aparador. Depois vem meu pai com uma travessa de batatas fritas. E aí a minha mãe abre um vinho rosé e bem docinho.

Enquanto isso, meu pai dispõe pratos fundos para os três. “Iremos tomar sopa?”, pergunto a mim mesma. “Mas está calor!”.

E aí sim, a minha mãe abre a cumbuca e lá estão eles... Mexilhões. Já tinha comido esse tipo de prato em um restaurante francês com um grupo de amigos. E fiquei deliciada.

— Poxa! Vocês estão bem, hein? – foi a minha primeira reação quando vejo a cumbuca aberta.

— E até batatas fritas para acompanhar? Uau! Isso é muito chique. – digo.

— Sabia que você iria gostar! – diz a minha mãe. – Essa é uma receita francesa e seu pai está com ataques de cozinhar também.

— Fiz até alguns cursos!

— E agora, ele vai entrar no curso de culinária brasileira com o chef Carlos Ribeiro. Posso?

Sério isso? Daqui a pouco já está entrando no restaurante da Carla Pernambuco e jogando beijo para ela!

— Posso comer com as mãos?

— Deve! – diz o meu pai. – Senão você não entra no clima do espírito francês.

Então, tá, né? Daqui a pouco vou esbarrar até com Guga Rocha ou Carlos Bertolazzi aqui em casa. A minha antiga casa virou gourmet.

E aos poucos a minha noite vai compensando o estresse que tive durante o dia. Tirando o Ernesto que ficou nos rondando para ganhar mexilhões. Mas como isso não é recomendável para o gato, infelizmente tivemos de “tranca-lo” na cozinha.

À noite, com os dentes escovados, pijama vestido, bocejo e me preparo para dormir. E mesmo com todos os meus esforços para que isso não acontecesse, o Ernesto conseguiu o que queria: dormir aqui comigo. Mas ele que fique na caminha dele. Afinal, a minha é estreita demais para nós dois.

E adormeço. Mas em um determinado momento da noite, ouço algum barulho estranho vindo de longe. Sabe quando você está naquele limiar entre estar dormindo e acordada? E parecem gritinhos. Levanto meio ensonada e encaro o Ernesto. O abajur que deixa o ambiente à meia-luz denuncia que ele está dormindo, feito pedra. Bem, isso é raro porque há determinadas noites que ele anda de lá para cá em casa. Gatos são seres noturnos. Não todos, mas a grande maioria. Mas o Ernesto é de veneta. Há noites que ele dorme por horas. Em outras, anda para lá e para cá fazendo sei lá o que.

Atento ao barulho. É de fora? Aproximo-me da janela e abro bem devagarinho. Olho para o relógio são duas horas da manhã. E os gritinhos vão ficando mais acelerados. Pode ser alguma gata no cio, certo? Errado! Os gritinhos vêm de dentro de casa. E de repente, ouço a voz do meu pai. Um grunhido? Não, não... Pera aí. Eles estão... Transando?

Ai, cacetada! Quer coisa mais constrangedora do que ouvir seus pais transando? Era só o que faltava para terminar esse longo dia!


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Notas finais do capítulo

Eita, a Giovanna tá azarada até dizer chega, fala aí? Hahahaha
Bem, vamos ao glossário Chamem os Bombeiros?
“Pra que marido?” – é um tipo serviço recorrente aqui em São Paulo. As empresas disponibilizam serviços como: trocar o chuveiro, consertar torneiras, descargas de vasos sanitários e por aí vai. Muito utilizado por solteiros. Mas mulheres casadas com maridos “não muito talentosos” também usam.
Óleo de argan – é um dos ingredientes em cremes, hidratantes, inclusive capilares. Ele tem poder regeneração e hidratação máxima.
Chefs:
• Carlos Ribeiro – conhecidíssimo pela sua gastronomia contemporânea, é professor e responsável pelo melhor picadinho servido no seu restaurante Na Cozinha. Quem provou de sua comida, não esquece ;)
• Carla Pernambuco – famosa pela fusion cuisine. Apresentadora, autora e chef responsável dos restaurantes Carlota e Las Chicas.
• Guga Rocha e Carlos Bertolazzi – os dois chefs apresentam o programa Homens Gourmet no canal Fox. O primeiro preza pela culinária tropicalista e é autor do divertidíssimo livro “Receitas para pegar mulher”. O segundo é dono de uma culinária com pegada mais italiana (inegável pelo seu sobrenome, né?) e responsável pelos restaurantes Zena Café e Spago.
E agora uma agradecimento para Thays Wanderer que favoritou a história. Aeee!
E na semana que vem... ah, na semana que vem... vou ficar quieta para não estragar a surpresa! Beijos, boa semana e Feliz Ano-novo!



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