Linhas Borradas escrita por Iulia


Capítulo 6
Desejada traição honrosa


Notas iniciais do capítulo

Olá! Eu acho que toda essa história da separação da fanfic pode ser um pouco confusa, então é importante ressaltar que não estou repostando capítulos, esse é um novo. É só que tive que tirar a parte do Willian e renomear os meus pra ficar organizado. Tem um pouco de... hum, xingamentos nesse. Mas já que escutamos isso o tempo todo, não me pareceu preocupante. Acho que preciso falar com vocês lá embaixo, então até lá c:



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Cato

Clove tem a mesma aparência indefesa de quando Aaron a encontra. Há uma nevasca e eu tenho aquecedores, mas seus lábios estão roxos de frio no momento em que está presa entre minha espada e a Cornucópia.

Ela permanece em silêncio. Quando sua existência está prestes a se esvair, ouço sua voz distantemente, etérea e cantante, como um eco de muitos anos.

– Cat Cato, acorda.

E eu abro meus olhos para encarar seu rosto logo acima do meu, olhando como se quisesse rir. Só quando seu cabelo solto bate na minha cara acordo de verdade.

– Que porra é essa?

– Se você não sabe – Clove dá de ombros sorrindo, voltando para a minha cama. – Algo a ver com “Clove, corre, vai embora”.

Eu queria que sim, mas Fuhrman não está mentindo. Essa encenação de contorcimento e gritos foi exagerada, mas os cantos da minha boca estão voltados pra cima.

– Então, trevo. Por que não está dormindo?

Ela ergue as sobrancelhas, dá de ombros de novo e não me responde.

– Pensando no tanto que isso é louco?

– Eu não sou louca de tentar pensar sobre.

– Clove, você não convence ninguém com essa de não dar a mínima – sai da minha boca antes que eu possa impedir. Ela levanta os olhos, franzindo a testa.

– O que você quer que eu faça? Você sabe que nós dois queremos isso.

– Ficou irritadinha, Fuhrman? Não fui eu quem aceitou se voluntariar faltando menos de uma semana – Clove parece quase ressentida, então suavizo o tom. – Se fosse a Achila, isso ia acabar de uma vez.

– Eu ainda preciso ir pros Jogos.

– Ia ano que vem. Não ia, não sei, o inferno pro seu voluntariado.

Ela fica em silêncio de novo, agora sem me olhar. Eu só olho pra ela, pra de repente me desculpar sem precisar falar nada.

– Você é louco, Cato – Fuhrman fala baixo. – Eu não vou ficar sozinha aqui no 2. Sinto muito.

Desisto de falar sobre isso. Sacudo a cabeça e faço um gesto para que ela se aproxime. Estranhamente, sem qualquer ressalva Clove vem e se senta ao meu lado. Alcanço a caixa de primeiros socorros e trato de novo do seu ferimento. Quando escuto um ruído de sucção com a língua, ergo os olhos para ela pedindo desculpas, mas logo volto a enrolar a bandagem.

– Vou sobreviver até amanhã? – ela pergunta sorrindo levemente.

– Numa visão otimista, tem mais umas horas – respondo, sorrindo de volta.

– A melhor notícia em muito tempo.

Eu não quero que Fuhrman vá embora, então passo um braço ao redor de sua cintura e a puxo pra perto. Ela está muito desesperada ou muito cansada. Não faz nada.

– Só tente não me beijar, Ludwig – sussurra depois de muito tempo, deitando a cabeça no meu ombro. Rio fracamente.

– Não vai querer morrer antes de me beijar.

– Se eu fosse morrer, aposto que ia querer.

Claro que é mentira. Fuhrman estatiza perto demais de mim. Se houvesse perdedores no 2, diria que fica nervosa. Mas isso é só muita atração. E eu gosto do cheiro dela.

– Eu vou falar para os outros que você é minha.

– Está ficando louco? – Clove levanta a cabeça e me empurra. – Eu não sou sua, idiota.

Minha morte – esclareço, sorrindo.

– Isso não vai ser fácil, Ludwig. Vai bagunçar muito o seu topetinho tentando.

– Convém.

Fuhrman agora se encolhe do outro lado do colchão. Depois de muito tempo diz:

– Se quiser ir pra sua cama, estou bem aqui.

– Não é um bom jeito de começar um assunto.

– Quem disse que eu quero começar um assunto com você? – Clove rebate quase latindo, se virando pra mim como se de repente tivesse muita coisa a dizer. – Enobaria me contou sobre as coisas que você esconde aqui.

– A sua mamãe tem te contado muitas fofocas a meu respeito.

– Seu bêbado desgraçado – isso é um sibilo. Ela parece até magoada.

– Eu adoraria ver você aguentando sóbria.

Só me dou conta do erro quando a mão da menina para a alguns centímetros do meu rosto.

– Seu filho da puta. Não tem ideia do que é aguentar.

E volta para minha cama, virada para a parede como uma namoradinha ressentida com insensibilidades.

– Fuhrman. Me desculpa – as palavras amargam. Não há “por favor” ou “me desculpa” no meu vocabulário.

– Vai pro inferno, Ludwig.

– Qual é, Clove, eu disse sem pensar.

– Você nunca pensa.

– Eu já pedi desculpas, porra – quase grito. Só que ao contrário do que Fuhrman diz, eu penso. E peguei pesado. - Sinto muito. Sério.

Eu não trato Clove assim. Ela é a única pessoa com quem eu tento manter minha voz baixa. Mas não ultimamente. Tudo tem ido por água abaixo com essa droga de voluntariado.

Finalmente ela se vira para mim, se sentando de novo. Seus cabelos estão meio emaranhados agora.

– Você sabe que eu odeio esse tipo de menção.

– Sei.

– Então não deixe que elas escapem da sua boca de novo. Ou eu não vou esperar pra te matar no final.

Rio alto. Fuhrman voltou ao normal.

Mas a situação não. Passamos a madrugada toda acordados, olhando um para a cara do outro esperando que a manhã chegue mesmo que ela vá me trazer mais problemas que o inferno.

– Enobaria disse que eles vão te arranjar com a garota do 1.

Clove murmura às três da manhã, se encolhendo mais uma vez.

– Do que você está falando?

– O nome dela é Glimmer Rambin. Vão sortear ela esse ano.

– O que quer dizer “me arranjar”?

– Quer dizer que você vai dormir com ela.

– E por que eu precisaria disso?

– Porque ela é gostosa. Loira, alta, tem os peitos que você adora - estou quase rindo agora. Clove sussurra como se não aguentasse cuspir essas palavras, como se pudesse me provocar.

– Qual é, Fuhrman, não preciso dessa menina.

– Mas ela precisa de você. Os patrocinadores vão querer ver alguém fazendo o que eles não vão poder fazer.

– Ninguém ganha os Jogos por causa dos peitos. Não é como se eu fosse manchar meu nome com casinhos toscos.

– Se é o que você diz. Vai mudar de ideia quando ver a Colheita – Fuhrman ergue uma sobrancelha, desviando o olhar. – Eu não quero ela na aliança.

– Você sabe que é impossível, não sabe? Nós fechamos com o 1 desde a primeira edição.

– Ela vai esse ano por causa de um tal de Marvel amigo dela que decidiu se voluntariar. Ninguém que faz isso pode ser útil.

– E o que é que você está fazendo, Fuhrman? Não vai esse ano só porque eu vou também?

– Vai pro inferno, Ludwig.

– Nós só vamos deixar que ela morra sozinha no Banho de Sangue.

Ela não fala mais nada sobre os tributos do 1. Não fala mais nada sobre nada.

– Você vai ficar comigo o tempo todo, Fuhrman.

– Isso é uma ordem, senhor?

– Se você quiser ficar viva até o final, pode a considerar como tal.

– Nós dois sabemos que nenhuma de suas ordens vão zelar por minha vida, Ludwig – Clove diz, sorrindo com algo que poderia ser chamado com moderação de perigo. Essa desgraça é um bebezinho chorão, mas ainda gosto disso. Fuhrman tem que saber com que lidar. Devolvo o sorriso.

– Nós sabemos muito bem, cravinho. Você só precisa saber que se segui-las, a gostosa do 1 não vai encostar um dedo em você. Nenhum deles vai. Você vai ser minha.

Clove ameaça dar uma risada, se levantando da minha cama e passeando até a janela.

– Você não tem ideia do que isso significa. Me ter requer esforço, Cat Cato, e você não está preparado.

A observo contra a janela. A imagem que faço da garota do 1 vem exclusivamente das palavras dela, mas uns centímetros a mais não vão me fazer deixar a Clove em paz. Ela não pode fugir mais, não tem mais tempo e ela sabe disso tudo.

Então eu não sei por que não aproveitar. Rapidamente, me levanto e me aproximo dela até que seus braços estejam presos por minhas mãos e sua boca prestes a ser dominada pela minha.

Fuhrman desvia o rosto no momento exato. Essas manchas vermelhas em seu rosto são de vergonha. Clove está corada. Estou com dificuldade em prender a risada.

– Me larga, Cato.

– Não precisa ter vergonha de mim, Clovely.

– Não. Me. Chame. De. Clovely.

– Não mude de assunto – puxo seu rosto com um pouco de força.

– Não há um assunto. E você não é idiota pra fingir que não sabe sobre isso, Ludwig. Amanhã não vamos nem nos olhar. Estamos indo nos matar.

– Seria um desperdício, então, não fazer isso.

Puxo seu corpo de novo contra o meu, agora pela cintura.

– Não se atreva a encostar essa porra de boca em mim! – Fuhrman ruge, se debatendo. Eu paro pra rir, mas logo volto ao trabalho. – Cato.

Essa palavra saindo da boca dela me chama atenção. Se não for muito sério, Fuhrman prefere não me chamar pelo nome.

– Me solta agora. Por... Gentileza.

Olhando para ela sorrindo, o faço.

– Não me faça de idiota.

– Ah, eu não ousaria – rio de novo. Clove se deita e suas últimas palavras antes do começo dos Jogos são:

– Para de rir, seu filho da puta.


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Notas finais do capítulo

Ficou maior, né? Enfim. Eu precisava falar sobre essa questão dos leitores e participação e coisas de gente apelona que escreve. Porque sabe, eu acabei de terminar uma série de quatro anos e não planejava exatamente começar uma tão repentinamente assim. E como todos os leitores dessa aqui já se tornaram fantasmas logo no começo sem me dizer o porquê, com exceção de um amor de pessoa chamada Mrs OShea, eu ando um pouco... Desacreditada com o rumo dessa história. E eu não gosto muito de ficar apelando pra mendigar comentário, então, sei lá. De repente eu decida deletar a história. Não gosto muito de pisar em falso e eu realmente não estou enxergando futuro :c Enfim. Espero que passem bem c: