Linhas Borradas escrita por Iulia


Capítulo 22
A Divisão do Inferno


Notas iniciais do capítulo

Tendo um bom dia, amorzinhos? Eu espero que sim. Eu fiquei meio chateada no último capítulo, porque vocês fazem ideia do tanto de acompanhamento que tem e apareceram os mesmos três comentários de sempre. Na verdade eu fiquei achando que nem eles iam aparecer, então tudo isso tipo quebrou meu coração. Mas aqui está. Ele é só um capítulo ponte extremamente necessário, mas espero que gostem. Ah! Ele é dedicado a SraMorgenstern, que foi incrivelmente doce e fez uma recomendação tão linda! Obrigada mesmo, amora c:



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Clove

Eu abro meus olhos direto nos de Ludwig.

– Vamos caçar, garotinha.

Ele está prendendo a espada na bainha, sorrindo. Ainda está escuro. Se fosse lá fora, eu diria que talvez quatro da manhã.

Quando eu estou preparada, dou um chutezinho em Quaid. Eu queria tanto fazer isso olhando nos olhinhos do capeta dele.

– Você – Cato está apontando para o cara do 3 com uma lança na mão enquanto eu saio na sua frente, fazendo todo seu showzinho de senhor musculoso. Pobre garoto. Nunca soube que há formas melhores de intimidar. – É melhor manter os olhos abertos. Eu vou voltar daqui a pouco.

– Sim, senhor.

Mas ele é bom o bastante.

– Então. Como vai ser? – Ludwig fala como se fosse uma ironia depois de um abençoado longo tempo.

– O quê? Como vai ser o quê?

– Quando a gente vai se livrar deles, Clove. Eu odeio quando você finge que não sabe das coisas – ele arranca as folhas de um arbusto com a espada, ficando nervosinho. Eu poderia falar que sei o porquê da sua raivinha, mas ele não gosta de saber que o papel de burro é sempre ele quem faz.

Então eu balanço a cabeça. Continuo andando, olhando pra frente como eu sempre fiz.

– Eu não sei. Talvez a gente não vá se livrar deles. Eu não sei.

Ele cala a boca. Ludwig ri, sacode a cabeça e não olha pra mim. Eu posso ver as engrenagens antigas e enferrujadas por trás de seu cabelinho bom.

– Você está com medinho de mim. É isso? – ele para, ainda sorrindo e agarra meu braço mesmo eu estando na porra do seu lado.

– Não, não é – eu mantenho minha voz baixa. É o Cato. Ele ri mais. De um jeito ruim. Chega mais perto.

– Então se eu disser agora que vou pegar a lança e jogar pra matar o coelho perto de você, o que você vai fazer, garotinha?

Meu corpo o responde antes que eu ou até mesmo ele o faça. Eu o empurro, pego uma faca, quase destruo seu peito.

Mas ele ia me matar. Ele falou de um jeito afobado, eu vi a coisa estranha no olho dele. Ele chegou perto, não parou de falar comigo.

– Ia ser assim, então? Você ia me matar falando da porra de um coelho atrás de mim, me chamando de “garotinha”? – minha voz ainda está baixa. Eu sorrio pra ele, olhando os dois arranhões na sua camiseta. – Sério?

– Não fode, Clove – Cato continua andando.

– Eu pensei que ia ser melhor que isso.

– Você está assustada desse tanto? – agora esse covarde se vira pra mim. – Eu não ia te matar, eu não vou encostar a porra de um dedo em você, garotinha desesperada.

– Eu não estou assustada.

– Ah, não? Vai se foder, Clove, nem tirando minha roupa você já rasgou minha camiseta pra tirar sangue.

– Eu não estou com medo.

– Porque não é o que parece, você sabe.

E ele sabe que porra está acontecendo aqui. Ludwig sabe e ele é tão covarde que faz papel de ofendido por eu ser boa demais pra não ficar atenta sobre ele.

A porra de uma lança apontada pra mim. Ele quer vencer, eu quero vencer. O que eu deveria fazer é exatamente o que eu fiz.

– Eu não vou encostar em você agora, Fuhrman. Qual é, amorzinho, nós somos do mesmo distrito. Você vai ser meu presentinho de Natal. Você sabe – ele se vira pra mim de novo, sorrindo –, só nós dois. Nessa arena vazia. Todo mundo vendo.

– Parece que a gente vai saber quem é o melhor, não é? – sorrio de volta. Eu adoro esses joguinhos psicóticos. Quem morrer primeiro é o perdedor.

– É, amorzinho. E aí: Adeus, cravinho.

Eu rio. Ele tem que saber que eu me arrependi de verdade daquela noite. Eu não vou deixar Ludwig me matar. Nem fodendo.

– E aí você vai me ver só nos seus pesadelos, não é, meu amor?

– Aham. Isso está correto.

– Se eu não te matar enquanto você estiver tendo um deles.

[...]

Eu queria ter descontado toda a raiva por ter andando tudo isso enquanto o aleijadinho do 10 estava bem aqui no meu quintal, enfiado no meio do mato na frente do acampamento. Mas eu não fiz isso. Eu quero que Marvel receba toda minha atenção.

Cato não para de perguntar sobre ele o dia inteiro. Mexendo no meu cabelo. Deitando no meu colo. Me beijando um par de vezes.

Eu queria que ele estivesse morto.

Eu não vou dizer uma palavra. Quaid é meu. Só meu. E se Ludwig acha que eu sou dele e que por consequência Marvel é dele também, eu infelizmente vou ter que mandar ele pro inferno mais cedo.

Eu fico entediada. As horas passam e não há a porra de um movimento nas folhas. Eu preciso esperar o cara do 3 buscar minha comida. Preciso aguentar Cato gritando, rindo, sendo ridículo o tempo todo.

– Qual é, você vai manter essa criança acordada por mais três dias? – eu agarro sua jaqueta e o puxo pro canto. – Ele vai explodir a gente porque não consegue pular no lugar certo da próxima vez que você disser “ei, magrelo, eu quero mais um pacote de carne”. Você sabe onde eu vou mandar você enfiar essa porra de pacote de carne, Cato?

– Se acalma, boa samaritana. Eles têm que aprender quem manda aqui.

– Eu não sou uma boa samaritana. Mas você vai foder tudo, Ludwig, se não deixar esse infeliz dormir. Eu estou falando sério.

Ele inventa uma história cafona pra fazer uma caricatura de discurso do mau quase bom e o menino apaga na mesma hora. Então eu quero ir tomar banho, mas ele é ridículo o bastante pra berrar até pra isso, porque “não tem mais gente pra vigiar os suprimentos e os arredores”. Ele é louco.

Mas eu sou mais e quanto volto, ele é só um garotinho rosnando.

Nada acontece. Eu passo outro dia caçando ninguém, enfiada no meio do mato com Quaid e Ludwig. O tempo devia passar mais rápido. Só que toda hora eu olho para Cato, porque eu sei que tenho uma dívida com ele. Eu não sei se ela vale minha vida, minha honra, tudo que eu sou e que construí e que é meu. Mas eu queria não tê-la.

Eu sinto um cheiro estranho na tarde do outro dia.

– Olha só! – Quaid aponta para um sinal de fumaça no outro lado da floresta.

– Levanta aí, 3 – dou um chute nas pernas do garoto. Se ele fosse mais rápido, ele duraria mais.

– O que você vai fazer, Clove, vai trazer seu amiguinho? Ele tem que ficar, fofinha – Marvel começa a ri.

– Ele vai.

– Por quê?

– Porque eu estou dizendo que ele vai, porra! Ele vem com a gente.

– Cato, você não ensinou essa sua putinha a pensar, não?

– Cala a boca – Ludwig fala tão baixo que parece uma cobra sibilando. É bom que ele olhe direto pra ele. – Você é minha única putinha aqui. E ele vem. Já terminou o que tinha pra fazer aqui.

E se eles não sabem, eu nem preciso olhar pra Cato pra ter certeza do que isso quer dizer. No final do dia, esse pobre e pálido garoto vai receber uma linda homenagem no céu.

– Quando eu achar ela, não é pra ninguém se meter.

Eu estou esperando uma explicação, porque Evergreen era minha. Eu não sei que inferno Cato está pensando, mas eu quero a minha parte. E eu vou ter ela.


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Notas finais do capítulo

Eu sei. Ficou meio sem sentido o final, mas eu parei aqui porque eu preciso que o Cato narre o próprio ataque de pomba-gira. E eu vou continuar esperando que alguém apareça e me conte o que eu mudei do começo que fez com que as pessoas sumissem. E eu vou adorar ouvir qualquer coisa que vocês tenham a me dizer. E eu realmente espero que vocês tenham a melhor semana do mundo c: