Linhas Borradas escrita por Iulia


Capítulo 2
Moldando impressões


Notas iniciais do capítulo

Oi! Então, essa é a minha primeira experiência tentando falar e pensar como o Cato. O capítulo de hoje foi realmente a tentativa primária, mas nos próximos acho que consegui captar ele melhor. Espero que gostem c:



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Clove

Fui treinada minha vida toda para não levar sustos, mas, que Enobaria jamais saiba, Cato ainda consegue me fazer levar as mãos ao peito e prender a respiração. Sentado no vestiário feminino deserto, seus pés se batendo contra o soalho provocam ecos. Não o deixando ver que fui pega de surpresa, caminho para os armários sentindo seu olhar me esquadrinhar.

– Não vai falar nada, Clove?

A sua voz parece se expandir até as minhas entranhas.

– Eu deveria? Você que veio até aqui – respondo casualmente, puxando alguns utensílios a esmo da minha mochila.

– Deveria, porque não fala nada desde ontem – eu não o olho, mas sei do seu tom de voz autoritário. Cato é ridículo.

– Então devia estar acostumado.

Sorrindo como se eu fosse alguém sendo pego ao tentar fazer algo que só pareceu inteligente em sua cabeça, ele se levanta e anda até mim gingando.

– O que inferno aconteceu com você? Você brigou com o seu namoradinho?

Tento bater a porta do armário em sua mão, mas muito esperto, ele a tira e sorri para que eu saiba disso.

– Eu não tenho um namorado – falo com tranquilidade, desviando de seu corpo presunçosamente grande e me sentando no banco onde ele estava, tentando fazê-lo entender que eu espero poder tomar banho.

– Como se eu não soubesse disso.

Ergo meus olhos pra ele, esperando que ele se sinta ameaçado.

– Todo mundo sabe disso.

– É, mas eu sei melhor do que ninguém.

Ele joga sujo, mas não sabe de nada. Não importa o quanto ele se empenha pra fazer parecer que é meu dono, ninguém supõe que temos qualquer coisa além. Nem ele. Nem eu.

– Você só sabe ser idiota – sibilo. – Sai, Ludwig. Eu preciso ir embora.

– Sério que você está me dizendo que vai embora sem mim? – ele estreita os olhos e cruza os braços, finalmente parecendo perceber que não foi nada que ele disse ou algo a ver com alguma dor minha.

– Eu fui ontem, eu vou de novo hoje. Tchau.

Eu não estava esperando que ele se sentasse ao meu lado ao invés de ter seu orgulho ferido e sair batendo a porta. Cato faz isso. Sacode a cabeça com incredulidade e se vira mim.

– O que a Enobaria falou com você naquela sala, Fuhrman?

– Não importa pra você – falo, e quase não passa de um sussurro.

– Clove, inferno, eu estou falando sério! – ele berra, se levantando.

Encaro seu rosto já enraivecido e seus olhos incrivelmente irritados e azuis e sei que tudo vai se transformar em cólera. Mas ergo as sobrancelhas e dou a notícia calmamente:

– Eu vou entrar nos Jogos esse ano.

Cato quebra coisas, ele nunca parece verdadeiramente abalado ou se afasta como se precisasse entender. Ele está fazendo isso hoje e eu deveria me alarmar.

– Não. Esse não é o tipo de piada que faz alguém rir, garota.

– Não é uma piada. Nós vamos para os Jogos juntos – continuo imparcialmente, sentada encarando sua figura cada vez mais ameaçadora.

– Não! Não, não! O que você falou sua idiota?! Você tem quinze anos, inferno, não é o seu ano! – Cato então começa a berrar e só então parece ele, me empurrando como se quisesse agarrar meus ombros. Ele berra por muito tempo e soca tantas coisas que já deveria ter quebrado as mãos.

– Não seja ridículo. O que eu falaria?

Ele para de andar pela sala e se vira pra mim.

– Por que você está agindo como se não se importasse?

Sua voz abaixou. Seus olhos agora estão encarcerando os meus. Cerro os dentes e há algo muito estranho no meu corpo, como se ele se comprimisse, se apertasse quando eu digo sofregamente:

– Porque eu não me importo.

[...]

Cato

Não acredito em uma palavra do que a Fuhrman disse.

Clove continua sendo a garotinha de anos atrás que me abraçava no aniversário. Ela se importa. Ninguém nunca quer ir para os Jogos com alguém que sequer olhou na sua cara uma vez. Se você ultrapassar várias milhas essa linha como fizemos e for um bebezinho como ela é, estará chorando no travesseiro.

Ela é uma vadia. Patética e inacreditável, a única que eu conheço há sete anos.

E se fosse aqui e agora, eu não mataria ela.

Eu não sou um covarde, não sou o perdedor, não sou fraco. Eu sou o vencedor. É Clove que é pequena demais.

E nós somos os únicos caçadores, os únicos que eram capazes de formar uma dupla perfeita, os únicos carreiristas em todo o 2 que completaram invejavelmente todas as simulações. Nós deveríamos ser vizinhos na Aldeia dos Vitoriosos. Mas eles estão mandando eliminar a única parceria que funcionaria para ser a que receberia o título de novos diretores da Academia quando Enobaria e Brutus estiverem velhos demais.

Eles são ridículos. Mas Clove é mais por tentar agir como se eu não conhecesse ela.

Se ela não se importa, então amanhã eu chego na Academia com uma aliança, falo “eu te amo” e caso com ela. Tão improvável quanto.

Eu vou mantê-la viva para o final. Uma vez lá, eu a mando fugir e nunca mais vamos olhar na cara um do outro. Quem durar mais é o vencedor.

Então Clove vai estar sozinha e desprotegida de um jeito que ela nunca esteve. Mas que parece muito querer ser capaz de estar.

Sorrindo levemente do seu raciocínio ilógico de achar que ainda dá tempo de se afastar o suficiente para conseguir me matar a sangue frio, fecho os olhos. E me pergunto quanto tempo mais a Fuhrman vai precisar pra se dar conta que não pode fazer isso de jeito nenhum. Porque precisa de mim.


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Notas finais do capítulo

Ei, eu acho que pra começar bem, vocês podiam comentar. É a coisa mais maravilhosa poder aprender com os leitores, ouvir o que eles têm a dizer sobre a história. Se algum de vocês escreve, com certeza entende isso. Enfim. Obrigada por lerem c: