Linhas Borradas escrita por Iulia


Capítulo 18
Relações


Notas iniciais do capítulo

Oi amiguinhos! O primeiro grande aviso que eu tenho é que vou parar com esse negócio de colocar a data e as horas porque, vocês sabem, eu ia ficar muito confusa com a arena. Eu não tenho muita noção de tempo, na verdade. E também com o negócio do distrito, porque isso era bem necessário quando a gente também falava sobre o pessoal do 1, mas agora que é só o Cato e a Clove... Achei melhor assim, mas se alguém quiser falar alguma coisa, vou adorar ouvir como sempre c:
E, ei, obrigada pelos comentários! Eu fiquei tão feliz que acho que se vocês continuarem assim, eu nunca vou querer passar tanto tempo sem postar!
Enfim. Espero que gostem c:



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Clove

Glimmer está avançando com uma pedra, vermelho em gotas; seu cabelo são fios de ouro como nunca quando o sangue o encontra. A garota está pressionada contra uma árvore. Distrito 6; ela está implorando.

Eu fecho os olhos. Está escuro. Eu tenho marcas e onze anos. “Você me deve isso”, ele dizia e eu fechava meus olhos porque dizer por favor já travava minha boca. Ele tem tanta raiva.

– Se você gritar, vadiazinha, só vai ser ainda mais minha. O papai vai gravar uma outra lembrancinha.

Eu me afasto até bater as costas na parede.

Eu não sabia que os outros pais não faziam isso. Ele exige que sua dívida seja paga desse jeito. Ele tira a roupa. Eu grito de novo quando ele encosta em mim. Meus vestidos agora são imundos.

Ainda amarga, mas eu choro “não, por favor, eu estou te implorando”.

Jogo uma faca na 6.

– Clove! – Glimmer levanta os braços e arregala os olhos.

– Não me deixe ouvir mais ninguém implorando, Rambin, ou eu vou repensar essa aliança.

Dou as costas e de volta pra minha mochila, tenho um presentinho. Tudo que eu queria, eu já estava cansada de procurar ela. Um cara está brigando com a foguinho.

Sorrio; é a grande hora, Capital. Os minutinhos de fama do 12 estão prestes a virar pó.

Derrubo primeiro o menino, do 9. Morte limpa, porque ele fez esse favor de arrumar ela pra mim. Então eu olho para Evergreen, encolhida no chão e meu braço já jogou a faca.

Essa vadia acaba de me fazer acertar a faca em uma mochila.

Estou calculando quantos patrocinadores perdi enquanto corro atrás dela. Eu não estou cansada mais; a imagem das aberrações rindo garante toda a raiva que preciso. Eu quero que ela pague por cada pequena sensação desagradável que provocou em mim. Se ela tiver sorte e eu começar do desfile, o início vai ser moleza. Com as notas, seu rosto não vai estar mais tão inexpressivo.

Chego no limite da floresta e corro até essa garota do 10 vim do inferno e pular em mim.

Ela tem uma faca e pouca coragem. Eu não tenho tempo. Ela tenta prender meus braços, pressionar meu rosto contra a terra. De pé exatamente acima de mim. Eu riria se não estivesse com tanta raiva. Faço ela cair com a perna. Me viro, meto o pé no seu nariz, arranco a faca. Quando me levanto, não há nenhuma resistência. Agarro seu cabelo pela frente e a jogo contra uma árvore.

– Você é louca? Que porra foi aquela?

Eu não tenho tempo, mas eu estou com tanto ódio. Ela começa a chorar.

– Você me fez perder ela, sua idiota! – eu estou berrando. Bato sua cabeça de novo contra a árvore. Continuo a encarando. Eu quero que ela me veja bem antes de ir.

Não quero me sujar. Escolho uma faca comprida e até que minha mão esteja tocando na pele dela, não paro de empurrá-la no coração da menina.

Empurro a cabeça da garota mais e mais contra a casca da árvore. Eu perdi a brasinha.

– Cravinho! Ei, querida, por que está aqui sozinha?

Cato grita, rindo que nem um bêbado ridículo como todos os outros. Um braço ao redor de Glimmer. Deixo o corpo da menina cair e me viro pra eles.

– Uma açougueira decidiu me entreter – rosno, limpando a faca na roupa dela.

– Nós vamos caçar. Vão arrumando as coisas – antes de saírem, Ludwig se abaixa até a boca de Glimmer. Então depois de acenar até ela sair, ele se aproxima, sumindo esse sorriso podre. – O que foi que eu te disse, Clove? Eu te disse pra ficar perto!

Eu ainda estou irritada. Cato está me fazendo levantar a cabeça pra encará-lo, quase caindo em cima de mim.

– Sabia que eles escutam tudo? Não precisa ficar berrando – o empurro e puxo a mochila da menina morta no canto. – E foda-se, eu ia pegar a brasinha se não fosse essa louca aqui.

– Foda-se você, não me interessa.

Ele realmente acha que está no controle. Eu olho bem pra Ludwig. Isso funciona. Vai funcionar pra sempre. Ainda me encarando, ele pega a mochila da minha mão e me empurra pra frente.

– Vamos voltar. Eu achei uns óculos de visão noturna na minha mochila. Vou pegar o da Rambin pra você.

Eu acho que é uma má ideia fazê-la desconfiar desse jeito, mas não falo nada. Eu estou irritada porque pessoas do distrito 10 conseguem entrar no meu caminho.

– Ei, Cato. Esse cara apareceu aqui e nós... – Marvel começa assim que nos vê, agarrando pela jaqueta ninguém mais que o foguinho masculino.

Ah, Deus. As coisas estão saindo do meu jeito.

Cato larga a mochila em cima de mim e sai na frente, empurrando todo mundo até chegar em Quaid.

– Você ficou louco, Marvel? – ele puxa o colarinho dele até ficarem cara a cara. Me aproximo do garoto enquanto isso, não vou perder tempo com as briguinhas de Cato. – Por que é que você deixou ele vivo, está pensando em traição?

– Você apareceu aqui, Conquistador? – pergunto, andando ao seu redor atrás das armas. Ele tem uns ferimentos porque tentou pegar uma mochila, eu vi. Agora ela está no canto, com a Glimmer. – Não tem nada a ver com a Evergreen?

Ludwig me empurra pra trás com o braço livre de repente.

– Porra, Fuhrman!

Olho pra ele e sacudo a cabeça. Volto para o 12.

– Ahn, não... Clove, certo?

– Aham. Continua – sorrio e desvio de Cato.

– Eu vim ajudar vocês – ele parece confortável. Sorrindo feito o traidor que se diz ser.

– E como é que você poderia? Quer carregar os suprimentos? – Glimmer pergunta, se sentando numa caixa longe de nós.

– Eu poderia ajudar vocês a achar a Katniss – ele dá de ombros.

– Katniss. É a sua namorada, não é?

Ele ri. Mantenho os olhos nele.

– Não mesmo. Você sabe, audiência. Essas coisas.

Eu pondero sobre o assunto. Esse cara apareceu aqui desarmado, dando de ombros. Ele sabe que é importante ou não ousaria. Eu preciso de alguém pra manter a guarda na maior parte do tempo - de preferência alguém pobre e com cara de boa gente – e também de um carregador. Esse 12 ainda promete uma recompensa por todo esse benefício: a cabeça da agora Katniss Evergreen, a garotinha do 12 que tem um onze.

Se ele for burro, seria cinco contra um, ele não teria chance. Olho nos seus olhos e esse garoto nunca matou ninguém. Não teria coragem, muito menos se a pessoa estivesse dormindo. Ele parece perfeito.

Sorrio e olho para Cato. Ele só mexe o queixo e eu sei que poderia ter um não pelo resto da vida se eu não fosse eu. Se é a opinião dele que importa, é dele que eu vou atrás.

– Esse cara sabe do que está falando – toco seu braço.

– Sério? – ele está irritadinho – Depois de jurar amor eterno?

– Qual é, Cato. Qual é o problema? – eu sorrio. Sorria pra Cato como se fosse um desafio e ele vai mudar de ideia. – É um cara do 12! Ele não vai tentar nada e se estiver mesmo mentindo, a Evergreen vai dar um jeito de chegar nele.

Ele pensa e ergue as sobrancelhas depois de anunciar minha vitória caminhando até o Conquistador.

– Você sabe que eu odeio traidores. Se atreva a tentar qualquer coisa e eu estou te dizendo – ele dá um “tapinha” no peito do cara –, vamos ter mais problemas do que você vai querer.

– Ok – ele levanta as mãos e ri, dando de ombros – Não quero problemas.

– Mas está procurando – aviso. Cato ainda não saiu de perto dele. – Responda só o que te perguntarem, 12.

– Escuta ela, Conquistador. Não me deixe te ver rindo de novo – ele finalmente volta e começa a arrumar as coisas. – A gente vai caçar agora. Glimmer, a Clove vai precisar dos seus óculos, passa pra ela.

– Mas, Cato, ela não...

– A Clove está precisando e vai ser dela agora, Glimmer – ele interrompe a garota falando mais alto, levantando o olho da sua própria mochila desse jeito que faz as pessoas mudarem de ideia.

– Ok, eu só – ela não termina a frase. Suspira e me passa os óculos. Aceno com a cabeça e os guardo na minha mochila. Eu não sei mais se essa história com a Glimmer vai vender. Não tenho certeza se Glimmer gosta mesmo dele ou se os mentores dela a disseram pra fazer isso. E eu quero entender por que porra Cato não para de falar desse jeito com ela.

– A gente vai deixar tudo isso aqui mesmo? – Marina pergunta depois de um tempo. Fico rindo observando Marvel encarar Cato de canto de olho.

– A menos que alguém queira ficar aqui vigiando – é a resposta. – Vamos acampar na floresta.

Eu arrumo minhas coisas e escuto Marvel e Glimmer cochichando ao meu lado. Eu odeio a voz que as pessoas do 1 têm. Dou um olhar de aviso pra eles, me levanto e mando o Conquistador pegar uma faca.

– Você sabe o que tem que fazer, 12.

– É. Fica com o olho aberto – Cato passa e dá outro tapinha no seu ombro, olhando pra mim enquanto passa o braço ao redor de Glimmer.

Nós não achamos ninguém. Escurece e eu sugiro que corramos pra cobrir mais rápido a distância, mas não há nada. Eu começo a ficar meio impaciente. Marvel faz essas piadinhas idiotas e tenta me intimidar o tempo todo.

– Talvez seja melhor deixar o Cato e a Clove na frente, não? Eles têm os óculos – o Conquistador fala, bonzinho como sempre. Ele deve ter reparado que Ludwig está meio inquieto.

– É. É melhor mesmo – vou pra frente, empurrando Marvel com o ombro. – Mas cala a boca, Conquistador. Só fale quando falarem com você.

– Vou ter uma particular com o Quaid mais tarde, cravinho – Cato sussurra.

– Não. Vai ficar estranho. “Marvel, não chega perto da menina que eu não conheço.”

O Conquistador supostamente achou uma pista da Evergreen há mais ou menos duas horas atrás. Eu já gritei com ele uma dezoito vezes desde então. Estou com um mau pressentimento e não conseguimos ninguém até agora.

– Vamos parar – Ludwig vem se sentar ao meu lado. Jogo duas barrinhas de cereal pro Conquistador. É o suficiente para um 12. O que ele tinha lá?, carvão? – Antes de amanhecer vamos continuar.

– Talvez você se lembre antes, não é, Peeta? – eu observo os pelos da sua nuca se arrepiarem. Arranjo uma pedra e ainda olhando pra ele, começo a afiar minhas facas. – Nós realmente queremos sua namoradinha.

– Eu sei, eu – ele olha pro chão, sempre sorrindo – também quero ela. A gente logo vai achar outra armadilha e aí, eu prometo, vamos encontrar ela.

– Eu levo promessas bem a sério, Conquistador.

Ele não fala mais nada. Acho uma maçã e quando vou a morder, Cato puxa da minha mão. Ele tem essa mania de checar o quão vermelha está minha maçã.

– Eu estou sem tempo agora pra isso – tento pegá-la de volta, mas ele ainda está analisando.

– Você nunca vai ficar sem tempo pra mim, Clove – ele devolve, me encarando. Cato é doente.

Quando o hino começa, encosto minha cabeça na árvore e sei que se alguém matou Katniss antes de mim, essa pessoa vai ter uma morte ainda pior.

A garota do 3 faz a estreia. Marvel ficou com ela, eu acho, mas qualquer um poderia. Ela tinha essa cara de bêbada que não come há anos e uma nota ridícula. Eu não presto mais atenção, deixo que os outros me deixem saber quem eu matei soltando gritinhos de “isso aí, Clove”. Mas quando o cara do 6 aparece, Cato é bem claro se virando pra mim.

– Eu te disse – ele fala no meu ouvido. Eu vejo Glimmer franzir as sobrancelhas, mas ela não fala nada. Ela devia saber que Cato é problema. Que se ele nunca prestou lá fora, não teria nenhum motivo pra parar de ser vadio aqui. - Conquistador: Você pega o primeiro turno – ele se curva sobre mim e avisa, apontando pra ele.

Agora que parei de me mover, reparo que está frio. Me dou conta de que é melhor quando Ludwig está por perto fornecendo calor humano. O útil e o literal.

– Depois você acorda o Quaid. Em seguida eu quero a Glimmer e a Marina. Clove e eu vamos ficar com o último.

Ninguém ousaria discordar. Cato é bom nessa coisa de mandar.

– Cansada, cravinho?

– A gente só pegou onze, Ludwig. Como eu poderia estar cansada? – respondo, arrumando meu saco de dormir. Depois faço uma reverência. – Mas eu vou seguir suas ordens, senhor, claro, como sempre.

– Você vai pro inferno, Clove – ele ri e continua sentado mesmo quando todo mundo menos o Conquistador já se deitou. – Eu tenho que ficar com a loira.

– Tem?

– É. Queria que eu ficasse aqui? – Cato está sorrindo do jeito que sorri antes de tragédias acontecerem. Mas eu sorrio de volta. Eu ainda preciso dele.

– Está frio – dou de ombros. – Você pode jogar seu saco de dormir aqui perto. Eu não me importaria.

– Eu sei que não, Fuhrman.

Quando ele se deita, ao meu lado quase como ficava na Capital, eu escuto Brutus rindo e eu vejo Enobaria sacudindo a cabeça. Mas ele manteve os caras grandes longe de mim desde sempre e eu sei reconhecer dívidas mesmo quando elas não são cobradas.

É como sempre foi. Sem contato físico, nós somos a mesma equipe de antes. Me pergunto quanto tempo vai demorar até que eu me sinta em casa. É tudo que eu sempre quis. É perfeito.


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Notas finais do capítulo

Eu falei tanto lá em cima que vocês nem vão querer ler aqui embaixo, mas. Obrigada por lerem, eu estou esperando ansiosamente pra ouvir a opinião de vocês de novo - porque eu amei tanto tanto - e até mais. Beijinhos c: