Linhas Borradas escrita por Iulia


Capítulo 17
Estrada desleal


Notas iniciais do capítulo

Olá. Eu demorei um pouco pra voltar, mas eu juro, eu tentei. É só que eu não sabia o que eles deveriam fazer nesse último dia e eu tive um bilhão de ideias e tudo parecia improvável e eu fiquei tão confusa. Mas aí eu entendi o porquê de tudo parecer tão improvável. Vocês vão ver aí embaixo, espero que gostem c:



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Cato

Fuhrman sai do elevador batendo os pés. Eu cruzo os braços e assisto o show: ela começa a rasgar o vestido ainda na sala, gritando como se estivessem enfiando espadas no seu estômago. Empurra os avoxes no caminho e derruba cada um dos copos nas bandejas, gritando com eles, rosnando até desaparecer no quarto.

– Uou – balanço as mãos e rio, olhando para Brutus e Enobaria. Ela é muito mais cheia de coisinhas com a Clove, mas ri também.

– Você deveria ir lá – Brutus me aponta enquanto cai no sofá. – Falar com a garotinha. Ou ela vai ficar rouca.

– Vai nada – Enobaria passa a língua nos dentes. Isso deve sangrar às vezes. – Deixa ela. Se você for lá, bonitinho, vai ser pior.

Fico em silêncio para ouvir as coisas se quebrando no quarto. Quando ela para o chilique, meu parceiro Thresh já acabou de grunhir com o coloridinho. Evergreen é a “garota em chamas”.

– Sério isso? – rio e me viro para Brutus, jogando meu braço no encosto do sofá.

A brasinha demora a falar e eu estou rindo; ela poderia vomitar a qualquer momento. De nervoso.

– Vocês viram essa porra?!

Fuhrman acabou de chegar, descalça e quase sem roupa.

– Cozido de carneiro?! Puta que pariu, pro inferno com o cozido de carneiro! – eu adoro esse show particular. Ela está toda nervosinha, cerrando os dentes e apontando para a carinha de boa moça da 12.

– Qual é, cravinho! Senta aqui, olha, traz um lencinho pra chorar com a gente.

– Escuta aqui, seu pervertido – nem se eu quisesse iria parar de rir. Cravinho está quase agarrando minha cara com sua mãozinha de bebê. – Você pode ficar aí achando que ela é só um amontoadinho de poeira preta do inferno, mas ela não está chorando e essa porra começa amanhã.

Eu olho bem pra esses olhos de gato dela. Ela está se preocupando com uma 12. Clove se senta ao meu lado e respira; calminha.

– Olha bem pra mim, Cat Cato: eles estão comprando essa história com o fogo. Gente pobre vende. Você precisa dar um jeito de colocar a gente nisso – ela sussurra.

Sério isso? Quer esconder coisas de Brutus e Enobaria? Esperta.

– E eu é que tenho que mexer com isso, é? – continuo assistindo a entrevista. Essa 12 rodopiando é melhor que Clove cheia de planinhos doentes.

– Você vai manter a coisa com a Glimmer?

– Você está com tanto medinho assim, meu amor? Relaxa, bebê. Cato vai manter os caras grandes do outro lado da linha.

Fuhrman se afasta, agora que estou passando a mão nela.

– Eu não sei por que inferno você me aliou com esse imprestável – ela fala pra Enobaria, passando ao seu lado até a mesa.

– Ah, é. Fui eu mesma que forcei essa parceria.

Quando Clove volta, Evergreen já encheu o saco com essa de ser agradável. O foguinho masculino entra, cabelo lambido e tudo.

– Ah. Esse cara tem um cabelo legal – ela traça uma montanha com a colher do sorvete que está tomando. – Enobaria, quanto ele tirou?

– Oito.

– Ele é bonzinho. O que acha? – ela se vira pra mim, colocando uma colher de sorvete na minha boca. Clove é ridícula por voltar com essa idiotice.

– Ridículo. Patético.

– Ele pode carregar as coisas! Ele tem um oito, ele lança pesos maiores que eu.

– Eu já disse que vai dar certo do meu jeito – rujo bem devagar. Eu quero que Fuhrman entenda. Ela me cansa. Qualquer um levanta pesos maiores que o dela.

Não há nada nesse cara. Ele só tem que morrer logo depois do desfile e desse carisma barato. Cheirando o coloridinho. Eu pensava que ele ia ser o bom moço quando a mesa vira de um jeito que me faz querer quebrá-la. Ou rir dela.

– Amor?

– É isso aí, nenéns. Enfrentem essa. As cinzinhas contra o mundo – Brutus se levanta e vai pegar mais comida, rindo.

– Isso é fraqueza – Fuhrman diz na mesma hora. – É tão desesperado que eu estou com pena.

– Está mesmo? Parece mais que está com raivinha – falo, rindo de toda essa palhaçada desse ano. Fogo. Amor. Esse pessoal não sabe brincar.

– Ela tem um onze, amorzinho, mas o conquistador aí confirmou o que eu suspeitava: Ela só foi instruída a parecer decente. Na real – ela aponta pra televisão, mostrando a carinha de Evergreen – ela só é um docinho. Ela precisa ser salva. Ela realmente gosta de cozido de carneiro. Presta atenção, Cat Cato: se você conseguir um pombinho, ele vai voar até sua alma gêmea. E aí a gente coloca um fim nisso.

– Aham. Eles estão atrás de patrocínio.

– Eles são tão patéticos! – ela começa a rir, se jogando no encosto do sofá. – Já sei! Quando a gente pegar eles, vamos deixá-los sentir nossa misericórdia. A gente escolhe um de cada vez. Então eles vão poder se despedir!

Eu sorrio pra ela. Clove é legal às vezes.

– Ok, docinhos, vocês são lindos. Mas vão dormir agora. Porque a gente não vai tolerar preguiça – Enobaria fala, mas ela está rindo.

– É, seus idiotas! A gente quer ação naquela porra, assustem todos aqueles bebês! – Brutus grita, batendo os punhos na mesa e rindo e derrubando tudo.

– Vocês vão ter tudo isso – Fuhrman sai na frente, depois de fazer uma reverência falsa. Falo um “até daqui a pouco” e a sigo.

– Mantenham a palavra! – Enobaria fala como se eu fosse burro de não saber que isso é pra mim. Eu que disse que ia ter a morte da Clove. Ela não disse nada; ela sabe que eu não vou morrer.

[...]

– Eu não estou afim de dormir – Fuhrman fala como se eu já não tivesse percebido que ela está pendurada na janela desde que chegamos.

– O que você quer fazer? – olhar o teto é tão emocionante quanto essa conversa.

– Nada. Eu vou ficar aqui. Olhando esses animaizinhos idiotas.

– Pode ser, mas eu quero dormir. Eles são coloridos demais. Vai fazer meu olho doer.

– Vai em frente, Cat Cato.

– Já reparou que é a mesma coisa da noite da Colheita? – me viro pra ela, ainda de costas. – Você aí escondendo a cara porque está com medo de morrer e de eu te largar na hora.

– Eu pensei que a gente tinha um acordo, Ludwig. – Agora Clove vira a cabeça que nem um chicote. Exatamente igual aquela noite. – De não falar mais nada. Porque já foi. Porque está feito. Porque é isso e nós adoramos.

Eu adoro isso. Não sei quanto a ela.

– Ok, cravinho. Não fique chateada hoje. Você vai se divertir daqui a pouco.

Ela se vira de novo e sorri.

– Eu sei.

Me levanto e caminho até ela. É estranho beijar a Fuhrman sem que ela esteja me chutando. Deve ser um bom sinal. Ela deu aquele chilique com a “história dos beijos”, mas está aqui passando a mão no meu cabelo.

Clove é ridícula.

– Ok, boa noite – ela já está saindo. Eu não sei se está doendo e eu não me importo; continuo prendendo sua cintura. – Já deu!

Não a solto, eu aperto mais. Se eu estou machucando a Fuhrman, não é o tipo de dor que preocupa. Sorrio.

– Você não sabe brincar – ela fecha os olhos e começa a tentar sair. Quando ela espertamente percebe que não vai rolar, olha pra mim. – Vai trazer toda aquela confusão à tona, não é? De novo a coisa de saber parar porque depois não vai ter volta.

– Que coisa é essa, Clove? Quer me explicar? – eu sussurro no ouvido dela, rindo.

– A gente errou umas vezes, Ludwig, mas repetir o erro mais só porque você é idiota... – ela para e me empurra mesmo que eu não vá sair do lugar.

– Eu é que não sei brincar?

– É. E eu não sei perder. Sai – dessa vez eu deixo ela pensar que conseguiu se livrar de mim me empurrando.

Eu me deito sorrindo. Mais tarde, Clove aparece e decide que tudo bem beijar. Ela deve saber que eu tenho uma garota do 1 pra enfrentar com essa mesma boca daqui a algumas horas. Depois ela só se vira pro outro lado. Jogo um braço ao seu redor.

– A gente esquece a voz das pessoas, Clove? – coloco meu rosto no seu pescoço. Clove cheira a baunilha e a, sei lá, cravo.

– Aham.

– A gente esquece tudo, não é?

– É.

Quando eu ganhar, não vai ser minha atividade preferida, essa. Esquecer a Fuhrman. Mas eu teria que fazer ela direito. Esquecer todos os anos conscientes antes da vitória.

Ela podia ter esperado até ano que vem. Enobaria não deixaria Aaron encostar nela. Ela ia acabar desistindo dos Jogos. Seria um tipo de injustiça, mas quando ela viesse morar comigo, ia virar treinadora também. A gente mataria Aaron – ninguém para um vencedor. Treinaria pelo resto do tempo.

Só que Fuhrman é idiota. Fodeu com tudo.

Eu durmo primeiro que ela, mas eu ainda estou meio acordado quando ela bagunça meu cabelo e estala a língua antes de meio que me beijar.

No meu sonho estou ajudando Hector com esses deveres estúpidos da escola dele, irritado, tentando explicar o que é “apaixonar” e por que não falamos isso no nosso distrito. Ele não entende e eu não suporto quando ele faz isso. Quando eu bato meu punho na mesa, é porque ele logo vai perceber que nem eu sei as respostas.

Eu não sei o que isso tem a ver.


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Notas finais do capítulo

Eu acho que é porque, na minha cabeça, eles não estavam ligando muito por ser, sabe, essa última noite antes dos Jogos. Já que ninguém acha que vai morrer, nunca há últimas vezes. E eu reparei que é meio difícil porque eu realmente não sei o que vocês estão esperando. Vocês são muitos e no último só duas pessoas extremamente legais comentaram, então... Se alguém quiser me dizer o que se passa na cabecinha de vocês acerca da história, eu iria adorar ouvir c: Obrigada por lerem e até mais c: