Linhas Borradas escrita por Iulia


Capítulo 16
Subtendido


Notas iniciais do capítulo

Oi! Eu voltei com um longo capítulo de reconciliação. Espero que gostem c:



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Clove

Esses ferimentos no braço de Ludwig foram por uma boa razão. Agora que eles estão aqui na minha frente, vermelhos e frescos, são um lembrete do óbvio. O bom senso, talvez passageiro, agora pode durar. Eu fixo meus olhos e lembro que lutas como aquela é o que eu sou, é o que eu faço com rivais.

O meu aliado me encara durante todo o jantar. Identificar suas expressões é perigoso também, mas uma vantagem; eu só tenho de garantir que ela fique do meu lado.

Mas a hora de dormir é a pior parte. Só há mais um dia antes dos Jogos. As horas vão embora sem que eu consiga dormir. Minha mente quase não trabalha a meu favor e quando eu considero que dormi minha vida toda com um rival, eu sei que não há mais dano. Se sempre foi assim e se eu sempre disse que poderia matá-lo, uma noite ou duas não podem abalar o trabalho de anos, eu ainda preciso dele pra isso.

Atravesso o quarto e quando abro a porta do seu, eu até sei que ele tinha razão; não é culpa de ninguém se o outro quarto parece mais aconchegante.

– Cato – Ludwig não é apropriado agora. – Eu posso ficar aqui?

Ele está acordado, olhando para cima. Levanta a cabeça, olha pra mim e não diz uma palavra, nenhuma expressão, nada aconteceu enquanto abre o espaço ao seu lado. Ele afofa o travesseiro e eu caminho até lá. Não é minha culpa.

Eu não peço desculpas, ele continua calado, olhando para cima de novo. Aaron nunca pôde me alcançar aqui. Se houver alguma coisa lá em cima, eu tento ver também.

Nenhum contato físico. Eu durmo.

[...]

Sou a segunda a chegar para o café. Brutus nunca perderia mesmo uns minutos a mais comendo.

– E aí, sardentinha?

Ele está sempre querendo alguma coisa, então não respondo. Pego minha comida e espero que ele fale.

– Enobaria fez um trabalho porco na sua educação, hein.

– O que é que você quer, querido? – pergunto falsamente, me virando e batendo o prato na sua frente.

– Como foi com a Nyra ontem? Ela encheu o saco?, por causa do Cato? – mais comida. Que Deus não deixe esse homem morrer antes de me arranjar os patrocinadores.

– Ela mencionou algumas vezes – bebo o suco. – Você não vai falar com ela, não?

– O quê? O que é que eu falaria, menina?

– Fala pra ela que o Ludwig...

– Ele sabe pra onde vai se vencer.

Eu engasgo.

– Você é louco?

– Não. – Parece o fim da conversa. Ele dá de ombros, como se eu entendesse.

– Oi, oi, oi! – Nyra chega agarrando meu pescoço e beijando meu rosto até me deixar irritada com esse perfume de morto. Eu preferia quando ela tomava seu café no quarto, toda cheia dos ressentimentos da Capital. Agora somos amigas. – Clove! Eu estou tão ansiosa para a entrevista hoje, nós nos divertimos tanto ontem que eu...

Sorrio como se estivesse ouvindo. Mas continuo avaliando Brutus porque, quando eu vencer, que tipo de lugar me espera segundo o que esse idiota disse?

A equipe de preparação chega quando eu já fui para a sala de televisão. Eles me agarram também, todos cheios de “Clover” que me fazem querer arrancar essas maquiagens patéticas com as unhas.

– Ela continua linda nós somos tão sortudos tão sortudos por termos um casal tão lindo do 2 eles são tão glamorosos eu estou tão orgulhosa!

Eles não param de falar nunca, eles não respiram. Quando puxam meu cabelo pela milionésima vez, me levanto e empurro um idiota que achou que um cabelo parecido com uma flor era legal. Pego o aparelho estranho de sua mão.

– Se você puxar meu cabelo mais uma vez, amorzinho, eu vou pegar essa porra de barra quente e vou fazer você engolir ela.

– Tudo bem, tudo bem. Desculpe, milady – ele ri. Eu estava só brincando mesmo.

Quando eles terminam, aparece um outro coloridinho com um vestido e eles me levam de novo para o espelho. Respiro fundo e evoco calma das estrelas quando eles me fazem tropeçar na barra desse vestido estúpido.

– Laranja? Esses babados aqui são pra quê, uma homenagem às brasas do inferno? – olho para eles pelo espelho. – Eu vim do 12 agora? Que porra é essa?

– Não! Jamais! Ja-mais! Você é tão superior! Eu...

– Eu sei. Então faça outro vestido pra mim, porque eu odiei esse. Está uma merda, amorzinho – agarro a barra e pego uma faca. Eu preciso me divertir rasgando isso.

– Não! Não dá mais tempo, linda! Você está deslumbrante nesse, amor, me deixe – um deles se aproxima e começa a tocar no vestido – fazer alguns ajustes. O que acha de apertarmos o decote?

– Você está linda linda!

– Traga ela aqui, rápido, rápido. Vou apertar a cintura.

Eles apertam tudo até me deixarem com mais raiva. Agora sem ar, mas mais ridícula.

– Vocês não sabem fazer um vestido que presta. Quando eu vencer, quero uma equipe digna. Vou mandar executar vocês – falo, saindo da sala, sendo obrigada a levantar a saia. Adoro ouvir seus ruídos de terror através da porta fechada.

É claro que o vestido não é tão ruim assim. Só é laranja. Eles rebocaram minha cara, mas vão acreditar que eu sou do inferno com essa maquiagem de docinho.

– Cravinho! – Ludwig grita, sentado no sofá com Enobaria e Brutus. – Que cabelo bonito!

Ele escorrega a mão nos meus fios quando eu passo.

– Digo o mesmo, Ludwig. Topete legal, o seu.

Me sento numa poltrona, esticando minhas pernas. Na realidade, ele parece um anjo. Terno meio brilhoso, seu rosto nunca pareceu mais duro.

Lá embaixo, me encosto numa parede e faço movimentos mínimos pra me encaixar na fila por distrito. Glimmer me faz girar e abaixa os olhinhos para Cato, ajeitando as dobras do seu terno. Marvel se atreve a passar um braço ao meu redor.

“Ah, por Deus, eu sinto a ameaça. Tanto medo de Quaid.”

– Não vai querer que eu quebre, vai? – rio, esperando como uma amiguinha que ele me solte. Ele o faz imediatamente, se curvando para rir em sua altura ridícula.

– Eu não quero interromper o casal – ele se vira para Cato e Rambin -, mas eu preciso que vocês vejam a doçura dessa menininha do 11.

Ele e Glimmer se viram para a garota, vestida de azul, olhos bonitos e grandes de cervo logo na frente de Thresh. Ludwig olha pra mim e se vira para o cara, o cumprimentando com a cabeça.

Eu olho de volta para Glimmer.

“Casal”. Eu não sei o quão ela vai achar agradável Cato mordendo a boca dela até sangrar no que ele vai dizer ser um beijo. Puxar seu cabelo até curvar sua cabeça porque está muito apaixonado. Não parar de colorir de roxo seu pescoço com os dentes quando ela pedir porque ama até os erros no corpo dela.

Cato é doente. Espadas em brasa, “paixão” demais. Glimmer é uma boa garota. Prestativa, vestidos rosa, toda uma idiotice inocente e fútil de tão bela. Ela não gostaria de ser deixada pelo seu novo amor. À beira da morte. Sem um adeus. Com uma risada. Como ele vai deixá-la manhã após manhã.

Prestes a entrar, olhos brilhando para Cato mexendo no seu cabelo sem nada nos olhos, eu sorrio pra ela.

– Cuidado, loira.

Ela se mexe sorrindo, toda desconfortável.

– Obrigada, Clove.

Então ela vai, sorrindo uma última vez para nós.

– Você, seu filho da puta – dou um tapa no braço de Ludwig. Ela não sou eu. Ela não saberia lidar e isso é covardia.

– Qual é, cravinho. Não estraga minha diversão – ele ri, me olhando voltar para meu lugar. Tanta mentira. Ela nunca saberia achar a verdade.

– Eu disse que era pra você dormir com ela, não a deixar...

– Apaixonada? Ela não está apaixonada.

– Está prestes, seu cretino – cruzo os braços e assisto sua entrevista.

Deus, a deixaram ridícula. Trocadilhos com seu nome, olhar de quem promete e nunca vai poder cumprir. Ela está muito preparada mesmo, saltitando e sacudindo cabelos. Não posso evitar revirar meus olhos. Ela não ficou muito simpática hoje. Nem perigosa. Nem promissora. Uma mistura de todos os vencedores torneados no 1 e só.

– Ela é tão gostosa – Cato sussurra no meu ouvido.

– É mesmo. Igual você, Marvel – Quaid está bem aqui olhando tudo, franzindo as sobrancelhas. – Arrasa com aqueles perdedores.

– Eu vou, Clovinha – ele sorri e pisca pra mim, sorrindo desse jeito ridículo dele.

– E aí, já está rolando apelidinhos?

– Já passamos dessa fase – me encosto e encaro Ludwig, sorrindo de volta.

– É mesmo? Ele é bom?

– É fantástico.

– Melhor que eu? – Cato joga um braço ao meu lado, tentando me prender na parede.

– Deve ser – olho para os outros fracotezinhos, tremendo. O empurro. – Sai, seu idiota.

Ele continua rindo, mas me concentro na entrevista de Marvel. Ele ri, faz as piadinhas que sempre deixam claro sua superioridade de vitória e é o palhaço de quem todo mundo acha graça. As piadas são horríveis e bregas, mas eles vão gostar dele. São pessoas da Capital, no final. Eles gostam de tudo.

– Mostra pra eles quem manda nessa porra, Clove – Ludwig fala no meu ouvido enquanto estou saindo.

Até ele sabe que sou eu. Assim que mando o homem da organização tirar a mão de mim, Caesar grita meu nome. Olhando para frente, sorrindo, levantando o vestido, rebolando, apertando sua mão, me sentando e olhando toda essa multidão porque ela é minha.

– Como vai, Clove? É um prazer.

– Seria uma ofensa se não fosse – respondo, erguendo as sobrancelhas para esse ser patético de cabelo azul. Seu sorriso me cega. Preciso me concentrar em não transparecer minha aversão a essas aberrações se contorcendo em risos lá embaixo. Eles estão encantados.

Caesar se ajeita na cadeira e toma uma de minhas mãos.

– Você está deslumbrante. Me conte, quantos rapazes estão desesperados para ter sua atenção?

– Eu não ousaria contar, Caesar – rio, porque Ludwig está mantendo os olhos em mim e eu sei quase inconscientemente.

– Eles não estão a sua altura?

Então todos riem porque essa é mesmo uma piada ótima. Ninguém tem interesse na minha nota, nas minhas chances, nas minhas nulas tarefas não executadas. Eu sou perfeita.

– Por que todo mundo está rindo disso? – simulo confusão, então sorrio de outro jeito pra ele. – Sabe, Caesar. Eu sempre sou o ponto mais alto. Não importa o quão isso seja engraçado. Irônico, talvez. O ponto mais alto sou eu.

Há um silêncio repentino. Eles sabem que eu tenho esse brilho da realeza.

– Uh, uma garota misteriosa, Panem – ele arregala os olhos. Me viro para a multidão também. – Clove, você tem um nome bonito, se me permite dizer.

– Permissão concedida.

– Sua família teve muito bom gosto. De onde vem esse nome?

– Você sempre gosta do cravo porque ele cheira bem. Mas se você colocar em sua boca – me viro de novo para a multidão – ele vai amargar.

– Uh! Panem quer saber, Clove: E aquela nota incrível na avaliação?! Como você conseguiu empatar com seu parceiro de distrito?

Empatar com o Cato? É tudo o que sempre fiz na minha vida, mas como esse idiota saberia? De qualquer jeito, independente de qualquer porra que ele queira dizer, evito Cato. Enobaria disse que ele é a areia movediça.

– Eu sou boa, Caesar. Eu sou muito, muito boa. Eu vou honrar meu distrito. É só.

– É isso, então? Mais mistério, Panem?

Dou de ombros. Sorrio. Não vou falar de Ludwig. Nada sobre “família”.

– Você não ficou ressentida, Clove? – ele pergunta com falso cuidado, cautela sedosa. Eu fico confusa. Com o quê eu deveria?

– Não. Eu nunca fico, Caesar. Eu resolvo as coisas do meu jeito.

Parece ser a resposta perfeita. Ele me estende a mão e eu me levanto, olhando para todos eles, para o distrito 2, para os tributos, para a Capital.

– Clove Fuhrman do distrito 2! – ele ergue meu braço.

Enobaria e Brutus me esperam no canto da sala em que Glimmer e Marvel estão.

– Fui bem, queridinhos? – sorrio enquanto chego levantando a saia, porque eu sei que eu fui.

– Antipática – Brutus resmunga, me empurrando para a televisão. Cato acaba de chegar. Ele fala coisas sobre voltar porque tem encontros marcados e orgulho para seu distrito. Caesar faz brincadeirinhas patéticas com seu aperto de mão supostamente forte e ele está muito preparado, já é um vencedor.

– Você empatou com Clove. O que você acha disso?

– Que porra é essa de empatar? – pergunto.

– Cala a boca, porra. Ele vai responder – Enobaria dá um tapinha no meu braço.

– Clove é minha aliada – bancando o sexy, Ludwig dá de ombros levemente, pernas cruzadas como Nyra ensinou. - Ela é esperta. É boa.

Caesar não insiste como fez comigo. Nenhuma piadinha. Eles falam da família, do futuro de vencedor de Ludwig.

Ele chega sorrindo, levantando o queixo para nós como se meus desejos pudessem se realizar e fôssemos estranhos.

– Bom trabalho, vencedor – Brutus dá uns tapinhas no seu braço, gritando em toda sua cafonice.

– E aí? Vamos esperar o 12 terminar? – é só o que ele fala, sorrindo.

– Não, vamos subir. Eles só vão chorar, se lamentar pelas famílias, aquela coisa toda – Enobaria começa a me empurrar para o elevador. – Dormir é mais importante.

– Por que Caesar disse que eu deveria estar ressentida? – pergunto dentro do elevador, Ludwig passeando a mão perto demais de mim. – Tira a pata, seu merda.

– Por causa da 12. Evergreen – Brutus diz.

– O que tem ela?

– Tirou onze.

– No quê?

– Nas avaliações.

– E a gente tirou quanto? – Cato finalmente para de tentar me assediar e levanta a cabeça para Brutus.

– Dez.

Ele se vira para mim. Eu diria para ele parar de começar o ataque ficando vermelho, mas eu estou nervosa também.

– Por que isso? Que porra essa menina sabe fazer?

– Nós não sabemos – Enobaria dá de ombros. – Prestem atenção.

– E essa é a hora pra falar isso, inferno?! – Cato soca o elevador.

– Vocês estavam ocupados demais, nenéns – Brutus ri, colocando as mãos na frente do corpo. – Passou na televisão. Qualquer um podia ver.

Eu respiro pela boca, soltando meu cabelo. Essa viagem nunca foi tão longa. Destaque no desfile, valentezinha no treinamento, nada de especial, mas um onze. Quando eu tirei dez. Vinda do 12.

Essa tal de Evergreen Brasinha vai morrer amanhã bem cedo. Uma faquinha na sua carinha de sonsa e esse onze vai queimar nas brasas do inferno junto com ela.


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Notas finais do capítulo

Então, eu estou tão desesperada pra saber a opinião de vocês sobre o que deveria acontecer antes dos Jogos! Ou durante. Ou quando vocês quiserem. Eu realmente só quero saber a opinião de vocês! Quem estiver afim de ser legal e de ter minha gratidão eterna, por favor me conte nos comentários. Ou então escreva só uma palavrinha miníma c:
Tchau, amo vocês e até mais c: