Linhas Borradas escrita por Iulia


Capítulo 15
Arrependimento Inominável


Notas iniciais do capítulo

Oi! Então, tiveram um Natal cheio de comida e família exprimida em cada buraco da casa? Eu realmente espero que sim. Ah, espero que gostem do capítulo também, esses dois trouxas estão caindo na real. Só que eles não vão fazer isso a tempo :c



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Cato

O rosto de Fuhrman demora a me encarar de frente. Quando estou dormindo, ela sempre acaba de levar um tapa. Ela não olha mais na minha cara. Eu não sei se é respeito ou raiva.

– Cato vem primeiro com a gente – Enobaria anuncia no café da manhã, me apontando com o garfo. – Clove fica com a Nyra até antes do almoço.

– Pode ser – falo, porque eles deveriam querer saber o que eu acho disso. Mas como eles nunca se importam, se Clove estivesse normal me lembraria disso. Ela continua a comer, falando com Enobaria às vezes.

Eu não me importo. Ela ainda é minha aliada e ainda responde a mim.

Começamos a nos separar para os preparativos para a entrevista e eu esbarro nela. Sorrio.

– Foi mal, cravinho.

Fuhrman não me responde; segue Nyra para a outra sala.

– Vadia.

– Ah, não precisamos mais nos preocupar – Brutus grita meio cantando, acotovelando Enobaria amigavelmente enquanto ela se senta no sofá. Eles começam a rir. – Os nenéns estão brigados.

Sorrio pra eles, girando e me sentando.

– O palhaço desse ano é o palitinho do 1, então você não vai soltar nenhuma dessas piadas cafonas – ela começa, parando de rir. Se soubesse o que foi que deixou sua sardentinha chateada riria um pouco menos. – Eles vão ter medo de você, você tem três minutos pra mostrar que vai ganhar isso com a força bruta.

– Como o Brutus fez – resumo, me encostando no sofá.

– É, como eu fiz.

– Só que ele – Enobaria se levanta e passa ao meu redor, agarrando um punhado dos meus cabelos e quase me deixando com raiva – tem essa carinha de anjo do demônio.

– Ah, claro, entendi. Seduza elas – Brutus fala como se fosse uma ordem clara.

– Essas galinhazinhas adoram uns músculos. Você vai ter ternos apertados e vai fazer cara de mau até sorrindo. Mas não sorria, bonitinho – ela dá um tapinha no meu rosto. Eu considero se o que eu dei na Clove doeu mais. – Gente do 2 só sorri se for debochando.

– É, é. Deboche das piadas daquele fracotezinho, o Caesar.

Enobaria se senta de novo na minha frente, erguendo as sobrancelhas como a filhinha dela.

– No mais, seja o brutamontes que você já é.

– A gente pode começar agora, mocinhas?, preciso de um tempo vago pra dormir antes da sardentinha.

Não há mais comentários sobre Clove. Eles começam a me entrevistar e eu me dou bem em todas as perguntas, dos mais variados tipos. Me mandam não pensar, sorrir de tal jeito, olhar com as sobrancelhas posicionadas milimetricamente e mais um tanto de frescuras. Ninguém poderia esquecer que eu vou ganhar isso.

– Thresh pode ser o perigoso. Você é a nossa máquina de matar.

Ninguém tem mais perguntas a fazer e ainda restam duas horas antes do almoço. Levanto e sigo os barulhos da Capital até a outra sala.

Nyra solta uns gritinhos histéricos às vezes, quando Clove a provoca. Calçada com uns saltos inúteis que sequer a deixam bater no meu ombro, ela tem que levantar saias e cruzar pernas oferecendo “pequenas brechas”.

– Eu sou a puta agora? – ela pergunta, levantando o vestido até as coxas legais enquanto se senta.

– Não não não! Clover, se trata de graça, sensualidade – a mulher tem uma luta intensa contra sua saia apertada.

– Clover é a puta da sua mãe. É Clove. Consegue segurar esse “r” do inferno?

Nyra ignora e continua andando. Fuhrman revira os olhos e a segue. Eu rio, mas elas não me escutam.

– Graça, querida, graça – a doente colorida estende os braços como se estivesse em transe. – Tudo bem?

– Tudo. Tudo perfeitamente bem – ela sorri, com o controle de humor que eu odeio. – Está certo agora?

– Sim, sim! – Nyra pula e a abraça. – Você está perfeita. Consegue sentar?

– Claro – ela puxa a saia do vestido enquanto se senta, olhando para a mulher e sorrindo.

– Perfeita!

– Já duvidou disso algum dia? – essa vadia ainda é amigável, fazendo Nyra rir e tudo mais.

Elas continuam pelo resto da manhã. Eu vou para o meu quarto e quando Fuhrman começa a levar tapas milhares de vezes, por milhares de mãos, me concentro na sua voz irritada ou elegante no outro lado do corredor. O som da lâmina furando a parede duas vezes é melhor.

– Almoço, queridinhos!

Não fazer nada me deixa com fome. Eu não penso sobre nada que já fiz, mas eu quero ver se deixei marcas no rosto de Clove.

– Como foi, Clove? Se divertiu? – Enobaria sorri, suas presas refletindo a luz.

– Claro. Eu sempre me divirto – ela responde sorrindo de volta. Sorrio também. Ela não se diverte sempre.

Encaro ela um pouco mais, enquanto mastigo.

– Não perca essa aliança – Brutus rosna ao meu lado. Fuhrman se levanta. – Vai, vai falar com ela.

– O que é que eu teria pra dizer pra ela?

– Vai tratar os ferimentos que você fez, Ludwig – Enobaria fala de repente, dando de ombros. – Porque você bateu nela, eu sei.

– Eu não bati na Clove – eu não tolero sequer essa frase feita. Eu não machuco a Clove.

– Vai ficar com essa cara de culpado toda vez que encostar em alguém na arena? – ela devolve, largando o guardanapo. – Se foi muito ruim nem adianta.

– Ele não seria covarde – Brutus se intromete, cerrando os dentes pra Enobaria.

– Não estou dizendo que foi. Eu sei como a Clove é. Ela provocou.

– Ela te contou? – pergunto. Mas eu não estou “culpado”. Só não posso machucar a Fuhrman.

– Eu ouvi. Cada palavra – espero que ela termine de falar. – Ela não está errada.

– Porra, eu dei um tapa na cara dela, não foi um soco.

– Antes tivesse sido, bonitinho – a mulher sacode a cabeça. Brutus não entende também. – A Clove quer romper essa aliança.

– Isso é problema dela.

Eu tento não cerrar meus punhos, mas eles me irritam rindo como se eu fosse o idiota.

– O 2 quer um vencedor. Você sabe sob quais condições a gente vai arranjar um – Enobaria se levanta e dá um tapinha no meu ombro, sorrindo. – Tente não ser estuprado pela Nyra.

Quando eles saem, espero já irritado a coloridinha chegar, com uma dúzia de ternos brilhantes, pulando como um insetinho prestes a morrer.

– Oi, Cato! – ela canta. – Vista uma dessas belezinhas e vamos começar! Eu não acho que vamos ter um trabalho muito árduo, mas...

Eu bloqueio todo o resto. Absorvo o mínimo possível, a essência de cada frase sem os gritinhos, as repetições, as frescuras.

Eu sempre tenho as respostas. Rápidas, simples.

O que eu vou fazer com a Fuhrman?

Nyra levanta me manda sentar e cruzar as pernas pela décima vez.

– Isso já está bom.

– Eu sei que você está se saindo muito bem, mas...

– Eu já sei fazer isso.

– Tudo bem, tudo bem, querido.

Ela demora as mãos pelo meu corpo quando tem que me alinhar ou corrigir minha postura já perfeita em suas palavras.

– Clove se saiu bem? – pergunto quando quero uma pausa. Como ela faz tudo que eu mando, estamos sentados de frente para a televisão, meu desejo de distância sendo realizado.

– Ah, ela é ótima!

Me viro para ela agora, dando pulinhos e olhando o tempo todo pra mim.

– Gosta dela agora?

– Claro, claro! Ela é desequilibrada às vezes, é claro, e nunca para de jogar aquelas facas quando eu digo não, mas é esforçada o tempo todo. E tão charmosa!, ela tem aquele cabelo perfeito, educação de classe.

Aceno com a cabeça, voltando a olhar pra televisão.

– E você? – ela se aproxima, ansiosa como um passarinho atrás de água. – Gosta dela?

Penso antes de responder, como Brutus me disse pra nunca fazer.

– Ela é difícil.

– Eu sei!

– Ela é minha aliada, eu respeito ela.

– Não gosta?

Não se gosta de concorrentes, ainda mais os já mortos.

Enquanto fico em silêncio, o demônio aparece e cruza a sala até a cozinha, de sapato de salto. Me levanto sem dar satisfação a Nyra e adentro a cozinha, empurrando o próximo terno em cima dela. Fuhrman continua a beber água como se não me visse.

– Nos deem licença – falo para os Avox. Eles saem logo, reverências e tudo mais. Me aproximo de Clove, esticando a mão para tocar seu rosto. – Doeu?

Ela me olha pela primeira vez e ergue as sobrancelhas com... desdém. Então faz menção de sair. Empurro a porta.

– O que você quer?

– Você ouviu. Eu perguntei se doeu.

– O quê, o tapa que você me deu? Acorda. Aaron fazia o mesmo todo dia.

– Você quer romper a aliança?

Clove cruza os braços como eu.

– Por que você bateu na minha cara? – não falo nada. Agora ela me olha demais, me analisando de cima a baixo como as meninas e os rivais fazem. Agora ela é só o segundo. – Eu não vou romper nada.

Ela avança em direção a porta. Não saio da frente.

– Vai falar comigo agora, cravinho?

– Sim. Estou falando, não estou?

Sem Cat Cato. Nenhum sorriso. Não é a Clove.

– De verdade, Clove? É isso?

– O que você quer? – ela pergunta de novo. É até como se levasse a sério a coisa de eu mandar aqui.

– Eu não vou pedir desculpas, Clove. Olha – tiro o terno e a mostro os ferimentos avermelhados e incômodos de ontem.

– Não peça.

Eu a olho por mais um tempo. Eu gosto do nome dela.

– Eu disse que queria vencer, mas não precisa disso tudo. Nós ainda somos aliados.

– Eu sei. Se não fôssemos, eu não estaria falando com você agora.

Nada que ela disse poderia me irritar.

Mesmo lembrando de que no 2 nunca mencionamos “aliados”, eu não tenho razão pra querer quebrar coisas. Pensar em seu pai levantando o braço pra ela e me ver entre os dois remete outra coisa em minha cabeça.

Eu não quero quebrar coisas; observando Clove me olhar uma última vez antes de sair, eu não sei no que estou pensando, mas sei de uma outra vez em que pensei a mesma coisa: Eu tinha deixado Clove mexer com as espadas pesadas quando estávamos sozinhos e ela arrancou um tampo da pele do braço. Gritou e tudo mais.

Não nos ensinam palavras desnecessárias no 2, então eu não sei que porra de sensação é essa. Mas eu devia ter ajudado Dafne a segurar Clove até o próximo ano.


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Notas finais do capítulo

Que esse ano que vem seja o melhor da vida de vocês, bebês c:
Comentários iam me deixar feliz, eu amo vocês e até 2015 c: