Linhas Borradas escrita por Iulia


Capítulo 10
Derrubando Paredes


Notas iniciais do capítulo

Oi! Esse é um outro capítulo um pouco longo e raso, mas ele é necessário desse jeito antes das tretas começarem. Então. Por que vocês sumiram de novo?, eu estava achando tão lindo poder responder todos aqueles comentários tão fofos. Eu estou um pouco triste agora, mas espero que gostem c:



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/552731/chapter/10

Clove

– Eu estou tentando ser legal – murmuro, apoiando minhas mãos em uma das mesas -, mas eu estou me perguntando se alguém nesse inferno me ouviu dizer que essa porra não está me deixando respirar!

Só agora eles param de rir e de mexer em mim como se meu corpo pertencesse a uma boneca.

– Ah, eu disse a vocês! – meu estilista exclama, caminhando até mim e colocando as mãos na minha cintura para me guiar até o espelho. – Mas Clover, querida, tudo tem um preço. Olhe para isso!

– Eu estou – respondo, recobrando a calma. Expiro e olho ao redor, sorrindo. – Tudo bem.

– Sim, sim, tudo bem! Você está des-lum-bran-te!

– Ok.

Mas não estou deslumbrada com isso. Esse inferno de armadura não era usada pelos gladiadores de verdade para te matar sufocado. Como houve algumas instruções bem claras por parte de Enobaria, sorrio de volta pra eles até meus olhos se estreitarem, quase rasgando meu rosto no processo.

– Agora vou lhe pedir um favor – ele anuncia, colocando as mãos na boca como se estivesse envergonhado. Quando acho que quero vomitar, ele finalmente diz, dividindo o espaço com os risinhos da equipe. – Dê uma voltinha.

– Por quê? – eles estão se afastando para o canto da sala.

– Por favor, Clover!

– É Clove – forço uma calma inexistente. – E tudo bem.

Eu o faço, sorrindo falsamente enquanto eles me cercam para abraços, tentando não me esquivar de seus corpos alterados.

Deus, eu não suporto eles.

Finalmente eles me dão o prazer de não ter que tolerar mais suas companhias. Encontro Ludwig no elevador vestido igual a mim, discutindo com Brutus. Com as mãos do meu estilista em meu ombro, me curvo para o lado para que eles não vejam o esforço que preciso fazer para me manter séria olhando para essas asas na cabeça de Cato.

– Você está maravilhosa, Clovely – é claro que ele percebe. Levanto o rosto e prendendo as bochechas, respondo:

– Você também, Cat Cato.

É uma viagem longa até o estábulo. Assim que ponho meu pé para fora, as milhões de penas rosa nas roupas dos tributos do 1 ameaçam me sufocar.

– Eu estou feliz em conhecer vocês – a garota fala, estendendo a mão para Cato. – Glimmer Rambin.

– Marvel Quaid – o menino aperta minha mão. – É um prazer.

Sorrio falsamente para eles, olhando para mim e erguendo as sobrancelhas para Ludwig como se tudo agora fosse uma piada interna.

– Então. Nós todos já nos conhecemos, mas eu achei que seria legal vocês se apresentarem – Rambin continua, rindo, quando ninguém diz mais nada. Essa garota fala como se tivesse chiclete na boca.

– Se vocês não sabem o nome dos tributos do 2, a aliança está rompida – respondo. Ergo minhas sobrancelhas. Não gosto deles. Mas rio da expressão em suas faces.

– Não seja doente, Fuhrman – Ludwig se vira para mim como se me repreendesse sorrindo.

– Então... – Glimmer parece constrangida. Ninguém disse os nomes. – Vocês lidam com o quê?

– Espadas. Lanças – Cato vai ser o único levando essa conversa adiante.

– Eu gosto de lanças também – Marvel sorri aquele seu sorriso estranho feito um retardado.

– Eu gosto de arco e flecha. Quer dizer, eu sou boa em tudo, mas arco e flecha é a minha preferida.

Ninguém que fala que “é boa em tudo” presta. Se você é um carreirista, você tem a obrigação de saber matar com o que colocarem em suas mãos. Você é obviamente muito bom. Eu sei de uma coisa agora: Glimmer não é boa em nada.

– Ótimo – falo. Vejo a garota do 4 conversando com Finnick Odair. Eu a fito, imaginando se mexe com tridentes também. Há um pouco de força física em algum lugar. Força física que eu vou precisar para guardar meus suprimentos.

– Não. – Cato sussurra, agarrando meu braço para trás exatamente como sua irmã fez.

– Eu quero ela; ela vai estar na aliança – murmuro de volta, olhando para a frente como se não estivesse falando com ninguém. Ludwig me solta e rosna “agora não”, começando a me empurrar para frente.

– Clove e eu vamos para a carruagem. Nos vemos depois.

– Ah, sim – Glimmer responde, acenando e voltando com seu parceiro para sua carruagem.

– Eu pensei que eles eram amigos – falo já que não posso falar sobre a tributo do 4 sem causar uma discussão.

– Eles são. Eu ouvi ela o chamando de “Marvs”.

Mesmo sem querer, eu rio. Há toda essa coisa do Cat Cato, mas isso é uma idiotice, uma piada de tão ridículo. Eu não inventaria apelidos sérios para Ludwig. E nós não somos amigos.

Ouvir os gritos dessas pequenas formigas coloridas é bom. Ouvir meu nome em suas bocas imundas e brilhantes também. Mas não tão bom quanto é lá em casa. Os vislumbres que tenho deles, Deus, eles são doentes. São deformados, anormais, monstros patéticos. Só que eles vão me deixar honrar meu distrito. Então aceno. Não sorrio.

Nós somos os melhores. Nossos nomes são os únicos que podem ser ouvidos por um longo tempo mesmo levando em consideração os rebeldes que estão gritando pelos outros distritos pobres. Eu não os culpo, também. Quem não gritaria para Thresh? Eu apostaria nele, se eu não estivesse aqui.

Então algo perturba o equilíbrio perfeito. Param de gritar meu nome. O de Cato. De Glimmer, Marvel, Marina e qualquer outro tributo decente. Estão gritando nomes estranhos dos quais eu nunca ouvi falar. Louvando alguém insignificante.

Viro minha cabeça para o telão. Os tributos do 12 vestem chamas. O grande traje deles é o fogo. Olho para trás e os vejo: de mãos dadas.

O quão patético isso é? Por que eles estão gostando deles?

São os pobres do 12. Eles morrem na Cornucópia há anos e não se dignam a lutar. Quando caem, lamentam o carvão embaixo das unhas e a barriga vazia como se não tivessem tempo de tê-los concertado.

Não ouço o discurso do presidente. Ele não é lá muito glorioso com essa cara de cobra pequena. Eu olho para o telão, me perguntando o porquê do meu rosto não estar aparecendo mais do que o da menina do 12.

Troco um olhar com Ludwig. Ele gostou menos que eu. Volto minha face novamente para a multidão. Cato não pode decidir que está com raiva agora.

Quando os cavalos dão a volta, eu já sei que os quero como as primeiras mortes. Eles vão morrer logo e então todos vão ver quem deveria ter ficado no telão.

Assim que descemos, Cato começa a gritar com a sua estilista porque ela o fez parecer um idiota que perdeu para o 12 e um tanto de outras insanidades obsessivas.

– Não, não, vocês estavam deslumbrantes! – é a resposta da equipe, repetida uns milhões de vezes desesperada e pacificadoramente. Só que ele já parou de escutar; todo mundo parou. Eu analiso os concorrentes. Ele está fixando um olhar ameaçador neles. Haymitch, um bêbado que ganhou por acaso bilhões de anos atrás, os manda subir.

– Menos, Ludwig, menos – falo, irritada o suficiente sem todo o showzinho dele.

– Vamos – ele chama finalmente olhando pra mim, apontando para o elevador com a cabeça. Tento fechá-lo freneticamente quando Glimmer e Marvel pedem para esperá-los. – Para, Fuhrman – Cato segura meu braço. Eu me livro dele, revirando os olhos para sua “liderança”.

Arfando e corados como se estivessem rindo, os dois entram.

– Vocês estavam... legais – Quaid começa, olhando pra mim.

– Vocês também – respondo, me encostando na parede e cruzando os braços.

– Nós vamos matá-los. Não precisam se preocupar – Glimmer põe uma mão no meu braço e outra no de Cato.

– Ninguém está falando sobre isso, Glimmer – Ludwig diz lentamente, olhando para ela de cima.

– Cara. Ela só estava falando – esse é Marvel, tentando defendê-la.

Cato ri desdenhosamente. Pressiono meu cotovelo em suas costas e rio também olhando para eles. Não há reação.

– Nos vemos amanhã – falo sorrindo, quando paramos no andar do 1. Não podemos mais esperar lealdade. Me volto para ele. – Bom pra você, hein, Ludwig?

– Não enche, Fuhrman. Eu estou cansado daqueles desgraçados do 12 – Cato soca o elevador. Seria ótimo pra ele quebrar uns ossos agora.

– Para de ser louco, eles vão estar mortos daqui a pouco – resmungo, como se não soubesse que ele sempre faz isso.

Chegamos ao nosso andar em silêncio. Ludwig continua rugindo e se eu tivesse força e um grau a mais de insanidade, já teria pulado em cima dele com uma faca.

– Eu quero um show na morte deles – Enobaria fala imediatamente, mostrando suas presas.

Não falo nada. Eu estou um pouco ofendida com isso também.

– Voltem para o jantar – Brutus ordena, sentado no sofá e olhando para a televisão.

Eu tranco a porta do meu quarto. Lidar com Ludwig é difícil, mas se ele está com raiva, é impossível. Não o quero aqui. Não posso fazê-lo.

O chuveiro da Capital é a melhor sensação. Eu poderia ficar aqui pra sempre, sentindo a maciez dos meus cabelos. Só quando vejo meus dedos enrugados decido desligá-lo. Visto um roupão e saio para levar um susto.

Cato está deitado na minha cama como se nunca houvesse saído.

Ele sabe que a porta estava trancada. Não há nada pra dizer. Não importa o quanto eu o peça para ir embora, ele não vai.

– Aquele garoto do 1 – ele fala, enquanto eu procuro algo pra vestir. – Marvel.

– O que tem ele? – volto para o banheiro e troco de roupa.

– Não parava de olhar para os seus peitos.

É tão ridículo que rio.

– Eu estou falando sério – quando saio, Cato está rindo também.

– Claro que está.

Nós só ficamos rindo por um tempo, mas é o suficiente pra me fazer lembrar de casa.

Quando chegamos pra comer, a mulher larga os talheres e ergue o rosto para me encarar exclusivamente ainda que fale no plural:

– Vocês estão atrasados!

– Ninguém falou nada sobre um horário – respondo, me sentando.

Todos os outros já estão na mesa, então é claro que meu argumento foi mera implicância. Encostando os punhos doentiamente lilases na mesa, ela expira pesadamente.

– Senhorita Fuhrman, tem havido muito atrito em nossa relação! Isso está ficando desgastante!

– Eu concordo – continuo pegando minha comida, esperando que tudo isso seja uma grande piada. – Se você fizer só mais uma cirurgia pra costurar sua boca com ferro, a gente vai ser amiga.

Ela bufa feito um cachorrinho frágil e não fala mais nada. Está bom pra mim, eu estou sentindo as pessoas de casa prenderem o riso durante todo o tempo.

Assim que posso, volto pro quarto. Eu não acredito que vão perturbar minha estadia por causa de uma louca que quer dormir com meu parceiro de distrito.

– Com medo da Nyra? – é o que Ludwig fala rindo quando volta pro quarto, mesmo que as luzes estejam apagadas e que ele não possa me ver embaixo das cobertas. Educado como só ele sabe ser, presume que eu esteja acordada e se não, vai fazê-lo apenas para trocar umas palavras.

– Se eu imaginá-la nesse escuro com aquela sua peruca, vou ficar – resmungo. – E você não pode dormir aqui.

– Eu vou.

Provavelmente vai mesmo. Cato está casualmente sentado na cama, olhando para mim como se a qualquer momento fosse simplesmente se deitar, com um ar de casualidade rotineira.

– Isso é jogo sujo.

– Vai perder as forças se dividir a cama com tudo isso? – Cato aponta para si mesmo.

– Cato, não me faça te odiar. Eu vou te matar do mesmo jeito.

– Então qual é o problema? – ele já se deitou, rindo. Me afasto.

– Vai ser pior! – exclamo, o empurrando em vão.

– Olha, querida: Não é minha culpa se o seu quarto é mais aconchegante que o meu – Ludwig diz, colocando as mãos no peito e dando de ombros.

Eu o encaro, imaginando se o que sua irmã disse é verdade. Se Cato realmente não puder me matar, então há alguma veracidade além da que acontece quando eu estou desesperada demais pra desconfiar.

Se eu enxergar durante esses dias qualquer verdade sem Aaron por perto, então nós estamos mortos.

Eu olho para ele, puxando as cobertas e sorrindo desafiadoramente para mim. Quando descobre que não estou o provocando, simplesmente fecha os olhos e se encolhe por causa do frio. Eu me viro e aumento a temperatura no regulador quase imediatamente.

Suspirando, eu sei que Enobaria estava certa o tempo todo. Carreiristas não sentem. Carreiristas não dormem juntos. E sobretudo, eles não sentem se o fazem.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Por que vocês não me contam o que te deixam chateados na história ou o que vocês mais gostam? Eu iria adorar saber pra me moldar de acordo com o que vocês esperam. E eu estou postando um pouco mais cedo porque vou viajar - sem saber se passei porque sou demais -, então provavelmente não vou conseguir postar tão mais perto assim. Ainda mais se todo mundo sumir de novo. Então eu vou me sentir desmotivada e muito chateada. Mas ainda vou amar vocês, então até mais c: