Amnésia escrita por Dreamer


Capítulo 41
Capítulo 40 - Memórias


Notas iniciais do capítulo

E aí povo! Desculpa pelo capítulo enorme, mas como o final acabou ficando grande demais eu só pude dividir dessa forma :/ não sei se a fic terá mais dois ou só mais um capítulo, mas talvez eu não poste sexta, tá avisado. O que importa é que o fim não chegou :) Bem, vamos ao capítulo.



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Alex abriu os olhos. O céu laranja pairava acima de sua cabeça.

“Eu não morri?”, ele pensou.

O garoto olhou ao seu redor, ele via as coisas borradas e indistintas, mas pôde ver que estava deitado em uma maca. Ele lentamente tentou sentar-se, a dor do tiro que havia levado havia voltado, e ao senti-la ele pôs a mão na ferida, e pôde ver que estava enfaixado onde havia sido atingido. Uma voz delicada e familiar falou logo ao seu lado:

– Calma, calma, não se esforce.

Ele forçou a vista para poder enxergar quem falava com ele e logo conseguiu identificar a pessoa.

– Jennifer? – disse Alex com certo esforço.

A garota o ajudou a se sentar enquanto a visão deste se desembaçava. Eles estavam do lado de fora da Organização e Alex enfim pôde ver como era o lugar por fora. Era um prédio grande e branco no meio da terra árida do alto daquele morro, não havia janelas, apenas o prédio com distintas câmaras separadas No topo havia uma cúpula de vidro, onde Alex estivera instantes mais cedo.

Em todo lugar havia carros de polícia e ambulâncias, o que fez Alex lembrar-se do incêndio do seu colégio, e mais uma vez, de certa forma, fora ele o culpado pela confusão. Haviam também helicópteros que levavam pessoas com vestes brancas – que deveriam ser as cobaias da Organização – e agentes da S.I.O.R.C. identificados pelas camisetas da agência, e traziam mais agentes da S.I.O.R.C. com eles. Os policias discutiam com os agentes da agência, um que estava perto de lá falava:

– Como assim é um assunto federal? Nós somos a polícia federal!

– Agradecemos pela sua ajuda, senhor – dizia o agente – mas peço que retirem suas viaturas do local, está tudo sobre controle.

As ambulâncias cuidavam das vítimas do projeto e de outras pessoas feridas. O próprio Alex percebeu que sua maca estava na frente de uma das ambulâncias.

– Bela confusão vocês armaram, hein? – disse Jennifer com um sorriso.

– Pois é, eu tenho esse dom – disse Alex retribuindo com outro sorriso.

O rapaz tentou levantar-se, mas a ferida voltou a doer.

– Espere, você não está em condições de... – Jennifer começou a dizer.

Porém ela foi interrompida quando Alex a abraçou.

– Fico feliz em te ver de novo.

A garota sorriu e o abraçou também.

– Estou interrompendo alguma coisa aqui? – disse uma voz familiar vinda de perto de Alex.

O rapaz voltou-se para quem havia falado.

– Tio Paul! – disse Alex abrindo um sorriso.

Paul aproximou-se de Alex... Em uma cadeira de rodas sendo empurrado por Amy.

– Céus, tio! Mas o que...

– Bem, digamos que não saí ileso depois que aqueles escombros caíram em cima de mim, mas pelo menos estou vivo. Amy conseguiu nos tirar de lá bem a tempo.

A mulher deu um sorriso.

– Ora, apenas fiz meu trabalho.

Quando ela disse isso Alex estranhou.

– Espera aí... Você...

– Pois é – disse ela pegando um notebook preto guardado em uma mochila que ela carregava – eu sou...

–... A Hacker. Você não tinha um nome mais criativo para colocar não? – disse Michael, que acabara de chegar.

Alex não sabia o que dizer.

– Surpreso?

– Não, é só que... Sem ofensas, mas eu não esperava que você... Fosse ela.

– É, eu não tenho cara de ser dessas coisas mesmo – disse Amy sorrindo – mas essa é minha especialidade na agência, assim como Michael tem a habilidade de ser superchato.

– Ei! – falou Michael.

Alex olhou ao redor mais uma vez.

– Como os agentes chegaram até aqui?

– Foi Sarah – disse Amy – longa história, melhor perguntar a ela.

Ele pôs a mão na ferida.

– Essa foi por pouco – disse ele.

– Alex – disse Paul ajeitando-se na cadeira de rodas – você... Falou com...

– Com Edward? – disse Alex – Sim, bati um papo com ele antes dele ter o que merecia.

– Ele... Contou-lhe alguma coisa?

O rapaz sentou-se na maca, já que a ferida começava a doer novamente.

– Não, digo, ele me contou muito do que eu queria saber, mas não me contou o motivo... Disso – disse ele fazendo um gesto para a estrutura da Organização que outrora fora sua prisão.

– E por que você não pergunta isso ao Edward? – perguntou Michael.

– Michael! – disse Amy o repreendendo.

– O que foi? Eu acho que o rapaz deveria saber a verdade, ele já demonstrou ser forte e...

– Michael, por favor, só dessa vez, cale a boca. – disse Paul.

– Okay, não está aqui quem falou.

– Tio, do que ele está falando? – perguntou Alex.

O homem suspirou.

– Alex, você não o conhece, ele é perigoso.

– Sim, eu sei, e descobri da pior forma, mas eu quero... Eu tenho que saber... – o rapaz fez uma breve pausa e prosseguiu com uma expressão de dúvida – Tio, você... É meu tio mesmo, ou era só mais uma memória falsa?

Paul abriu um sorriso melancólico.

– Alex, eu sei que tem dúvidas, e sei que quer que elas sejam respondidas, mas não com ele, ele não pode...

– Paul – disse Amy – o garoto merece saber de tudo.

O homem pareceu pensativo por um momento, mas logo deu outro suspiro e enfim disse:

– Muito bem, muito bem, pode falar com ele, mas tome cuidado.

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Michael abriu as portas traseiras de uma van preta. Seu interior estaria vazio se não fosse por uma figura sentada em um canto com as mãos algemadas.

– Edward Spencer? – disse Michael – Você tem uma visita.

O homem dirigiu o olhar lentamente para Alex, e ao vê-lo deu um sorriso sofrido.

– Olá Alex. Devo lhe chamar de Alex, não de David, certo?

O rapaz não respondeu.

– Bem, vejo que não veio pra ter um papo com seu pai.

– Você não é meu pai – disse Alex.

– É... Realmente... Bem, o que você quer?

– Respostas.

– Que respostas?

– Todas.

O homem inclinou a cabeça para trás fitando o teto e depois voltou a face para baixo, fitando o nada. Logo, após um breve momento de silêncio, ele disse:

– Bem, você deve querer saber o motivo, afinal, é isso que todos sempre querem: um motivo. Nem sempre se há um motivo para tudo, sabe?

Isso pareceu encerrar o assunto.

– Mas esse não é um desses casos – ele prosseguiu.

Edward voltou-se para Alex, que o observava atentamente, e disse:

– Acho que eu tinha a sua idade... Ou menos, não sei. Eu e meu pai íamos pescar naquele dia. Isso parece dar a ele um ar de quem era um pai atencioso e presente, mas ele não era, estava sempre ocupado demais, porém ele arranjava um tempo para mim às vezes. Enfim, nesse dia nós tomamos um caminho diferente, um mais rápido, porém mais íngreme, pois eu estava com uma dor na perna por ter batido o pé na quina da cama e ele não queria que eu andasse tanto. Acontece que no meio do caminho ele escorregou em uma parte lisa da estrada e caiu batendo a cabeça em um amontoado de pedras. Eu fiquei ali, sem saber o que fazer, vendo meu pai sangrar até a possível morte...

– Se quer que eu tenha pena de você, então é melhor ir parando com... – Alex começou a dizer.

– Não me interrompa, não preciso de sua pena, – continuou o homem – eu disse possível morte. Ele teve um traumatismo craniano leve, mas sobreviveu. O coroa entrou em coma por um mês, eu sempre ficava do lado dele achando que a culpa era minha. Chegou um dia em que ele acordou, mas a primeira coisa que ele disse ao me ver foi: “quem é você?”.

Edward abaixou a cabeça de novo.

– Ele acabou perdendo a memória, sem poder se lembrar mais quem eram seu amigos e família. Com o tempo ele voltou ao normal e se lembrou de tudo... Menos de mim. Sabe como é se sentir culpado por seu pai estar naquele estado e depois ele nem se lembrar de você? Durante o resto da vida dele, por um motivo que nunca vou saber, ele nunca se lembrou de quem era seu filho, ele lembrou-se até do meu irmão, mas nunca de mim, eu sempre era o estranho, o que não havia existido até aquele momento. Foi assim até o dia de sua morte, três anos depois, por acusa de uma hemorragia cerebral que os médicos não haviam identificado antes. Meu irmão sempre me ajudou, me apoiou, mas era difícil...

– Esse seu irmão era... – Alex falou.

– Paul Spencer – disse o próprio, que acabara de chegar tendo a cadeira de rodas empurrada por Amy.

– Olá irmão – disse Edward com um sorriso irônico.

– Olá Ed – disse Paul sério.

– Sabe Alex, Paul sempre quis ser policial, e como agradecimento por ele ter me ajudado eu o ajudei com seu sonho de se tornar um oficial.

– Juntos nós fomos longe. Eu virei o xerife e ele meu assistente. Nós começamos a criar, por impulso por sermos jovens, um pequeno grupo de policiais para resolver os crimes que o departamento estadual não resolvia. Juntávamos os melhores especialistas, e com o tempo nosso grupo cresceu e acabamos expandindo a delegacia para juntar mais pessoas. Ficamos famosos entre os poderosos, e no fim decidimos fundar nossa própria agência: a S.I.O.R.C.

– Pena que não fiz parte dela por muito tempo, não é mesmo “mano”?

– O que você fez foi imperdoável, desumano. Eu fiz bem em te tirar.

– Eu só queria ajudar a humanidade, nós temos que sacrificar coisas para ganhar outras...

– Basta! Não vou ficar aqui te escutando! – Paul fez um gesto para Amy o tirar dali.

– Então se levanta e vai embora... Ah é! Parece que você não pode – Edward disse com ironia.

O homem não respondeu, apenas foi embora furioso, Amy deu um olhar para Alex do tipo “toma cuidado”.

Alex voltou-se para Edward.

– Continue – disse ele.

– Você é curioso, não? – disse o homem com um sorriso.

– Só quero a verdade.

– Pois bem. Eu nunca tirei meu pai da cabeça. Eu sempre me perguntava como ele era capaz de lembrar-se de tudo menos de um detalhe: seu próprio filho. Fiquei obcecado por aquilo, fiquei anos me dedicando a pesquisas, mas elas não eram o suficiente, eu precisava fazer testes, e para isso precisava de cobaias, não cobaias quaisquer, mas de pessoas com uma boa capacidade mental, e os agentes da S.I.O.R.C. eram perfeitos.

– Você fez isso com eles?

– Não. Quando Paul soube ele surtou, me chamou de lunático e maluco e após nós termos uma briga ele me expulsou da agência, ele podia, afinal, ele era o líder, eu era apenas o co-fundador.

Edward suspirou parecendo relutante, porém logo continuou.

– Sabe Alex, antes disso tudo eu conheci uma certa pessoa: a sua mãe.

Alex se arrepiou ao saber que saberia alguma coisa sobre ela e se sentiu culpado por não pensar nela o suficiente.

– Ela era... Diferente. A mulher mais bonita e meiga que conheci. Ela se compadeceu da minha história e após um tempo nós nos casamos. No mesmo ano em que fundei a S.I.O.R.C. junto de Paul e fui expulso também nasceu nosso primeiro filho: David.

Alex se sentiu estranho e agradecido ao mesmo tempo por Edward mencionar David sem parecer associar Alex a ele.

– Mesmo sendo expulso da S.I.O.R.C. eu continuei minha pesquisa. Desviei o dinheiro da agência para minha conta, investi ele e o usei para minhas pesquisas e pagar pessoas para fazer o trabalho sujo de capturar cobaias. Eventualmente Clara, sua mãe como você já deve saber, acabou descobrindo o que eu fazia. Nós tivemos uma briga feia, ela me chamou de maluco, e realmente eu era. Acabei perdendo a cabeça, comecei a ameaça-la se ela contasse alguma coisa para alguém, ela disse que ia ligar pra polícia, e quando ela ia indo pegar o telefone eu simplesmente peguei o pequeno David que estava no berço, entrei no carro e fui embora, nunca mais me encontrei com ela.

Ele fez uma pausa, contendo qualquer tristeza que pudesse transparecer e prosseguiu:

– Investi o dinheiro e criei a Organização. Mas fui tolo. Fiz meu próprio filho de ferramenta. Eventualmente acabei encontrando aquele seu amigo que você chama de Chris. Ele era conhecido por ter uma memória fotográfica, e isso me ajudaria nas pesquisas. Mandei David se infiltrar na S.I.O.R.C. sob o nome de Jason-alguma-coisa-que-eu-não-me-lembro para raptá-lo. Após ele estar uma semana lá ele foi mandado a uma missão e David foi junto com outra garota. David se separou da garota ficando a sós com Chris e assim ele o raptou, e realmente ele foi de bom uso para meus estudos.

Alex lembrou-se da história que Chris contara dias atrás.

– Após isso eu percebi que os agentes da S.I.O.R.C. eram os únicos que faziam diferença nas pesquisas, e assim comecei a mandar infiltrados para rapta-los. Lógico que Paul percebeu, mas quando ele chegou perto de descobrir a verdade eu consegui apagar essa memória dele e em outros dois agentes para saírem do caminho: Michael e Annie...

– Amy – corrigiu Alex.

– Tanto faz. O problema era que a psique de Paul era forte, e a amnésia durava apenas pouco tempo e ele logo voltava a se lembrar e eu sempre mandava apagarem aquele detalhe de sua memória. Eu decidi que era a hora de acabar com a agência que outrora criamos juntos. David começou se introduzindo como amigo de Chris e Sarah sob a identidade de... Bem, de você.

– O incêndio foi David quem fez, você manipulou Paul enquanto apagava a memória dele para mandar Michael nos buscar e nos infiltrarmos na S.I.O.R.C. – deduziu Alex – só não entendo como você conseguiria a localização da agência assim.

– Ora, vamos! Você achou mesmo que ficaria desmaiado dois dias só por ficar cansado na corrida? David tinha que entrar no controle para me dar as informações, mas não sabíamos que sua personalidade seria tão resistente. Naquela hora ele forçou a saída e enquanto você estava desmaiado, deixando espaço para ele, David veio à noite quando os médicos saíram da enfermaria e me deu as coordenadas, aí ele voltou para a maca e deixou se acordar como você no dia seguinte. Eu sabia que você viria até mim, logo eu acabaria com você, mas pelo visto não deu certo.

– Alex, terminou aí? – perguntou Michael que estivera ali do lado.

O rapaz olhou para o homem, seu olhar deixava a entender que de certa forma estava arrependido, mas aquilo não importava, ele teria o que merecia.

– Sim Michael – disse Alex – pode fechar.

Enquanto Michael se preparava para fechar Edward disse:

– Não espero que me perdoe Alex, mas espero que viva a vida que não pude dar a David. E caso encontre Clara, e eu sei que vai procura-la, trate-a com amor com o qual não pude trata-la. Até mais... Filho.

Nisso Michael fechou as portas e Alex ficou fitando seu reflexo no preto da lataria da van.


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Notas finais do capítulo

Deixem seu comentário antes que seja tarde! Me deixem saber o que vocês estão achando e se tem perguntas terei o prazer de responder :)

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