Após reencontrar Chris, a primeira coisa que seu amigo falou foi:

– Cara, você ficou maluco?

– O que? Eu...

– Como você tenta enfrentar um veterano que sabe de técnicas sinistras que podem fazer você perder seu braço?

– Mas ele estava rindo de mim! Você queria que eu ficasse calado e abaixasse a cabeça?

– Seria melhor do que levar uma surra, oras!

– Chris...

– Além do mais...

– CHRIS!

O rapaz parou. Dava para ver que Alex não queria falar no assunto.

– Tá legal – disse Chris – eu já parei.

– Ótimo – falou Alex sentando-se em um banco no corredor – tudo que eu menos quero é ganhar má fama aqui na S.I.O.R.C.

Chris sentou-se junto a Alex.

– Apenas tente relaxar – disse ele – tudo vai dar certo.

Alex fitou Chris.

– Você fala como se já estivesse aqui há muito tempo.

– Sou experiente em me enturmar – Chris riu amigavelmente.

– Como você pode saber?

– O que? Ah... – Chris entendeu o que Alex quis dizer – quero dizer, eu deveria ser antes de... Você sabe.

– Como é?

– Como é o que?

– Perder a memória. Como você se sentiu?

– Olha cara, eu não gosto de pensar muito nisso.

Nisso Chris calou-se, mas logo voltou a falar.

– É como quando a gente acaba de acordar após uma longa noite de sono, onde não nos lembramos daquele sonho maravilhoso por mais que a gente tente.

– Ah. E como é ter a memória de volta?

– Bem, a única vez que eu senti isso foi quando eu me lembrei de que tinha quinze anos, que já participei da S.I.O.R.C. e quando me lembrei da Mary – disse ele falando “Mary” com um esforço extra – mas a sensação é de lembrar subitamente desse sonho, entende?

– Entendo.

Nesse momento Henry e Sarah chegaram rindo e Alex ouviu de longe um pedaço da conversa:

–... “Quer dizer que só a agência pode entrar?” – disse Henry – então eu falei: “Cara, eu sou a agência”.

Sarah caiu na gargalhada.

Alex e Chris olharam-se e Alex pode ver em seu amigo o ódio que sentia por Henry.

– Ah! Oi pessoal! – disse Henry – eu estava aqui contando...

– Uma das missões dele! – disse Sarah ainda sufocada em gargalhadas – vocês, ha ha ha, realmente precisam, ha ha ha ha, ouvir.

– Err... – disse Chris.

– Olha... – disse Alex.

– Depois eu conto para vocês, agora eu tenho que ir treinar esgrima.

Henry falou esgrima como se dissesse: “sim Chris, eu estou lhe chamando para uma revanche, seu idiota”.

– Ei, que tal e ir com você? – disse Chris levantando-se e fazendo Alex se levantar por reflexo.

O sorriso de Sarah sumiu.

– Chris, você não acha melhor a gente ir dar uma olhada no resto do prédio da S.I.O.R.C.?

Alex percebeu a alegria de Chris ao ouvir Sarah dizer essas palavras.

– Sim, claro!

– Bem – disse Henry – então eu me despeço de vocês – ele apertou a mão de Alex e falou algo em seu ouvido que ele não entendeu, deu uma batidinha no ombro de Chris, mais uma vez beijou a mão de Sarah e foi embora.

Chris ainda emanava ódio – ou seriam ciúmes? – mas Sarah o acalmou.

– Ei, vamos?

Chris olhou para ela e consentiu.

– Ei Alex, porque você não vem também? – convidou Chris.

– Não, obrigado – disse ele – eu vou ver o lugar ali do outro lado.

Os três se despediram e foram em direções opostas do corredor. Alex começou a rir da situação só de brincadeira. Mas ao ver que outros agentes o fitavam estranhando um garoto rindo por nada ele decidiu ficar sério.

Alex só decidiu não ir com os dois para dar um tempo a sós entre eles, mas agora ele não tinha para onde ir, já que não tinha Henry, seu guia, para lhe mostrar o local. Assim ele ficou vagando por aí até encontra o laboratório de ciências, onde a maioria dos que estavam lá eram Falcons.

Eles pareciam estar recebendo aula. Então de repente o professor viu Alex pela janela da porta e fez um gesto para ele entrar. O garoto apontou para si fazendo “eu?”, e o professor fez que “quem mais seria?”.

Alex entrou na sala. Lá havia aproximadamente uns quinze alunos e o professor. Ele usava um jaleco de cientista com uma camisa verde de botões por baixo com uma gravata laranja – que fazia Alex se lembrar de uma cenoura – e uma calça de seda marrom.

A idade do homem devia estar na casa dos cinquenta, já que ele já tinha rugas e já que seus cabelos negros e desgrenhados tinham alguns fios brancos.

– Olá Alex! – disse ele.

– Err... Oi.

– Pode me chamar de Sr. Carrot – os alunos começaram a rir – calem-se! – eles calaram-se – bem... O que eu dizia? Ah, sim! O seu tio, Paul, me mandou chama-lo para participar de minha aula.

– Meu tio?

“É só o que faltava”, pensou Alex, “e eu pensando que com essa história eu poderia me livrar da escola por um tempo”.

Todos os alunos começaram a cochichar, talvez por estarem surpresos por descobrir que Paul Spencer era tio de Alex.

– Silêncio! – disse o Sr. Carrot e mais uma vez todos se calaram – Sim Alex, ele me contou que essas aulas podem ser úteis para sua missão.

– Como assim úteis?

– E eu sei? São ordens de Spencer! Agora se sente, por favor.

O garoto sentou-se em uma das mesas de laboratório para duas pessoas e percebeu que estava do lado da garota que havia almoçado com ele mais cedo.

Ela percebeu que ele a estava encarando e disse:

– O que foi?

– Hã? Ah! – disse Alex inutilmente – é que... Qual é o seu nome mesmo?

– Jennifer – disse ela, meio desconfortável – olha, é melhor a gente prestar atenção na aula, okay?

– Sim, tudo bem.

Como de costume, logo Alex ficou desinteressado pela aula e começou a pensar várias coisas ao mesmo tempo enquanto encarava o professor, fazendo com que parecesse que Alex prestava atenção naquela aula idiota enquanto na verdade não estava nem um pouco.

Porém Alex sentiu a menina o cutucar.

– Você é filho de Edward Smith?

– Como... – disse ele – O que?

– É que você se parece com ele. Você sabe: os olhos, o cabelo, essas coisas.

Alex não entendia o porquê de a menina conhecer seu pai, mas mesmo assim ele apenas disse:

– Sim, eu sou filho dele, por quê?

Ela fez uma cara de espanto.

– Tipo, Edward Smith, o ex-presidente da S.I.O.R.C.?