Mistake escrita por Fidelity


Capítulo 4
"Eu não posso fazer isso"


Notas iniciais do capítulo

CAUSE BABY NOW WE GOT BAD BLOOOD! Não sei qual o meu problema, mas tenho que começar isso com uma música KKKK Desculpem por demorar, eu sou otária assim mesmo. E no último capítulo, a maioria votou em menina (queria menino, poxa) e um pessoal votou em gêmeos e eu fiquei tipo: o.O
Enfim, obrigada por comentarem



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Depois de alguns dias fiz as contas e percebi que estava com três ou quatro semanas de gestação, o que significa que o meu filho não passava de um grão de arroz na minha barriga, tanto que qualquer sinal estava imperceptível.

Na escola, tudo corria dentro dos conformes. A coordenadora conseguiu uma dispensa das aulas de Educação Física embora eu relutasse, mas disse aos meus colegas que eu tinha machucado o tornozelo e não podia jogar ou correr, então passei a só me sentar nas arquibancadas do ginásio e olhar os meu colegas correrem pra lá e pra cá.

Mas isso não quer dizer que seja um problema a menos. Alguns dias atrás, uma colega me viu entrar correndo em uma cabine do banheiro quando eu acabei passando um pouco mal. E quando eu estava indo para a aula, ela falou para algumas amigas:

– Eu vi a Amanda Miller vomitando no banheiro do segundo andar.

– Será que tá com bulimia? – Perguntou uma loira alta.

– Magra ela não está parecendo. – Responde alguma outra menina, seguido de risinhos de algumas outras.

Fiquei apertando o casaco sobre a barriga pelo resto da aula, com medo de ela estivesse crescendo.

– Não tem nada crescendo, Amanda, você está neurótica! – Disse Morgana, impaciente, enquanto copiava com pressa o meu dever de Química.

Eu continuei andando o resto do dia com os braços na frente do corpo, abraçando os cadernos ou qualquer coisa que tivesse na mão com força.

Ao chegar em casa, percebi que não havia muito com o que me preocupar. Não tinha nada muito diferente em mim, mas o meu rosto estava ficando um pouco redondinho. Só que é por que a única coisa que tenho feito além de estudar é me entupir de comida.

A barriga só começa a aparecer a partir dos três meses, então tenho algum tempo para não me preocupar antes de começar a parecer um planeta fora do sistema solar.

Ou não. Durante essa última semana, eu só tenho conseguido me lembrar das palavras do meu pai. “Amanda, eu acho que você não deveria ter esse filho”. Eu fiquei abalada quando ouvi isso, mas pensando bem...

Eu tenho dezesseis anos. O que vou fazer da minha vida se tiver um filho para carregar?

Aborto. Eu li que pode ser realizado até o fim do primeiro trimestre, ou seja, até o terceiro mês. Eu sabia que uma ex-colega de Michelle já havia feito, então a procurei. Seu nome é Sabrina e ela tem 19 anos, mas não conseguiu terminar o terceiro ano do ensino médio ainda.

Quando eu era mais nova a Sabrina ia à minha casa com Michelle, eu achava que ela era como a Regina George de Chasidy School, o meu colégio. Sempre bem arrumada e chamando a atenção dos garotos do condomínio, talvez ela fosse mesmo a Regina, um pouco mais simpática e menos maligna. Aliás, menos maligna uma vírgula. Me lembro que ela colou um chiclete no cabelo da minha irmã na oitava série e disse que foi um acidente, mas eu vi ela tirar da boca e por nos fios loiros de Michelle. Esperava mesmo que ela não fosse a Gretchen da história, por que ninguém merece. Me lembro que ela empurrou uma das “amigas” na piscina um dia, quando fui acompanhar Michelle ao clube e ela estava lá.

Era a Regina George mesmo.

Ainda tinha a ilusão de que ela andava rodeada de amigas e tinha um namorado bonito e desejado, embora isso não seja um filme adolescente, mas quando fui ao seu encontro, ela estava sentada sozinha em uma das mesas do refeitório, mexendo no celular. Respirei fundo e fui até a mesa.

– Oi, Sabrina – Cumprimentei – Lembra de mim?

– Oi, Amanda! – Bloqueou o celular rapidamente, colocou-o na mesa e cruzou os braços por cima. Você não me engana, sei que manda fotos nuas para todos os meninos do terceiro ano. Quer dizer, quase todos, por que acho que aquele menino de óculos cheio de acne não está muito preparado psicologicamente para isso. – Tudo bem?

– Tudo... – Sentei na mesa rapidamente. – Vou ser direta, eu preciso da sua ajuda.

– Eu já falei que não vendo mais drogas, meu deus! – Quê?

– Drogas?

– Hã? Não é isso que você quer? Esquece, fala Amandinha.

– Michelle está grávida. Ela me ferrou não me impedindo de ir pra cama com aquele garoto, agora vou ferrar ela também. O que é amor de irmãs senão isso, né?

– A Michelle? – Arqueou as sobrancelhas , surpresa. – E?

– Ela sabe que você já fez um aborto, e quer saber aonde. – Falei um pouco nervosa, mas ela não mudou a expressão. Bom, acho que ela caiu.

– Você tá grávida, né? – Juro que ouvi aquele barulho de disco parando que sempre aparecem nos filmes, e comecei a suar frio.

– Não estou grávida, eu quero ajudar a minha irmã. – Falei, gaguejando um pouco.

– Tá. Isso vai ficar entre nós, só não conte pra ninguém que eu vendia drogas. – Ela pegou uma folha do caderno e escreveu um endereço. – Procure pela Vera, ela não vai te fazer muitas perguntas. As outras são enxeridas.

– Já disse que não estou grávida.

Ela assentiu com a cabeça e pegou o celular, voltando a digitar freneticamente. Levantei e voltei para a sala, percebendo que o intervalo já estava no fim.

Algumas meninas, amigas daquela colega que me viu passar mal, me olharam quando eu entrei na sala, mas voltaram a conversar segundos depois.

Ótimo, agora elas devem pensar que eu tenho bulimia. Mal sabem que daqui a pouco estarei do tamanho de um pequeno planeta. Ou não. Olhei novamente para o papel, desejando que eu tivesse alguém para conversar, mas Morgana tinha decidido não voltar para a sala depois do sinal tocar!

Onde ela está? Ela quase nunca passa o intervalo fora da sala, prefere ficar lá, conversando com os amigos. Olhei o meu celular, que tinha deixado na mochila, e uma mensagem dela de dez minutos atrás.

“Se acha azarada? Então lide com isso: Escorreguei descendo as escadas para o refeitório e acho que quebrei o nariz. Estou na enfermaria. Socorro!”

Saí da sala, comemorando interiormente por perder um horário de aula de Inglês. Encontrei minha prima sentada em uma das macas da enfermaria, conversando com a enfermeira do colégio. Aquele sorrisinho no rosto só devia significar uma coisa: Foi dispensada das aulas de hoje.

Me aproximei e ela sorriu.

– Quebrou o nariz mesmo? – Perguntei

– Não, só machuquei e agora está ficando roxo. E sangrou bastante também. – Falou apontando para as ataduras que cobriam o nariz e parte das bochechas. – Mas não preciso voltar para as aulas hoje.

– A enfermeira vai me matar se souber que estou matando aula aqui.

– Acho que vou ajudar a diretora na secretaria, ela passou aqui para pedir ajuda com alguma mudança de sala para a enfermeira, mas ela estava me atendendo. Diga que está se sentindo mal para a diretora e ela te dispensa de uma semana de aulas.

– Óbvio que ninguém desconfiaria, né. – Ela se levantou da cama e pegou a mochila, olhando para mim com a bolsa no ombro. Começamos a andar para a secretaria.

– Conte logo pra todo mundo que está grávida enquanto pode escolher contar ou não. Eu adoraria pedir dispensa das aulas de física. “Professora, pensar tanto está me fazendo mal”.

– “Tanta matemática está deixando meu filho irritado” – rimos um pouco, então peguei o papel com o endereço e ela pareceu compreender.

– É o que estou pensando? – Assenti – Vai mesmo fazer isso?

– Não me faz pergunta difícil, por favor.

Andamos em silêncio até a secretaria, onde estavam mudando a sala dos professores de sala, mas a diretora não me deixou ajudar. Então eu aleguei que estava me sentindo um pouco mal e ela me deixou ir pra casa.

Eu obviamente iria para casa, mas não agora. Entrei na estação de metro próxima da escola e me virei para tentar chegar ao bairro que Sabrina passou para mim, e não é que consegui?

Não era um bairro de subúrbio como eu estava imaginando, mas sim um bairro médio. Nem mais, nem menos. Um bairro normal, como o bairro onde ficava o condomínio em que moro.

Vi uma clínica sem nome e parei, olhando para a fachada com portas de vidro. O resto do lugar eram casas, então só podia ser ali. Pensei que se eu não morresse fazendo o aborto, pelo menos não ia morrer pela falta de higiene. Realmente me parecia um lugar bem arrumado.

Dei um passo a frente para entrar no local, mas parei. Passei a mão na minha barriga , que não havia nenhuma saliência. O bebê era mais ou menos do tamanho de uma bolinha de gude, mas estava ali. Não tinha a mínima noção de sua existência... mas estava ali.

Andei até o outro lado da rua e encarei a fachada do local.

– Não posso fazer isso.

Saí correndo para a estação de metrô mais próxima.


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Notas finais do capítulo

Desculpem por adiantar tanto esse negócio do aborto, mas queria que a Amandita (que?) tomasse essa decisão logo! Mas ta tudo bem ,hahhaha