POV. LETÍCIA

I wanna glide down over Mulholland

I wanna write her name in the sky

Gonna free fall out into nothing

Gonna leave this world for a while

–John Mayer, Free Fallin

Escuto varias batidas incontroláveis na minha porta, abro apenas um dos meus olhos e percebo que ainda são 4:30 da manha. Pego meus fones de ouvidos assim posso abafar o som insuportável. Quando começo a fechar meus olhos, alguém esta agora na janela atacando pedras. Levanto bufando de raiva já pensando como vou matar essa pessoa que atrapalhou meu sagrado sono. Assim que abro a janela e sou acertada por pedra.

–MAIS QUE SACO-digo com raiva passando a mao pela minha testa que provavelmente ira formar um galo- Alem de me acordar me acerta um pedra-digo murmurando.

–Lety desculpa não foi minha intençao te acertar- diz Miguel saindo de trás da arvore.

–Ah tinha que ser mesmo-digo com raiva- vai desembucha o que houve pra você estar tão desesperado?-pergunto.

–Eu vim te acordar...-eu o interrompo.

–Ah não me diga-digo irônica.

–Deixa eu te explicar-diz ele- Lembra que você concordou em ir escalar comigo hoje?-diz ele.

–eu não me lembro de ter dito isso hoje, será que você não sonhou?-pergunto.

–Ah qual é Leticia vai dar uma de desentendida agora, lembra que ontem eu te chamei pra ir escalar?-pergunta ele.

–Ah é verdade e lembro de ter falado que tenho medo dessas coisas-disse me encostando na janela.

–Ta que seja, mas você falou que iria já que hoje é sua folga-disse e eu fiquei em silencio pensando- Vamos vai ser divertido-diz ele instindo.

–Ta bom, vou voltar a dormir depois das 8 saimos- digo.

–Não temos que sair agora pra pegarmos o nascer do sol-diz ele

–Agora? Ta doido eu to com sono se você não sabe-digo a ele.

–Você vai dormindo e eu dirijo fim da historia, arruma as suas coisas ai e aproveita e pega a sua câmera, garanto que você vai querer registrar esse dia.-diz ele saindo do meu quintal pulando o muro.

Fecho minha janela e começo a me arrumar. Coloco uma calça jeans velha, minha regata, meu moleton e meu all star. Pego uma bolsa coloco um shorts porque eu sei que vai esquentar, meu kit de primeiros socorros por via das duvidas, e então o meu equipamento de fotografia minha câmera e as lentes. Depois de tudo pronto saio pra ir a casa do Miguel, percebo que esta um completo silencio. Será que ele voltou a dormir? Penso em bater na porta, mas percebo que ele deixou só encostada. Essa é a minha chance de dar um susto nele como troca. Deixo minha bolsa no canto da porta e ando somente na ponta dos pés. Procuro ele no andar de baixo mas não o encontro. Subo bem devagar sem fazer barulho a porta do quarto dele esta só encostada.

–BUUUUUUUUUU- grito o assustando, ele estava apenas com uma cueca box preta segurando a calça em suas maos.

–Meu Deus sua desmiolada-diz ele bravo se cobrindo- Você não tem modos não? Não ta vendo que estou me trocando?-diz ele-Agora saia daqui pra que eu possa me trocar em paz-diz.

–Ai ai-digo suspirando indo deitar na cama dele- Eu não me importo, pode terminar de se trocar-digo.

–Por favor Letícia saia do meu quarto-diz ele olhando pro teto ainda se cobrindo.

–Miguel-digo me aproximando dele- Você é um fofo sabia-aperto suas buchechas- não precisa ficar tímido não, alem do mais você tem um corpo incrível-digo olhando seu abdômen definido.

–Quer parar de me bulinar?-diz ele revirando os olhos colocando as calças.

–Que foi? Só foi um elogiio-digo olhando pro porta-retrato que ele tinha do lado da cama-Essa era a sua esposa?-pergunto apontando a moça.

–Não essa era a minha amante-diz ele irônico e eu ataco o travesseiro nele- Logico que era minha esposa-diz ele rindo se aproximando da cama.

–Ela era linda- digo colocando o retrato no mesmo lugar.

–Ela era sim, tanto por dentro como por fora-diz ele- é melhor nos irmos antes que nos atrasemos mais-diz ele me batendo com o travesseiro.

–Ta bom, mas quero café-digo o seguindo pra fora do quarto.

–Se você tivesse ido direto ao quarto teria notado as duas garrafas térmicas com café-diz ele apontando pra pia.-Pega la ,que vou levar as coisas pro carro-diz ele.

–Ata pensa que manda agora?-digo

–Mando e você obedece-diz ele rindo.

–Desde quando essa intimidade comigo?-pergunto ja com as garrafas nas maos .

–Desde o momento que você invadiu minha privacidade-diz ele sorrindo.

–Olha só um sorriso-digo apontando pros lábios dele.

–ha há-diz ele- Entra logo que não quero perder o nascer do Sol-diz ele entrando no carro.

–Ta bom mandão-digo- Vejo que o cavalherismo morreu-digo assim que estou dentro do carro colocando o cinto.

–Ah me perdoe da próxima vez te chamo pra um encontro ai sim usarei o cavalherismo-diz ele dirigindo.

–Ta bom, sorte sua que não gosto dessas coisas-digo me endireitando pra dormir.

–Ei esse travesseiro não é o meu?-pergunta ele olhando de solaio pra mim.

–Sim é o seu, e obrigada por me emprestar so me acorde quando chegarmos okay-disse fechando os olhos.

–Se importa se eu colocar uma musica?-pergunta ele.

–Nenhum pouco-digo com os olhos fechados.

Escuto ao fundo uma voz ao fundo nem sei quem canta só sei que gosto do ritimo calmo que a musica tem. Acordo com alguem me cutucando.

–ei dorminhoca acorda-diz Miguel-Chegamos.

–Ta bom deixa eu me arrumar aki-digo me espreguiçando e sem querer acerto sua cara.

–Ai-diz ele- alem de dorminhoca é espaçosa ainda. diz ele rindo.

–Estou apenas me vingando da pedrada que voce me deu na minha testa, ta vendo tem um galo enorme-digo apontando pra minha testa.

Ele se aproxima e beija em cima do galo.

–Pronto, ja que passa-diz ele saindo do carro carregando uma manta.

– Ei nao me deixa pra tras nao-digo saindo do carro.

–TRAZ A CAMERA-grita ele.

Quem ele pensa que é? eu vou dar na cara dele se ele ficar mandando em mim. Por mais que ele tenha falado da minha câmera sentia falta de fotografar, de sentir a emoção de olhar pela lente, e foi isso que eu senti assim que vi os primeiros raios solares. Não era a mesma coisa de salvar vidas. Aquele momento era um momento único que somente você sente. É como se você pudesse mostrar pras pessoas o que seus olhos viam, era uma coisa única. Depois que registrei o possível da maravilha fiquei ali com os olhos fechados, sentindo as luzes através da minhas pálpebras.

– É lindo não é?- diz Miguel ao meu lado me oferecendo uma das garrafas de café, eu ate tinha esquecido de que ele estava ao meu lado.

–Sim muito lindo obrigada-digo sorrindo.

–De nada- diz ele retribuindo o sorriso.

Então ficamos os dois ali em silencio, encarando a nossa frente vendo o céu se abrindo como se tivessem abrindo alas para o Sol. Era um momento mágico onde cada um estava perdido em seus pensamentos.

–Acho melhor irmos temos uma longa viagem ate chegarmos a montanha.-diz ele se levantando e oferecendo sua mao para me ajudar a levantar.

Depois de longos km percorridos chegamos a montanha. E como eu imaginei o dia estava quente, peguei meu shorts e comecei a me trocar no banco de trás, enquanto Miguel pegava os equipamentos necessários. Subimos a trilha que por sorte não era tão difícil.

–Chegamos- diz ele feliz ao encarar uma rocha enorme.

–Chegamos?-olho confusa –Isso aqui não é nada, to achando que você pegou a trilha errada já que ela termina aqui-digo e ele riu.

–Aí é que você se engana querida-diz ele-esse lugar é onde iremos escalar-diz ele arrumando os equipamentos.

–Iremos? Qual parte que eu disse que tenho medo você não entendeu?-digo pra ele.

–Eu entendi que você tem medo, mas...-diz ele se aproximando de mim- é por isso que você ira junto comigo-diz ele começando a colocar o equipamento em mim e me prendendo junto com ele.

–Olha essas mãos bobas ai-digo quando ele começa a prender algum tipo de cinto nas minhas coxas.-Se eu morrer saiba que a policia vai saber que você é o culpado-digo pra ele.

–Não se preocupe você esta em boas mãos-diz ele

–Falou o cara que tentou se suicidar-digo sem pensa, e percebo que ele ficou tenso-Desculpa, eu não deveria ter tocado nesse assunto.-digo me sentindo culpada.

–Não você esta certa, pra que escalar uma montanha de 600 metros com um suicida não é?!- diz ele se afastando.

–Miguel-grito, mas ele se afasta.Puxo a corda que ele estava segurando, fazendo o olhar pra mim.- Eu disse isso no calor do momento, eu não estava falando serio, eu estou com medo, a quem eu estou querendo enganar, eu estou morrendo de medo- Digo o fazendo olhar nos meus olhos- Pra você que já tem pratica isso não é problema, mas pra mim que não entendo nada disso é muito mais que medo-digo me afastando e sentando numa rocha- Uma vez eu salvei um casal que escalava, eles ficaram presos pendurados em uma montanha por horas esperando o resgate, eles eram recém casados e estavam em lua de mel, resolveram fazer uma das coisas que eles mais amavam. Entao alguma coisa deu errado e uma das cordas se soltou-disse- O marido ficou segurando apenas com uma mao a mulher que ele amava. O resgate chegou, eles ficaram bem, bom não o marido na verdade-rio sem graça- ele teve o braço quebrado e no caso não poderia mais fazer o que Lee mais gostava-disse o encarando.

–Eu preciso que você confie em mim-diz ele – Voce acha que pode?-Diz ele me olhando nos olhos.

–Eu tenho medo-digo.

–Medo de mim ou medo de cair?- pelo tom da voz diria que ele ainda estava ferido pelo que eu disse.

–De cair, eu não tenho medo de você-digo e vejo alivio em seus olhos- Eu posso tentar confiar-digo então ele estende sua mao pra mim.

–Então vamos, porque eu sei que você é corajosa o suficiente pra fazer isso.-diz ele.

Depois de tudo pronto, equipamentos, capacete, cordas começamos a subir. Eu estava presa a ele de um jeito que nossos corpos se encaixavam perfeitamente.

–Eu estou pesada?-pergunto sem olhar pra baixo e com os olhos fechados com medo de encarar aqueles olhos azuis.

–Não, você não esta pesada-diz ele rindo- Abre os olhos Leticia-diz ele.

–Não, só quando chegarmos lá em cima que eu vou abrir-digo e ele ri.

–Tudo bem-diz ele meio ofegante.

–Miguel-digo com os olhos fechados- Estamos em que altura?-pergunto.

–Porque você não abra os olhos e veja você mesma?-diz ele.

Bem devagar faço o que ele diz, primeira coisa que vejo é o chão, e como auxilio do medo abraço ainda mais forte o Miguel sem perceber que nossos lábios estavam muitos próximos.

–Eu agradeceria se você soltasse um pouco o meu pescoço-diz ele sorrindo, então afrouxo mais os braços em torno do pescoço- Mas quando falei pra você abrir os olhos o aconselhável era olhar pra frente e não pra baixo-diz ele e eu faço o que ele pede me tirando o fôlego.

–Nossa é lindo-digo olhando a vegetação das arvores, as flores, os pássaros-falta muito?-pergunto olhando pra cima

–Não já chegamos, mas precioso que você solte de mim e se segure-diz ele olhando nos meus olhos.

–Não, eu não sei se consigo-digo com medo.

–Voce consegue, lembra-se de que você é corajosa-diz ele- Vai eu preciso te dar o impulso pra você subir e não consigo fazer com você encaixada em mim-diz ele.

Faço o que ele me pede mais sinto minhas pernas ficarem bambas ao pisar na parede da montanha, sem ter tempo de eu processar, percebo que ele esta me dando o impulso pra subir. Pensava que em cima da montanha era cheio de rochas pontudas, mas na verdade não é. Elas são planas, retas, apenas com algumas rochas,para diferenciar.

–E então? O que achou-pergunta Miguel atrás de mim.

–Lindo, encantador, incrível, mágico, na verdade não tenho palavras pra descrever-digo pegando minha câmera e tirando algumas fotos.

–Minha esposa costumava a falar a mesma coisa-diz ele encarando o horizonte.

–Ela costumava vir aqui com você?-perguntei.

–Sim, antes da nossa filha nascer então depois eu vinha sozinho, mas não era a mesma coisa.-diz ele tristemente.

–Acho que eu e sua esposa tinha varias coisas em comum-disse sorrindo.

–Sim vocês tem-diz ele retribuindo o sorriso.

E naquele momento percebi que o destino tinha me colocado na vida do Miguel, não somente para salvar a vida dele, mas também para salvar a minha.