– Não banque o estúpido, Rogers! Isso é suicídio! - Tony falou o óbvio, mas às vezes Rogers parecia mais "loiro" do que realmente era aos olhos do Stark, principalmente quando falava alguma coisa dessas.

– Não importa se é ou não. Estamos falando da Lola e não vou deixar que a vida dela corra mais riscos do que já está correndo. - Steve não mudaria de ideia.

– Mesmo que isso provavelmente acabe com a sua própria? - Clint quis garantir que as coisas estivessem bastante claras e Steve compreendesse as consequências da besteira que estava decidido a fazer.

– Sem dúvida alguma! - A expressão séria do Capitão demonstrava o quão certo estava sobre a sua decisão.

Tony se espantou com o quão entregue ele estava à situação. Sabia que Rogers era um herói, mas um herói do tipo que acreditava em toda a baboseira sobre honra e dever para com os indefesos. Só que o que estava disposto a fazer era muito mais do que isso! Ele estava disposto a possibilidade de se sacrificar, a sacrificar tudo. O que surpreendia Anthony era o fato de que nunca pensaria que ele chegaria tão longe, que ele se entregaria tão fácil.

– Eu vou junto com você. É da minha irmã que estamos falando, ela precisa de mim! - Tony anunciou.

– Não, você não vai! Sei que tem esse direito, muito mais do que eu. Mas todos ouvimos muito bem o que ele disse que faria caso algum outro Vingador aparecesse por perto. Se eu não for ou se alguém me acompanhar ele vai... Ele vai... - Steve engoliu a seco encarando o nada. - Vocês sabem o que vai acontecer! - Ele exclamou como se algo amargo estivesse lutando para descer por sua garganta.

– Isso é inaceitável, Capitão, não podemos ceder às exigências de um terrorista! Ainda mais tendo a certeza de que é uma armadilha, coisa que o XY-32 nem se importou em tentar disfarçar! Você estaria caminhando diretamente para a morte! - Coulson protestou. Na verdade todos começaram a protestar contra a decisão de Steve ao mesmo tempo, mas o Capitão só prestava atenção e respondia a algumas, a sala de estar da Mansão Stark parecia uma feira, se Tony estivesse com o seu humor habitual a qualquer momento teria perguntado ao vento quanto estava custando o quilo do tomate; porém, Tony era um dos únicos que escutava Steve sem fazer grandes protestos a sua decisão.

– E você acha que eu me entregaria assim de graça para a morte? Acha que eu não sei que é uma batalha que está me esperando? ELE quer guerra, e é exatamente isso o que ele terá! Eu não vou colocar meu pescoço em uma guilhotina. Eu vou lutar pela minha vida e pela vida da Lola. EU vou LUTAR! E vocês não vão aparecer por lá até pelo menos eu estar no mesmo ambiente que uma Lola ainda VIVA! - Steve estava começando a se irritar com a pouca fé que estavam depositando nele e com as recusas de aceitarem sua decisão.

– Steve, me escute! Você já fez a mesma coisa antes e está prestes a fazer outra vez! - Natasha tentava trazer juízo a ele. - Este é o mesmo sacrifício que fez anos atrás ao decidir fazer um pouso de emergência no meio do nada, são circunstâncias diferentes, mas a essência é a mesma. Ao tomar essa decisão estará se sacrificando por causa de um bandido. -.

– Isso mesmo. Estaria. E no final, minha escolha trará o bem para todos. Ao aterrissar no gelo salvei uma cidade inteira de pessoas inocentes, e ao ser congelado Deus trouxe a Lola para mim e para vocês. Dessa vez não vai ser diferente! Eu vou até lá, acabo com o bandido de novo e no final ela vai estar conosco sã e salva mais uma vez. - Steve argumentou.

– Não, Steve! Você não vai fazer isso, você não pode tomar essa decisão. Você tem superiores para responder, trabalha para uma Divisão de Inteligência e não pode sair por aí fazendo escolhas sem levar em consideração as ordens do seu Diretor. - Sharon tentou argumentar trazendo a consciência. - Fury não deu ordens nenhuma ainda. -.

– Fury nem sequer está aqui! - Tony rosnou.

– Não interessa! Steve precisa esperar suas ordens, ele não pode agir dessa forma, como Vingador, como agente da SHIELD ele possui deveres a cumprir. - Sharon também tentou trazer juízo ao Stark.

Por sua vez, o Capitão bufou um riso forçado, mesmo sem achar graça alguma em nada.

– Vocês acham que isso vai me impedir? Acham que não vou agora mesmo atrás da Lola por causa do Fury? Por causa de um "emprego"? - Rogers possuía uma expressão transformada no rosto, diferente de qualquer outra que já havia feito diante daquelas pessoas. Era um tanto ressentida, magoada e simultaneamente desafiadoramente revoltada. - Bem... Se é isso o que me impede, então eu me demito. -.

Cada uma das respirações presentes na sala foram interrompidas em conjunto, mergulhados numa surpresa realmente muito inesperada. Ninguém nunca imaginou escutar essas palavras saírem pelos lábios do convicto e honorável Capitão América.

Esperavam que um dia algum deles abandonaria o grupo, mas nunca pensariam que Steven seria aquele a abandonar de dianteira. Não o Primeiro Vingador, não o mais politicamente correto de todos. Esperavam que Rogers fosse o último a cogitar isso. O primeiro talvez seria Tony ou Banner... Mas Steve?

– E estando desvinculado da SHIELD, se algum de vocês pensar em vir atrás de mim descumprindo as exigências do XY-32, eu juro que terão que me enfrentar. Está pessoa ou pessoas se tornarão oficialmente meus oponentes, e eu tenho a tendência a sempre cumprir minhas promessas. - Rogers se retirou, dirigindo-se ao cômodo da casa onde havia colocado seu traje e escudo.

As pessoas estavam todas em choque, mas sem dúvida a surpresa de Anthony era diferenciada. O Stark sentiu sincera e, provavelmente pela primeira vez na vida, um verdadeiro sentimento de admiração pela atitude ou por algo que saía dos lábios daqueles Capitão que seu pai tanto admirava.

Por um momento, Tony QUASE pôde entender o que de tão especial havia dentro daquele Picolé-Olaf-Militar que fazia Howard se orgulhar de tê-lo conhecido, que fazia os Estados Unidos se sentirem tão sortudos por terem aquele cara de listras e roupa apertada protegendo-os.

[...]

O cômodo que Steve havia sido instruído a colocar suas coisas era uma sala-escritório, na verdade, o antigo escritório domiciliar de Howard. Quando apressado tinha abrigado seus pertences lá, Rogers não tinha prestado muita atenção no conteúdo do ambiente, mas agora entrando para pegar suas coisas e "respirar" um pouco antes de sair para enfrentar o Experimento XY-32 a contragosto de todos os seus amigos, ele se permitiu prestar atenção em algumas coisas.

Ao lado da porta, onde estava sua bagagem, havia uma mesinha ornamental com um vaso chinês antigo e uma fotografia em um porta-retrato ao seu lado. Em frente à mesinha, alguns metros atrás havia uma mesa de madeira de escritório com uma cadeira, seu design era elegante e antigo como quase tudo naquela casa.

Ao lado, ocupando quase que completamente uma das paredes, havia uma instante de livros que iam do teto ao chão. Rogers não prestou atenção no resto da decoração, já que o porta-retrato ao lado do vaso chinês diante de seus olhos chamou quase que inteiramente sua atenção.

Era uma garotinha, pouco mais de oito anos, traços latinos em seu rosto. Ela tentava sorrir para a câmera como se estivesse fazendo isso pelo fotógrafo, mas seus olhos denunciavam tudo.

Olhos tristes de uma garotinha sentada em um balanço no meio de um parque. Os olhos entristecidos de uma garotinha que estava tentando ser forte, mas por dentro existiam apenas cacos e o fantasma de uma criança que perdeu a infância e a confiança nos homens após presenciar a maioria de seus parentes serem massacrados por soldados corrompidos.

– Lola... - Steve sibilou tristonho, como a garota, ao tomar o retrato nas mãos e reconhecer a pessoa da imagem mesmo aquela sendo uma versão visual que nunca tinha visto antes dela.

A dor e raiva dentro dele apenas aumentou. Ela passou por tanta coisa! Tudo o que Steve queria era poder protegê-la, poder impedir que nada de ruim voltasse a acontecer com a dona daqueles olhinhos amendoados.

A Lola que Steve conhecia não se parecia com a Lola triste da foto, mas ele sabia que aquela garotinha triste e destruída ainda existia dentro da Stark que ele conhecia, afinal, o garoto que apanhava nos becos do Brooklyn ainda existia vividamente dentro dele.

Aquela menininha desconhecida era parte de Lola, assim como o magricelo do BK era um pedaço imenso e significativo do Capitão América. Olhar para aquela foto apenas o recordava do quanto a vida havia sido injusta com a garota que ele mais queria o bem.

Ser dona de oceanos de dinheiro, ter uma genialidade fora do comum, ser a princesa herdeira do império bélico construído pelo pai. Nada disso compensa todos os sofrimentos pelos quais aquela garota passou. Testemunhar assassinatos, adquirir distúrbios psicológicos, alimentares e doenças posteriores, sofrer rejeição materna, quase morrer em um acidente se carro, acordar décadas depois, testemunhar um atentado terrorista sanguinário, e agora ser sequestrada pelo seu ex-melhor amigo que causou o atentado anterior. Steve não compreendia porque o destino causava tudo aquilo àquela pobre garota. E ele se sentia um inútil por não ser capaz de protegê-la de verdade.

Ele alisava com o polegar a fotografia da garotinha quando um Anthony confuso abriu a porta e adentrou o ambiente já cortando o silêncio com suas observações inusitadas aos olhos do Capitão.

– O que você disse lá fora... Você não pareceu um macaco de laboratório obediente e adestrado. - O Stark fechou a porta atrás de si e encarou o loiro ainda usando uma expressão de surpresa.

– É isso o que você pensa de mim sempre, não é?! Bom... Sinto muito se frustrei suas expectativas. - Steve colocou o porta-retrato no seu lugar e deu as costas a Tony enquanto começava a mexer em sua bolsa-mala no chão.

– Não, não frustrou... - Tony tentava recobrar a própria consciência e voltar ao normal digerindo sua surpresa. - Na verdade... Olha, provavelmente você não me escutará falando isso outra vez enquanto vivermos nessa mesma dimensão, mas... O que você vai fazer, o que você falou lá embaixo, pode até estar sendo meio burro, só que eu... Gostei do que fez, te respeitei por um momento. - Anthony confessou.

Steve levantou a cabeça e virou-a para o Stark por um momento.

– Obrigado... Eu acho... - Ele disse voltando a remexer suas coisas.

– Mas eu estou falando sério! O Capitão América agindo daquele jeito, rejeitando ordens dos superiores, você foi... Você foi... -.

– Rebelde?! - Steve deduziu.

– Eu ia dizer que quase pareceu ser um Stark, mas "rebelde" é praticamente um sinônimo, então serve. - Anthony voltou bem de leve para seus habituais comentários satíricos.

Steve apenas balançou a cabeça, no fundo até que concordava. "Rebelde" às vezes se aplicava às características de Lola, de Anthony e do próprio Howard.

– Se minha irmã tivesse visto, provavelmente sentiria orgulho do modo como coagiu o Capitão América a agir. - O Stark fez sua segunda observação.

– É da Dolores que estamos falando. Você viu o que ela disse na gravação. Lola não quer que eu a salve, e provavelmente quando eu chegar lá sua irmã me agradecerá com mais um punho certeiro no meio do meu nariz. - Steve riu de leve retirando suas botas da mala.

– Essa é uma grande possibilidade. - Tony concordou.

– Uma coisa que aprendi, quando se trata dela: tudo é possível. - Steve ajeitou as botas no chão ao seu lado e logo voltou a remexer no conteúdo da mala.

Tony ficou sério novamente, a situação em que estavam inseridos não permitia graça por muito tempo.

– Você sabe o porquê de ela não quer que você vá. É uma armadilha e a parte do plano deles que ela já sabe, provavelmente, denuncia que as armas deles contra você podem acabar contigo, e mesmo assim você não quer que as coisas sejam feitas de outro modo. - Tony dizia.

– Você está certo. Mas quando você diz eles...? -.

– Samuel não está sozinho nessa, não tem como! Eu vi uma saudação esquisita feita pelo garçom da Casa Branca, coisa de seita ou algo do tipo HIDRA mesmo, isso demonstra que sozinho ele não está, e há alguma conspiração oculta e maior do que ele por trás de tudo isso. - Tony explicava a Steve seus receios.

– E por que não reportou isso antes? - Rogers ficou surpreso com a omissão.

– Eu reportei! Tim tim por tim tim em um relatório que foi enviado ao Fury. Mas esse caolho dos infernos não tomou nenhuma providência, ao meu ver, ou informou algo aos outros, já que sua surpresa denuncia que não sabia dessa informação. Olha, Rogers, tudo o que eu mais quero é a minha irmã sã e salva, se você tiver que matar o Samuel. Mate-o! E se pensar no Stu te faça hesitar, não pense, não hesite por um segundo! Pois quando ele estava "morto" trazia muito menos desgosto e sofrimento para o pai. - O Stark foi sincero. - Você está mesmo disposto a fazer qualquer coisa para trazer minha irmã para casa? -.

– Claro que estou. - Steve nem pestanejou ao responder.

– Só queria escutar em voz alta. Eu sabia que estava. Eu sabia, eu sabia, porque você a ama. -Tony disse cruzando os braços e encurralando repentinamente Rogers, fazendo sua terceira observação.

Steve se ergueu do chão e se virou para Anthony, deu pequenos passos na direção do Stark, enquanto meio assustado mantinha uma feição surpresa enquanto o Stark continuava falando.

– Você a conhece em tão pouco tempo, tão poucos meses, mas esse período já foi suficiente para que começasse a amar a minha irmã. Confesso que enxergava a existência dos seus sentimentos por ela, mas não pensava que eram tão profundos assim, não os levava tão a sério assim, mas hoje, lá embaixo, com as coisas que você disse, com a decisão que está tomando... Tudo ficou muito claro para mim. Você AMA a minha Lolita, Capitão. -.

– Isto seria um problema para você? - Steve perguntou, sentia um pouco do próprio "veneno" de quando adivinhava verbalmente os sentimentos de Lola por ele e ela entrava em certo pânico. Sem perceber ou sequer saber, um Stark se vingava pelo outro.

– Problema? Vocês são dois tapados, praticamente um nasceu para o outro! - Tony exclamou descruzando os braços.

Steve ficou confuso ainda, o pânico o fez processar as palavras de forma mais devagar que o habitual. Tony resolveu esclarecer melhor.

– Quero dizer, não há problema nenhum, e provavelmente, se nosso pai estivesse vivo, com certeza ele faria muito gosto em ver vocês dois juntos e em saber que gosta tanto assim da Lolita. Mas bem... Ele não ia ficar tão orgulhoso assim de mim se eu não tentasse trapacear bem ao estilo da nossa família. - Tony abriu uma mão e um dispositivo auricular pequeno e simples estava bem no meio de sua palma.

– Para quê isso? - Rogers deixou a parcial felicidade de saber que seu antigo amigo teria apoiado seus sentimentos e suas boas intenções para com sua herdeira para focar no aparelho cor-de-pele na mão do Stark.

– É o seguinte, Cap... Você é todo músculos nessa operação, mas venhamos e convenhamos, toda missão de sucesso precisa de um grande cérebro por trás, e se esse cérebro puder ser o de um Stark não terá para ninguém!... Esse é um comunicador. Você vai até o Desgraçado-32 como ele exigiu, mas usando esse brinquedinho, assim, eu e o JARVIS poderemos entrar em contato com você. Logo, no momento em que a Lolita estiver sobre os seus olhos e viva, você me avisa, então o Homem de Ferro se juntará a sua luta e mais um dia será salvo graças aos meninos superpoderosos! - Tony explicava.

– Você se juntaria a mim apenas depois que eu colocasse os olhos na sua irmã? - Steve queria ter certeza.

– Mas é claro que sim, Rogers! Se tem duas pessoas que verdadeiramente mais querem que a Lolita volte inteira para casa, esses dois são o irmão dela e o Danoninho Ice que a ama, no caso, Você!... Topa? - Anthony estendeu a outra mão para que Steve a apertasse caso eles entrassem em acordo.

– Eu vou trazer sua Lolita para casa! - Steve apertou a mão de Tony.

– Traga a NOSSA Lolita para casa! - O Stark sacudiu a mão de Steve de volta.