I Could Kiss You escrita por Fernanda French


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Eu já planejava escrever outra one do Kristoff e da Anna, mas pretendia adiar. Comecei meio de bobeira, mas me empolguei e decidi postar hoje.



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Uma batida na porta.

– Elsa?

Duas batidas.

– Você quer brincar na neve? - perguntei, alimentando um restinho de esperança dentro de mim. Às vezes, eu me pergunto por que ainda tento.

Três, quatro, cinco. Ela não vai abrir. É claro que não vai. Ela nunca abre, nem uma frestinha sequer. Tudo o que faz é gritar:

– Anna, estou ocupada. Tenho muitas tarefas da faculdade. Um dia, você vai entender.

– Você sempre está ocupada - resmunguei, baixinho o suficiente para ela não escutar.

Minha irmã deve me achar a garota mais ingênua e bobinha do mundo. Eu entendo que ela precisa se dedicar a provas e tal, mas será que não pode reservar um único tempinho para a caçula? Elsa não tem vida social, honestamente. Nem amorosa. Ela bem que podia arranjar um namorado, para ver se iria continuar querendo viver com tanto estudo! Pensando bem, seria uma ideia ruim. Ela não tem tempo nem para a família, que dirá um futuro pretendente!

Aí está uma coisa que me diferencia da minha irmã: eu acredito no amor verdadeiro dos contos de fada e em finais felizes. Ela, no entanto, é meio fria e distante. Talvez por isso que o amor não apareça, por não acreditar nele! Éramos tão próximas durante a infância e a adolescência, foi só ela se formar para me abandonar! Sinto falta dos risos, das brincadeiras, das roupas de frio...

Eu e Elsa também somos diferentes fisicamente. Quero dizer, os traços do rosto são praticamente iguais. Mas o cabelo dela é loiro platinado, que, na maioria das vezes, é usado em uma trança de lado, e a pele dela é quase tão branca quanto a neve que caía fora de casa. Eu tenho cabelo loiro-morango. Eu descobri esse termo ao folhear as revistas de beleza da mamãe e contei a Elsa, que apenas ergueu as sobrancelhas, rindo, e questionou:"Quem é que fala assim, Anna? Não é muito mais fácil dizer que é castanho puxado para o ruivo?" Legal, minha própria irmã não sabe a cor do meu cabelo. Se bem que nem eu, a dona dele, sei...

E o mais irritante da história toda é que Elsa só se dirige a mim quando quer me perturbar. Como, por exemplo, em relação ao Hans.

"Anna, o cara é mais velho que você! Está nascendo até um pouco de barba! Sem falar que tem a fama de maior mulherengo! Confie em mim, é melhor parar com essa paixão platônica".

Nem adianta dizer a ela que não é platônica coisa nenhuma, que ele corresponde aos meus sentimentos... Bom, ele nunca disse, mas eu sei que sente. Simplesmente sei. E devo ter adquirido conhecimento sobre namoro nas matérias adolescentes que li em revistas e em sites. Ok, talvez não sejam a fonte sobre o amor mais confiável do mundo, porque, como diz minha mãe, esse tipo de coisa é complexo e tal. Mas imagino que deva ser meio difícil não reparar quando alguém gosta de você. O jeito como ele dançou comigo na festa da semana passada, a qual havia implorado tanto para meus pais me deixarem ir... o lanche que comprou para mim no intervalo, a forma como limpou a minha boca suja e como abriu a porta da sala de aula, me deixando passar... Ao contrário da minha irmã, que só fecha portas na minha cara.

Quanto ao fato de Hans ser mulherengo... Bom, por ser um garoto bonito, acho natural que as pessoas julguem sem saber. Minhas amigas da escola nunca apontaram nada assim em relação a ele, e olha que muitas delas são especialistas em qualquer assunto com o tópico romance... A Elsa nem estuda mais na escola, está totalmente por fora e acha que pode me aconselhar!

Eu vou provar que o Hans é um bom cara e que ela terá o maior prazer em chamá-lo de cunhado! E a oportunidade perfeita é a festa de fim de ano na escola...

***

– Sua irmã continua pegando no seu pé? - Ella perguntou enquanto prendia o belo cabelo loiro.

– Infelizmente - bufei e dei uma mordida no meu chocolate. Era o recreio e estávamos lanchando e conversando. - Tipo... qual o problema do Hans? Ele nunca fez nada para justificar a impressão que ela tem dele, coitado! Como ela pode julgar uma pessoa dessa maneira?

– Anna, me escuta... - Belle começou, um pouco hesitante.-Todas as meninas gostam dele. Eu já ouvi algumas coisas e não duvido que seja verdade.

–Até você, Belle? - fiquei indignada. Ela era a mais inteligente de todas nós, sempre com um livro da biblioteca! Deveria saber que devemos conhecer as pessoas antes de julgá-las!

Foi o que eu disse a ela, que logo retrucou:

– As aparências enganam. Sei disso melhor que ninguém.

O que só serviu para me irritar ainda mais.

– Hans não é assim. Ele é doce, gentil... ao contrário do aluno novo.

Me referia ao Kristoff, que havia entrado na escola no meio do ano, sem ninguém saber o porquê. Tinha alguns amigos, todos chatos, fedidos e desengonçados. Ele levava o estojo do violão algumas vezes e, pelo que me disseram, tinha aulas de música. Talvez fosse o único atrativo dele, o violão que carregava... Eu amava música, tanto que fazia aula de canto depois da escola toda terça e quinta.

– Falando em julgar pela aparência-Belle ergueu as sobrancelhas.-O aluno novo já fez alguma coisa para você não gostar dele?

Fiquei desconcertada, porque precisava reconhecer que, de fato, não tinha motivos para a minha implicância. Era o meu radar, mas tinha uma ligeira impressão de que esse argumento não convenceria minha amiga.

– Bem... hã... nem precisa. Ele tem um jeito todo grosso, dá pra perceber... E nunca o vi com uma garota. Deve ser por um motivo, certo? Eu nunca o vi dar um único sorriso!

– Eu o acho bonitinho - comentou Ella. - Não necessariamente bonito, mas charmoso.

– Não acho - continuei a implicar. - O nariz é meio grande.

Belle abriu a boca, provavelmente iria me dar uma bronca por causa de todo aquele papo sobre aparência... Por isso, fui rápida e disse que jogaria a embalagem do chocolate no lixo e iria dar uma passada no banheiro. Atravessei o corredor e vi o tal do Kristoff falando alguma coisa com uns caras da outra turma e entrando na sala de música. Confesso que andei bem devagarinho, para ver se meus ouvidos captavam algum som...

E então decidi entrar.

Eu poderia dizer que tinha esquecido as partituras... e era verdade. Eu tinha mesmo. Pretendia pegar na minha próxima aula, que seria no dia seguinte... Mas para que adiar? Tentei abrir a porta com cuidado, mas obviamente houve ruídos. A minha sorte é que ele estava tão absorto na música-que nem consegui reconhecer-e não reparou. Até que, para alguém bruto, ele sabia o que fazer com uma palheta. Andei com passos bem leves e fui em direção as partituras em cima do piano do outro lado da sala. Tentei ser sutil, realmente tentei! Acontece que, procurando as minhas músicas, tropecei em sabe-se lá o quê e caí, espalhando partituras pelo lugar.

Kristoff obviamente percebeu e parou de tocar, me encarando como se dissesse:"O que essa maluca está fazendo aqui?"

– Oi... Christopher, né? Eu... bem... vim pegar algumas partituras e... hãã... música legal. Eu já vou indo e...

– Kristoff. E você é Anna.

– Kristoff, claro... Ah, você sabe o meu nome.

O que foi uma coisa muito idiota de se dizer. Os professoras faziam chamada todo dia e o meu nome era um dos primeiros! É claro que ele sabia! E, ao contrário de mim, ele não tinha uma cabeça na lua que confundia pronúncias.

Comecei a me distanciar dali depressa.

– Anna?

– Sim? - me virei, ainda atrapalhada.

– Você não vai pegar as partituras?

As partituras. O motivo de eu estar ali. Claro.

– Ah, vou, sim... Obrigada por lembrar - e comecei a procurar as minhas em meio aquele bolo e, quando me toquei, percebi que as folhas tinham escapado das minhas mãos frouxas. Outra vez. Argh.

– Você quer uma ajuda? - perguntou, sorrindo amarelo. Aposto que pensava:"Quanto mais rápido ela pegar a droga da partitura, mais rápido me livro dela."

Aceitei e, enquanto tentava não me embaralhar outra vez e fazer papel de boba, decidi puxar assunto:

– Então... vai ter a festa de final de ano da escola... Ah, achei uma partitura! Você vai e... ah, outra!

– Não, não vou.

– Por quê?

– Odeio festinhas de escola. - Não falei que ele era grosso? - Comida sem graça, música alta, pessoas enjoadas, vomitando nas cabines do banheiro...

– Ughh! É uma festa de escola! As pessoas tem limites, sabe?

Kristoff olhou para mim como se eu fosse muito inocente, o mesmo olhar que minha irmã lança para mim quando falo do Hans, o que é enlouquecedor. Pensei que o assunto morreria. Para minha surpresa, ele falou, parecendo desinteressado:

–Você vai com o Hans, não é?

– Sim, eu acho. Vocês são amigos? A gente pode te encontrar lá e...

– Eu? Amigo? Do Hans? - ele riu como se fosse a coisa mais absurda que já tinha ouvido na vida.

– Qual a graça?-mexi no cabelo, sem entender.

– Até parece que eu seria amigo de um cara como ele. Sem ofensa, Anna, mas ele é um idiota.

– E onde você ouviu isso? Você deveria conhecer as pessoas antes de julgá-las pela aparência ou pela fama! - Obrigada pelo discurso, Belle. Ele serviu pra alguma coisa.

– Ah, conheço muito melhor que você. E você vai mesmo com ele? Porque uma coisa é achar, outra é ter certeza...

Quis replicar, mas a minha mente foi dominada por um branco terrível. O que poderia dizer em minha defesa? Apesar de todas as provas óbvias de que ele está totalmente apaixonado por mim, Hans não havia me convidado. Eu acreditava que seria uma questão de tempo. Mesmo tendo (quase) certeza, não poderia afirmar nada, senão pagaria de mentirosa! Kristoff deve ter reparado nesse detalhe, porque falou:

– Ele brinca com as garotas. Você está levando a melhor ao ficar longe dele. - Naquele momento, já havia reunido todas as partituras, mas não arredei.

– Pelo menos, ele não é grosso como você!

– Aposto que tira meleca. E come.

Foi o suficiente para me enojar me fazer dali com graça e dignidade, provando que as palavras dele não me abalavam em nada. Bem, a parte da graça foi arruinada quando deixei as partituras caírem e tive que pegá-las outra vez, sem jeito. Pelo menos, ainda tinha a dignidade.

***

– O que você estava fazendo conversando com o Kristoff? O sinal já tocou! Não iria passar no banheiro?

Eu havia saído irritada por ter escutado injustiças direcionadas ao amor da minha vida. E imagine a surpresa ao me deparar com olhares maliciosos das minhas amigas, que há pouco tempo atrás me ouviram falar mal do cara!

– Nada - disfarcei, sentindo meu corpo queimar de vergonha.

– Você ficou lá um tempão! Alguém aqui aprendeu sobre julgamentos - riu Belle.

– Na verdade, o interior dele é bem pior que o exterior! - achei que a demonstração de indignação era o suficiente para me inocentar de um suposto interesse romântico. É claro que não era.

– Já abandonou o Hans, Anna? Você é rápida! - exclamou Ella.

– Podemos mudar de assunto? Então, Belle, você vai com o Adam, não é? Já falei que vocês formam o casal mais fofo de todos?

Minha tentativa de transferir o foco para Belle não funcionou. Ela apenas ajeitou o rabo de cavalo e provocou:

– Eu também achava Adam meio grosso antes de conhecê-lo melhor...

Como elas eram chatas. Perdi a paciência e pedi para subirmos. E, no caminho, encontrei quem eu queria encontrar. A única pessoa que me tiraria da situação.O cabelo acobreado, os olhos verdes... Hans. Por isso, logo me afastei delas e o segui.

– Oi! Você vai a festa de fim de ano da escola?

Ele andava rápido, dava um pouco de trabalho segui-lo. Parecia até que estava tentando me despistar.

– Vou.

– Hmm. Vai ser legal, não é?

– Vai. - Já estava a ponto de desistir, quando ele disse: - Podemos combinar um ponto de encontro.

Ok, podia não ser a mesma coisa que chamar da forma tradicional, mas ainda assim...

– Pode ser.

Não era necessário demonstrar a animação com aquilo. Não queria parecer uma garota desesperada, embora eu fosse mesmo. Saí dali, aparentando indiferença, e esbarrei em alguém, que imediatamente me segurou antes que caísse. O histórico de micos era impressionante. E o pior foi me deparar com o gorro, os olhos castanhos e o sorrisinho implicante. Ah, Kristoff.Hmmpf.

– Quer apostar que ele vai furar com você?

– Você parece saber muito sobre as pessoas desse colégio, não é?-falei. Tipo, ele era na dele, rude, antissocial... e aparecia como se soubesse todos os segredos de todas as pessoas!

– Tenho que amigos que sabem... são tipo uns especialistas em amor.

– Os meninos da nossa sala? Especialistas em amor? Essa é boa! Eles são todos insensíveis e bobos-olhei para ele, cobrando uma explicação.

– Como o Hans.

– Como você.

– O caso - revirou os olhos - , é que estou falando dos meninos da outra sala. E você nem está apaixonada nem nada, então...

Provavelmente, os garotos que estavam perto do Kristoff antes dele entrar na sala de música.

– E falando neles...

Um garoto baixinho se aproximou de nós e cumprimentou Kristoff com um tapinha simpático e estranho. Ele, então, me encarou e me analisou por uns segundos antes de voltar a atenção para o amigo e dizer em um tom consideravelmente alto, sendo que havíamos parado de andar ao notar a proximidade da sala de aula:

– Uma namorada! Até que enfim! Eu sabia que chegaria um momento em q...

– O quê? Eu não sou... Nós não... - nós falamos praticamente ao mesmo tempo. Não dava para dizer quem era o mais corado, eu ou ele.

– Querida, ele pode ser bruto, mas é uma pessoa muito sensível por dentro, sabe? Só precisa de alguns reparos. Eu te garanto que o meu amigo aqui...

– O seu professor está bem ali, aposto que vai chamar sua atenção a qualquer momento! É melhor ir pra sua aula!

– Sim, sim, antes eu quero saber tudo sobre a garot....

– Vai! - Kristoff nem deixou o amigo falar e o empurrou em direção contrária a nossa. Eu só queria saber no que ele estava pensando. Especialista em amor, claro! Tudo o que o cara disse foi com base em Kristoff estar comigo e já saiu especulando! É alguém com critérios assim que pode ser chamada de especialista em amor? Se bem que, se o cara (qual o nome dele?) ficou surpreso por me ver com o amigo, deveria ser porque ele não saía com muitas garotas. Nem imagino o porquê!

– Ele sabe ser inconveniente, às vezes.

– Até que parece legal - sorri. E era verdade. O cara tinha um jeito engraçado.

Kristoff ainda parecia constrangido, mas segurou o meu braço e me conduziu para a sala, o que até teria sido fofo se não soubesse o brutamontes que ele era. Tinha até esquecido das meninas. Só me dei conta disso ao reparar a desconfiança delas. Argh, eu havia até sorrido, elas teriam razões para ironizar! Pensei em Hans, esperando que o meu sentimento profundo por ele inundasse meu ser e me acalmasse, como acontecia antes. E me lembrei das palavras do Kristoff: Você nem está apaixonada. Comecei a questionar o que era estar apaixonada. Nas palavras dele, parecia capricho adolescente. Nem conhecia o Hans, apenas concordava com alguns dos pontos de vista e o achava uma graça. Olhei para a direção do Kristoff, que sorriu. Tinha um certo charme, não podia negar. Ele era chato e tudo o mais, o que não justificaria que eu pudesse ser mal-educada e não sorrir. Fala sério, não era nada de mais sorrir para um cara que você mal conhecia direito há pouco tempo atrás, estando apaixonada por outro. Nem éramos amigos... As meninas, que falassem do que quisessem.

***

– É hoje!

– Eu sei - Elsa estava concentrada no penteado que estava fazendo no meu cabelo. Era uma irmã ausente, só que, com tempo livre, me dava toda a atenção do mundo. Talvez deveria parar de ser ingrata. Ela era a melhor irmã do mundo e só percebia isso quando ela não estava enfiada nos livros.

– Trancinhas? Não acha que é infantil demais?

– Não faça drama, Anna. Você fica linda de trancinha. E o seu cabelo é muito bonito, precisamos destacá-lo.

– E o coque que sugeri?

– Sério, Anna, em que século estamos? Tranças dão muito mais destaque - ela passou a mão pela longa trança loira.

– Tudo bem - assenti. Confiava em Elsa. - Estou tão ansiosa!

– Anna, você vai mesmo encontrar o Hans?

Estava perfeito demais para ser verdade. Ela tinha que insistir

– Já começou! E sim, eu vou encontrá-lo na festa. Acho que sou grandinha o suficiente para tomar minhas decisões.

– Eu me preocupo com você-suspirou Elsa.-Se ficar decepcionada com ele, não diga que não avisei. Quando te buscar, nada de reclamações, ouviu?

Não iria ter reclamação nenhuma. Suspiros, na verdade. Mas não pelos motivos que esperava...

***

Elsa me deixou na escola, com mil instruções ("Não confie em estranhos", "Não aceite nenhuma bebida que oferecerem para você", "Te buscarei no horário combinado, nada de atrasos, ou serei obrigada a te procurar pela escola toda e te constranger na frente de seus colegas"). Mal passei pelo portão e fui absorvida pelo clima do local. Observei a quadra, onde a maioria dos alunos estava, comendo salgadinhos, cantando a música do show de um artista desconhecido que o colégio havia contratado, dançando. Hans e eu marcamos de nos encontrar perto da cantina, que estava fechada por causa da festa. Ele não estava lá.

Procurei em todos os lugares possíveis, sala de arte, sala de laboratório, refeitório... em todos os lugares mesmo. Menos o banheiro masculino, que dispensei por motivos óbvios.

Decidi entrar na quadra e entendi porque Kristoff tinha aquele pensamento sobre festas. São abafadas, cheias de pessoas... sufocantes. Encontrei Ella no caminho, dizendo que a sapatilha havia cabido perfeitamente, e expliquei que não dava para falar naquele momento. Também avistei Belle dançando com Adam e senti um pouco de inveja. Ela estava colada no namorado, feliz, sonhadora... apesar do ambiente ser barulhento e não muito romântico. O que importava era a dança dos dois, alheios ao que acontecia ao redor... E eu? Um vestido verde caro-que ninguém, além de meus pais e minha irmã-se deu o trabalho de elogiar, sapatos desconfortáveis, suor se misturando com meu perfume doce, o que posso te garantir, não é uma combinação nada agradável. A noite fugiu dos meus ideias românticos. E se, no final das contas, a minha noite terminasse no meu quarto, abraçada com o boneco de neve de pelúcia que Elsa havia dado para mim há anos?

Talvez fosse esse o problema. Eu idealizava demais um romance. Um príncipe encantado, forte, bonito e inteligente, aparecendo do nada para me salvar da rotina entediante. Elsa está certa. Sou tão ingênua. Você nem está apaixonada por ele. Até mesmo o Kristoff tem uma parcela de razão! Não diga que não avisei. Tudo explodiu na minha cabeça, junto com a música alta, o que me fazia ter vontade de gritar.

Vejamos... uma porta aberta, um lanche comprado... eram provas de amor, certo? Não queria reconhecer que estava errada. Por isso, andei, esperando que o movimento das minhas pernas me ajudasse a refrescar a mente. Mero engano. Só fiquei mais suada.

E o vi.

Beijando uma garota, mais velha que eu, em uma dança assanhada demais. O esperado seria eu me debulhar em lágrimas. Tudo o que senti, na verdade, foi uma vontade de bater em mim mesma por ser tão idiota e alimentar uma paixão platônica. Pensando bem... ele deveria saber. Porque todas gostam dele. Elsa, Belle, Kristoff... quantas evidências eu precisava para enxergar?

E ele também estava lá. O Kristoff, quero dizer. E olhava para mim com pena, justamente o sentimento que não queria!

Hans, enfim, me notou e falou:

– Anna! Desculpa por não ter desmarcado, é que a...

Não sei o que deu em mim. Só sei que fui tomada por um arrependimento tão grande por desperdiçar uma preciosa parte da minha vida pensando nele, que, de repente, me aproximei do Kristoff, toquei nos seus ombros e falei:

– Ah, sem problemas! Eu havia combinado de encontrar o Kristoff também!

Os dois pareceram surpresos. A garota parecia entediada com a cena e disse que iria buscar um refrigerante, depois de chamá-lo de amor. Não pude evitar sentir um pouco de pena dela. Será que ela sabia que era dispensável ou simplesmente ficou com ele para se divertir?

– Ok... A gente pode se encontrar em um dia depois da festa.

Forcei um risinho e puxei o Kristoff para longe dali. O pátio, quase vazio, com poucos alunos que, como eu, deveriam querer alguma privacidade. Sentei no banco mais próximo e fiquei até surpresa quando o vi sentar do meu lado.

– Então... era esse o seu plano? Me usar para causar ciúme nele?

– Eu já estou me sentindo horrível o suficiente - resmunguei. - Acho que você pode compensar, dizendo que me avisou e blá-blá-blá.

– Eu te avisei - disse ele, rindo e brincou com uma das tranças.

– Por que você veio a essa festa? Você disse que não iria ir.

– Eu não iria - deu de ombros. - Mas meus amigos especialistas de amor me obrigaram.

Ri um pouco. A brisa da noite era gostosa. Era bom estar ali, mesmo em circunstâncias ruins. Um silêncio confortável se instalou e não fazia questão de quebrá-lo. Ele me fazia bem, me fazia contemplar o ambiente sereno, a não ser pela música que ainda dava para ouvir.

– Acho que ele saiu perdendo.

– Espera, o quê?

– O Hans. Ao dispensar você.

– Obrigada - corei e uma ideia me ocorreu. - Você quer dançar?

– E ser o brinquedinho para você causar ciúmes no Hans? - ergueu as sobrancelhas.

– Não - franzi o rosto. - Eu realmente quero dançar com você. - Me levantei e estendi a mão. - Vamos? - Kristoff pareceu pensativo. Por fim, aceitou.

– Aviso que não danço bem. Se eu pisar no seu pé, eu vou ter avisado!

– Acho que posso suportar - ri, enquanto seguia para o salão, ops, quadra.

E nós dançamos. Não éramos um príncipe e uma princesa. Apenas um garoto um tanto grosso e uma garota um tanto desmiolada.

E quer saber? Até que combina.

***

– Anna? - uma voz cantarolou. - Você quer brincar na neve?

– Os papéis se inverteram? Geralmente EU faço essa pergunta - falei, abrindo a porta.

– Realizei as últimas provas. Estou livre! - Ri do jeito que ela falou. - Você vem?

Logo me apressei em segui-la. Fomos para os fundos da casa e começamos a brincar como duas crianças. Construímos um boneco de neve, com pedrinha e nariz de cenoura. Bons tempos! Depois de uma guerrinhha e de nos rendermos, exaustas, Elsa se sentou perto do boneco e disse:

– Então, você já desencanou do Hans? Quem é o novo garoto?

– Kristoff - me sentei também. - E somos amigos.

Eu sabia ler os olhos de Elsa como ninguém e percebi a diversão que eles escondiam.

– Amigos, é sério.

– Claro - sorriu Elsa. - Ele vem aqui hoje, não vem? O trabalho da escola que você me falou.

– Vem -sorri. Minha irmã brincando comigo, minha nova amizade... As coisas estão melhorando. - Você tirou uma folga?

– Tenho que ter um tempo para minha irmãzinha.

Ficamos mais um tempo ali, brincando e descansando. O tempo parecia passar tão rápido, que, quando mamãe anunciou a chegada de Kristoff, fiquei surpresa. Imediatamente, balancei a roupa, tentando me livrar da neve.

– Como eu estou?

– Está ótima, Anna. Agora vá encontrar o seu amigo.

Ignorando a ironia (e o olhar assassino do meu pai), fui recepcionar Kristoff, fazer as devidas apresentações e guiá-lo até o quarto, que era o lugar onde faríamos o trabalho de História.

– Então... hm... sabe a apresentação de música de final de ano? - perguntei, antes de abrir o livro da matéria. - Você não se inscreveu, certo?

– Sei. É, acho que não. Parece legal e tal.

– Eu inscrevi você.

– Espera, o quê?

– Não fique bravo comigo - segurei as mãos dele. - Você é bom! Já tocou em festinhas de família, não é tão diferente assim.

– Não estou bravo com você. Eu até iria me inscrever, mas meu pai falou que eu tinha que ter notas boas. Aí eu esqueci disso completamente.

– Eu vou te prestigiar na primeira fileira! Se bem que eu me inscrevi também e todas as pessoas que vão participar ficam na primeira fileira, o que acaba não sendo nada especial, mas você entendeu!

– Eu poderia te dar um beijo! Quer dizer, eu poderia, não, é... gostaria... - ele se embaralhou.

Eu tirei o livro de História do meio da gente e disse, quase em um sussurro:

– Você pode me beijar agora.

E ele me beijou.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!



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