Já era o fim da tarde e eu ainda não havia visto Cassandra em lugar nenhum. Ela não apareceu no refeitório nem em qualquer outro lugar em que eu tinha passado. Nem mesmo Nico eu tinha visto, a última vez sendo quando saí do Chalé 13.

Tinha caminhado até a floresta, tomando cuidado para não me afastar muito mas de qualquer forma havia trazido meu arco por precaução. Podia ouvir algumas ninfas conversando aos sussurros um pouco afastada de mim. Me deitei aos pés de uma árvore que eu realmente não sabia qual era, mas era bem alta, e fechei os olhos. Alguns raios de sol escapavam por entre suas folhas e acertavam meu rosto, porém sem me incomodar. Depois de ir em uma missão, eu queria sossegar por um bom tempo; passar o verão no Acampamento Meio - Sangue e depois voltar para a casa para cursar meu segundo ano no ensino médio na minha escola.

Por mais que eu tenha algumas reclamações da missão inesperada em que eu tive de aceitar, ela de certa forma tinha me feito bem. Eu me sentia mais confiante, mais forte e em forma. Me sentia como se fosse capaz de fazer qualquer coisa.

Porém me lembrei de um sonho em que a voz de minha mãe dissera que meu destino estava oculto, e que eu iria passar por testes. Talvez o teste fosse o Javali de Caridon, mas talvez não fosse. Tinha a sensação de que ainda não havia acabado. A sensação de que muitas coisas ainda iriam acontecer. Esse pensamento fez com que um desconforto tomasse conta de mim, mas tentei esquecer isso.

Uma sombra pairou por cima de mim; abri os olhos para encontra Nico se sentando ao meu lado. Não sei como estava minha expressão, mas ele franziu o cenho ao me olhar.

– Está tudo bem?

Me pus sentada e tirei algumas folhas que ficaram presas em meu cabelo antes de responder.

– Sim, estou. - franzi os lábios e pus uma mecha de meu cabelo atrás da orelha - Estou apenas um pouco preocupada. - desabafei.

Senti Nico se aproximar mais de mim e hesitantemente ele me abraçou. Aconcheguei-me nele, deitando minha cabeça em seu peito. As ninfas que antes conversavam agora davam risadinhas e nos olhavam, mas eu não me incomodei.

– Preocupada com o que, mio amore? - ele perguntou. Percebi que ele me chamou de novo disso, mas não me dizia o que significava.

– Do que você me chamou? O que significa "miu amour" - minha língua se enrolou um pouco ao pronunciar a expressão. Olhei para Nico, que parecia surpreso por eu ter perguntado e logo depois percebi que seu rosto estava ficando levemente vermelho.

– Significa meu amor em italiano. - ele desviou os olhos de meu rosto. Sorri levemente e me lembrei do que ele havia dito para o meu pai.

– Você tinha dito para o meu pai que sua mãe era italiana? Por que nunca me contou? - perguntei.

– Eu não gosto muito de falar sobre minha vida, Alexandra. - falou sem me olhar.

Levantei minha cabeça de seu peito e fiquei de frente para ele.

– Se eu te der um beijo, você me conta sobre sua vida? - até mesmo eu fiquei surpresa com minha proposta.

Nico hesitou.

– Não.

Aproximei meu rosto do dele e sorri de leve.

– Você hesitou!

– Não hesitei. - teimou.

Me aproximei mais dele e beijei seus lábios e depois seu rosto, lentamente. Senti as mão de Nico em minha cintura. Nossos lábios se encontraram novamente, dessa vez com mais urgência. Segurei seus ombros e colei nossos corpos; nos separamos, ambos ofegantes. Juntei nossas testa.

– Hesitou sim. - falei ofegante e ele me beijou novamente. Sentia uma energia forte no ar; não sabia o que era, mas parecia isolar ele e eu do resto do mundo. Nos abraçamos mais forte.

Nico se deitou no gramado comigo por cima, afastei nossos lábios e juntei novamente nossas testas. Sorrimos um para o outro, mesmo que eu tivesse 95% de certeza de que meu rosto estava completamente vermelho.

Deitei ao seu lado e fechei os olhos; minhas preocupações poderiam ficar para depois.