Eu não sabia o que fazer.

Eu era filha de uma deusa que havia jurado ser virgem para sempre?

Quíron pareceu notar minha confusão - e a de todos os outros campistas, diga-se de passagem - porque começou a explicar tudo com a ajuda de um homem pequeno de cabelos cacheados tão pretos que pareciam roxos que havia aparecido ao seu lado. Pelo que eu ouvira, aquele era o diretor do acampamento, Dioniso, o deus do vinho.

Pelo que entendi, Ártemis se apaixonou pelo meu pai mas não queria quebrar o seu próprio juramento. Meu pai concordou com isso. Atena a ajudou, e eu nasci da cabeça de minha mãe, assim ela permaneceria virgem. Pelo jeito, todos no Olimpo sabiam disso antes de mim.

O arco e a aljava com as flechas haviam sido presentes dela para mim. Meu talento com as facas e o arco, a excelente mira, e os saltos que eu dava com tanta graça haviam sido herdados dela.

Eu era a única filha de Ártemis.

*****

Pareciam que todos os outros campistas haviam aceitado o fato de eu ser filha de Ártemis melhor do que eu. Eu ainda não tinha processado essa ideia completamente.

É claro que algumas pessoas ainda comentavam umas com as outras enquanto fazíamos nosso caminho em direção aos chalés. Já estava escurecendo mas ainda não era hora do jantar, Quíron me pediu que levasse meus pertences para o chalé 8, o prateado. Meus pertences seriam só a minha mochila escolar e minha blusa branca rasgada. Fui instruída a não falar ao celular; minha voz atrairia monstros.

Quando cheguei em frente ao chalé de Ártemis, percebi que ele era ainda mais bonito do que eu achava, mais bonito até do que o chalé de Afrodite. O chalé 8 brilhava mais intensamente conforme ia escurecendo, acima da porta havia o desenho de um arco e uma flecha de prata. Dentro, o chalé possuía as beliches prontas e organizadas e as paredes retratavam cenas de caçadas. O chão tinha o desenho de uma ursa, mas o que impressionou mais foi o teto. Ele parecia mostrar todas as constelações existentes. Reconheci Órion, o caçador e seu cão Sirius. Também vi a constelação de uma menina com um arco pronto para atirar.

Na hora do jantar, precisei me sentar na mesa equivalente a do meu chalé. Ou seja, me sentei sozinha.

As ninfas do bosque serviram churrasco para comermos e também doces para a sobremesa. Eu apenas remexi a comida em meu prato, tinha muita coisa em minha mente naquele momento. Senti que alguém estava me olhando e ergui a cabeça. Meus olhos encontraram-se com os de Nico di Ângelo, só que dessa vez ele estava me encarando primeiro.

Cassandra se sentou na minha mesa a minha frente boqueando minha visão.

– Oi! -cumprimentou ela, enquanto comia um cupcake.

– Oi. -falei e olhei em direção a Quíron, eu havia ouvido algo sobre não poder mudar de mesa, mas ele simplesmente lançou um olhar reprovador em direção a Cassandra. Tive a impressão de que não era a primeira vez que ela quebrava uma regra.

– E então, o que está rolando entre você e o rei fantasma? -ela perguntou interessada.

– Rei fantasma? -estava confusa.

– É assim que o Nico - ela aponto disfarçadamente para trás de si - ficou conhecido. Mas não mude de assunto, o que está rolando? -ela apoiou os cotovelos na mesa.

Senti meu rosto corar. Detestava quando isso acontecia.

– Eu nunca falei com ele, Cassandra. - desviei minha atenção para o resto do churrasco em meu prato.

– Ele continua sendo um antissocial? Eu vou dar um jeito nele! - ela começou a se levantar mas eu segurei seu braço.

– Não precisa! -falei com certo desespero.

Cassandra deu os ombros e continuou a comer seu cupcake.

– E o seu chalé? -ela perguntou.

– Me pareceu meio solitário. -eu tinha certeza de que seria assim que eu iria me sentir quando fosse dormir lá.

Cassandra riu.

– Você deveria ficar feliz simplesmente por não ter que dividi-lo com a Clarisse.