"Respire fundo..."

"Confie em seus sentidos..."

"Você está segura, agora..."

"Você ficará bem..."

"Você não está morta..."

"Abra seus olhos..."

Tentei abrir meus olhos, como a voz havia mandado, mas eles estavam muito pesados. Decidi permanecer com eles fechados por alguns instantes enquanto pensava. Por mais estranho que parecesse, eu tinha quase certeza de que aquela voz em meu sonho pertencia a minha mãe. Calma porém firme, melodiosa porém implacável. Eu sentia isso.

Finalmente abri meus olhos. Eu estava em uma enorme varanda, sentada em uma espreguiçadeira. Olhei ao redor, o lugar me dava a vista para uma campina e colinas muito verdes. O ar tinha cheiro de morangos. Inspirei profundamente, eu sempre me sentia confortável ao ar livre. Tirando a fraqueza, eu estava bem.

Em uma mesa ao meu lado, havia um copo com um líquido que parecia suco. Tentei segura-lo mas estava fraca e quase o derrubei.

– Cuidado. -disse uma voz conhecida.

Apoiada no gradil da varanda estava a garota baixinha que havia me ajudado. Ela parecia mais calma. Usava tênis All Star roxos e uma camiseta laranja em que estava escrito Acampamento Meio-Sangue. Não brandia a espada e o escudo, porém tinha duas adagas presas em sua cintura e um estranho bracelete que parecia de bronze.

– Você! -exclamei.

– Eu! -ela imitou meu tom de voz.

–Você é a garota que me ajudou! Obrigado. -agradeci, ignorando o deboche.

Ela se aproximou de mim e estendeu a mão.

– Meu nome é Cassandra West.

Aceitei o cumprimento e me apresentei.

– Alexandra Jones, prazer em conhece-la.

– Posso lhe dar um apelido? -ela perguntou subitamente.

– Ahm... Pode. -respondi um pouco confusa.

– Tudo bem. Do que você se lembra, Sandy? -ela perguntou

– De tudo, eu acho. -respondi, notando que meu braço estava enfaixado - O que era aquilo que estava me perseguindo.

– Um Manticore. -ela respondeu naturalmente, como se ser perseguida por monstros fosse um evento normal para ela.

– Um Manticore? Olha eu não sei onde eu estou, nem o que é você, mas uma coisa eu tenho certeza, Manticore é uma criatura mitológica! -falei, mas minha voz não soou tão confiante, afinal, eu havia presenciado aquela situação.

– Existem sim. Todos os monstros da mitologia grega existem. Assim como os deuses e o Olimpo. -ela continuou falando não me dando chance de responder - E quanto a o que eu sou, eu sou como você. Sou uma Meio-Sangue, ou uma semideusa, como preferir.

– Prove. -foi a única coisa que eu disse.

Ela fez um movimento com o pulso e seu bracelete se transformou em um grande escudo de bronze. Quando vi aquilo, não tive outra alternativa senão acreditar.

– Eu acho que acredito agora.

– É bom mesmo. -ela fez o escudo voltar a ser um bracelete - O senhor D. não gosta de explicar as coisa para campistas teimosos, por isso decidi te contar logo. Aqui. - ela me ajudou a segurar o copo que estava na mesa.

O líquido não era suco, tinha gosto de chocolate quente, o mesmo que meu pai preparava quando estava frio. Meu pai...

– Eu preciso avisar meu pai! Ele deve estar preocupado! - falei assim que terminei a bebida.

– Pelo jeito já está melhor... - Cassandra murmurou - Não se preocupe, Quíron já cuidou disso. Como você se sente?

– Como se pudesse sair correndo por um campo a luz da lua e caçar. -eu realmente me sentia daquela forma, mas as palavras saíram como mágica.

Cassandra ergueu as sobrancelhas em surpresa.

– Isso é bom. Vamos, Quíron quer lhe ver.