Hogsmeade estava movimentada como sempre. As garotas já haviam comprado seus vestidos e, por incrível que pareça, não demoraram tanto. Todas estavam animadas para o baile, exceto talvez Alison. Não estava pronta para dizer adeus a suas únicas amigas e a James, mas também não poderia deixar seus pais, não depois da separação que quase aconteceu.

As três seguiram carregando várias sacolas até o bom e velho Três Vassouras e se sentaram, pedindo três cervejas amanteigadas enquanto conversavam sobre a final do Quadribol entre Sonserina e Lufa-Lufa que aconteceria naquele fim de tarde.

—Ally? –Annia chamou, reparando que a amiga parecia um tanto distante. Quando Nina, que estava ao seu lado, passou uma de suas mãos diante de seu rosto ela finalmente pareceu se dar conta do que estava acontecendo.

—Sim? –Respondeu, como se acordando de um transe. Percebendo pela expressão das amigas que elas sabiam exatamente o rumo de seus pensamentos ela suspirou, cansada. –Me desculpem, é que...

—Você não consegue parar de pensar no que vai acontecer quando voltar para a França. –Nina disse pela amiga e ela balançou a cabeça assentindo.

—Eu sei que James já deve ter dito isso um milhão de vezes, mas não há nada com que se preocupar, Ally. –Annia a tranquilizou. –Potter não vai a lugar nenhum e nem nós. Vai ficar tudo bem, você vai ver.

—Tudo bem, chega de falar de coisas ruins, vamos falar sobre o baile. –A loira disse colocando um sorriso no rosto. –E então, o que acharam dessa ideia de nossos pais serem convidados?

—Para falar a verdade não acho que seja um problema. –A ruiva deu de ombros.

—Nem eu, entendo a preocupação da Minerva. –A Malfoy murmurou. Não achava que seria um problema ter seus pais na festa, porém sabia que era a oportunidade perfeita para Lucius atacar. –Também estou preocupada.

—Não acho que ele consiga entrar com tantos pais e aurores no castelo. –Nina tentou tranquilizá-la.

—Com certeza dificultará a vida dele, mas ele já entrou uma vez durante um baile, nada o impede de fazer de novo.

—Eles precisam pegá-lo logo. –Alison disse.

—Não vamos falar sobre isso também. –Cohen falou, animando as amigas. –Estou falando sério, esse é o nosso dia de relaxar, então esses dois assuntos estão proibidos okay?

—Tem razão, nós merecemos esse descanso. Estamos nos formando! Já nos preocupamos o ano inteiro, agora temos que aproveitar nossos últimos momentos como alunas da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. –A Malfoy sorriu.

—Querem saber, eu tenho uma notícia boa. –A sonserina dos cabelos vermelhos começou. –Ontem à noite fui até o quarto de Chris e ele me chamou para jogar Quadribol!

—Está falando sério? –Annia se animou. –Isso é ótimo, Nina!

—Acha que ele vai jogar na final? –Alison perguntou.

—Eu não sei. Quero dizer, ele ficou muito mal por causa da mãe e de tudo o que aconteceu entre o pai e aquela maluca com quem ele quase se casou, mas acho que é um bom sinal. Quadribol sempre foi o sonho dele, ele não pode desistir assim.

Quando as garotas voltaram para o castelo, todos os alunos já estavam prontos para descobrir quem levaria a taça das casas. Ambos os times estavam jogando incrivelmente bem, portanto teriam que se esforçar para vencer a partida. Annia e Alison acompanharam James até o campo, enquanto Nina seguia direto para o vestiário, encontrando Chris parado do lado de fora, pensativo. Desde que saiu do time ele a encontrava antes dos jogos para lhe desejar boa sorte.

—Hey. –Ela disse se aproximando e dando um selinho no namorado.

—Como foi com as garotas? –Perguntou, segurando a cintura da namorada e sorrindo.

—Preparem-se porque nunca estivemos tão lindas quanto estaremos amanhã. –A ruiva falou e ele riu. –O que foi?

—Nada, eu só... Eu não sei. –O castanho disse nervoso. Ele desviou o olhar e depois voltou seus intensos olhos verdes para a namorada. –Ronan quer que eu jogue.

—Eu sei, ele me disse que tentaria falar com você vai uma vez.

—Eu não sei o que fazer.

—Chris, eu nunca vi ninguém jogar como você e eu entendo, você precisava desse tempo longe dos campos. Acredite em mim, eu não entendia antes, mas agora eu entendo. –Nina começou, segurando seu moletom em uma forma de aproximá-lo mais. Collins absorvia tudo o que ela dizia, olhando atentamente para ela. –Mas como eu disse, sua mãe não iria querer que você desistisse dos seus sonhos por mais difícil e assustador que pareça entrar naquele campo lotado agora. Eu acredito em você, e sei que vai fazer o que achar certo e se você escolher não jogar, eu vou estar do seu lado quando decidir que é hora de voltar. -Ele balançou a cabeça assentindo e ela sorriu, puxando-o para um abraço apertado.

—Eu te amo. –Ele murmurou.

—Eu também te amo. –Ela respondeu, lhe dando um beijo.

—Hey, Nina, você vem? –Cleve Bowen chamou.

—Em um minuto. –Ela disse voltando sua atenção para o namorado. –Tenho que ir. –Ela lhe deu um selinho demorado e o soltou, andando em direção ao vestiário, mas ele a puxou.

—Eu vou. –Chris decidiu. Não sabia se conseguiria pisar lá, mas tentaria. Estava cansado de se esconder. Um sorriso que era um misto de pavor e ansiedade se formou em seus lábios, enquanto nos lábios da garota havia um de orgulho. –Diga ao Zabini que vou pegar minhas coisas. –Nina balançou a cabeça, assentindo. –Eu vou tentar por ela, Nina.

—E vai deixá-la muito orgulhosa, tenho certeza.

O garoto sorriu mais uma vez e lhe deu mais um beijo antes de voltar correndo para o castelo para pegar seu equipamento. Depois de dar alguns pulos e gritar em comemoração, a ruiva entrou no vestiário, mas não o feminino. Cobriu seus olhos com as mãos e entrou no vestiário masculino tão animada que não conseguia se segurar.

—Hey, porta errada, Cohen! –Um dos garotos gritou quando notou a presença dela.

—Onde está o Ronan? Eu preciso falar com ele!

—Não pode esperar no corredor? –Outro disse.

—Não. ZABINI???? –Gritou e logo sentiu alguém a conduzindo para fora mesmo sob seus protestos.

—O que é que você está fazendo no vestiário masculino, Nina? –Ronan perguntou. –Está tudo bem, eu estou vestido e você já está do lado de fora.

—Chris vai jogar! Ele vai jogar, Ronan! –A ruiva disse gritando e pulando, olhando para o amigo.

—Está falando sério? –O loiro questionou, igualmente animado.

—Sim! Ele me pediu pra dizer que foi buscar o uniforme... Ele vai jogar! –Ela pulou nos braços do amigo e os dois se abraçaram em comemoração.

—Sabia que ele não resistiria a ideia de nos dar ordens na final. –Zabini riu, soltando-a. –Eu vou avisar aos garotos do time, você avisa no vestiário feminino?

Ela balançou a cabeça assentindo, entrando no vestiário e gritando para todos que quisessem ouvir que Collins estava de volta para o último jogo. Nina se vestiu rápido, saindo de lá a tempo de ver o exato momento em que ele saiu com seu uniforme. Ele foi o último a sair do vestiário, sendo recebido por todo o time com palmas e abraços, até mesmo de Bowen.

—Obrigado, é bom estar de volta. –Collins começou. –Antes de tudo eu gostaria de dar os parabéns ao time que, como eu disse que aconteceria, se virou muito bem sem mim e chegou na final. Eu falei sério quando disse cada um aqui é um excelente jogador. O último jogo foi sensacional! –Ele sorriu. –Não vou falar muito porque não temos muito tempo, mas obrigado por me entenderem quando saí e por não me odiarem por isso. Obrigado por respeitarem o tempo que eu precisava e por me apoiarem. Eu posso não estar 100% por não ter treinado tanto nos últimos dias, mas eu prometo que me esforçarei ao máximo.

Os jogadores entraram em campo e os alunos que estavam na torcida da Sonserina foram a loucura quando viram quem estava de volta ao posto de capitão do time. Os jogadores de ambas as casas foram para suas posições, esperando apenas pelo sinal que iniciaria a partida.

Não demorou muito para que a goles fosse lançada e um lufano logo a alcançasse. Os gritos naquela partida eram ensurdecedores, mas há muito tempo aqueles jogadores haviam aprendido a usá-los como combustível e não como distração.

—Lufa-Lufa começa a partida com a goles... Collins se aproxima de Jones, que passa para Vincent, mas ele não desiste... Ela volta para Jones e um balaço quase tira o capitão da Sonserina da briga... Jones se aproxima e ZABINI DEFENDE! – O narrador da partida gritou e Chris soltou o ar em uma mistura de irritação e alívio. -A batedora ruiva mais linda do mundo acerta Gael e... Desculpa Collins... O capitão da Sonserina está com a posse e se aproxima dos aros... Ele lança e... Amanda Vincent a pega por pouco... Ela lança e... DEZ PONTOS PARA A LUFA-LUFA!

Os lufanos foram a loucura, e enquanto os jogadores comemoravam o ponto, Nina voou na direção do namorado.

—Fica calmo. –Nina gesticulou com a boca, ele respirou fundo e sorriu. –Você consegue, sei disso.

—A partida recomeça... Collins se aproxima dos aros e mantém a posse... Ele passa pela defesa... Nina acerta Jones, deixando o caminho livre e... DEZ PONTOS PARA A SONSERINA! –Foi a vez das serpentes enlouquecerem. Ele sorriu para sua namorada, animado. Nina então apontou para uma das arquibancadas e lá ele viu seu pai com sua irmãzinha no colo, comemorando.

A verdade era que a relação entre ele e seu pai não estava boa há muito tempo. Ele concentrava todo o seu tempo e a sua atenção em conceder os desejos de Mabel e acabava deixando seus filhos como segundo plano no momento em que mais precisavam dele. Era difícil ver o cara que ele havia admirado a vida inteira se tornar alguém para quem ele mal conseguia olhar. Se perdeu por um momento, encarando o pai e a irmã e o mais velho sorriu um tanto receoso. Há muito tempo não assistia a um jogo do filho e esperava que ele não ficasse irritado por tê-lo ali.

Quando Collins despertou dos devaneios que pareciam ter durado uma eternidade ele retribuiu o sorriso para o pai. Aquilo significava que ele estava disposto a tentar se ele também estivesse. Não queria perder mais uma pessoa que amava por mais que ele o tivesse machucado.

—Jones se aproxima dos aros, pronto para lançar... Não, não vai ser tão fácil assim! Collins recupera a posse... Ele desvia de um balaço... O capitão da Sonserina voa para cima com três jogadores o acompanhando de perto... Ele se lança em direção ao chão e antes de acertá-lo em cheio manda a goles para Eliot... Ele se aproxima dos aros e MAIS 10 PONTOS PARA A SONSERINA EM UMA JOGADA INCRÍVEL!

O primeiro sinal do pomo só aconteceu quando a Sonserina fez 100 pontos e a Lufa-Lufa estava com 80. Aos poucos Chris foi retomando toda a confiança que tinha e estava jogando de uma maneira que nenhum daqueles alunos nunca vira. Ele marcou mais duas vezes e os apanhadores dispararam em uma disputa intensa pela pequena bolinha de ouro.

—LUFA-LUFA LEVA A TAÇA DAS CASAS! –Nathan Burner gritou quando o apanhador lufano levantou o pomo.

As comemorações começaram no campo e os jogadores da Sonserina foram até os vencedores, parabeniza-los pela vitória e logo seguiram em direção aos vestiários, mas eles não estavam mal. Estavam chateados, é claro, mas a felicidade de poder jogar o último jogo com o capitão do time e o fato de que deram o seu melhor fez com que a derrota também se transformasse em uma festa.

O time foi conversando sobre seus momentos favoritos da partida, mas Chris e Nina ficaram para trás. Ambos estavam molhados de suor e os cabelos de Chris pingavam, mas eles não se importaram. Ele passou os braços pela cintura dela e a beijou, apaixonadamente, terminando com um sorriso.

—Obrigado por não desistir de mim.

—Não precisa me agradecer por isso, você sabe que nunca vai acontecer. –Ela respondeu. –Merlin, eu tinha me esquecido do quanto você fica gostoso suado nesse uniforme.

—Combina com os meus olhos. –Ele respondeu, arregalando os olhos para a namorada e mostrando que o verde que havia neles nunca havia brilhado tanto.

—Chris, eu sei que você e seu pai não estão muito bem, mas eu nunca o vi mais animado do que quando escrevi dizendo que estávamos na final e que você jogaria...

—Como sabia que eu jogaria?

—Eu não sabia, só arrisquei.

—Quase não consegui colocar o uniforme.

—Mas isso não aconteceu. –Eles sorriram e ela indicou com a cabeça o pai do namorado e a irmãzinha, que vinham na direção de ambos. –Vou para o vestiário. –Ela se despediu dele com um selinho e sorriu para o senhor Collins, deixando-os sozinhos.

—Foi um excelente jogo. –O pai de Chris disse com um sorriso cauteloso enquanto ele sorria, segurando a mãozinha de sua irmã.

—Obrigado por vir.

—Olha, Christian... Eu sei que não fui a melhor pessoa nesses últimos tempos... Eu fui a pior e entendo que não me queira por perto... Eu só queria...

—Não precisa dizer nada. –Interrompeu. –Não fui o melhor filho também. Eu quero começar de novo, pai.

—Faria isso por mim?

—Faço por nós. Já perdemos demais, não acha? –Murmurou e ele balançou a cabeça concordando.

—Com licença? –Um senhor chamou, atraindo a atenção dos dois. –Collins, certo?

—Sim, senhor. –Disse, estranhando.

—Será que poderíamos conversar por um minuto?

—Claro. –Respondeu, se afastando um pouco do pai.

—Tenho que admitir, estou impressionado. –Ele começou. –A última pessoa que vi jogar tão bem mesmo sendo tão jovem era Vítor Krum. Nunca mais tive a mesma sorte.

—Obrigado, senhor...?

—Kevin Walsh. –Se apresentou, apertando a mão dele.

Aquele nome era familiar. Chris se lembrava de tê-lo visto nas listas de olheiros mais famosos do Reino Unido, mas não se lembrava o time. Sabia que vários buscavam jogadores em escolas, mas o último jogador que havia saído de Hogwarts foi há mais de uma década. Era a oportunidade com a qual sempre sonhara.

—Escuta, garoto, você tem algum interesse em se tornar jogador profissional?

—Está brincando? É o meu sonho desde sempre.

—Os Appleby Arrows estão em busca de um novo artilheiro. Estive assistindo jogos em diversas escolas, mas não encontrei ninguém com a sua técnica. Então, o que me diz? Estaria disposto a fazer os testes?

...

Collins entrou na sala precisa, onde estava acontecendo a festa de comemoração da Lufa-Lufa e também a despedida que os alunos decidiram fazer quando souberam que todos os pais seriam convidados para o baile.

—Hey, te procurei em todos os lugares depois do jogo! Onde você esteve? –Nina disse quando finalmente o viu, parando na frente dele, preocupada.

—Nossa, você está linda. –Chris sorriu, olhando bem para a namorada naquele vestido preto que ele tanto gostava, com um batom rosado e uma maquiagem que destacava bem os seus olhos. Ela estranhou o elogio, mas sorriu assim mesmo.

—E então, como está o nosso capitão? –Ronan disse se aproximando dele, ainda abraçado a Annia. Alison e James também se aproximaram.

—Tinha me esquecido o quanto você é insuportavelmente bom, Collins. –Potter sorriu.

Zabini entregou um copo de bebida ao amigo, que não pensou duas vezes antes de virar tudo o que havia naquele copo. Ele não sabia por onde começar ou o que falar para os amigos, mas Nina percebeu que havia algo que ele não estava contando.

—Vem, vamos dançar. –A ruiva o puxou após pegar o copo da mão dele e entregar para Annia.

Chris a acompanhou até a pista em silêncio e, mesmo que a música fosse animada, eles dançaram lentamente. O garoto passou suas mãos pela cintura dela enquanto ela colocava a suas em torno de seu pescoço.

—Está tudo bem? –Ela perguntou, mas não recebeu resposta. –Aconteceu alguma coisa com o seu pai? Fala comigo antes que eu enlouqueça, por favor. –Os dois riram.

—Kevin Walsh assistiu ao jogo.

—Kevin Walsh? Espera, o...?

—Ele quer que eu faça os testes para artilheiro dos Appleby Arrows após a formatura.

—Pelas barbas de Merlin, Chris! –Ela disse pulando nos braços dele, emocionada. Sabia que ele conseguiria! –Espera... É isso o que você quer? –Interrompeu sua comemoração segurando seu rosto e olhando bem nos olhos dele.

—O que eu quero é que você esteja lá comigo. Então, o que me diz? Você me acompanha?

—Pra qualquer lugar. –Ela respondeu, sorrindo e o beijando, orgulhosa.