Ela abriu os olhos e viu que ele não estava ao seu lado na cama como quando o sono começou a chegar. Se lembrou que graças a saída da escola ele ainda teria que cumprir as detenções atrasadas pela brincadeira no saguão de entrada e aquilo a fez resmungar.

Pegou o travesseiro onde ele havia se deitado antes e o abraçou, respirando fundo e reparando que o cheiro dele ainda estava ali. Um suspiro de preocupação escapou de seus lábios por pensar que talvez ficasse muito tempo sem sentir aquele cheiro, sem olhar para o seu sorriso, que sempre deixava o dia mais bonito e mágico.

Alison se levantou e foi até o banheiro, aproveitando que todas as suas colegas de quarto ainda estavam em Hogsmeade para tomar um banho demorado. Se trocou e pegou seu violão, para passar o tempo enquanto ninguém aparecia.

Uma ave de papel veio voando por sua janela e pousou em sua cama. Reconheceu a caligrafia de James assim que pegou o bilhete, mas as palavras a assustaram um pouco.

“Preciso ver você agora. Me encontre na sala precisa. Ass.: Sirius”

Deixando o violão de lado ela se levantou, passou pelo corredor três vezes antes que a porta aparecesse, e quando aconteceu a garota não demorou a entrar.

Não havia nada ali, apenas um sofá vermelho com algumas almofadas e James, que estava sentado olhando para o nada, mas quando a viu se levantou. Sua expressão não era das melhores, mas isso não a assustou.

—Pensei que estaria ao meu lado quando eu acordasse. –A Corvina disse em uma tentativa de quebrar o incomodo silêncio que havia se instalado no local.

—Estava na detenção. –Ele disse e o tom frio em sua voz a preocupou.

—O que houve Jay? –Perguntou se aproximando ao perceber que ele não diria mais nada.

—Por que não me disse que vai voltar para a França quando se formar?

—Tucker contou a você? –Murmurou após soltar um suspiro. Não era assim que ela esperava que ele ficasse sabendo.

—Então é verdade? –James disse um tanto magoado, com as sobrancelhas arqueadas.

—Meus pais estão juntos de novo agora, querem voltar pra casa e infelizmente isso significa França.

—Quando ia me contar? –O Potter disse depois de alguns segundos que mais pareceram horas.

—Quando você chegou, mas aquela garota apareceu e depois você foi até o meu quarto... Eu não queria estragar tudo com essa notícia e muito menos que soubesse assim.

—Não deveria ter contado a ele primeiro então. Ele não é seu amigo, Alison.

—O quê?

—Ele gosta de você!

—Por favor, James, podemos não entrar nesse assunto? –A garota pediu.

—E por que não? –Ela suspirou, sabia que falar aquilo só o deixaria mais irritado, mas não tinha escolha.

—Porque eu sei que ele gosta, mas isso não muda nada!

—E deixe-me adivinhar, ele se declarou pra você enquanto eu estive fora? –O silêncio dela respondeu a pergunta, então ele apenas balançou a cabeça soltando um riso pelo nariz. –Eu deveria ter imaginado.

—Sério que vamos brigar por causa dele?

—Parece que já estamos brigando.

—Você é um idiota, Potter.

Alison disse irritada, e então saiu, deixando-o sozinho na sala precisa. Ele não a seguiu, apenas deixou que a Corvina seguisse seu caminho direto para o quarto. Ela queria gritar com Tucker por ter contado, gritar com James por ficar tão irritado quando nada havia acontecido realmente, estava com tanta raiva que poderia queimar o castelo inteiro, mas suas mãos não estavam quentes.

Então naquele momento ela entendeu o que sua mãe havia dito uma vez após brigar com seu pai. Não importa o quão feia seja a discussão ou o quão magoado você esteja, você pularia na frente de todas as bolas de fogo que fossem lançadas na direção da pessoa que você ama mesmo quando elas são lançadas por você.

*-*

Todos já estavam esperando Chris no campo, alguns até haviam levado a vassoura, afinal, para quê ele havia convocado o time todo ali se não para treinar? Todos sabiam o quanto ele gostava de treinos e exercícios surpresa.

Ele apareceu um pouco depois. Não tinha nenhuma vassoura nas mãos, espantando muitos dos jogadores. Seus olhos foram direto para Nina, reparando que ela estava ao lado de Cleve, mas ele logo desviou. Respirou fundo e começou o discurso que havia planejado desde que Ronan havia saído de sua casa ao saber o que havia acontecido a Hermione Malfoy.

—Sei que muitos estão se perguntando o motivo para eu ter marcado essa reunião com o time e eu queria agradecer a todos por se arrastarem até aqui só para ouvir o que eu tenho a dizer. –Ele olhou para Ronan, que parecia cada vez mais confuso com a situação. –Sei que sabem o que aconteceu com a minha mãe e eu quero agradecer também por todo o apoio que me deram, mas nesses dias que fiquei em casa eu cheguei a uma conclusão.

“Ao longo dos anos nós nos machucamos em treinos e em jogos, nos esforçamos, torcemos, nós até chegamos a ganhar a taça das casas algumas vezes...” a lembrança da felicidade no rosto de todos e os gritos fez a maioria dos jogadores sorrirem. “Eu tenho orgulho do time que somos, da família que construímos aqui, e embora eu pensasse que esse dia nunca fosse chegar, infelizmente eu quero dizer que estou deixando o time”.

—O quê?! –Nina praticamente gritou.

—Sei que não esperavam por isso, mas eu estou passando por algumas coisas e não quero prejudicar o melhor time que essa escola já teve. Pode ser que eu volte quando as coisas melhorarem, pode ser que não, e acho que todos vocês concordam que não há ninguém melhor que o Zabini para me substituir. –Ronan arregalou os olhos, queria perguntar o que ele estava pensando ao tomar aquela decisão, mas estava espantado demais para conseguir falar. –Então é isso pessoal, obrigado por todos esses anos, torcerei por vocês.

O time todo parecia em choque com tudo o que ele havia dito. O encaravam esperando que ele dissesse que aquilo não passava de uma brincadeira, mas aparentemente não aconteceria. Quando Cleve Bowen se aproximou para apertar a mão do ex-capitão do time, todos pareceram despertar de um transe.

—O time não será o mesmo sem você, Collins. –Chris não havia esquecido o beijo que havia visto, mas se ele continuasse fazendo sua ruiva sorrir da maneira como vira no dia anterior, então estava tudo bem, ele ficaria feliz por eles.

—Obrigado Bowen. –O Sonserino sorriu, apertando a mão dele, que não imaginava que o motivo do agradecimento não estava nas palavras que ele havia dito e sim em uma ruiva que ainda não havia se recomposto.

Aos poucos todos os jogadores se aproximaram para murmurar algo como “Espero que volte” ou “Sentiremos sua falta no time”, todos, exceto Ronan e Nina.

Não demorou para que todos fossem embora e ali ficassem apenas Zabini, Cooper, Bowen - que havia passado um braço pelos ombros da garota-  e Collins se encarando. Ronan então se aproximou e puxou o amigo para um abraço.

—Sabe que eu nunca poderei substituir você, não é? Collins, você nasceu pra isso.

—Tenho certeza que será um ótimo capitão. –O garoto de olhos verdes deu um leve sorriso ao se afastar. –Não tão bom quanto eu, mas sei que pode dar conta.

—Vamos esperar por você.

Ele então balançou a cabeça e Ronan lhe deu as costas, deixando apenas os três no campo. Olhou para o casal a sua frente e com um aceno de cabeça se despediu em direção ao vestiário. Não sabia por que estava indo até lá, mas aquele lugar lhe dava uma certa paz. Fora ali onde ele e Ronan haviam começado a conversar, onde Nina o havia beijado pela primeira vez, embora também fosse o lugar onde ele havia recebido o primeiro de muitos tapas da garota dos cabelos de fogo.

—Você não pode sair do time. –Uma voz chamou sua atenção, fazendo-o se virar em direção a ela. Quase sorriu ao vê-la com seus próprios olhos. Sabia quem era a dona daquela voz, já havia escutado aquele tom mandão milhares de vezes, e sonhado com ele também.

—Eu já saí. –Respondeu simplesmente.

—Pois volte lá e diga ao Ronan que quer voltar! Sei que ele ficará muito feliz em lhe devolver o posto de capitão. –O castanho arqueou as sobrancelhas e ela soltou o ar.

Desde que haviam se conhecido a maneira mais fácil que ela havia encontrado de dialogar com ele era aos gritos, ordens e xingamentos, mas agora não havia motivo para isso. Eram apenas duas pessoas com seus corações despedaçados pela dúvida e que só teriam concerto quando estivessem juntos, mas isso aconteceria? Era o que eles se perguntavam todas as noites antes de fechar os olhos.

—Eu sei que as coisas estão difíceis, mas não pode fazer isso! Você ama o Quadribol, se sair do time só vai se sentir pior!

—Sei o que estou fazendo.

—Não, você não sabe! Acha que sua mãe iria querer vê-lo desistir do seu sonho? –Ele se calou. Sua mãe sabia o quanto o Quadribol era importante para o garoto, por isso o apoiava tanto quando se tratava do esporte e sempre vibrava com suas conquistas no time. –Tire alguns dias pra você, nós todos sabemos que está passando por algo que nem conseguimos imaginar como é, mas não desista do time!

—Não acho que vou aguentar se ficar.

A garota ruiva suspirou. Sabia que ele estava mal, mas ver aquilo estampado em seus olhos tão de perto era torturante. Nina então se aproximou devagar e o abraçou apertado. Foi impossível evitar que as lágrimas que ele se esforçava para segurar caíssem silenciosamente. Ela também chorou, afinal Carolyn era uma mulher incrível e merecia ter todo o tempo do mundo para ficar com seus filhos, que ela tanto amava.

—Sinto muito.

Chris balançou a cabeça e a soltou, se virando para que ela não visse suas lágrimas, mesmo sabendo que havia molhado a garota com elas. Nina também secou as suas, mas elas voltaram a cair quando ele saiu, deixando-a sozinha naquele vestiário infestado das lembranças que ela fez questão de reviver em sua mente, uma a uma, antes de sair.

*-*

—Sempre pontual, gosto disso. –Disse alguém atrás dele. Ao se virar Draco percebeu que era exatamente quem queria ver. Pansy sorriu e se sentou diante dele.

—Conseguiu?

—E o que é que eu não consigo Draquinho? –A mulher disse sorrindo, pegando um pergaminho de sua bolsa e o entregando, logo assumindo uma postura séria. –Max conseguiu, era o último endereço que faltava. Disse que ninguém vai até a casa há décadas, um ótimo lugar para se esconder, não acha?

—E quem é Max?

—Meu ex-marido. Francamente, não prestou atenção em nada que eu disse da última vez?

—Me desculpe Pan, esse não é realmente o melhor momento pra mim.

—Eu sinto muito pelo que houve. –Ele balançou a cabeça. –E como você está?

—Estou bem.

—Okay, vamos fingir que não o conheço desde sempre e que não sei que tem como hobbie mascarar seus sentimentos para assumir a postura inabalável. –Aquilo quase o fez rir. –Se precisar de alguma coisa sabe onde me encontrar okay?

—Okay. –O loiro deu um pequeno sorriso e ela se levantou, pronta para ir embora, mas a voz dele chamando-a fez com que a mulher se virasse de novo. –Pansy? –Ela se aproximou. –Como conseguiu colocar seu ex-marido no jogo?

—Não seja ingênuo Draco, você sabe exatamente como. –Ela revirou os olhos.

—Pensei que o odiasse.

—Pensou certo, mas isso não vai me impedir de proteger a Melly.

—Ela tem sorte de ter você. –O loiro sorriu, fazendo com que Pansy o acompanhasse.

—Posso ser uma vadia, mas isso não vai me impedir de ser uma boa mãe.

E com uma piscadela, ela deu fim ao encontro, saindo da cafeteria decidida em direção à mansão Malfoy.