~Pov Annia

Alguns dias depois, finalmente buscamos a pequena Lauren. Dias que minha mãe passou em um completo silêncio no quarto dos gêmeos ou na biblioteca com uma pequena fênix de pelúcia em mãos.

Achamos que ver a pequena faria com que minha mãe se sentisse melhor, mas eu não sei bem o que aconteceu. Em um momento estávamos acompanhando-a para ver minha irmã pela primeira vez, no outro ela simplesmente começou a tremer e chorar compulsivamente e tivemos que voltar com ela para o quarto.

Scorpius e eu sabíamos que ela ficaria péssima quando soubesse do bebê, por isso nos recusamos a voltar para Hogwarts até que ela nos dirigisse a palavra para nos obrigar, ou seja, até que ela estivesse bem.

Meu pai também estava mal. Víamos o cansaço em seus olhos e o quanto a perda de Ben o havia afetado, mas ele não demonstrava. Não, meu pai tentava se mostrar forte para cuidar de todos nós, assim ele se ocupava e quase se esquecia de que também precisava de cuidados. Todos nós precisávamos.

A casa fora reconstruída por mim e meus primos antes que minha mãe voltasse. O que aconteceu ficaria pra sempre em sua memória, mas ela não precisava que os destroços a lembrassem ainda mais.

—Acha que ela vai ficar bem? –Scorp perguntou, sentando em minha cama durante a madrugada.

Aquele fora com certeza o pior ano para nossa família, mas principalmente para nossa mãe. Aos poucos ela havia perdido tudo, então era de se esperar aquela reação. Eu tinha medo do que todas aquelas perdas pudessem fazer com ela, e sabia que enquanto ela não ficasse bem, nenhum de nós ficaria, mas por outro lado...

—Ela é Hermione Granger Malfoy, esqueceu? A mulher mais corajosa de todas. –Eu disse, confiando cegamente naquelas palavras. –Ela vai ficar bem.

Lauren dormia tranquila e profundamente nos braços de meu pai agora, algo que ele não parecia fazer desde que ligaram para seu trabalho contando o que havia acontecido à mamãe. Mas ele não reclamava, apenas acariciava os loiros cabelos do bebê enquanto pensava em uma forma de melhorar as coisas. Eu sabia disso porque todos os dias pela manhã eu o ouvia bater na porta do quarto em que ela estava, que era próximo ao meu, e chamá-la pelo apelido, mas ainda sim ela não respondia.

Me levantei, indo até ele e sentando-me ao seu lado. Ele deu um sorriso pequeno e cansado pra mim, tentando mascarar tudo o que estava sentindo. O que ele não havia se lembrado era de que eu havia aprendido aquilo com ele, então sabia bem como funcionava.

—Como você está, moreninha? –Dirigiu aqueles olhos cinza para mim.

—Deveria descansar. –O repreendi, fazendo-o soltar um riso pelo nariz.

—Não posso, tenho que ficar com sua irmã ou logo ela voltará a chorar.

—Sabe que pode deixá-la comigo e com o Scorp. Dê-me ela. –Nem esperei pela resposta, apenas a peguei, torcendo para que a loirinha não voltasse a chorar. Por sorte ela apenas se mexeu um pouco. –Viu? Podemos dar conta.

—Sei que podem.

—Durma um pouco pai. –Falei usando meu tom de mandona e ele revirou os olhos.

Ele não estava sendo teimoso, estava apenas perdendo as noites de sono pensando em minha mãe, como sempre. Soltei o ar, triste por vê-lo daquela forma e ele logo olhou pra mim, se aproximando e dando um beijo demorado em minha testa.

—Ela vai ficar bem, okay?

—Deveria falar com ela.

—As coisas estão mais complicadas do que você imagina, acredite. –Murmurou, passando a mão pelos cabelos. Ele respirou fundo e ao ouvir um “bipe” de seu celular, se levantou, olhando de mim para Scorp. –Tenho que resolver uma coisa, se importam de ficar com ela?

—Você sabe que não. –Meu irmão respondeu.

—Liguem se precisarem.

E então ele saiu, apressado, nos deixando com a pequena Lauren, que era a cópia fiel de meu pai. Os cabelos, a pele pálida, era tão linda que nos encantou assim que a vimos.

—Precisamos dar um jeito nisso. –Scorpius disse se referindo aos nossos pais.

—Eu sei.

~Pov Alison

James voltaria hoje. Essa foi a primeira coisa que veio em minha cabeça assim que acordei. Estava com saudades, nervosa por notícias de como os Malfoy estavam com a perda de um dos gêmeos e, acima de tudo, preocupada.

Coloquei uma camisa preta, um short-saia, uma sandália e um chapéu, aproveitando que hoje era sábado e logo todos estariam indo para Hogsmeade. Nós poderíamos passar o dia juntos, aproveitando o maravilhoso sol, que brilhava lá fora.

Segui até o salão principal com Nina, e nos sentamos na mesa da Sonserina. A ruiva com certeza percebeu os olhares nada discretos que eu lançava a porta, mas preferiu não falar nada.

Foi quando eu o vi, e simplesmente parei de escutar o que ela me falava sobre Cleve Bowen e comecei a me concentrar em seu sorriso. Ela não ficou irritada, apenas revirou os olhos e me mandou ir até lá.

Me levantei e fui até James, abraçando-o apertado e lhe dando um beijo demorado que quase fez com que meu chapéu caísse. Foi como se algo se acendesse dentro de mim, me fazendo ter aquela sensação de que o mundo era um completo conto de fadas sempre que ele estava por perto.

—Senti saudades. –Falei sorrindo.

—Eu também. –Ele murmurou, me puxando para mais um abraço.

—E então, como estão as coisas? –Perguntei, pegando sua mão e guiando-o até a mesa.

—Tia Hermione está inconsolável. Não quer falar, comer e nem nada, apenas ficar trancada no quarto enquanto Annia, Scorpius e o tio Draco tentam segurar as pontas.

—E a pequena Lauren?

—Ela é linda. –Ele sorriu. –E segundo os médicos está ótima. Ah, e mais uma coisa, aparentemente tio Blásio e o tio Draco brigaram.

—O quê? Mas eles pareciam tão próximos! –Exclamei chocada.

—Isso assustou todo mundo. Quero dizer, os dois são amigos desde sempre! –Jay disse bebendo um pouco de suco. –Eles não se falam desde o hospital.

—Acha que vão continuar brigados por muito tempo?

—Eu não sei, mas sinceramente, estou surpreso por terem aguentado um dia, afinal, eles estão sempre juntos. –Ele deu de ombros. –Mas me conte, como estão as coisas por aqui?

—Como as coisas na enfermaria estavam quietas e ainda haviam vários trabalhos para Tucker corrigir, ele pediu que Minerva trocasse minha detenção para que eu o ajudasse nas correções. Depois de alguns dias ela disse que eu estava dispensada, mas você ainda teria que cumprir a sua parte.

—E você aceitou? –Ele perguntou, não parecendo nada feliz. Eu sabia que ele não gostava de Tucker por saber de nosso passado e que saber que eu passava as noites corrigindo trabalhos em uma sala com ele não o alegraria, mas achei melhor contar do que ele descobrir.

—Não era como se eu pudesse dizer não. McGonagall apenas me disse para ajudá-lo.

—Hum... –Ele resmungou. –Mais alguma coisa aconteceu enquanto estive fora?

—A irmã dele voltou para a escola. Parece que ela foi embora no quinto ano para estudar no Brasil. Uma escola chamada Castelobruxo, dizem que é ótima.

—Oh céus, James Potter?! –A voz da garota de quem falávamos atrás de nós chamando-o fez com que ele desviasse seu olhar para ela. –Merlin, achei que tinham finalmente expulsado você!

—Lotte! Não acredito que está de volta! –Ele sorriu, se levantando para abraçá-la, mas a garota colocou uma das mãos em sua nuca e o puxou para um beijo. James desviou o rosto por pouco e ela acabou com os lábios em sua bochecha, se afastando com uma expressão confusa no rosto.

Franzi o cenho enquanto o olhava atentamente em busca de explicações, mas tudo o que encontrei foi uma expressão nervosa em seu rosto. Minhas mãos começaram a esquentar, então me apressei para pegar um copo gelado de suco, ainda sem tirar os olhos deles.

—O que foi, não sentiu saudades Sirius? –Ela perguntou e James olhou de mim pra ela, um pouco confuso sobre o que dizer.

—Não, não é isso, você sabe que senti saudades, mas... Eu não... Esta é minha namorada, Alison. –Disse me indicando com a cabeça e eu me levantei.

—Wow, parece que as coisas realmente mudaram por aqui. –“Lotte” disse me olhando com as sobrancelhas arqueadas. –Não sei se me surpreendo mais por estar namorando a garota Veela ou por ela não ser a Malfoy. –Então ela se voltou pra mim. -Charlotte Lance, pode me chamar de irmã do professor se quiser, aparentemente isso pegou. É um prazer conhecê-la.

A garota disse me estendendo a mão. Olhei, pensando se deveria ou não apertar, sabendo o quão quente estava. Decidi que sim afinal, pra quê ser mal educada?

—Alison Roberts, “a garota Veela”. –Respondi, pegando sua mão e apertando.

“Ai!” Foi o som que ela fez ao pegar minha mão, soltando-a rapidamente enquanto me olhava confusa. Mas James não estava confuso. Sabia exatamente o que havia acontecido. Percebi pelo olhar que me lançou, mas eu apenas dei de ombros.

—Acho que vou me juntar as garotas. Vejo você por aí Sirius. –Charlotte sorriu e saiu acenando. Retribuí o aceno e, assim que ela alcançou uma distância segura eu também dei as costas para ir embora.

James segurou minha mão em uma tentativa de me impedir, mas ele fez o mesmo som que ela ao se queimar. Parei e me virei para ele com as sobrancelhas arqueadas e cruzando os braços.

—Ally, por favor, me deixe ao menos explicar? –Pediu e eu revirei os olhos, soltando o ar e seguindo meu caminho.

Essa frase quando vinha junto de uma expressão que beirava desespero nunca significava boa coisa. Segui para o salão comunal da Corvinal enquanto o ouvia me chamando, mas ignorei. Depois conversaríamos.

Pelo menos foi o que eu pensei, já que James simplesmente apareceu no meu quarto e se sentou ao meu lado, me puxando para perto e colocando seus braços em torno da minha cintura.

Fiquei em silêncio. Mesmo que eu quisesse empurrá-lo para fora ou gritar, era impossível. Quando eu estava em seus braços era como se tudo de ruim que eu estivesse sentindo simplesmente sumisse, afinal, eu estava com James Potter, a única pessoa por quem eu me apaixonaria na vida. Aquele que sempre teria meu coração.

—Como conseguiu entrar? –Perguntei.

—Disse a um pirralho do segundo ano que conseguiria um autógrafo do meu pai se ele me deixasse entrar. –Balancei a cabeça assentindo. -Está linda, sabia? –Ele murmurou, pegando meu chapéu e colocando em sua cabeça, beijando meus cabelos em seguida. -Me desculpe pelo que aconteceu. Não sabia que ela faria isso.

—Namorou aquela garota? –Perguntei baixinho, ainda decidindo se queria mesmo saber.

—Não foi exatamente um namoro. Ela sempre soube que eu gostava da Annia.

—E você sentiu saudades, Sirius? –Arqueei as sobrancelhas e olhei em seus olhos.

—Senti mais saudades suas nesses dias que fiquei fora. –Um sorriso brincou em seus lábios e foi impossível conter um sorriso meu. –Me desculpa?

—Se ela tentar beijá-lo na minha frente de novo, é bom que saiba que vai morrer queimada. –Falei, sentando-me em seu colo e colocando meus braços em torno do seu pescoço enquanto ele abraçava minha cintura.

—Acho que ela já entendeu o recado. –Jay disse roçando os lábios nos meus, se referindo ao grito que ela tentou conter quando pegou minha mão.

—É, ela entendeu sim.

E então eu o beijei, me esquecendo de tudo o que havia acontecido e focando apenas nos lábios dele presos aos meus em uma tentativa de esquecer os problemas.

Eu sabia que logo teria que contar sobre a carta que minha mãe havia escrito, mas eu não queria estragar aquele momento, não agora, então decidi que contaria mais tarde.

~Pov Chris

Finalmente de volta à Hogwarts. Eu andava pelos corredores vazios devido ao passeio a Hogsmeade pensando na reunião que havia marcado com o time de Quadribol no dia seguinte. Estava pensando em cada palavra que diria, tentando ocupar meus pensamentos.

Meu plano havia funcionado como esperado. Não demorou para que meu pai começasse a gritar com Mabel e a colocasse pra fora, cancelando o noivado. Apesar de tudo ele ainda era o meu pai, e eu não queria que ele passasse o resto da vida com uma mulher que só estava ao seu lado pelo dinheiro que tinha.

Na mesma noite em que ela foi embora, eu o vi chorando com uma foto de minha mãe nas mãos. No fundo ele também sabe que fez besteira com ela, mas sei que ele nunca admitiria isso pra mim.

Angel voltou pra casa. Agora que o perigo havia sumido, não havia motivo para continuar deixando-a sobre a responsabilidade do senhor e da senhora Zabini, por quem eu seria eternamente grato.

Minha cabeça doía pelas tantas preocupações que tomavam meus pensamentos ultimamente. Era como se todas as coisas ruins estivessem acontecendo de uma só vez. Me segurei para não dizer que era impossível piorar. Lógico que era, e agora eu tinha uma prova.

—Então, aonde vamos? –A voz de Nina preencheu o corredor. Tinha um tom divertido que me fez dar um leve sorriso.

—Só vai saber quando chegarmos lá. –A voz de Cleve Bowen fez com que ele sumisse rapidinho. Me aproximei, tendo uma boa visão dos dois.

Ela estava tão linda! Usava um jeans claro junto com uma camisa branca e uma jaqueta. Os cabelos ruivos caiam sobre seus ombros e balançavam conforme o vento batia neles, deixando-a ainda mais perfeita.

—Detesto surpresas. –Ela disse cruzando os braços e parando de andar.

—Por favor, você vai se divertir, tenho certeza. –Bowen disse sorrindo enquanto segurava suas mãos. Ela ainda tinha uma expressão desconfiada no rosto, mas eu sabia que ela iria com ele.

—Tudo bem, tudo bem, mas temos que voltar na hora certa okay?

—Prometo. –Ele sorriu.

Eles ficaram se encarando e eu reparei que ele ainda não havia soltado a mão dela. Cleve deu mais um passo a frente, parecendo mais sério agora. Ela não recuou quando ele se aproximou. Também não recuou quando ele a beijou.