~Pov Draco

Cheguei em casa e encontrei Hermione sentada no sofá comendo enquanto um livro flutuava diante dela. A morena pareceu um pouco confusa por eu ter chegado cedo desta vez, mas logo voltou sua atenção para a leitura que fazia.

Parei atrás dela olhando atento aos seus movimentos, mas o que ela comia me chamou atenção... Não, aquilo não podia ser o que parecia.

—O que é isso? –Perguntei esperando estar errado.

—Pizza com sorvete. –Ela respondeu fria e sem desviar o olhar do livro. –Não é tão ruim quanto parece.

—É sim. –Falei incrédulo, me sentando ao seu lado, o que fez com que ela olhasse pra mim. –Que nojo... Não acredito que está comendo isso Hermione.

—Não é como se eu quisesse comer, eu só tive um desejo... –A morena disse baixo, olhando para a barriga por alguns segundos. –Deveria provar.

—Nem morto. –Eu disse e ela soltou uma pequena risada, baixa e sem vida, voltando à sua leitura e agindo como se eu não estivesse ali. –Hermione...?

—Hum?

—Só me encontrei com Pansy três vezes. –Contei e ela olhou pra mim. Parecia se perguntar o motivo para eu estar lhe dizendo aquilo logo agora. –A procurei para saber sobre William Goulartt, ele pode ter informações que podem nos levar à Lucius.

—Então está indo atrás dele de novo. –Ela soltou o ar.

—Eu não tive escolha.

—Desde quando? –Eu suspirei. –Desde quando está indo atrás dele Draco?

—Desde o que houve com Scorp. –Admiti.

—Por que não procurou esse Goulartt de uma vez?

—Ele não me diria nada. William estudava com Lucius em Hogwarts, me lembro deles conversando aqui na mansão quando eu era pequeno e sei o quanto são próximos. Como todos os outros Comensais ou foram presos ou morreram ele foi o único de confiança que sobrou para ajudá-lo.

—E o que Pansy tem a ver com isso?

—O ex-marido dela é filho de Goulartt, então pedi para que ela o convencesse a perguntar ao pai sobre o que sabe.

—Já imagino o que ela pediu em troca. –A castanha murmurou voltando ao livro e ao que comia.

—Ela não me pediu nada, concordou em ajudar porque acha que Lucius pode fazer algo com a filha dela já que também divide o quarto com Annia.

—E por que está me contando agora? –Perguntou fechando o livro e deixando-o em cima do sofá.

—Porque eu cansei de esconder as coisas para não preocupá-la quando na verdade tudo o que esses segredos estão fazendo é nos afastar cada vez mais. Hermione eu só quero que fique bem! –Quando percebi que ela não falaria mais nada decidi quebrar aquele silêncio. –Como você e os bebês estão?

Aquela pergunta pareceu surpreendê-la, já que ela olhou atentamente nos meus olhos fazendo com que eu notasse o brilho que surgiu nos seus. Como se aquilo fosse tudo o que ela quisesse ouvir.

—Ultimamente eles estão tão quietos. –Ela falou olhando para a barriga.

—Posso tocar? –Pedi porque eu sabia que se ela ainda estivesse com raiva e eu tentasse com certeza levaria um crucio. A senhora Malfoy colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha e balançou a cabeça assentindo.

Eu me aproximei, tocando devagar e cuidadosamente como costumava fazer quando ali com ela se encontravam Annia e Scorpius. Aos poucos um sorriso apareceu em seus lábios. Tímido, mas sincero, como se nada pudesse nos fazer mal enquanto ainda estivéssemos vivendo aquele momento.

—Draco? –Ela chamou e eu levantei os olhos, encontrando os seus. –Me beija.

Ela pediu baixinho, e aquilo foi quase como uma súplica. Eu a obedeci, encostando meus lábios nos seus de uma forma calma, delicada e cuidadosa. Fazia tempo que não nos beijávamos assim, que eu não sentia como se nada no mundo importava, como se todos nós estivéssemos seguros, que tudo estava bem. Foi o que eu senti quando a beijei, e desejei ficar assim para sempre.

Hermione levou a mão que estava em meu rosto para minha nuca, puxando meu cabelo lentamente e eu levei as minhas para sua cintura tentando aproximá-la mais, colocando-a sentada no meu colo, virada de frente pra mim.

Quando nos separamos eu olhei em seus olhos e percebi eles brilhando por um momento, esses sim eram os olhos da Hermione que eu havia conhecido. Ela sorriu, e foi como se toda a tristeza estivesse sendo varrida do mundo, foi impossível não ser contagiado.

—Amor, seu sorriso é lindo. –Eu disse e rapidamente ela corou, como sempre corava.

—Me desculpe pelo que eu disse, você não precisava ouvir...

—Realmente acredita naquilo?

—Eu só não vejo como vamos superar. –Ela respondeu abaixando a cabeça.

—Eu te amo tá? Sei que vamos conseguir.

—Promete que, por mais que fique preocupado, vai me incluir? Sabe que posso ajudar e eu prometo não me envolver diretamente para que nada aconteça aos nossos bebês. –Balancei a cabeça concordando, o que pareceu deixá-la mais aliviada.

—Lauren e Ben ficarão a salvo. –A menção dos nomes dos gêmeos fez surgir mais um sorriso em seus lábios. Ela balançou a cabeça, mas aquilo não foi o suficiente pra mim. Com o indicador em seu queixo fiz com que ela levantasse a cabeça. –Ei, quero ouvir você dizer.

—Todos nós vamos ficar bem.

A beijei mais uma vez, sentindo algumas lágrimas escorrerem de seus olhos, toquei seu rosto separando nossos lábios, mas ela levou uma de suas mãos até o meu peito, encostando minhas costas no sofá. Eu a olhei preocupado, mas ela não disse nada, apenas respirou fundo e encostou sua testa à minha.

—Hermione? –Chamei sem tirar minha mão de seu rosto.

—Eu sinto muito Draco... –Ela murmurou ainda com os olhos fechados. –Por acusar você de me trair com Pansy e...

Sem dizer nada sequei as lágrimas dela e a abracei até que ela se acalmasse. Quando isso aconteceu tomei seus lábios mais uma vez e ela correspondeu intensificando aquele beijo cada vez mais. Um beijo calmo, puro, mas ao mesmo tempo intenso. O beijo de duas pessoas que estavam condenadas a dor, perdas, tudo isso para pagar por algo em que nenhum deles teve culpa.

—Não percebe? Aos poucos tudo o que temos está se perdendo, no fim nós dois morreremos, é completamente inútil tentar lutar contra algo que vai acontecer não importa o quanto resistimos.

—Não ouse dizer isso...

—A vingança acaba quando nós dois acabarmos...

—Não!

—É isso que ele tem tentado nos dizer desde que fugiu. Não tem nada a ver com nossos filhos, ele apenas os usa para nos atingir, tudo se resume ao fato de que ele quer chegar a nós e sempre vai conseguir porque nos prendemos ao que sentimos.

O que ela havia dito estava em minha cabeça, assim como seu olhar mostrando o quando ela estava abalada com todos os acontecimentos. Será que ela estava certa? Que Lucius só desistiria quando eu e Hermione estivéssemos mortos?

Eu sabia que ele a mataria primeiro apenas para ter o gosto de ver o estado em que eu ficaria ao perdê-la, afinal eu faria tudo por ela. Mas mesmo sabendo que um dia a vida acaba existem pessoas que nunca estamos preparados para perder, e por isso eu tinha que acabar com tudo isso o mais rápido possível, para que enfim as coisas estivessem realmente bem.

—Dorme comigo? –Ela pediu quando nos separamos e eu assenti lhe dando um selinho, não me importando que o sol ainda estivesse brilhando lá em cima. –Mas promete que vai estar aqui quando eu acordar?

—Eu prometo. –Respondi e ela se levantou segurando a minha mão.

Nos seus olhos eu vi o quanto aquilo parecia importante para ela. Ao chegarmos ao quarto ela se deitou, dessa vez do meu lado da cama, e sorriu ao ver que eu tirava a camisa para me deitar também. Quando a envolvi em um abraço, de um jeito que pudéssemos ficar bem próximos ela sorriu e fechou os olhos, caindo no sono rapidamente.

Senti um pequeno chute vindo de sua barriga, coisa que me fez sorrir e ela se mexer um pouco inquieta. Levei minhas mãos até sua barriga e acariciei, sentindo-os ali. Não demorou até que os gêmeos se acalmassem. Beijei a cabeça da morena e a puxei mais pra perto e em seguida adormeci.

Dessa vez não tive pesadelos ou preocupações, éramos apenas nós e nossos filhos. As coisas mudariam, afinal faria qualquer coisa pela minha família e de algum modo, com ela em meus braços, eu sabia que conseguiria.