Uma hora da manhã e só agora ela estava ouvindo o barulho da porta se abrindo avisando-a de que ele havia voltado para casa.

Hermione estava farta disso, desde que havia contado sobre os gêmeos tudo entre ela e Draco estava estranho, pareciam prestes a desmoronar a qualquer segundo.

Isso, desmoronar, essa era a palavra que ela procurava para descrever tudo o que vinha acontecendo.

Repetia para si que não derramaria mais lágrimas, mas aquela tarefa se tornava mais difícil, ainda mais porque o fato de precisar repousar a impedia de ir trabalhar e ocupar a cabeça. Ela passava as tardes sozinha naquela enorme casa apenas para ver seu marido chegar mais tarde a cada dia.

Pelo menos algo de bom havia acontecido no dia. Após uma ida ao St. Mungus soube que os bebês estavam cada vez melhores e atingindo o tamanho certo, até havia escutado o coraçãozinho deles. Queria que Draco estivesse lá para ouvir também.

–Morena? –O loiro chamou do quarto, mas ela não respondeu, fazendo-o seguir até o banheiro. Encontrou-a na banheira, uma garrafa de bebida ao seu lado e um copo cheio em sua mão. –O que é isso? Ficou louca? –Perguntou indo até ela rapidamente e tirando aquilo de sua mão.

–Não se preocupe, eu não bebi. –Disse soltando o ar e o encarando, vendo que ele não acreditava no que ela dizia. –Estou falando sério.

–Então pegou a garrafa apenas para me assustar? –O Sonserino cruzou os braços.

–Não, peguei porque eu queria beber cada gota dela, mas eu não consegui porque pensei em nossos filhos.

–Hermione, o que está acontecendo? Por que está chorando? –Se xingando mentalmente ela secou os olhos e respirou fundo, nem havia percebido que as lágrimas começaram a cair.

–Se encontra com Pansy há muito tempo? –A morena murmurou depois de alguns minutos em silêncio e ele bufou bagunçando os cabelos. -É, eu vi vocês dois.

–Se viu sabe que nada aconteceu.

–É mesmo? Porque ainda tenho minhas dúvidas sobre o que estavam fazendo.

–Está mesmo pensando que eu estou te traindo? Hermione eu amo você e eu nem toquei nela!

–Sinceramente, eu não sei mais o que pensar. –Hermione interrompeu antes que ele dissesse mais alguma coisa, em seguida soluçou. –Você chega cada vez mais tarde, nunca atende minhas ligações ou responde minhas cartas, está sempre cansado e quando vem pra casa, se vem pra casa, se tranca naquele escritório o resto do dia.

–Você sabe que eu estou organizando...

–NÃO MINTA PRA MIM! –A mulher gritou assustando-o. –Por favor, só não minta... –Tentou mais uma vez secar suas lágrimas. –Fui até o seu trabalho ontem, e quanto perguntei por você sua secretária contou que tirou alguns dias de folga e só voltaria ao trabalho na semana que vem.

Ele abaixou a cabeça e respirou fundo. Sua mulher era inteligente, e ele reconhecia o fato de que fora descuidado com os horários, mas escolheu ficar em silêncio e deixar que ela falasse.

E naquele momento Draco Malfoy pôde ver nos olhos de sua esposa que ela estava pior do que imaginava, estava lidando com os acontecimentos da pior forma possível.

–Eu posso explicar.

–Não quero que explique, tenho medo do que vai dizer, além disso, estou cansada de suas mentiras.

–Eu não estava...

–Draco, por favor! –Suplicou baixo. –Está agindo assim por causa dos gêmeos?–Ela soltou depois de longos minutos.

–Hermione essa foi a melhor coisa que aconteceu no ano. –O loiro admitiu sincero.

–Então por que age como se fosse a pior? -Ele não respondeu, apenas baixou os olhos e a morena entendeu que ele não falaria sobre aquele assunto. –Em que nos transformamos?

–O quê?

–Nós nunca íamos dormir brigados, mas parece que é a única coisa que fazemos ultimamente e você está se afastando cada vez mais como se tudo entre nós estivesse errado. Por que isso está acontecendo com a gente?

–Eu não sei. –Ela soltou o ar decepcionada por ele não responder nenhuma de suas perguntas, se levantou pegando o roupão e vestindo-o e seguiu na direção à porta, mas ele segurou seu braço. –Hermione, deixe-me explicar? Por favor!

E o azul acinzentado dele se misturou com o castanho dela. Ainda estavam brilhantes, avisando que a senhora Malfoy não demoraria a cair em lágrimas novamente. Devagar ela fez com que o marido a soltasse e com um aceno de varinha fez um envelope ir até ele.

–É tarde demais para explicações. –Murmurou e mais uma lágrima caiu. –Boa noite Draco.

E ela deixou o banheiro, o que o fez bufar irritado. Não a queria pensando que ele estava com Pansy, aquilo parecia ferí-la tanto, era o pior de todos os insultos insinuar que ele estava jogando tudo o que viveram no lixo, e o fato de não responder suas perguntas só fazia com que ela se mostrasse mais desapontada.

Olhou para o envelope e o abriu curioso, mais ainda quando viu que era do St. Mungus, o hospital dos bruxos. Sentiu-se completamente feliz quando viu que o que ela havia lhe dado eram as imagens do ultrassom. Quando havia ido até lá?

Além das imagens dos dois bebês se mexendo também havia mais. Ali dizia que sua mulher estava esperando um casal, o que encheu seu coração. Voltou rapidamente ao quarto, mas não a encontrou lá.

Rapidamente seus instintos o levaram a biblioteca, mas o que ele viu ali o fez pensar duas vezes antes de entrar. Hermione estava sentada próxima à janela acariciando a enorme barriga, mas ela não sorria como costumava fazer quando estava grávida de Scorpius ou Annia, pelo contrário, seu olhar estava vazio e perdido, de um jeito que nunca havia visto antes.

–Pode, por favor, me deixar sozinha?

–Me desculpe, eu sei que as coisas estão difíceis pra você e eu não estou ajudando, mas eu só quero que me escute! Hermione eu estou preocupado!

–Então agora resolveu se preocupar? –Ela se levantou, colocando seus olhos cheios de mágoa sobre ele. –Eu estou preocupada Draco, você apenas está tentando ficar longe de mim e de todos os problemas!

–Sabe que se eu tivesse mesmo tentando ficar longe eu não estaria aqui agora!

–E por que está? –Hermione perguntou. –Por que voltou pra casa Draco? Para ver como eu estava ou apenas descansar e sumir pela manhã como tem feito desde que voltamos de Hogwarts?

–O que houve com você? –O homem se aproximou para ver seus olhos mais de perto.

–Apenas aceitei que tudo o que temos está desmoronando.

–Não fala assim morena, nós vamos superar isso.

–Não, nós não vamos.

–Hermione...

–Não percebe? Aos poucos tudo o que temos está se perdendo, no fim nós dois morreremos, é completamente inútil tentar lutar contra algo que vai acontecer não importa o quanto resistimos.

–Não ouse dizer isso...

–A vingança acaba quando nós dois acabarmos...

–Não!

–É isso que ele tem tentado nos dizer desde que fugiu. Não tem nada a ver com nossos filhos, ele apenas os usa para nos atingir, tudo se resume ao fato de que ele quer chegar a nós e sempre vai conseguir porque nos prendemos ao que sentimos.

–HERMIONE PARA! –Draco gritou segurando os braços dela, os olhos dele também estavam cheios de lágrimas agora. –Nunca mais repita essas coisas.

–Me mandar não repetir não torna isso uma mentira. Ele vai nos matar Draco, você sabe disso, só se recusa a aceitar. -E pela segunda vez naquela noite ela se desvencilhou dele e saiu em direção ao quarto deixando-o sozinho.

Aquela não era a Hermione, não podia ser, ela sempre era tão positiva sobre tudo e sempre acreditou que um dia não precisariam mais ter medo e nem se esconder atrás de feitiços de proteção. Ou talvez isso fosse apenas o que ela havia se transformado após aguentar tanta coisa em um ano.

Draco reforçou todos os feitiços de proteção da casa, deu uma última olhada nela e saiu. Sabia que ela ficaria magoada, ou talvez nem se importasse mais, mas não aguentaria vê-la assim, ele faria alguma coisa e mudaria tudo para que ela então pudesse sorrir mais uma vez.