Crônicas do Pesadelo {Interativa} escrita por Dama dos Mundos, Kaline Bogard


Capítulo 9
Nem tudo é o que parece...


Notas iniciais do capítulo

E aqui está, o que todos pediram! Os Seguidores do Pesadelo voltaram com um capítulo só deles!
Aviso: Capítulo grande.
Revisamos, mas sempre acaba passando algo. Desde já pedimos perdão.
Ps.: Kali-chan pede para avisar que está de viagem, galera, por isso não está podendo responder os comentários maiores, mas ainda hoje ela está de volta!



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Templo de Maira, Reino de Iron:

Kenai e Liam caminhavam lado a lado, na longa e deserta estrada. O dia raiara há algum tempo, mas avançavam no mesmo ritmo sem pensar em diminuir, apesar de andarem por todo o resto da noite e madrugada.

Ambos amargavam uma dura decepção em seus planos: pretendiam reunir as Chaves Principado que, lendariamente, trariam de volta o Pesadelo, ser que causara destruição imensurável e fora aprisionado graças a coragem de cinco heróis.

Seguindo pistas e estudando mapas tinham ido a um templo antigo e desativado, ruínas na verdade. Em busca da Chave da Água. Mas depararam-se com nada além de frustração. O esconderijo da peça mágica não era ali.

Os passos de Kenai, mais alto e forte, deixavam marcas mais profundas no chão de terra vermelha e fofa, levantando pequenas nuvens de poeira que distraíram a atenção de Liam por algum tempo. O rapaz de cabelos castanhos olhou rapidamente para trás, analisando o longo rastro que deixavam atrás de si. Seus próprios passos eram mais leves e menos pronunciados.

Suspirou. Era justamente isso o que queria: deixar uma marca no mundo. Algo que ecoasse seu nome por gerações e gerações através dos séculos. Um grande marco divisor de águas. Todos conheciam a lenda sobre o aprisionamento do Pesadelo. Não havia criança viva em nenhum dos reinos que não tremesse diante desse nome. Adultos demonstravam receio.

E assim seria quando ouvissem o nome de Liam, um dos três responsáveis por despertar a criatura mais cruel que jamais existira antes.

Era o que as vozes lhe diziam: grave a ferro na memória das pessoas. Coisas boas logo passam. Mas a dor e o sofrimento... imêmores. Amenizados? Eventualmente. Esquecidos? Nunca.

– Alguma idéia brilhante, Rato de Biblioteca?

A voz rouca de Kenai trouxe Liam de volta de seus devaneios. O rapaz olhou de esguelha para o companheiro ao seu lado. Kenai tinha o péssimo hábito de inventar apelidos depreciativos como aquele. E a expressão do homem nunca era boa. Ele parecia viver com raiva do mundo.

– Nenhuma, Mokolé – Liam ignorou a provocação, mencionando a raça de Kenai, em uma forma de demonstrar que compreendia porque o companheiro era daquele jeito: Mokolé era a raça dos homens-répteis. Em sua forma verdadeira pareciam monstros. Agiam assim o tempo todo. Mokolés eram monstros.

Kenai virou-se para o rapaz ao seu lado, analisando-o brevemente. A expressão de desagrado em momento abandonou suas belas feições. Mas acabou fazendo um som de pouco caso, desejando secretamente chegar em algum povoado e arrumar confusão. Não podia fazer isso com o companheiro. Ainda.

O silêncio voltou a pairar entre eles quase como uma terceira presença, nem de todo incomodo. Embora não necessariamente confortável. Kenai e Liam não eram amigos, sequer companheiros. Tratavam-se apenas de conhecidos unidos pelo objetivo em comum: o despertar do Pesadelo.

A melhor parte da quietude entre a dupla é que Liam podia se perder em seus pensamentos. Talvez naquele silêncio as vozes viessem a ele novamente e o ajudassem a compreender onde errara ao interpretar as pistas sobre a Chave Principado...

Em suas pesquisas encontrara um poema que supostamente indicava a localização da Chave da Água. E era tão claro!

Em seu berço calvário paira

suave alento de águas calmas.

Não vais a tempo ou espaço, Maira

apenas aguarda, Destruidor de Almas.”

Aquela parte do poema fazia a referência direta ao local onde a chave deveria estar guardada: “Maira” era o nome de uma sacerdotisa muito famosa do reino de Iron, que vivera séculos atrás e adorara a Deusa Irmã, assim chamada a entidade que governava o mundo junto com a Deusa Mãe. A Deusa Irmã era responsável por completar uma parte da criação de Gaia: o mundo. Cada um dos deuses havia dado uma dádiva as Terras de Meroé. Acreditava-se que a Deusa Irmã criara rios, mares e oceanos.

Se Maira era citada no poema, Liam deduziu que a chave a que se referia tratava-se da Chave Principado da Água. E estava escondida em um dos templos em honra a Deusa Irmã, sendo a sacerdotisa Maira a mais proeminente de todas.

– Maira. O segredo está em Maira... – o rapaz sussurrou passando as mãos pelo cabelo castanho. Adorava enigmas e jogos mentais. Aquele era um dos mais fáceis que encontrara. Talvez fácil demais...

– Hum...? – Kenai perguntou sem muito interesse.

– Maira – Liam repetiu. Não tinha esperanças que alguém como Kenai fosse ajudá-lo a desvendar o segredo por traz do enigma. Mas repetir em voz alta talvez clareasse tudo – Uma referência à localização da chave. Pensei que “Maira” fosse a sacerdotisa que adorava a Deusa Irmã.

– Sei. Por isso viemos ao templo abandonado. Era o lugar em que Maira realizava os cultos.

– Sim. Maira, a Deusa Irmã, berço calvário paira... tempo... não vais... tempo ou espaço... – o rapaz foi sussurrando sem lógica aparente.

– O quê? – Kenai perguntou de mau modo. Não tinha paciência para brincar de adivinhação. Estava irritado porque seu companheiro sabichão seguira uma pista errada.

– Essa parte... – sussurrou – Não faz sentido. Não dei atenção a ela. O resto parecia tão claro... mas a Deusa Irmã criou os rios, os mares e oceanos. Isso vai a lugares no tempo e espaço.

– Templos não vão... – Kenai resmungou.

– Obviamente não é um templo – os passos do mais baixo diminuíram de velocidade na mesma proporção em que sua mente começava a trabalhar mais rápida. As vozes sussurraram algo, insinuaram algo. Uma idéia que ele não foi capaz de captar, apenas de sentir. Interpretava o poema de forma errada, mas... qual a direção que devia seguir? – O que mais permanece imóvel no tempo e no espaço e tem ligação com a água?

Kenai deu de ombros. Olhou feio para o rapaz de cabelos castanhos por ele ter parado de andar.

– Sei lá! – exclamou – Cuspe? Se eu cuspir no chão com certeza não vai a lugar algum. Bem... vai ser absorvido pela terra, eu acho.

Então a resposta se fez tão clara quanto o horizonte ao raiar de um novo dia. E era uma solução tão simples que Liam sentiu vergonha por não ter sacado antes.

– Um lago – murmurou estarrecido – Um lago não vai a lugar algum no espaço. Nem no tempo... se a chave foi escondida no fundo de um lago, ela não sairá do lugar, mesmo que o tempo passe ou o lago fique seco... isso explica todo o poema!

– Hum...?

– “Em seu berço calvário paira”, é a respeito de esconder a Chave Principado em algum lugar, claro. “Suave alento de águas calmas”, a parte em que fica óbvio que não se trata de um rio, mar ou oceano. “Não vais a tempo ou espaço, Maira”, aqui eu fiquei cego pela verdade. Não é somente referência direta a sacerdotisa, mas alude também à “água”, à Deusa Irmã e à imobilidade de um lago! “Apenas aguarda, destruidor de almas”: o Pesadelo. Ele aguarda que o enigma seja desvendado e a chave recuperada! É tão óbvio!

– Mas existem milhares de lagos! Como vamos saber de qual se trata...?

Liam sorriu. Um sorriso gélido que refletiu o brilho de seus olhos astutos. Não estivera tão errado assim, afinal de contas. Deu um passo, reiniciando a caminhada e obrigando Kenai a segui-lo.

– A localização é em Loreh do Sul. A lenda diz que a Deusa Irmã criou a água. Não se tem certeza se sua primeira criação foi um rio ou mar... e vários reinos tem lendas a respeito disso... sabe por que a sacerdotisa Maira recebeu esse nome?

– Não – o rapaz de cabelos negros com as pontas azuis soou sincero.

– Porque apesar de servir no templo em Iron, Maira nasceu em Loreh do Sul, onde existe um lago chamado Maira, que os sul-lorehanos dizem a primeira dádiva da Deusa e de onde foi tirada a água que criou os demais lagos, rios e mares. Porque supostamente nesse rio a própria Deusa Irmã teria nascido.

continua...

oOo

Em algum lugar de Niger, rumo às Terras Abandonadas:

Loke instigou uma vez mais o monstro abaixo de si a seguir em frente. Ele estava montado numa criatura bizarra, que lembrava um lobo muito grande, com chifres sobre a testa e uma calda terminada em o que parecia ser uma garra. O pelo era negro, e os olhos, avermelhados. Era conhecido como Dorehan, ou cão da morte. Servos diretos do Deus que regia as forças obscuras, assim como a própria morte, Surm.

Essas criaturas eram conhecidas por sua aparência bizarra, força descomunal e por serem os monstros mais rápidos de Meroé. E pelos contratos que faziam, afinal nunca apareciam (ainda mais para dar carona), para qualquer um. Para isso acontecer, o Dorehan e a outra criatura tinham de trocar seu sangue, um bebendo um pouco do outro. Se um dos dois morresse ou traisse seu companheiro, ambos pereceriam.

Lógico que Loke não era estúpido de fazer um pacto desses, afinal ele só se envolvia em tratos que podia quebrar, ou que não tivessem consequências desagradáveis. Por mais que não parecesse, ele dava muito valor a sua vidinha maléfica e trapaceira. De maneira que montava o dito monstro por uma única razão: a criatura entrara em divida com ele.

E como um Dorehan poderia entrar em divida com alguém como Loke? Isso era um grande mistério...

A velocidade que cavalgava era tão grande que sentia nitidamente seus cabelos serem puxados para trás. Era uma sensação muito desconfortável, o que o fazia parar de vez em quando para pegar um pouco de ar (pois a velocidade do animal era tamanha que, algumas vezes, ele acabava perdendo o próprio ritmo respiratório). Acabara de dar uma dessas paradas.

Enquanto descansava, lia os registros que fora recolhendo antes de partir. A sua meta era atingir a prisão onde Pesadelo estava encerrado.

Ao contrário de Liam, que recebia inspiração e enigmas da sua esdrúxula voz interior, e de Kenai, que conseguia o que queria na base da porrada, Loke preferia fazer seu papel fuçando, mentindo e se infiltrando. Assim conseguira a localização da Chave da Terra, já em seu poder, e assim também aprendeu o caminho para a prisão mágica onde havia a fechadura, seu par.

Também havia algumas outras informações entre os papéis, sobre pessoas e famílias de Hathea. Aquele era um ótimo lugar para montar sua base, as suas paredes tinham ouvidos, e as pessoas, ah, elas falavam demais. Deviam aprender que certas coisas não devem ser comentadas. Nem mesmo sussuradas a meia voz.

Loke passou os olhos pelos papéis mais uma vez e então parou-os em uma noticia em especial. Bem, era mais como um certificado de conclusão. Referia-se a missão para encontrar Red Eyes, a qual ele já sabia como havia terminado. Passou os dedos pela marca que representava os JusticeBlades. Eles tinham uma boa fama... E Liam havia avisado algo sobre um grupo de elementais... O que era mesmo? Mal conseguia se lembrar.

Mas uma coisa era certa. Eles podiam atrapalhar muito seus planos, se ficassem bisbilhotando. E ele não ia deixar que isso acontecesse. Não mesmo. Enquanto raciocinava sobre esse assunto, guardou os documentos, tomou um gole de água de um odre que carregava consigo, e voltou a montar na criatura.

Patas potentes rasgaram a terra, recomeçando a corrida... A velocidade aumentou consideravelmente. Loke podia sentir que quase voava, o mundo a sua volta parecia um borrão. Ele não precisava guiar, o Dorehan já sabia o caminho a seguir. Viajavam em direção ao leste, para a ponta continental, um local conhecido como Terras Abandonadas. Outrora, muito antes do Pesadelo começar a existir, aquele pedaço de terra era habitado por uma civilização avançada.

No entanto, o grande poder que tinham em mãos foi usado com propósitos malignos e gananciosos. E diz-se que os Deuses lançaram uma praga sobre o antigo reino, convertendo cada um de seus habitantes em força mágica, para que nunca descansassem, e nunca esquecessem do porquê terem sido castigados. O local virou um imã mágico e sombrio, tragando tudo o que chegava perto. Quem ficasse preso lá dentro não podia mais sair, até se tornar parte daquela energia viva e maledicente.

Não havia local melhor para a entrada da cela de Pesadelo. No entanto, ao contrário do que se dizia, existiam formas de adentrar as Terras Abandonadas e não ser sujeito ao declínio catastrófico que seus habitantes tiveram. E Loke, obviamente, já sabia de uma ou outra.

Dizem que as fronteiras terrenas, criadas pelos homens, não podem ser medidas com precisão, mas aquele não era o caso. Assim que ele cruzou a linha imaginária que demarcava o território amaldiçoado, seu corpo e até mesmo o Dorehan foram acometidos por um sentimento forte de enclausuramento. Algo pareceu pressioná-los de maneira violenta para baixo, o que fez ele saltar do monstro e cair no chão... Ficar sobre uma criatura daquelas, quando está em visível agonia, nunca era muito bom. O monstro começou a dar mordidas no ar, como se tentasse agarrar alguma coisa, mas seus movimentos iam ficando cada vez mais lentos.

Em um dado momento ele parou de se mover, e Loke desejou por um milésimo de segundo que ele não estivesse morto, afinal, como haveria de voltar a Hathea? Mas o Dorehan estava apenas estático, parado como uma verdadeira escultura... E ele sentiu seu corpo ir parando também, ficando cada vez mais lento e cansado. E então viu... As sombras pálidas, um dia humanas, caminhando claudicantes em sua direção.

A sonolência aumentou consideravelmente, enquanto os vultos se aproximavam e o rodeavam. E foi um dos poucos momentos em que sentiu-se fora do controle. E ele odiava ficar em tal situação...

continua...


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Notas finais do capítulo

Aeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee!! Todo mundo estava empolgado com esse capítulo, esperamos que tenham gostado, e que esteja a altura das suas expectativas. Continuação dele virá na... no próximo sábado, sem ser este.
LD, o que achou da imagem do Liam? Novamente dizendo, se não estiver bom eu troco outra vez (rolou um verdadeiro ataque para decidir qual ficaria melhor). Optamos por deixar os óculos, afinal o modelo original também os tem.
Bem, é isso galerinha... kisses, e até a próxima.