Crônicas do Pesadelo {Interativa} escrita por Dama dos Mundos, Kaline Bogard


Capítulo 8
Algumas pessoas já nascem quebradas.


Notas iniciais do capítulo

Sempre revisamos, mas as vezes os erros passam batidos (ainda mais no meu caso -Ame- porque meu programa é uma droga e não corrige absolutamente nada). Se houver algum avisem, okay?
Capítulo um pouquinho grande, galera... preparem-se :P



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–O que te interessa tanto nos convidados de sua mãe, Nyx? -perguntou Neco, enquanto as duas procuravam reencontrar a carruagem. Nyx parecia concentrada em algo, mas respondeu da mesma forma.

–Estou investigando umas coisas. Boatos. E pretendo recolher o máximo de informação possível.

–Mesmo sendo amigos de sua mãe?

–Minha mãe só tem amigos interesseiros, e é uma amiga interesseira por excelência. Então sim, se for preciso investigarei até ela. -não parecia incomodada ao dizer aquilo, a mais jovem reparou. Diminuiu um pouco o passo, com receio de tropeçar. Mas a líder manteve o ritmo, o que deu uma certa distância entre as duas.

–Não é muito cruel pensar dessa forma dela? -perguntou. Sempre soubera que Nyx e a mãe não tinham um relacionamento muito normal, mas aquilo parecia mais beirar a raiva. Não conseguia compreender como alguém podia ser tão negligente com relação a pessoa que a pôs no mundo.

–Algumas pessoas já nascem quebradas, Neco... seus corações são vazios e cobertos de rachaduras. E não há liga, substância ou feitiço que concerte. -Ela viu Nyx virar-se em sua direção, os cabelos negros cascateando por sobre seus ombros. -Elas são incapazes de sentir, incapazes de sonhar... e se conseguem desenvolver alguma emoção, nunca é algo bom. E essas pessoas são tão inexpressivas que muitas vezes aprendem a fingir sentir algo que não está ali. Mascaram-se, mentem e atuam, enganando todos ao seu redor.

–Não dá pra acreditar que existam pessoas assim... ainda mais sua mãe. Ela não pode ser tão insensível... quer dizer, ela deve amar ao menos você. -sua voz saiu num murmúrio, como sempre, enquanto ela se encolhia sob aquele olhar sem vida da sua líder.

–Minha mãe não amou meu pai... e também não tem esse sentimento com relação a mim. Aliás, mal sei se um dia ela foi capaz de amar alguém. -a garota entreabiu os lábios, por algum tempo, antes de continuar. -E no fim,eu herdei a mesma doença...

E antes que ela pudesse falar mais alguma coisa, Neco se viu protestando num tom mais alto que o normal. -Você não é assim! Eu sei. Não é qualquer um que faria o que você fez por cada um de nós! Eu me recuso a acreditar que isso é apenas uma mentira.

Nyx piscou seus olhos com calma, embora uma nesga de surpresa tenha rasgado sua face. Por um instante, Victory imaginou ter visto um arremedo de sorriso surgir naquele rosto pálido.

–Isso porque eu tive meu pai, e até mesmo Frosty, para dar um jeito em mim. -voltou a dar-lhe as costas, recomeçando a andar. -Eles conseguiram colar alguns cacos. Apenas isso...

A elfa mais jovem suspirou, vergando os ombros. Era muito difícil lidar com Nyx. Ela parecia a prova de tudo, e suas reações eram tão imprevisíveis quanto uma única gota dentro de um rio caudaloso.

Em silêncio, aproximou-se da líder, seguindo seus passos. Era problemática, de fato, e em matéria de liderança precisa melhorar muito. Mas Neco sabia que, lá no fundo, ela era uma boa pessoa. Quando estava sozinha, depois do pai ter desaparecido sem deixar rastro, e de sua mãe ter morrido de doença, Nyx entrara em sua vida como um verdadeiro furacão.

“Você não deveria ficar sozinha.” ela dissera, enquanto tomava um gole da cerveja escura que a própria Victory servira-a. A garota não tinha família, então teve que aprender a trabalhar e a servir, como muitas jovens da mesma idade que viviam em Hathea, por terem seus corpos considerados muito frágeis. Isso, em especial, fez com que pegasse um emprego na badalada Hospedaria das Águas Profundas. Por ficar ao lado de um lago, era muito famosa, embora poucos de fato pernoitassem ali. Era mais o que chamavam de lugar para matar o tempo. Onde podiam beber, comer alguma coisa e, se estivesse muito calor, nadar.

“Não me preocupo com isso, senhorita.” fora sua resposta. Ficar sozinha era ótimo. Ela não precisava de ninguém, não sabia porque uma pessoa que nunca vira na vida, de expressão tão insensível, poderia se preocupar com isso.

“A convivência nos faz crescer. Nos ajuda a enfrentar as adversidades. Eu já fui uma pessoa que gostava de viver sozinha. Mas existe sempre uma hora que nós fraquejamos, e nessas horas, é sempre bom ter um amigo para nos ajudar a levantar.”

Aquilo pegara-a tão desprevinida que precisou balançar a cabeça algumas vezes para se lembrar do que estava pensando. “Não vejo companhia alguma contigo. Sem querer ser grosseira.”

“Não estás sendo. Ele está lá fora. Prefere a natureza a lugares fechados como esse. Pessoalmente compartilho da mesma opinião, mas hoje está fazendo realmente muito calor.” e aquela garota, de profundos olhos verdes, fechou-os para tomar mais um gole da bebida gelada.

Victory nunca entendeu exatamente o que fez ela se envolver de fato com Nyx e Frosty naquele dia. De uma hora para a outra, havia sido aceita entre os dois, e isso a fez sentir indiscritivelmente feliz. Eles nunca forçavam-na a sua presença, mas estavam sempre dispostos a conversar e a lhe dar apoio quando precisava. O amável Frosty, e a intrigante Nyx. Aos poucos, foram se tornando sua nova família.

E então, ela decidiu segui-los, e de fato, tornou-se uma JusticeBlade. Se fosse pensar bem, não tinha tanto tempo assim. Selene sempre ajudara nas caçadas, mas preferia manter-se distante, e só chegou a conclusão que deveria entrar também no grupo pouco tempo depois. E a outra garota, Anne, foi a última a se alistar. Juntos, os cinco formavam a equipe mais esquisita que alguém poderia imaginar.

Mas isso,é outra história...

As duas finalmente conseguiram chegar à carruagem. Aparentemente ela estava parada no Posto de Recompensas. Era possível que a pessoa lá dentro fosse um dos mandantes, responsáveis por expedir os cartazes de recompensa e retirá-los, assim como manter os cofres cheios para que as recompensas fossem pagas.

Quando ambas visualizaram o veículo, o rapaz já estava preparando-se para voltar a entrar nele. Sim, era um rapaz, um tipo muito bonito, apesar da aparência comum. Não se destacaria nos salões que a Senhora de Saint Ignis frequentava, mas sozinho, naquele beco repleto de pessoas e outras criaturas asquerosas, chegava a ser uma beldade. Tanto os cabelos quanto seus olhos eram castanhos-claros,e tinha um belo porte físico, mesmo que as roupas sociais tirassem um pouco dessa impressão.

Sua voz, no entanto, era encantadora. Neco reparou de imediato, quando ele virou seu rosto jovem-não devia ter mais de vinte anos- na direção delas, e reconheceu sua companheira de imediato. -Lady Nyx! Que ótimo poder vê-la!

Se a expressão de Nyx podia ficar ainda mais vazia, isso aconteceu. Ela piscou, visualizando com desinteresse o dito rapaz, e respondeu num tom velado: -Poupe-me da puxação de saco, Edgar.

–Nossa, assim você me ofende... -ele fez uma careta tão sentida que Victory chegou a ficar com pena. E então, Edgar olhou para ela, e sorriu. -Oi, pequenina, como está?

–Er... oi... Edgar, certo? -sabendo dos costumes da nobreza, a elfa fez uma mesura, a qual ele respondeu com um aceno de cabeça.

–Sim, sim, adorável lady... o que duas damas tão distintas fazem por estas bandas?

–Me pergunto o mesmo de ti. -Nyx apenas ergueu uma sobrancelha, enquanto Neco olhava para outra direção. Era certo que a segunda identidade da líder era um segredo para a mãe e toda a corja que a cercava. Com o canto dos olhos, divisou o mesmo contratante velho que as atendera mais cedo, o qual observava-as. A magia dos chifres devia estar funcionando explendidamente bem, pois ele mostrou-se realmente humilde com relação a Nyx.

–Milady... o que a senhorita faz em um lugar decadente desses?

–Pensei que te pagassem pra cuidar das recompensas, e não fazer perguntas.

–Ai... -ela murmurou baixinho. Se a garota de olhos verdes já era indiferente ao velho quando estava como Demon Lady, como Lady Nyx simplesmente sapateava em cima de sua cabeça, como se ele fosse uma barata. -Er... voltando ao assunto... o que fazes aqui, Edgar?

O rapaz riu daquela situação, com facilidade, e logo colocou uma das mãos na cintura. -Apenas recebendo a confirmação de que o criminoso que procurávamos foi encontrado. Isso é sem dúvida algo empolgante, não acham? E foi tão rápido!

–Certo... -Neco simplesmente não queria ficar escutando tanto blá-blá-blá da parte dele, por mais agradável que fosse. Nyx continuava com aquela sobrancelha erguida, como se o assunto não lhe dissesse respeito.

–Espere... foi você quem expediu o cartaz?

–Não, não... isso não é pra mim, entende? Só faço as entregas. -ele coçou a parte de trás dos cabelos e abaixou a voz. -E então, vai participar do próximo baile?

–Faz diferença pra você? -ela respondeu de imediato, mas definitivamente sua mente estava em outro lugar, provavelmente pensando em quem deveria ter expedido o cartaz de Red Eyes. Por ter ligação com sua mãe, só poderia ser este o criminoso do qual Edgar falara. Só esperava que a cabecinha fraca do mesmo não conseguisse achar qualquer conexão entre a prisão e ela mesma.

–É claro! Eu não vejo uma beleza como a sua todos os dias...

Neco pode ouvir o suspiro profundo da companheira, e imaginou que ela ia realmente puxar sua foice e retalha-lo ali mesmo, mas a jovem apenas deu de ombros: -Que seja. Veremo-nos lá.

Ele sorriu largamente, fazendo menção de entrar na carruagem e acenar para as duas. -Espero encontra-la também, pequena dama... como é mesmo o seu nome?

–Ne... Victory. Me chamo Victory.

–Que belo nome.

–Ela não vai fazer absolutamente nada que está pensando com você, Edgar. -os olhos de Nix se estreitaram. -E se sequer tentar, vai se arrepender.

Não houve resposta, apenas um riso, e ele fechou a porta. Ao ver o veículo sair, cambaleando pelas ruas estreitas, ambas se entreolharam.

–O que ele esta...

–Isso não vem ao caso. -olhou para o céu escuro, continuando, em tom solene: -Neco... preciso de você no baile de semana que vem. Tudo bem?

–Er... mas... -ela não queria participar. Não gostava de multidões. Porém pensou melhor, e seus ombros vergaram mais uma vez antes que assentisse com a cabeça. -Tudo bem. Uma noite não vai me matar.

–Boa garota...

oOo

Selene fez as últimas chamas se apagarem com um simples estalo de dedos, e a fumaça aos poucos foi-se desvanecendo. O grupo de marginais parecia amedrontado o suficiente. Frosty havia parado seus movimentos com seu controle sobre a água, o qual tinha uma variação muito útil, poder congelar coisas... e pessoas. Claro que não os transformou em picolés com a intenção de matar. Nada disso. Apenas deixou-os presos ao chão, enquanto Anne, com as manoplas pesadas que usava -e sabe-se lá como conseguia aguentar – fazia deles verdadeiros sacos de pancada.

A bem dizer, a Rainha de Copas achava que só aquela surra já teria sido o bastante para deixá-los suficientemente impressionados. No entanto, ela também queria brincar um pouco. De maneira que quase se divertiu fazendo todos eles correrem de um lado para o outro daquele espaço maior, perseguidos por faixas de fogo. Lógico que a essa altura, Frosty já havia soltado-os, alegando pela enésima vez que não deveria haver mortes.

Ela pouco se importava. Pessoas morriam a todo instante, algumas que nem ao menos mereciam. Não acreditava que existia alguém completamente inocente, além de uma criança, mas sabia que muitos caíam pela mão de um criminoso, quando poderiam viver felizes com suas famílias. Então era mais do que óbvio que, para ela, os deturpadores da ordem tinham de ser queimados. Se fosse por suas mãos, seria ainda melhor.

No entanto, por respeito ao segundo no comando, ao qual era de fato muito chegada (mais ainda do que àquela fedelha baixinha que chamavam de líder), controlou sua vontade de arrancar cabeças por aquele dia, ao menos, e se contentou em apenas criar queimaduras de, no máximo, segundo grau.

–Não se esqueçam... da próxima vez... -ela inclinou a cabeça para os últimos que ainda restavam no local. Os outros já haviam saído correndo, e desaparecido, faz tempo. -Suas cabeças vão para a minha coleção. Entendido?

Apavorados a ponto de mal conseguirem falar, houve apenas uma concordância múltipla, e com um sinal de Selene -que significava claramente “deem o fora”- correram o máximo que ainda podiam para longe dali.

–Isso mesmo, vão embora e nunca mais voltem! -gritou Anne, com as mãos na cintura. O elfo chegou por trás dela e lhe deu um tapa na cabeça, o que a fez gemer de dor. -Aie... pra que essa violência? Eu quase fui violentada, sabia?

–É por esse motivo que a senhorita devia prestar atenção aonde anda. Já não dissemos que é perigoso se separar do grupo?

–Mas... mas... -ela fungou, fazendo um biquinho de chatiação. -Aquele cara era desagradável, e fazia muito barulho!

–Tanto faz... apenas vamos para casa. Preciso descansar. -Selene interrompeu, esfregando um dos olhos com expressão de tédio. -Vocês são insuportáveis. Sinceramente.

Frosty suspirou, coçando a bochecha. -Selene, sempre tão amável.

–Cale a boca, miserável...

Anne observou dois vultos que começavam a virar uma das esquinas, e parando para olhar bem, distinguiu Nyx e Victory andando em sua direção. A primeira estava como sempre, indecifrável. A segunda parecia incomodada com algo, porque brincava nervosamente com os dedos das mãos, estas levantadas a altura do peito. Selene virou-se apenas o bastante para ver quem chegava e não fez questão de falar absolutamente nada. Quem começou as perguntas, como sempre, foi Frosty. -E então, o que era?

–Edgar, um dos novos capachos da minha mãe. Estava retirando os cartazes, e provavelmente trazendo mais ouro para o cofre. Falou sobre o Red Eyes.

–Esse que acabamos de capturar? -questionou Selene, da sua posição, um pouco mais afastada deles. Viu quando Nyx concordou com a cabeça, frazindo logo depois as sobrancelhas.

–Não sei por qual motivo... isso está me incomodando bastante. De qualquer forma, irei procurar saber o que está ocorrendo. Eles receberam a notícia rápido demais.

–Não foi apenas coincidência Edgar estar lá? Quero dizer, ele pode ter simplesmente vindo pelo dinheiro e acabou sabendo da notícia, não é? -Neco alegou do seu lado, o que fez a líder se virar em direção a ela.

–Pode ser... mas não me lembro de tê-lo visto realmente surpreso. Ele estava alegrinho e cheio de frescura como sempre desde que o conheço. Mas demonstrou surpresa?

A outra pareceu pensar por um segundo, antes de negar com a cabeça. -Não... ele só parecia feliz com a notícia.

–Pode ser apenas paranóia minha. De qualquer jeito, nós iremos ao próximo Baile... quero descobrir quem expediu aqueles cartazes. O que me lembra... -ela pareceu aproveitar que Anne vinha em sua direção para abraçá-la e desceu o punho na sua cabeça.

–Aie!!! Vocês todos são desalmados!

–Saia da minha vista outra vez e vou colocar uma coleira no seu pescoço.

Anne colocou as mãos na cabeça, fechando ainda mais a expressão, fazendo birra. -Você é tão má! Eu não sou um cachorro.

–Se você fosse um eu te embrulharia e mandaria de presente para aqueles animais da BeastHunter. Considere-se sortuda por sua atual condição. Agora vamos...

–Podemos parar em uma taverna? Estou morrendo de sede...

–Eu quero comer alguma coisa...

Enquanto Selene, Nyx e Neco iam na frente, debatendo onde iriam parar e que tipo de refeição poderiam fazer, Frosty lançou um olhar de pura compaixão para Anne, ainda sentida, que ficara um pouco mais para trás.

–Não ligue... essa é a maneira dela de dizer que se preocupa.

–Eu vou fugir para as colinas e vocês nunca mais vão saber de mim!

–Ahn, claro que sim, com toda a certeza. Hei... quer que eu a leve nas costas?

–Eu não sou uma criança!

No entanto, alguns segundos depois, ela já estava sorrindo novamente, sendo carregada nas costas de Frosty. Talvez o fato dele ser o único homem, e a única pessoa realmente sensata dali, o deixara como um irmão mais velho aos olhos dos outros.

Sabemos bem, no entanto, que tudo o que é bom dura muito pouco...

continua...


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Notas finais do capítulo

Mais um capítulo saindo fresquinho...Denis, acabei optando por essa imagem. Ficou melhor do que a outra? Se não, eu mudo de novo ou dou um jeito de te compensar.
Próximo capítulo: os amáveis, adoráveis, e fdps Seguidores do Pesadelo (vulgo pesadeletes) estão de volta. E a partir de agora eles terão um capítulo só deles. A ordem deve ficar mais ou menos assim BH-JB-SP. Então não se preocupem, não vão mais ficar pensando quando eles voltam a aparecer.
Kisses e até a próxima