Crônicas do Pesadelo {Interativa} escrita por Dama dos Mundos, Kaline Bogard


Capítulo 71
Rumo ao Xeque-Mate


Notas iniciais do capítulo

(Misericórdia, toda vez que vejo a data da última atualização disso aqui tenho vontade de chorar q)

Heeeeeeei, olha quem voltou, tantaran!
Eu jurava que tinha demorado menos dessa vez, ledo engano. Enfim, para compensar a demora temos um cap cheio de discussões, discussões e... discussões (mentira, não brigam tanto assim. Mais ou menos).
Espero que gostem. :3



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/548522/chapter/71

 

Depois de uma noite bastante longa, que cobrou seu preço no dia seguinte, levando boa parte do grupo de Relicários a acordar tarde, uma reunião foi feita às pressas numa sala superior do Palácio. Assim como no Grande Salão, o local era mobiliado com uma extensa mesa e muitas cadeiras de madeira branca, mas estava em um andar alto o bastante para permanecer longe de ouvidos curiosos.

Talvez isso tenha afetado ainda mais os que exageraram no Festival, afinal subir as escadarias circulares não contribuíam em nada para suas dores de cabeça.

— Eu avisei. — disse Nyx apaticamente, recebendo um olhar enviesado de Selene.

— Cale a boca.

— Deixando isso de lado… — Frosty cortou, antes que uma habitual discussão se iniciasse. — Acho que podemos começar. Temos muitas coisas para resolver e pouco tempo.

— Proponho iniciarmos com o assunto mais importante no momento. — Skylar esforçou-se para dizer, a cabeça dele estava martelando de dor já a algum tempo, detestava concordar com Nyx, mas ela tinha toda a razão quando avisara-os sobre a bebida. Claro, ele não admitiria aquilo na frente dela. — Nossa relação como aliados.

Um silêncio incomodo ficou no ar por alguns minutos, sendo quebrado por Nyx logo depois. — Bem, eu diria que isso é meio óbvio, levando em consideração todas as circunstâncias.

O shifter cruzou os braços, erguendo uma sobrancelha para observá-la com um olhar que era no mínimo ameaçador.

— Não temos nada de óbvio aqui. Quando decidimos trabalhar juntos, tínhamos um pacto, nosso grupo com o de vocês.

— Minha memória é ótima, não precisa me lembrar disso. — ela deixou um suspiro escapar pelos lábios, recostando-se na cadeira e pegando uma uva que estava sobre a mesa. Havia uma grande variedade de coisas dispostas ali, talvez porque nenhum dos presentes tivera tempo de comer algo antes de ir para aquele local. — Está incomodado com o que, exatamente? A JusticeBlade ter se desmembrado? Ou seu problema é exclusivamente comigo?

Uma ruga de estresse começou a surgir na cabeça do Alfa, e ele rosnou de uma maneira pouco amigável. Gravor imediatamente ficou a postos, ele sabia que aqueles dois se desentendiam com muita frequência, e era melhor manter seu líder calmo. Ou pelo menos, controlado.

— Nosso pacto foi desfeito com o fim da JusticeBlade. — ele ignorou, propositalmente, os olhares nervosos nos outros membros da equipe que um dia fora rival deles. — Não há nada a ser feito sobre isso, foi escolha de vocês.

— De fato, foi… e ambos sabemos que não há nenhuma razão para temer qualquer tipo de traição ou retalhação vinda de nós ou de vocês. Não agora. — ela colocou a uva dentro da boca e engoliu-a quase que de imediato. — Nós somos amigos.

Ela fez uma pausa, como se aquilo fosse muito difícil de admitir, e depois complementou. — Bem, boa parte de nós. Eu e você somos um bom exemplo do contrário.

— Olha aqui, sua… — ele parou na metade da frase, inspirou e expirou profundamente, e então continuou, tentando manter o mínimo de compostura. — O problema é exatamente você. Ou melhor, o problema é ela. A Emissária, ou o que você queira chamar. Quem nos garante que ela não vai causar mais problemas? Mesmo que em teoria nós dois não possamos nos matar, quem no mundo garante que ela não vai se voltar contra os meus?

Os olhos de Nyx se estreitaram com aquelas palavras, e momentaneamente ela desviou sua atenção para a mesa, sem encarar ninguém. Aquilo era verdade, a Emissária da Loucura era instável, e já ficara claro que era perigosa. Ainda assim, não havia muito o que Nyx pudesse fazer naquela situação. Eles ainda tinham uma Chave para recuperar, fora as que já estavam na prisão de Pesadelo. Depois disso, talvez… talvez fosse melhor ela desaparecer no mundo. O grande problema era que se apegara a certas pessoas o suficiente para aquilo ser algo, no mínimo, doloroso para si mesma.

— Eu lhe dou essa garantia. Afinal, eu controlei isso durante os últimos anos. É tudo o que eu posso oferecer, então terá que aceitar.

Skylar encarou-a por um bom tempo, seus olhos ocasionalmente dançando entre Gravor e Ryan. Ele sabia muito bem que os dois eram muito apegados a Nyx (um deles de uma maneira mais intensa que o outro, vale a pena citar) e aquele confronto poderia ser um incomodo para eles. Era visível que eles mantinham o respeito apesar de tudo, e não parecia que iam se intrometer a menos que as coisas fossem longe demais. Os ombros dele relaxaram um pouco, e o shifter pegou um dos pedaços de carne que haviam numa bandeja mais próxima, colocando-o na boca.

— Vai ter que bastar por hora.

Quase que de imediato, para não deixar o clima ficar mais estranho do que já estava, Lidrin ergueu uma das mãos, pedindo a oportunidade de falar.

— Ainda não tivemos tempo de repassar isso, mas recebi algumas informações do meu irmão enquanto estava em casa. — os rostos de seus companheiros voltaram-se para ele no mesmo instante.

— Seu irmão… — Frosty fez uma pausa. — Ele não estava fora de contato?

— Sim. — Lidrin hesitou, afinal era de conhecimento geral o tipo de pessoa que residia no Mundo Inferior de Meroé, e bem… seu irmão confirmara as dúvidas sobre seu local de ação ser justamente lá. Ignorando-se isso, havia sempre o fator determinante de Sarlos ser, abertamente, um Ifrit. Ninguém ali realmente o conhecia, com exceção de Trixia, que o vira poucas vezes. A shifter parecia bastante interessada no que Lidrin diria, mas, quando cruzou seus olhos com os dele, engoliu em seco e mudou-os de direção.

Aparentemente, ainda estava incomodada… bom, tanto faz, ele ainda estava zangado com ela, também.

— Ele reside atualmente nas Terras de Baixo.

— Desde que ele não esteja contra nosso objetivo, poderia residir até nos Reinos de Surm, isso não faz a menor diferença. — Selene retrucou. Ela estava debruçada sobre a mesa e com a cabeça descansando sobre os braços, de tal forma que poderiam dizer que estava dormindo, não fosse suas ocasionais intromissões na conversa. — E ai? O que foi que ele disse?

— Bem… de acordo com ele, alguns tipos de criaturas estranhas apareceram por lá nos últimos tempos. As descrições batem com os Seres das Trevas que foram extintos por Frosty.

No mesmo instante, um som de algo sendo partido ecoou no salão e o talher que estava entre os dedos de Nyx havia sido separado em metades.

— Eu não tenho certeza se os extingui realmente, mas é verdade que não tivemos notícias dessas criaturas nesses dois anos… — O príncipe disse, de maneira calma, embora fosse visível que estava incomodado. — Tem certeza que não estavam se escondendo nas Terras de Baixo esse tempo todo?

— Difícil de prever, mas se estavam, se esconderam muito bem.

Nyx produziu um ruído baixo difícil de definir e pôs-se a juntar as duas partes do talher, usando a manipulação de metal para reconectá-las. — Aparentemente, já tenho algumas contas a acertar quando tudo isso acabar.

— Você não vai para o subterrâneo sozinha lutar contra essas coisas que nem temos certeza se são Seres das Trevas ou não. — argumentou Frosty, o que a fez franzir sua expressão numa careta.

— Eu não estou impedindo-o de colocar uma coroa sobre a cabeça, o mínimo que pode fazer é não se intrometer nos meus assuntos.

— É um assunto que envolve nós dois, pelo que me consta.

— Se não vai me ajudar, não fique no meu caminho.

— Mais importante que a questão pessoal de vocês dois. — cortou por sua vez Trixia, tentando evitar que a briga se estendesse ainda mais. — Eu acho que temos que levar em consideração o que fez essas… criaturas ganharem força novamente. Se elas estão aparecendo de novo, é porque algo está errado.

— Eu ouvi dizer que eles não eram criaturas daqui de Meroé. — Anne disse, entrando na conversa pela primeira vez. — Acho que todo mundo pensa que vieram de outro lugar.

— Juntando tudo que descobrimos até agora, podemos considerar que são provenientes do Portal na antiga Ragadash? — Gravor questionou, pensativo, o que fez Nyx mover seu olhar incisivo sobre Frosty para fitá-lo. Ele deveria estar acostumado que o grupo não pudesse ficar todo num mesmo lugar sem alguém começar uma discussão, entretanto, aquilo o incomodava. Todo mundo parecia um pouco alterado ali, até quem não dizia nada, e isso nunca era um bom sinal.

— É possível. — Nyx disse, mais calma, ou melhor, retornando ao seu estado de neutralidade. Ela encarou-o por alguns segundos, difícil de entender o que estava pensando naquele instante. Então, prosseguiu. — Se for esse o caso…

— Vamos ter que conseguir as primeiras duas chaves de um jeito ou de outro. A prisão de Pesadelo é o Portal, ele está preso nesse outro mundo, seja qual for, e este mundo ao ser aberto muitos anos atrás, permitiu que criaturas de lá passassem para esse lado. Mesmo que precisem das cinco Chaves Principado para libertar Pesadelo, nada garante que seres mais simples não podem chegar até aqui com apenas duas.

— Eu voto em irmos pegá-las. — Ryan ergueu o máximo que pode sua mão direita. — Sinceramente não dá pra ficar com essa garota o tempo todo.

— Com essa garota você se refere a mim? — Protestou Anne, furiosa.

— É, você é insuportável.

Frosty fez uma expressão sofrida e escondeu o rosto entre as mãos.

— Por favor pessoal, vamos nos acalmar, se ficarmos brigando a cada dois minutos não resolveremos nada. — Gravor bateu ambas as palmas sobre a mesa, o que fez os outros se calarem.

— Entretanto, Ryan e Anne tem razão. Na parte em que afirmam que não podemos ficar juntos a vida toda, é claro. — o príncipe retomou a palavra, de maneira pacífica. — A partir do momento que eu assumir meu cargo, estarei de certa forma preso ao Vale, e Trixia tem seu próprio bando, não pode ficar aqui comigo.

— Isso é verdade. — a garota disse. — Precisamos encontrar uma forma de adentrar as Terras Abandonadas sem passar por… seja o que for que existe lá e vem devorando todo mundo que entra em seu território.

Nesse momento Neco elevou sua própria mão. Ela poderia ter facilmente passado despercebida já que era a mais silenciosa ali, não fosse Selene erguer a voz para chamar a atenção do resto da mesa.

— Ei, Neco quer falar.

A atenção convergiu para a elfa, que instintivamente encolheu-se. Selene apenas revirou os olhos e voltou a sua posição anterior, deitando a cabeça sobre os braços e praguejando alguma coisa em baixo tom.

— Deixa de se apavorar por qualquer coisinha e fale logo.

Neco abriu e fechou a boca algumas vezes, ela já conseguia ouvir o que os outros falavam, o que ajudava bastante ali, já que com as constantes brigas ninguém lembraria de repassar as informações para ela constantemente por gestos. A jovem desistiu momentaneamente do que tinha para dizer e limitou-se a deixar sobre a mesa um pergaminho muito antigo, na direção em que Frosty estava sentado.

— Você deveria dar uma olhada nisso. — ela disse simplesmente, o que fez o príncipe erguer uma sobrancelha, por fim pegando o objeto e abrindo-o. Seus olhos imediatamente pararam naquilo que era o selo real élfico de seu Reino. Ora, o Reino Branco surgira na Era de Pesadelo, ou seja, o pergaminho deveria datar dessa época, dado a sua característica antiquada.

— De onde…?

— Eu encontrei enquanto pesquisava na biblioteca. Não sabia… se você tinha conhecimento dele ou não, por isso decidi trazê-lo comigo. É importante.

— Não faço ideia de onde isso seja, ainda assim. Um Conclave de Raças? — ele leu o título do documento e inclinou a cabeça em confusão. — Nunca nem sequer tinha ouvido falar disso.

— Nem olhem para mim, não sou assim tão antiga. — Selene resmungou, prevendo que alguém a questionaria. — Lidrin? Você viveu nessa época, certo?

O djinn ficou em silêncio por alguns instantes, enquanto apoiava sua mão no queixo. Ele tentava lembrar daqueles anos, mas era muito jovem, as recordações não chegavam com clareza.

— Não, me desculpem. — a única que fora gravada profundamente em sua memória fora do pai sendo executado. E isso era o máximo que conseguia alcançar sem ficar, no mínimo, deprimido.

Frosty desistiu de receber qualquer outra informação dos presentes na mesa e começou uma leitura silenciosa, seu rosto foi ficando gradativamente incomodado enquanto lia, assim como seus olhos azuis já estavam arregalados no final.

— Isso… mas que merda…

Trixia fitou-o com uma expressão surpresa. — O que é?

Selene não fez muito mais que mover sua cabeça minimamente na direção dele, deixando a vista pelo menos uma parte de seu rosto, já que o resto estava coberto pelos próprios braços. — Qual o problema, agora?

— Isso é de uma reunião com representantes de todas as raças provenientes de Meroé. — ele fez uma pausa, apoiando o pergaminho sobre a mesa e escondendo o rosto com as mãos. — Foi de onde surgiu a estratégia para deter Pesadelo. O que culminou com sua prisão.

— Não entendo o que tem de tão ruim nisso. — Ryan argumentou, e parecia não ser o único do grupo a pensar daquele jeito. Todos observavam Frosty com uma expressão de confusão muito justificada. Até Nyx estava curiosa, a julgar pelo brilho em seu olhar, mas ninguém disse mais nada até ele se explicar.

— Esse foi o primeiro evento desse tipo, o primeiro e único. Todos os reis e representantes estavam lá, e eles uniram suas forças. Eles chegaram a conclusão que a melhor opção era enviar amaldiçoados e abençoados, por conta de seus poderes normalmente maiores que pessoas comuns. O local para o aprisionamento também foi decidido nesse dia. Já que ninguém parecia capaz de vencer Pesadelo, enviaram emissários até Ragadash, para que eles também ficassem cientes do que fora dito no Conclave. Em troca deles oferecerem passagem livre até o antigo portal e ajudarem no plano, os Governantes prometeram-lhes a liberdade.

— Er… então, as pessoas continuam desaparecendo nas Terras Abandonadas. — comentou Gravor, coçando a parte de trás da cabeça. — Eles não conseguiram cumprir a promessa, talvez? Afinal, quem amaldiçoou Ragadash foram os próprios deuses.

— Seria tão conveniente. — Selene resmungou de seu lugar.

Trixia tampou a própria boca com a mão direita, percebendo o que realmente acontecera… o que causara a reação estranha de Frosty ao ler aquilo.

— Eles nunca tiveram a intenção de libertá-los. — Skylar disse, as mãos pressionando a borda de madeira a sua frente com força. Algumas coisas da conversa que tivera com o Guardião da Terra, Loke III, voltaram a sua mente. — Afinal, aquilo que os ragadashianos se tornaram é melhor que qualquer outro guardião, não é?

— E… esperem. Isso é terrível, mas talvez consigamos entrar em algum tipo de acordo com eles, não é? — intrometeu-se Ryan, ficando de pé. — Nós podemos conversar! Eles provavelmente vão entender, então poderemos recuperar as Chaves!

— Inútil. Não, menos que inútil. É uma sentença de morte. — Sean, que ficara calado até então, manifestou-se.

— Mas… nós temos que tentar, tem que haver algum jeito. Eles fazem parte desse mundo também, Pesadelo vai prejudicá-los se despertar novamente!

— Não importa. Para eles, ou ela, ou aquilo… nada disso importa. — Skylar cortou, observando o membro mais novo do seu bando. — Foram traídos, foram usados. Eles nem sequer podem se vingar por si mesmos. Simplesmente foram largados naquele lugar, fazendo o trabalho de outros, sem qualquer tipo de recompensa. O que você faria, nesse caso?

O rapaz ficou calado, ele não sabia o que responder àquilo. Pelo menos não tinha nenhuma resposta otimista, então limitou-se a deixar-se cair sentado na cadeira novamente, um pouco mais pálido do que quando levantara.

— Eles nos amaldiçoam, nos odeiam, nos desprezam. A única coisa que podem querer de nós é que apodreçamos sobre a terra. Isso foi o que os Seguidores de Pesadelo barganharam com eles. — Nyx disse, apoiando também seus cotovelos sobre a mesa. — Nós não vamos dar conta sozinhos. Odeio ter que admitir isso, mas vamos precisar de ajuda.

— Uma boa parte de Meroé nem sabe o que está acontecendo, e outra está nos caçando, sabendo ou não. — Anne argumentou. — Não temos ninguém. Ou melhor, não temos pessoas suficientes para fazer frente Àquilo.

— E se… e se convocássemos um novo Conclave? — Neco questionou, a sua voz como sempre bem baixa comparada ao escarcéu dos outros.

— Não vai dar certo. — Selene disse, quase que de imediato, mas segundos depois foi retrucada por Trixia.

— Pode dar. São os representantes de todas as raças, não é? Se eles usam o sistema de votação para tomar decisões, provavelmente vão querer salvar a própria pele. Impossível que o resultado não seja satisfatório, pelo menos para nós.

— Tem toda uma questão envolvendo como diabos vamos fazer para tornar isso possível? Não temos liberdade para nos movermos por Meroé, mal temos recursos. Estamos seguros aqui, mas assim que colocarmos os pés para fora, teremos que lutar com unhas e dentes. Ou presas e garras, o que você achar melhor.

— Nós não podemos deixar que o medo nos impeça de tentar!

— Eu não estou com medo. — Selene disse, num chiado que soava bastante ameaçador. Entretanto, a shifter não recuou. — É inviável, pelo menos na nossa situação atual. Não vai adiantar nada se nós morrermos no meio do caminho.

— Há uma possibilidade. Mas isso geraria um risco igualmente alto. — Lidrin disse por fim, chamando a atenção para si. — Se Frosty, como Rei do Vale das Estrelas, deixar este lugar com uma comitiva e exigir um encontro com o imperador dos humanos, ele não vai poder negar. Bem, estou sendo um pouco otimista aqui, considerando a família real deles, mas pode funcionar.

— Mas podemos ser emboscados antes de chegarmos à Palas. — o elfo contestou, mas era visível que ele estava pensando numa forma de contornar os problemas criados. Era uma ideia louca, sem sombra de dúvida, mas era uma chance, também. Não poderia simplesmente descartá-la. Não com a responsabilidade que já pesava em seus ombros.

— Não se a maioria de nós estiver na escolta. E se Kyria e Helbrand fizerem parte dela, as chances vão melhorar. — dessa vez, foi Nyx que começou a argumentar. — Caçar assassinos é uma coisa, mas ir contra um Rei? Podem haver até tolos que tentarão fazer algo, mas eles não serão um problema. E o Imperador humano atual, por mais velho e senil que esteja, deve permanecer no trono por alguma razão. Ele não desejaria começar uma guerra com um Reino cujo qual não sabe quase nada.

— Tá. Vamos imaginar que chegar até o Imperador seja possível. E depois? — Selene, agora mais desperta, finalmente corrigiu seu posicionamento e cruzou os braços.

— Simples. Proporemos a ele a ideia do Conclave, e contaremos tudo que for necessário para ele acreditar que Pesadelo é um perigo real, e iminente. Se aqui no Vale das Estrelas temos um registro, ainda que antigo, do Conclave das Raças, os outros grupos devem possuir um semelhante. Encontrá-los pode levar algum tempo, mas com o fator de urgência, provavelmente será mais rápido. — Lidrin pareceu ficar minimamente empolgado enquanto sugeria isso. — Convencendo o Imperador, poderemos fazê-lo enviar as mensagens para os demais Governantes. Imagino que ter duas raças unidas em prol de um “bem comum” seja o bastante para ao menos convocarmos a reunião. A partir daí, é pura argumentação para que cheguemos todos a um acordo.

Houve uma pausa em que todos ficaram pensativos ao mesmo tempo, pesando os prós e os contras. Selene suspirou de descontentamento. — Não gosto da quantidade de suposições que tem nesse plano, mas se vocês acham que pode realmente dar certo…

— Eu não sei se posso convencer o Imperador ou qualquer um dos outros Governantes. Tudo vai depender de que eles aceitem enviar soldados e agentes para as Terras Abandonadas, num pressuposto de que um mal antigo vai ressurgir. Isso é tão…

— Difícil de engolir, certamente é. — Skylar disse. — Mas nós fizemos tudo que fizemos até agora porque acreditamos nisso, e tínhamos muito menos informações quando começamos do que temos hoje.

— Acho que temos de tentar. Como já foi discutido, podem estar vazando coisas pelo portal com as duas Chaves Principado já inseridas ali. Mesmo que a ameaça de pesadelo esteja neutralizada enquanto tivermos as outras duas, essas outras criaturas podem causar problemas a todos nós. — Gravor fitou Frosty. — Eu acho que você consegue.

— Não quero atropelar as coisas, mas imagino que seja a hora de expôr o último assunto importante dessa reunião. — Nyx tomou a palavra novamente, e então estava de pé. Ela tirou algo do bolso de suas vestes fluídas e colocou sobre a mesa, e a seguir aquele familiar holograma de conexões metálicas expandiu-se. — Eu consegui estabelecer algumas coisas sobre o último Santuário. É necessário discutirmos isso antes de seguirmos adiante com o plano envolvendo Frosty, afinal teremos que nos separar de novo.

— Não gosto da ideia de nos separamos, sempre acaba dando algum tipo de problema. — Ryan fez uma careta, ele parecia realmente preocupado com aquela situação, afinal de contas sentira na própria pele como fora complicado salvar Anne sozinho. Não que estivesse receoso de acabar em uma situação onde não pudesse contar com outrem, ele apenas sabia que a união fazia a força, na grande maioria das vezes.

— Não é algo a ser discutido dessa vez. Nós estamos parados a muito tempo, suponho que os Seguidores não conseguiram a última Chave ainda, afinal não tenho sentido nada de diferente. Mas isso não significa que eles não estejam próximos disso. Ou na metade do caminho, nesse exato instante. — Nyx deu alguns passos, de um lado para o outro, embora não tivesse se afastado muito da cadeira onde estava sentada até então. — E a missão de Frosty é igualmente importante, talvez mais demorada. As prioridades estão balanceadas.

— A gente debate sobre isso mais tarde, mulher, diga logo o que descobriu.

A mestiça lançou um olhar apático para Skylar, e ergueu a ponta de seu dedo para tocar a teia metálica, fazendo um brilho dourado pulsar por alguns cabos em específico.

— Primeiro de tudo, ela está localizada no subterrâneo. É como um túnel cavado profundamente, está num nível similar ao das “Terras de Baixo”. Talvez um pouco mais profundo que isso.

— Uma construção encrustada dentro do solo, isso é sério? — Anne fez uma careta, tentando entender o que levaria uma pessoa em pensar algo desse tipo. Bem, considerando que o Santuário em que esteve ficava numa ilha flutuante, e o anterior (do qual só ouvira falar), dentro de antigas minas, não deveria estar tão surpresa. Mas mesmo assim… um prédio de metal no meio do nada? Ou melhor, no meio de um monte de terra e sabe lá o que mais? Ridículo.

— Não é uma construção. É uma cidade inteira. E está viva.

Ela encarou os olhares céticos que se seguiram e revirou seus olhos.

— Ela possuí algum tipo de consciência coletiva muito forte, e isso… — apontou metodicamente para a esfera que dera origem ao holograma — Está muito próximo de ser uma chave mestra residencial. Melhor, a cópia de uma chave mestra. É possível ver caminhos que se infiltram na estrutura, e talvez a esfera tenha um efeito de enviar ordens a eles. Entretanto, estou usando o que Nyele disse e o que eu própria pude perceber como base, isso tem muito de suposições. O mais óbvio aqui é que o Santuário funcione como uma colmeia, ou seja, há uma abelha rainha lá dentro com controle total sobre o que está ao seu redor.

— Não é muito diferente do que vimos até então. — Selene argumentou. — O guardião do fogo tinha controle sobre o santuário dele, assim como a guardiã do ar… bem, é claro que ela entrou nas nossas mentes, mas esse continua sendo um meio de alterar nossa percepção.

— Tenho a sensação de que será diferente dessa vez. Esse lugar… é grande demais.

— Você não está incomodada com o fato dele ser… subterrâneo? — questionou Gravor por sua vez, da maneira mais sutil que conseguiu. Aquela mulher havia aberto algumas fragilidades para ele que até então não comentara com muitas outras pessoas, então o mínimo que deveria fazer era tomar cuidado ao tocar no assunto. Além disso, estava preocupado com toda aquela situação. Conhecendo Nyx como achava que conhecia, ela não aceitaria ser retirada do grupo que iria atrás da última Chave Principado, justamente por ser referente ao seu elemento. Talvez ela tivesse problemas se descesse tanto para dentro da terra.

A mulher meneou a cabeça, em negativa.

— Não é isso. Eu estive nos labirintos subterrâneos de Hathea quando precisamos… fugir do Baile de Máscaras. — era uma forma simples de dizer que aquilo havia sido superado.

— Pensando bem sobre isso, esse lugar parece muito artificial. — Ryan opinou. — Não sabemos muito sobre os dois primeiros santuários, certo? Mas conhecemos o do fogo e ar. Ambos parecem ter sido erguidos levando em consideração lugares que já existiam. Além disso, os quatro elementos representam os deuses criadores.

— O metal, ao contrário, é algo que precisa ser obtido. Mesmo já existindo sob as rochas, é necessário que seja moldado de uma maneira que o torne útil. — Trixia envolveu-se na discussão, também. — Talvez seja por isso que pareça tão fora do comum. Uma coisa é escavar tuneis sob as montanhas, outra é construir dentro deles.

— Anões faziam isso todo o tempo. — Anne retrucou.

— Eles faziam. E alguns humanos, e outros dos nossos, nós acabamos espalhando essa cultura. — a shifter progrediu em sua ideia. — A questão é, não são coisas ligadas ao divino, mas sim aos habitantes de Meroé.

— Parece uma prisão. — a voz veio da direção de Lidrin. Ele fitava os fios que se cruzavam para formar extensos espaços vazios, e sentiu um calafrio descer por sua espinha.

Nyx observou-o com o canto do olho, mas nada disse com relação aquilo. Foi Skylar que reiniciou a conversa.

— Seja o que for, isso não parece uma armadilha para vocês? Por que Nyele teria uma “cópia” da chave que rege esse lugar? Nós já discutimos que ela está tentando levar-nos a algum tipo de final específico, então por que diabos continuamos seguindo o que aquela mulher diz?

— Acho que você está vendo as coisas de uma forma negativa dema…

— Porra nenhuma! — ele bateu as mãos na mesa de novo, o que fez a pessoa que estava querendo argumentar consigo, Neco, encolher-se contra a cadeira. Um suave tremor percorreu o lugar e todos os outros observaram-nos com certa inquietação. — Desculpe. Mas nada garante que o final que ela quer, não envolverá todos nós mortos.

— Se ela quisesse nos matar, já teria feito isso, não? — Anne levantou as sobrancelhas, com descrença.

— Skylar tem razão. Não temos como saber. Por isso temos que ir, independente do fato de ser uma armadilha ou não. — Nyx manifestou-se novamente. Algo bastante inusual, afinal acabara de dizer que concordava com a opinião do Alfa da matilha. — Até agora estamos num empate com os Seguidores do Pesadelo. Se eles conseguirem mais uma chave, as coisas podem ficar piores do que já estão.

— Podemos ir todos para o Santuário e imediatamente partirmos para Palas, então. — sugeriu Neco, ainda um pouco encolhida contra a cadeira.

— Não. Há muito em jogo agora. Seres das Trevas voltando ao mundo, aquela dor que sentimos dias atrás, os movimentos daquele que sabemos ser pai de Loke e um Guardião… fora a caçada pelas nossas cabeças. Estamos sendo pressionados demais por todos os lados.

— E, se realmente for uma armadilha da qual não podemos escapar, quanto menos de nós forem pegos, melhor. — Sky suspirou, pensativo. — Inferno, odeio mesmo chegar a mesma conclusão que você.

— Apenas aceite e siga em frente, como estou fazendo agora. — Nyx fechou os olhos e cruzou os braços. — Se meu… se o grupo que for atrás da Chave ter sucesso, vai ser mais um passo dado. Mas, se falharmos… um resultado positivo no Conclave pode ser nossa melhor aposta. É por essa razão que precisamos ter certeza de que sua equipe não falhará, Frosty.

Frosty, que até então estivera pressionando suas mãos em punhos de tal forma que os nós de seus dedos estavam ficando brancos, deixou escapar um esgar de irritação, mas não contestou o que era dito. Ele fechou os olhos e inspirou, expirando lentamente logo depois. Sim, ele previa tudo o que estava em risco, sacrifícios poderiam ser necessários. Não era algo que lhe aprazia, estava com medo do que viria a seguir.

— Sei que começamos essa jornada da maneira errada, pelo menos alguns de nós. Seja por vingança, porque não temos nada a perder, por querermos o melhor para o mundo ou por falta de opção, não dá mais para voltarmos atrás. — Skylar pôs-se de pé, seguido lentamente por cada um dos outros presentes. Frosty foi o único a permanecer onde estava.

— Se esse será nosso último passo, que seja sem arrependimentos. — foi tudo o que disse, erguendo-se também.

Eles se entreolharam, chegando àquela conclusão que não era o que desejavam, mas era necessária. Prontos para iniciarem a jogada final que levaria ao xeque-mate.

Se este xeque-mate seria sobre Pesadelo ou sobre o Mundo, ainda era cedo demais para ter certeza.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Hei, mais uma vez. o/
E com isso chegamos ao fim do nosso Interlúdio (eu ouvi um amém?) e entramos definitivamente no penúltimo arco.
"Ame do céu, ainda tem dois arcos?"
Pois é, com sorte eu termino isso aqui antes do Martim finalizar as Crônicas de Gelo e Fogo.

+ Enfim, tem alguns pontos que eu gostaria de dividir com vocês antes de finalizar meus trabalhos por hoje. O primeiro deles diz respeito a Coroação. Se vocês tem uma memória melhor que a minha (porque a minha é uma vergonha, convenhamos, e eu escrevo devagar pacas), Frosty disse que iria se Coroar poucos dias depois do Festival. Eu tinha toda uma ideia para o evento e tal, mas olhando a estrutura final desse "Interlúdio" decidi tirar isso. Por várias razões, incluindo o próprio clima da fic no momento e a pressa dos personagens. Também não vou simplesmente ignorar isso e seguir em frente, vai ter uma pequena ceninha no próximo cap (espero) explicando o que foi decidido.
"Mas Ame-chan, então não vai ter a cerimônia?"
Isso vai depender exclusivamente de quem vai sobreviver no final dessa treta toda. Hehe.

+ O segundo ponto diz respeito aos especiais, os capítulos que contam "flashbacks" de personagens específicos. Eu decidi colocá-los mais espalhados pelos dois ultimos arcos, dessa forma acho que a leitura vai ficar um pouco menos massante.

+ Ultimo ponto e talvez o mais importante aqui: O próximo arco, como podem notar, vai ser bastante complicado de escrever, tanto para o grupo que irá buscar a Chave quanto para os que irão tentar fazer o Conclave acontecer. Ao contrário da ultima separação que tivemos, essa terá dois núcleos, fora os Seguidores, fora outras coisinhas extras que podem acontecer. Eu vou tentar deixar o mais enxuto possível, tirando cenas que achar desnecessárias e afins, e ainda estou considerando se posto uma parte inteira antes da outra (Explicando melhor: finalizar toda a treta do Santuário do Metal e então fazer a do Conclave, ou vice versa). Enfim, é apenas algo que estou me questionando se é melhor ou não, então não há previsões se vou usar esse formato mesmo. Se quiserem deixar sua opinião sobre isso, sintam-se livres.
A questão é que as cenas de comédia/romance randômicas vão rarear a partir daqui, ficando apenas as que serem necessárias para desenvolvimento dos personagens ou alguns alívios cômicos de vez em quando. Eu espero que com isso consiga dar um tom mais sério a trama, justamente considerando o final que está chegando, mas ao mesmo tempo não pretendo mudar na essência de CdP (pelo menos não mais do que acabei mudando sem me dar conta).

Então, me desculpem pela demora e pelos textões, e espero revê-los em breve.
Kisses kisses e até a próxima. ♥