Crônicas do Pesadelo {Interativa} escrita por Dama dos Mundos, Kaline Bogard


Capítulo 7
Desculpas aceitas, mas...


Notas iniciais do capítulo

Aviso: cenas de violência gráfica.

Boa leitura!



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Assim que os três mais jovens Beast Hunters se afastaram correndo, Sean e Gravor se entreolharam. O segundo no comando balançou a cabeça, respirando fundo.

– Aquele idiota faz de propósito – reclamou.

Sean apenas sorriu de leve. Então moveu o pescoço tatuado tentando relaxar os músculos cansados. Tinha um pouco de preocupação por Ryan e Trix, os caçulas do grupo. Mas a confiança em Skylar era muito maior. O líder da Beast Hunters podia ter defeitos (muitos na verdade), todavia não era imprudente a ponto de arriscar a segurança de seus companheiros em uma brincadeira inconseqüente.

– Vou pegar algo pro jantar – Gravor coçou a nuca – Você cuida da fogueira.

– Okay – veio a resposta do moreno, conseguia fazer aquilo rapidamente, graças a experiência. Podia ver alguns galhos quebrados aqui e ali, além de folhas secas. Abaixou-se e começou a preparar o solo de modo que pudesse acender uma fogueira.

Enquanto isso, Gravor pôs-se a tirar as roupas, deixando-as largadas no chão. Gostava quando a oportunidade permitia se transformar com calma, pois assim a transição era menos complicada e dolorosa. Assumir a forma shifter rapidamente em batalha exigia mais energia e concentração.

Cerrou os olhos castanhos, evocando toda a tranqüilidade da clareira para si. Transformou-se dando vida ao animal. A fera ergueu o focinho e rosnou com os olhos em tom dourado que lumiavam como ouro líquido.

Sean observou fascinado, incapaz de conter um arrepio. Aquela grande criatura irradiava ferocidade tal, que mesmo sendo amigos, não tinha a coragem de Skylar de aproximar-se demais.

– Gravor Trelow Crous, faça o que tem de fazer e retorne em segurança – disse o tatuado para o companheiro.

O tigre rosnou uma segunda vez e, movendo-se surpreendentemente rápido para o peso e tamanho, partiu para a floresta seguindo em sentido contrário ao de Sky, Trix e Ryan. Afinal, não queria atrapalhar a caça dos amigos.

E não queria que ninguém o atrapalhasse.

oOo

– Acho que aqui está bom! – um rapaz alto e troncudo determinou. Os olhos tão escuros quanto os cabelos vasculharam as árvores próximas, em busca de algo ameaçador. Acabou jogando-se no chão e trazendo consigo a grande mochila de viagem.

– Que maravilha! – um garoto mais baixo e rechonchudo vibrou de felicidade. Raramente conseguiam roubar algo tão bom quanto aquelas mochilas. Ele conseguira trazer duas consigo, com dificuldade, porque eram grandes e estavam cheias.

O terceiro rapaz do trio continuou em silencio, mas seguiu o exemplo dos companheiros e jogou-se no chão, exausto por arrastar duas grandes mochilas. Suor escorria pelos cabelos loiro-palha, dando-lhes um aspecto de ensebados.

– Vamos ver o que tem dentro – o moreno falou.

Aquela ordem deu inicio a um verdadeiro ataque! Eles abriram as mochilas e começaram a tirar tudo o que estava dentro. Haviam mudas de roupas, mapas, utensílios e aparelhos que eles não reconheceram.

– Oh! – o loiro exclamou finalmente, ao achar uma garrafinha em uma das mochilas que saqueava. No meio das roupas femininas havia um pequeno recipiente cheio com um líquido cintilante. Nunca tinha visto nada tão bonito na sua vida antes!

– O que foi? – o moreno perguntou curioso.

– Nada! Só tem roupa de mulher aqui – tratou de responder e mentir, fazendo os comparsas perderem o interesse no que fazia. Não queria dividir aquilo com ninguém! Disfarçando, virou-se de costas e sem hesitar abriu a garrafinha e bebeu tudo de uma vez. Tinha um gosto delicioso! Ficou em êxtase por breves momentos, então arremessou o recipiente longe e voltou a remexer a mochila, caçando mais daquela bebida.

Mas não o fez por muito tempo. Um rosnado agressivo assustou os três bandidos. Uma grande pantera negra insurgiu por entre as árvores, paralisando-os de medo.

– Pelos deuses! – o mais baixo praguejou. Venceu a paralisia e pôs-se de pé em um salto, fazendo o premio roubado cair no chão.

– Ca-calma – o moreno também ficou em pé, evitando movimentos bruscos para não assustar a fera que começou a rodeá-los, mantendo vigilância acirrada.

O loiro, sentado no chão, sentiu gotas de suor brotarem na testa, voltando a grudar os fios loiros. Ele tinha uma pequena faca presa na parte de trás do cinto, mas duvidava que conseguiria fazer algum estrago naquele animal selvagem.

E a duvida virou certeza quando um outro animal selvagem surgiu pelo mesmo lugar: um lobo negro, bem menor e mais leve do que a pantera, igualmente ameaçador e agressivo. A segunda fera fez o ladrão moreno ter um insight.

– São shifters... – exclamou sentindo a esperança surgir em seu coração. Aquela era a única explicação que justificava um lobo e uma pantera andando juntos pela floresta. Quase sorriu – São Shifters!

– Podemos conversar... – o baixinho gesticulou com ansiedade. Queria salvar-se a qualquer custo.

– Acho que não – a voz divertida e desconhecida atraiu os olhares dos três ladrões. Eles viram um rapaz de estatura mediana encostado em uma das árvores. Os cabelos eram ruivos e lisos, e um tapa-olhos cruzava o lado direito de sua face. Trazia peças de roupas jogadas displicentes sobre um ombro e segurava um machado ao lado do corpo – Isso aí é nosso.

Os pobres bandidos olharam as mochilas reviradas. O moreno, que alias parecia o líder, apressou-se em explicar-se, evitando olhar para os animais.

– De-desculpa. A gente achou essas coisas jogadas no meio da floresta, sabe? Pensamos que não era de ninguém... pode levar de volta, não está faltando nada.

– Há, há... – o ruivo riu com humor – Desculpas aceitas.

O alívio dos três foi imediato. E durou menos de um segundo. Sem qualquer aviso ou antecipação a pantera negra saltou sobre o loiro sentado no chão. As grandes patas de garras afiadas cravaram fundo no peito magro. O peso do animal partiu-lhe as costelas e atravessou-lhe os pulmões. Um grito de dor e terror começou a escapar de sua garganta, mas foi calado pelas presas afiadas da pantera que cortaram não apenas sua voz, mas sua garganta, dilacerando-a. Sangue jorrou no chão coberto de folhas mortas. Sangue sujou o focinho da pantera.

Quase simultaneamente o lobo deu vazão à sua ferocidade. Seu alvo foi o mais baixo dos três, de reação um tanto rápida e que parecia prestes a sair correndo dali. Sem piedade fechou os dentes pontiagudos na perna do rapaz, que gritou de dor e susto, e caiu com as costas na terra, batendo a cabeça com força a ponto de ficar tonto. Talvez uma última benção concedida: quando recebeu o ataque que acabou com sua vida, ele mal percebeu.

Foi tudo tão rápido, que o terceiro homem nem compreendeu direito o que acontecia, assistindo enquanto seus amigos eram dilacerados diante de seus olhos. Teve um pálido reflexo de fuga e chegou a dar um passo, mas a voz divertida do ruivo o manteve no lugar.

– Desculpas aceitas, mas... – ele sorriu – Deu empate: vocês pegam coisas da gente, nós pegamos coisas de vocês...

Terminou a frase de escárnio e assistiu enquanto o lobo e a pantera realizavam um ataque duplo e sincronizado, derrubando o inimigo ao solo para roubar-lhe a vida. De forma dolorosa: os gritos do rapaz ecoaram como uma trilha sonora sinistra e breve. Morte rápida, apesar de tudo.

– Que bagunça – Skylar olhou para as mochilas reviradas, algumas peças no chão. Então voltou-se para os companheiros. A pantera estava sentada sobre as patas traseiras, lambendo calmamente o sangue que sujava seu focinho. O lobo ainda dava algumas mordidas pelo corpo do último ladrão, como se buscasse a confirmação de sua morte.

O líder da Beast Hunters não podia negar sua decepção. Tinha pensado que os ladrões dariam mais trabalho! Quem diria: eram apenas uns pés rapados que parasitavam pelo reino. Enfim...

Ele avançou alguns passos e colocou as roupas e o machado de Ryan ao lado do lobo negro.

– Ryan do Reino de Palas, você trouxe muito orgulho a nossa equipe essa noite.

Os olhos verdes do lobo brilharam de modo sobrenatural iluminados pelos primeiros raios do nascente. A noite chegava ao fim e o novo dia acolhia a felicidade do jovem lobo por ter recebido um elogio de seu líder. Lobos possuíam a hierarquia mais rígida entre todos os clãs de shifters. Ter sua força reconhecida por um superior era o maior elogio que se podia receber.

Em seguida Skylar voltou-se para a pantera. Tirou o casaco preto que usava e colocou com cuidado sobre o animal.

– Trixia Oliver, você também trouxe orgulho a Beast Hunters essa noite.

Mais comedida, a pantera apenas agitou a longa cauda, em um modo discreto de mostrar satisfação, algo típico de sua espécie.

Sky ficou em pé e bateu a poeira dos joelhos da calça preta.

– Vamos juntar essa bagunça, amigos. E voltar para o acampamento! O mundo tornou-se um lugar um pouquinho mais seguro, agora é hora de descansar.

A pantera rosnou baixo, enquanto o lobo erguia o focinho e uivava alto e forte, comemorando a vitória alcançada.

oOo

Sean observou o sol que se erguia forte por sobre as árvores. Mal podia acreditar que a longa e cansativa noite chegara ao fim. Voltou os olhos para Gravor, que vigiava o grande javali assando na fogueira. Ia dizer alguma coisa, mas vozes animadas e inconfundíveis chegaram até eles: Sky, Trixia e Ryan estavam de volta. A garota vinha protegida pelo casaco de Skylar e trazia a grande mochila nas costas. Os dois rapazes carregavam duas mochilas extras, a de Sean e a de Gravor. Os caçulas tinham manchas de sangue seco no rosto.

– Grav! Sean! Voltamos! – o ruivo exclamou e apontou o javali assado – Sentimos o cheiro disso de longe. Olhem as mochilas. Acho que está tudo aí.

– Eram três bandidos! – Ryan sentia-se agitado ainda – Mas nem deram trabalho!

Enquanto os dois rapazes sentavam-se ao redor do fogo, Trix pegou suas roupas e foi vestir-se atrás de uma das árvores. Estava pensativa e um pouco assustada: descobrira que sua preciosa poção desaparecera! Ou o ladrão a bebera ou jogara fora. Fosse qual fosse a opção, ela estava em maus lençóis! Precisava daquela bebida o quanto antes. Teria que dar um jeito na próxima cidade ou vila em que parassem.

– Pelos deuses – ela sussurrou fazendo umas contas nos dedos.

– TRIX! – Skylar chamou por ela – Ta tudo bem?!

Ela assustou-se um pouco e terminou de colocar a roupa rapidamente, para voltar ao lado dos companheiros forçando um sorriso. Estendeu o casaco de volta ao líder.

– Está sim. Obrigada por isso – sentou-se ao lado dos rapazes e recebeu uma porção de carne, agora que as mochilas tinham sido recuperadas, os utensílios como pratos e facas também, cada um dos cinco possuía o seu.

– Delicia! – Ryan exclamou de boca cheia.

– Gravor Trelow Crous, ótima caçada! – Skylar elogiou sabendo que seu braço-direito era responsável pelo jantar – Sean Kuzuri, obrigado por cuidar do nosso acampamento.

Os dois mais velhos assentiram com um gesto de cabeça e continuaram a comer. O resto da refeição foi feito em silêncio. Depois cada um dos cinco encontrou um bom canto naquela lareira e, finalmente, a Beast Hunters pôde descansar.

Continua...


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Notas finais do capítulo

O que será essa garrafinha da Trix... hum...? Mais uma vez nossos queridos pesadeletes não aprontaram nesse capítulo. Mas é assim mesmo: você planeja algo e a história te surpreende tomando outro rumo.

Ah, perceberam que a gente conseguiu estabelecer um padrão: atualização toda quarta-feira e sabado! Duas vezes como prometido. :3

Abraços e espero que tenham gostado.