Crônicas do Pesadelo {Interativa} escrita por Dama dos Mundos, Kaline Bogard


Capítulo 63
Entre gatos, pactos e enigmas.


Notas iniciais do capítulo

Yooo! Demorei muito? Pra caramba, né... sorry, galerinha.
Eu sou enrolada, esse cap está semipronto a duas semanas (ou mais) e não consegui terminá-lo até hoje mais cedo. BUT! Ele está bem grandinho pra compensar a demora. :p
Tenham uma boa leitura, pessoal :3



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Frosty posicionou-se tranquilamente no templo do Vale das Estrelas, onde água vertia das paredes circulares e escorria por todo o chão. O lugar parecia ter sido erguido usando vidro, paredes, piso e teto eram translúcidos, de maneira que toda a luz atravessa-se as superfícies e era criado um gigantesco espelho líquido no solo. Localizava-se sob a grande cachoeira, um pouco distante da cidade em si, mas ainda no território dos elfos.

Ele escolhera aquele local por dois motivos: ninguém o seguiria até ali, e era o melhor lugar para manter uma conferência mágica com Nyele.

A entrada para o recanto sagrado ficava acima do nível do solo, era uma passarela também criada em material transparente, que cortava o templo ao meio. Andando por ela, o elfo evitava causar perturbações na superfície da água. Precisava de uma imagem perfeita, o feitiço que tinha em mente se dissolveria se a menor onda atravessasse o espelho.

Ele juntou as mãos em concha perto a face e murmurou algumas palavras em élfico, soprando-as em seguida. Uma diminuta esfera azul brilhante formou-se entre elas, pairando no ar por um instante e então caindo na direção da piscina. Quando atingiu a água três ondas propagaram-se do ponto de impacto, que ficava exatamente no centro de todo o edifício.

Frosty esperou, e então a imagem de Nyele foi refletida.

— Ora… se não é o pequeno príncipe.

— Boa noite, Nyele.

Ela abriu um sorriso muito sarcástico para ele. — Nyx não vai mais tratar comigo?

— Eu sei que você previu isso. — Ele sentou-se em posição meditativa na plataforma, o parco vento que entrava fazia a túnica branca que usava sacudir-se, assim como os cabelos.

— De fato. Ainda assim sempre me surpreendo com sua maneira prática de resolver as situações. Afinal, querido Frosty, por minha causa você quase morreu.

— Ha… imagino que você também sabia que eu poderia ser salvo.

— Eu sei de tudo. — os olhos vermelhos picaram para ele, confiantes.

— O que a torna uma manipuladora muito eficiente.

— Sabe, eu salvei sua irmã de consideração ingrata. Se a maldição tivesse atingido ela, no estado em que estava, depois de ter cedido quase toda a sua energia vital para aquele djinn, jamais teria sobrevivido.

— Ela não aceitaria tal argumento mesmo que explicasse todos os prós e contras, e não é sobre isso que vim debater. — o elfo permanecia calmo. Além de não ser da sua natureza irritar-se, discutir com Nyele era inútil.

— É sobre a próxima Chave?

— Por que você faz perguntas se já sabe das respostas?

— Porque algumas respostas mudam de acordo com a escolha de certas pessoas. — a imagem revirou os olhos, como se aquilo fosse óbvio.

— Então considere… — Frosty inspirou profundamente. — Que eu decidi fazer uma troca contigo.

— Vai oferecer os sais que estão ligados à sua vida para mim? Nunca sei dizer se você é extremamente confiante ou estupidamente tolo.

— Talvez um pouco de ambos. — isso ele tinha que admitir, infelizmente. — O que me daria em troca deles?

Nyele estreitou os olhos. Sua aparência oscilante, que ia da juventude à maturidade e vice-versa, agora demostrava uma experiência sem precedentes. — Há uma chave… uma chave para o centro do Mundo Fabricado de Nicolaus

Frosty franziu o cenho, confuso. — Para o Santuário de Metal?

— Sim. Ele é diferente de todos os outros… em vários sentidos. Essa chave é como um segundo ponto de comando. Ela oferecerá ao seu portador poder sobre a vida superficial que habita o Templo… mas não garanto que tornará as coisas mais fáceis.

— Não está tentando nos enganar de novo, está?

— Creio que tenha percebido que minha intenção para com vocês não é má.

— Talvez eu não seja tão confiante de suas boas intenções, afinal.

— Oh… isso é muito ofensivo. — e a imagem estalou a língua, decepcionada. — Bom… me contento com sua simpatia. Fazer negócios com você é muito mais fácil do que lidar com sua irmã.

— Me elogiar não vai fazer com que eu mude de ideia, Nyele. — o elfo sorriu suavemente, cruzando os braços.

— Nesse caso, eu admito que não usarei a inocência de ninguém contra tal pessoa.

— Isso é uma promessa?

— Algo muito próximo de uma. — ela estendeu a mão, como se estivesse de frente para ele, e não em um local muito distante. — Suas armas estarão bem guardadas, Príncipe do Vale das Estrelas. Deixe-as cair na água, e chegaram sãs e salvas às minhas mãos, e juro que não serão utilizadas por ninguém.

— E quanto a chave?

— Enviarei para um dos espaços abertos de seu território. Troca equivalente… eu não evitarei entregar a minha parte do acordo, pode ter certeza.

Ele não estava muito certo de que Nyele estava dizendo tudo o que devia, mas decidiu contar com sua intuição de que, ao menos, os sais estariam seguros. Retirou o embrulho onde estavam envolvidos, localizado em meio as suas vestes, e observou as lâminas finamente trabalhadas por uma última vez. As armas eram talhadas em ouro branco, e opalas que um dia foram azuis como os olhos dele estavam implantadas nos cabos. Agora o tom delas estava mais para roxo, quase chegando ao negro.

Era a última coisa material que restara de sua família, mas ele preferia livrar-se de todo o sofrimento causado por elas. Já tinham feito seu trabalho, ajudado-o a vencer a guerra contra os Seres das Trevas e salvado sua vida algumas outras vezes.

Mas não valia a pena guardar lembranças dolorosas de morte.

Ele apoiou o par de sais entre as duas mãos e ergueu-os em direção a imagem límpida da Guardiã.

— Isso que você está fazendo agora… — interrompeu-o Nyele, um pouco mais branda. — É um grande passo.

— Eu sei.

— Você verá as mudanças que ocorrerão. Parece-me que… você amadureceu bastante, desde que nos conhecemos.

Frosty sorriu brevemente. — Até breve, Nyele.

— Até breve, futuro Rei.

Então, ele soltou as armas. Elas caíram, girando e girando, até que atingissem a água e afundassem imediatamente. E, quando as ondas vieram e despedaçaram a imagem de Nyele, sabia que não encontraria os sais amaldiçoados no fundo daquele salão.

Eles não estavam mais lá.

 

oOo

 

Três dias depois:

 

— Oh, pelos deuses, é ótimo rever vocês! — quando Trixia chegou ao ponto de encontro acompanhada de Lidrin, a primeira coisa que fez vou se jogar sobre Skylar e Gravor, que já estavam lá, e abraçá-los como se não os visse a meses. Selene foi a última a chegar, com um top mais curto que suas blusas habituais e um curativo no lugar onde tinha arrancado a própria pele à força

— Nossa, como vocês são barulhentos.

— Ei, Selene, o que você arrumou ai? — Lidrin, sutil como sempre, foi lá cutucar a bandagem e tomou um soco no antebraço que o fez afastar-se de novo. — Ai! Caramba, isso é jeito de se tratar os amigos, eu estava preocupado!

— Guarde sua preocupação para você mesmo, estou ótima. — a expressão séria se suavizou para depois dar lugar a simples satisfação. — Além disso… se conseguirmos alguém para ir à cidade no nosso lugar, podemos ganhar uma recompensa bem alta. — ela revirou a mochila e tirou de lá de dentro o contêiner com os olhos de Toque Mortífero. Os outros quatro aproximaram-se rapidamente para ver mais de perto.

— Uau, que olhos mais legais! — animou-se Trixia, surpresa com a coloração e formato estranho deles. Skylar pegou o recipiente e virou-o pasmo.

— Você deu conta dele sozinha? A recompensa por ele era absurda!

— Tsc… fala como se eu não fosse capaz de tal coisa. — Selene revirou os olhos. — Na verdade ele foi muito superestimado. Não foi tão difícil assim cortar sua cabeça, apesar daquelas mãos dele terem me dado um pouquinho de trabalho.

— Dá para notar, como é a sensação de ter sua pele apodrecendo? — questionou uma vozinha do lado dela, pelo que parecia estavam mexendo outra vez em seu curativo. Selene desceu a cabeça para encontrar Anne, agachada, e com um dedo sobre a gaze. Agarrou-a pela nuca e forçou-a a ficar de pé novamente.

— Parem de ficar me cutucando, isso dói!

A elfa desvencilhou-se da mão pesada da parceira e saudou os outros com um aceno. — Ei, gente! Era para a Nyx ou o Frosty guiá-los, mas ambos estão meio ocupados no momento, então vão ter que se contentar comigo mesmo!

— Qual a probabilidade da gente se perder? — questionou Gravor para Lidrin.

— Muito grande.

Ela bufou, irritada com a falta de confiança e cruzando os braços, atitude bastante intimidadora, já que estava usando as manoplas. — Vamos logo antes que eu deixe vocês para trás!

Estranhamente Anne conseguiu mantê-los na trilha certa, mas isso não foi de muita ajuda quando encontraram o segundo guardião das fronteiras.

Acontecera enquanto a pequena elfa irritava-se com um grupo de fadinhas que habitavam o bosque. Durante o Festival das Flores e a época que o antecedia, muitos elementais juntavam-se aos elfos para abençoar os festejos. Fadas e salamandras eram os mais comuns, por serem ligadas as plantas e ao fogo, respectivamente. Contudo, as primeiras tinham o péssimo hábito de cantar o tempo todo – com exceção das que habitavam as grandes cidades, entre elas as fadas da Grande Biblioteca Real de Shion.

Anne parecia cansada delas. — Eu não aguento mais! Essas malditas não me deixam dormir.

Skylar abanou a mão para espantar o grupo de perto dele. Trixia as encarava com visível interesse, achando-as bastante simpáticas.

— Bobagem, não deve ser assim tão ruim. — contestou Lidrin, com algumas das criaturinhas descansando por sobre os cabelos esverdeados.

— Diz isso porque elas não fazem serenata debaixo da sua janela! — Anne bufou, tampando os ouvidos em seguida e praticamente gritando para que as fadinhas parassem de cantar. As elementais que descansavam sobre a cabeça do Djinn debandaram. As que ainda estavam no ar elevaram as vozinhas finas. — Eu vou esmagá-las!

— Deixe as fadas em paz. — retrucou Selene, segurando-a pelas costas da blusa e impedindo assim que mais nova agarrasse os seres com as mãos. — Nada de extinguir os habitantes da floresta, Frosty teria um chilique depois.

Anne parou de se mover e franziu o cenho, esquecendo-se completamente de sua raiva. — Falando em habitantes… Nyx mencionou que deveria ter uma guardiã por aqui, mas…

— Correção… — uma voz de timbre felino ecoou pelo ar a volta deles, fazendo com que instintivamente o grupo se juntasse. As fadas haviam desaparecido. — … um guarrrdião. A propósito, que olhos liiiindos você tem ai…

Selene segurou com mais força o recipiente com os olhos de Toque Mortífero. Não tinha como o dono da voz estar atrás de qualquer um deles, já que estavam costas a costas, mesmo assim era como a voz viesse de sua nuca. Então, no ar acima deles, desenhou-se um sorriso felino, como uma lua crescente.

Automaticamente eles se separaram, girando os corpos para o centro do círculo que se formara. Armas foram sacadas em segundos e apontadas para a figura bizarra que começara a aparecer ali.

Podia-se ver muito pouco de seu corpo no geral. As pernas traseiras estavam visíveis, e eram como as de um gato preto. Os braços e mãos também, terminando em garras afiadas. Um colete comprido cobria o tronco e a parte superior das pernas, chegando até as coxas felinas. Havia uma capa com capuz feita de retalhos de tecido roxo e preto, que dava a impressão de que ele tivesse orelhas de gato e tampava quase que completamente seu rosto. A julgar pela calda peluda que exibia e as outras partes expostas de seu corpo, poderiam muito bem haver realmente orelhas felinas embaixo do capuz.

Seu rosto era uma incógnita. O máximo que era possível entrever era o sorriso felino, algo maníaco, e o brilho amarelado do olho direito. A criatura elevou uma das patas dianteiras aos lábios e começou a lambê-la, agachando-se como um verdadeiro gato. — Vocês são grosseiros… apontando arrrmas para um anfitrião deste jeito. Detestável… não lhe ensinaram modos?

Anne engoliu em seco, abaixando as mãos com suas pesadas manoplas. — Hum… você deve ser Cheshire! Mas o seu posto não deveria ficar na fronteira norte?

— Gatos vão onde querem.

— O que raios é você? — questionou Skylar, por impulso, mantendo o bastão empunhado na direção daquela coisa.

— Um gato… miau! Não é óbvio?

Antes que o ruivo atira-se o bastão no gato, Gravor deixou o machado cravar-se no chão e segurou seu ombro com a mão livre. Se Anne sabia sobre aquela criatura, fosse ela o que fosse, talvez não deveriam atacá-la tão levianamente.

— Ele é um híbrido… alguém que se uniu tão profundamente com o cerne animal que acabou assemelhando-se a um. — a elfa engoliu em seco, levando um dedo indicador a testa. Fora mais ou menos isso que Ryan dissera, antes, não? — É um dos quatro guardiões das fronteiras… mas Nyx garantiu que se entrássemos no território por este lado encontraríamos Anamorph…

Cheshire rosnou, inquieto. — Aquele inseto voadorrr irritante, resolveu que queria mudarrr seu território do nada! — ele apoiou as patas dianteiras no chão, os pelos se eriçando.

— Então você foi realocado, não porque quis, mas por obrigação. — Selene revirou os olhos. — Como um gato vira-latas.

O híbrido rosnou mais uma vez, demonstrando sua clara irritação. — Territórios são territórios, desde que haja olhos para que eu abranja minha coleção, por qual motivo me importaria? — ele pôs-se de pé num salto e começou a flutuar no ar, assumindo uma posição meio curvada, quase fetal. — Dito isso… vocês precisam provarrr seu valorrr para seguirrr adiante.

— Não, espere! Frosty disse que…

Anne foi interrompida por um chiado do guardião, que balançou uma garra para ela, como quem diz “não, sua tolinha”. — Sabem, o príncipe não está convosco, então como eu poderia saberrr se são confiáveis de verdade?

— Eu acabei de fazer esse mesmo caminho!

— E daí? Você não tem autoridade para trazerrr ninguém para dentro, nem a conheço! Quem dirá seus amigos.

— Olha aqui, sua bola de pelos…! — Skylar foi impedido mais uma vez de partir para cima do felino por Gravor. Estava começando a ficar difícil para o segundo em comando acalmar a situação, ele já conseguia ver fagulhas acendendo-se nos olhos de Selene, e ela estava distante demais para que a alcançasse. Trixia também parecia prestes a perder a paciência, mas Lidrin havia segurado sua mão em um aviso mudo.

— Estamos no território dele, seguimos as regras dele. — prosseguiu o Djinn, mantendo a calma. — Se és um guardião, diga sua condição para que possamos entrar no Vale.

Cheshire voltou a endireitar-se e pousou os pés no chão. A calda sacudiu de um lado para o outro, enquanto o sorriso crescia. — Se vocês acertarem o enigma que eu lhes farei, deixarei que passem. Ou podem me entregarrr esse liiiindo parrr de olhos também.

— Nem pensar… faça sua pergunta, vira-latas. — Selene trouxe o recipiente com os olhos para mais perto, ela perdera parte da pele da cintura por causa daquelas coisas… e quando retornassem a jornada todos ali precisariam de dinheiro. Sem chance que ela os entregaria fácil assim.

Cheshire fez uma careta, mas passou os olhos a sua volta, parando-os sobre Trixia. Então apontou para ela com uma das garras, arrogantemente. — Você vai responderrr, criança shifterrr.

— Er… por que eu? — ela definitivamente não queria aquela responsabilidade… talvez tivesse passado tempo demais com Gravor. Ao pensar nisso, ela meneou a cabeça. Foco, Trix, foco! — O que acontece se eu errar?

— Eu arranco os globos oculares de todos vocês e dou os corpos para Vriska devorarrr. — o gato balançou a calda, coberto de contentamento.

— Espera, deixe-me responder! — cortou Lidrin, mas o híbrido fez que não com a cabeça.

— Você não… djinns são traiçoeiros e inteligentes demais. Isso não teria graça e muito menos seria um desafio!

Isso não vai terminar bem… — Gravor chegou a pensar. Tinha fé total que Trixia acertaria, aquela pirralha conseguia ser extremamente analítica quando queria. Mas caso ela errasse… não poderia fazer muito para impedir que aquele gato fosse extinto da face de Meroé. Aliás, ele gostava muito de seus olhos, então nem haveria razão para intervir…

— Argh! Faça logo a pergunta! — a jovem shifter apoiou as mãos na cintura e estufou sua diminuta comissão de frente para ganhar postura. — Vocês estão enrolando demais, estamos perdendo tempo aqui.

— Mas que criança mais ansiosa. — o gato sorriu, e voltou a desvanecer, como se virasse fumaça, deixando apenas os dentes brilhantes no ar. Então, eles moveram-se para declamar.

 

Não se pode verrr, não se pode sentirrr,
Não se pode cheirarrr, não se pode ouvirrr.
Está sob as colinas e além das estrelas,
Cavidades vazias – ele vai enchê-las.
De tudo vem antes e vem em seguida,
Do riso é a morte, é o fim da vida.

 

Trixia engoliu em seco.

Primeiramente, não tinha ideia por onde começar.

Ela repetiu mentalmente as palavras. Podia sentir a tensão a sua volta… eles estavam em maior número, mas o oponente podia simplesmente aparecer e desaparecer quando lhe conviesse. Se ela errasse teriam alguma chance de contra-atacar uma possível investida, mas…

— Trixia Oliver. — ela ouviu a voz de Skylar dizer. O Alfa estava usando aquele tom de líder, significava que o que viria a seguir seria uma ordem. Seus olhos verdes desprenderam-se do chão repleto de folhas mortas da floresta para observá-lo. — Concentre-se no enigma. O resto fica por nossa conta.

Um pouco mais calma, ela assentiu e percorreu o lugar com a visão, englobando o máximo de informação que poderia utilizar. Os dois primeiros versos fizeram-na chegar a várias conclusões. Pensou em “Nada” e no conceito de “Vazio”, mas nenhum parecia certo naquela ocasião. “Tempo” também não se enquadrava. Algo que pode preencher cavidades vazias? Qualquer coisa pode.

Ela parou de mover-se quando visualizou as sombras das árvores que dançavam no chão, disputando espaço com os poucos raios de sol.

Sombra? Não… a sombra só pode ser vista enquanto houver luz. Mas se não existisse uma luz tudo seria…

Trix elevou as mãos aos lábios e riu. — Oh… realmente parece idiota quando chegamos a uma resposta.

O sorriso de Cheshire apagou-se. — Diga sua resposta.

— É o escuro. Que não pode ser sentido, que se encontra no universo e por dentro da terra. Ele preenche espaços vazios, está no começo e no fim de tudo.

A criatura voltou a aparecer, rosnando em um timbre baixo, o único olho brilhando ameaçadoramente sob o capuz. — Está correto.

Visto que todo mundo parecia prender a respiração, houve um suspiro de alívio coletivo quando o gato anunciou o resultado. Ele voltou a aparecer, desta vez sentado em um tronco de árvore, colocando as garras em frente ao rosto como se as mirasse. — O caminho está aberrrto, contudo…

— Oh, não me venha com esse “contudo”, seu gato trapaceiro. Eu também tenho uma pergunta a fazer para você. — Anne cortou-o instantaneamente. O híbrido não fez mais que bocejar em resposta.

— Miau… faça, então.

— Nyx pediu-me para perguntar… na verdade, ela esperava que eu perguntasse à Anamorph, mas…

— Poupe-me dos detalhes, não quero saberrr o que aquela calamidade ambulante pensa.

Anne uniu as sobrancelhas, oferecendo educadamente o dedo médio para ele, o que fez uma risada baixa soar em resposta. Então decidiu apenas ignorá-lo e fazer a pergunta: — A guerra chegará?

O grupo viu Cheshire espreguiçar-se felinamente e desaparecer mais uma vez. No segundo seguinte, Selene deu falta de algo em suas mãos. Quando desceu o olhar para ver o que era, o híbrido já estava flutuando bem acima deles novamente, atirando despreocupadamente o recipiente com o par de olhos para cima, e pegando-o logo após. — Aquela coisa anda fazendo deduções preocupantes… a propósito, eu geralmente faço um enigma para cada um que deve entrarrr no Vale, mas estou levando isso aqui como compensação pelas… cinco questões que não fiz. Considerem-se sortudos!

— Seu felino filho da… — Selene automaticamente acendeu as palmas das mãos mirando o gato flutuante. Como esperado, porém, as chamas nem chegaram perto de acertá-lo, e ele já havia mudado para um lugar completamente diferente. — Devolva!

— Não posso fazerrr isso, essa é uma aquisição incrível para a minha coleção. — de um ponto a esquerda deles, Cheshire esfregava o contêiner contra o rosto, demonstrando uma satisfação quase doentia. — E sobre a guerra… — ele desdenhou Selene, que mirava-o uma segunda vez, determinada a derrubá-lo. — Se vierrr ou não… sem sombra de dúvida será maraaaavilhosa.

E, quando as outras esferas de fogo chegaram ao local que o guardião estava e explodiram, o grupo percebeu que ele tinha ido verdadeiramente embora desta vez. Em seu lugar havia apenas um portão prateado com o formato de árvores se entrelaçando, talhado entre um tronco e outro e mexendo-se suavemente como se estivesse vivo. Os galhos que o criavam foram separando-se, deixando entrever uma paisagem além daquela floresta.

Lidrin, que já abrira a boca para protestar com Selene, alegando que ela queimaria a floresta inteira daquele jeito, paralisou-se no ato. A elfa também demonstrou surpresa ao olhar naquela direção, esquecendo temporariamente da raiva que sentia do guardião por tê-la furtado sem a menor vergonha. Skylar guardou o bastão que ainda segurava, e Gravor precisou esforçar-se para arrancar o machado do chão, embasbacado que estava com a vista. Trixia foi a primeira a correr em direção ao portal e passar por ele, sentindo o vento chegar ao seu rosto e perfumes de inúmeras flores acariciarem seu olfato apurado.

Aquele lugar era único… parecia realmente um paraíso, e ela nascera no conforto e só percebera o lado ruim do mundo quando saíra de casa para explorá-lo. A julgar pelas expressões de animação do resto do grupo, que acabara de atravessar o portal, eles deviam sentir-se da mesma forma.

— É como voltar para casa. — Skylar deixou escapar, enxugando rapidamente uma lágrima que caíra do olho bom, antes que alguém nota-se.

— Esse lugar… — Selene encarava os campos de flores, a cidade mais a frente e o rio sinuoso. As palavras perderam-se na garganta, nunca conseguiria definir o que estava sentindo naquele momento. Era um misto de paz e alegria… não imaginava que um lugar poderia causar-lhe esse tipo de reação.

Lidrin viu aquele Vale e lembrou-se que Frosty era, originalmente, um Príncipe expulso com seu povo do próprio reino por conta da guerra. Imaginar que depois de tamanha catástrofe ele poderia se reerguer e ajudar a criar um lugar daqueles…

Gravor compartilhava das sensações dos outros integrantes de sua equipe. Era surpresa, alegria, emoções fortíssimas que chegavam a ele como ondas. Um sorriso largo atravessou seu rosto. Parecia mesmo que o Vale das Estrelas podia tornar-se um lar para qualquer um que precisasse.

Sentindo uma estranha animação simplesmente por poder respirar aquele ar, por estar viva naquele instante, Trixia levou as mãos em concha perto da boca e gritou. — Esse lugar é maravilhoso demais! Tão, tão incrível!

— Oh, acho que vocês foram pegos pelo deslumbramento do Vale das Estrelas. — Anne ria dos outros enquanto passava pelo portão, que voltou a fechar-se atrás dela. Olhando o cenário, conseguiu concluir que saíram em um local bem afastado de onde ficava o portal que ela usara pela primeira vez. — Nem parece que acabou de ser roubada, Selene.

A elfa tossiu, cruzando os braços e desviando o olhar. — Não era tão… importante assim. De qualquer forma, não conseguiria seguir aquele maldito gato.

A mais nova sorriu, passando por entre os corpos dos outros para tomar a frente e zombar um pouquinho mais. — Talvez você devesse pedir uma compensação para Frosty.

— Você está muito animadinha hoje, talvez eu precise dar um jeito nisso.

Anne empalideceu. — Er… não precisa, mas valeu pela preocupação. — então suas orelhas pontudas captaram um silvo e ela apressou-se a se enfiar atrás de Skylar, bem a tempo de evitar a trajetória de um dardo. O shifter encolheu-se e levou a mão a testa, onde o projétil havia acertado. Não era pontudo, mas o impacto poderia deixá-lo com um hematoma.

— Ei!

— Foi mal, é que você parece ser bem mais resistente do que eu. — ela sorriu endiabradamente e virou o rosto para encarar uma turba de crianças élficas que vinham em sua direção. — Tempo!!

A criançada parou imediatamente, como se ela fosse uma comandante ou algo assim. Anne saiu novamente de trás de Skylar e apontou para ele, enquanto apontava para os rostinhos iluminados. — Este é seu novo alvo, tropa! Ataquem!

— O quê!? — o Alfa da BeastHunters apenas percebeu quando as flechas com pontas arredondadas estavam todas viradas na direção dele. Então, sem muita opção, disparou para um dos lados e pôs-se a correr, enquanto as crianças endireitavam-se para ir atrás dele e projéteis de brinquedo choviam a sua volta. — Você vai pagar por isso, sua pirralha!

— Se esforce!!! — foi a resposta dela, dita gritando.

Os outros quatro apenas observavam a cena com expressões que iam do divertimento ao tédio.

— Certo… isso foi muito estranho. — Admitiu Gravor.

— Acho que ele vai ficar bem. — Complementou Trixia.

— É… provavelmente. — Selene revirou os olhos.

— Hum… pra onde vamos agora, Anne? — Lidrin parou de olhar aquela perseguição e concentrou-se na elfa mais jovem.

— Oh, sim… apenas venham comigo.

Anne continuou o caminho, guiando o grupo, entrando na floresta que lembrava uma cidade. Quando atravessaram toda a extensão – o que demorou um pouco – eles estacaram ao ver uma cena muitíssimo estranha.

Haviam chegado na área plana onde deveria ser montado o festival. Ao invés desta estar preparada, no entanto, havia uma incomparável pilha de quinquilharia tomando quase toda a sua extensão. Lidrin divisou Frosty discutindo com alguém sentado em um trono no meio da sucata. Franzindo o cenho, conseguiu reparar que era uma poltrona, não um trono, e que a pessoa sentada nele era Nyx. Ela vestia-se com roupas leves e elegantes, com uma calça bem justa e uma blusa larga, ambas na cor preta, e estava muito interessada em arrancar pétalas de uma margarida, com tanta força que parecia estripar a flor. O elfo foi o primeiro a notar a aproximação do grupo, logo abrindo os braços para saudá-los.

— Ei, que bom que chegaram! Anne os guiou direito?

— É lógico que eu guiei, quem você pensa que eu sou? — a elfa retrucou, colocando as mãos na cintura. Trixia apressou-se para dar um abraço no parceiro, era definitivamente um alívio estar perto dele novamente, assim sua fera interior mantinha-se bastante comportada.

Ele abraçou Trix de volta com sua amabilidade habitual, depois erguendo a cabeça para lançar um sorriso largo para Selene. — Você quer um abraço também, Sel?

Fazendo um esgar, ela ignorou-o e focou os olhos em Nyx, ainda concentrada em desmembrar a margarida. Lidrin parecia tão curioso quanto, pois a próxima pergunta foi dele. — O que essa pobre flor te fez?

— Ela só está tentando descontar a raiva em um ser vivo desprovido de consciência. — alegou Frosty, escondendo um sorriso com a mão. Em resposta, a mestiça esqueceu completamente da flor, atirando-a para trás e apontando para ele com um dos pés.

— Era para eu descontar minha raiva nele, mas correria o risco de ser soterrada em gelo eterno.

— Não é uma experiência agradável para ficar repetindo. — Selene disse, lembrando-se da ocasião em que o elfo quase congelara-as vivas.

— Não é? — a outra concordou, cruzando as pernas e ajeitando-se sobre o braço da poltrona.

— Bem, isso não explica porque você está sentada num trono de tralha. — Gravor ergueu uma sobrancelha, contendo sua vontade de rir. O olhar que a jovem lançou-o de volta era muito letal.

Apoiando as mãos nas pernas e jogando o peso do corpo ligeiramente para frente, ela respondeu. — Pagamento. Pelos sais dele. — e voltou a fazer um gesto de cabeça em direção a Frosty.

— Então você deixou-os aos cuidados dela realmente? — o djinn arregalou os olhos, surpreso. Selene praguejou algo como “idiota” bem baixinho.

— E em troca ela mandou um monte de sucata? Não me soa muito justo. — cutucando algumas peças menores que haviam rolado da pilha (coisas que não fazia ideia de para que serviam), Trixia pôs-se a observar o monte. — Parece que Nyele está zombando de vocês.

— Ah, de fato ela está. — Frosty deu de ombros, fazendo uma careta. — Mas há algo valioso ai no meio. Uma chave para usarmos no Santuário de Metal. E como não há ninguém melhor para achar qualquer coisa metálica por aqui…

— Eu estou aqui, servindo como detector de metais. — resmungou Nyx, voltando a recostar-se na poltrona. — Pensem bem, ele não merece uma surra?

— Sabe muito bem que ninguém acharia a chave tão rápido quanto você, Nyx. E precisamos esvaziar esse lugar até amanhã, ou prejudicaremos a montagem do festival. Alyss está uma fera! E eu já disse que vou dar um jeito de te recompensar…

— Estou a três dias gastando meu tempo nessa pilha, mesmo que você se ajoelhasse e beijasse meus pés, não seria o bastante pra me recompensar, Sua Alteza.

— Também amo você, irmãzinha.

Nyx bufou, levantou-se da poltrona com um pulo e começando a escalar as quinquilharias, disposta a continuar seu trabalho e ignorar todos os outros presentes. Anne assobiou, abrindo um sorrisinho sarcástico. — Vocês dois têm que dar uma trégua, essa briga já tá durando demais.

— Por que eles estão discutindo desta vez? — Trixia questionou, erguendo o corpo e imaginando se deveria oferecer ajuda a Nyx.

— Isso é normal. — Selene revirou os olhos. — Eles brigam o tempo todo, e se o elfo idiota ali realmente fez Nyx resolver o problema de Nyele, é compreensível que ela esteja irritada.

— Por que a culpa sempre é minha? — disparou Frosty para ela, tentando soar ofendido, ao passo que Anne começava a tagarelar.

— Bom, já faz uma semana, desde que chegamos… primeiro teve a discussão sobre os sais, e então sobre a coroação, e então sobre os sais outra vez, e por fim Nyele mandou o monte de sucata, e aqui estamos…

— Deve ser difícil para você. — comentou Gravor. — E como estão os outros?

— Neco continua surda, parece que os tímpanos vão demorar a regenerar. Ela tem passado os dias ajudando Levih, o antigo Regente, na biblioteca do Palácio. Sean tem bancado o guarda-costas dela, não sei muito bem porque… Ryan e eu estamos treinando com os jovens elfos, e de vez em quando ajudamos nos preparativos para o Festival das Flores, mas enquanto toda essa quinquilharia estiver aqui, não podemos fazer muito progresso. — Anne deu uma pausa, olhando deprimida para a pilha. — Nyele foi cruel desta vez… Nyx está tentando peneirar o mais rápido que pode, estamos receosos de que não dê tempo de arrumarmos tudo até o Solstício.

O shifter ergueu os olhos para a silhueta pequena da mestiça, aninhada em meio ao caos. A despeito de toda a arrogância com a qual estava tratando Frosty segundos antes, no entanto, parecia muito concentrada, ocasionalmente passando a mão na testa para limpar o suor, enquanto tirava objetos e mais objetos inúteis de seu caminho. — Não podemos ajudá-la?

— Provavelmente mais atrapalharíamos do que o contrário, ela está tendo de usar os poderes de Relicária como detector. E ninguém faz ideia de como é a tal chave, nem mesmo Frosty.

— E como ela vai saber se a encontrar?

— Ela é Nyx. Ela vai saber.

Gravor achou aquela resposta muito justa.

— Se não podemos ajudar procurando, vamos fazer o possível para preparar o festival a tempo, então. — Trixia intrometeu-se no assunto, olhando para o parceiro de grupo com determinação. Ele passou a mão pelos cabelos, assentindo com a cabeça.

— Vamos fazer isso.

— Enquanto isso, eu vou dar uma mão à nossa querida mestiça, antes que ela me obrigue… — foi a vez de Lidrin caminhar até a base da pilha. — Afinal, localizar um objeto mágico é fácil pra mim.

— Você se oferecendo para fazer algo de tão boa vontade? Quem é você e o que fez com o meu amigo? — a shifter levou a mão aos lábios, simulando surpresa. Ele apenas lançou-lhe um sorriso zombeteiro em resposta.

— Obviamente, quanto mais rápido terminarmos isso, mais tempo terei para descansar.

— Que mentira, você é um procrastinador nato, é incapaz de ter esse tipo de pensamento!

Enquanto a dupla discutia, Gravor e Anne observavam com descrença e Nyx continuava tentando ignorá-los, Selene mantinha seu olhar fixo no de Frosty. Ela olhava-o com tanta intensidade que parecia impossível ele corresponder, mas o elfo mantinha-se em pé de igualdade com ela. Quando o silêncio entre ambos começou a ficar constrangedor, ele abriu seu natural sorriso amável. — Vamos lá, Sel, que expressão é essa? Não passou uma boa semana?

— Não tanto quanto gostaria. — retrucou, ácida.

— Devo considerar que está sentindo falta da minha humilde pessoa?

— Deve considerar me dizer que raios de coroação é essa que Anne acabou de mencionar.

O sorriso dele vacilou. Pela expressão de choque em seu rosto, Selene soube exatamente qual seria a resposta. A máscara de frieza dela também ruiu quando seus olhos arregalaram-se, por um minuto surpresa demais para sentir raiva. — Você vai se coroar Rei… Rei sobre o Vale das Estrelas…

Não percebeu que disse isso alto demais, o suficiente para que todas as conversas paralelas parassem.

Era isso que estava incomodando Nyx… não era só o fato dele entregar a vida dele de bandeja para alguém que quase matara-o antes, não era só por ter de remexer em meio à sucata para encontrar uma chave que nem conhecia a aparência…

Ele estava abandonando-as…

— É verdade, Frosty? Você vai assumir o trono? — questionou Lidrin, interessado.

Trixia e Gravor pareciam felizes com a notícia, para eles era algo natural, já que Frosty era um príncipe. A primeira chegou a bater palmas de verdadeira alegria. — Ora, isso é muito legal! Quando vai ser a cerimônia?

Nyx parou por um microsegundo, antes de retornar ao trabalho, fingindo uma indiferença que não sentia realmente. Anne, notando a tensão entre Frosty e Selene, encolheu-se, colocando-se atrás de Lidrin.

Ichabod demorou alguns minutos para se recompôr e finalmente abrir um sorriso doce para Trixia, enquanto respondia a pergunta dela e do djinn. — Sim, eu resolvi assumir a responsabilidade da família. A coroação acontecerá dois dias depois do Festival, assim não atrasaremos muito nossa busca pela última Chave.

Selene trincou os dentes. — Você está insano. Seus neurônios devem ter derretido com aquela febre.

— Muito pelo contrário, estou no meu mais perfeito juízo. Como Rei posso reforjar alianças antigas, formar novas e recrutar pessoas o suficiente para irmos à Ragadash. — ele concentrou seus olhos na mão direita, que girava no ar, criando delicadas figuras de gelo. — Assim podemos retomar o controle das Chaves Principado que já foram usadas, e Eu, Trixia, Sean e Neco estaremos livres de nosso problema em ter de ficar sempre no mesmo lugar. — parou de falar por um tempo, considerando alguma outra coisa. — Não que eu queira distância sua, Trix, você é uma pessoa adorável…

— Mesmo assim, você não está pensando na situação como um todo, está? — Selene olhou para a pilha de sucata, onde Lidrin, tentando não se meter na discussão, já começava a apontar pontos para Nyx procurar. — Nyx, diga alguma coisa!

— Vocês são adultos, que se entendam sozinhos.

Ela não ia se intrometer. Não ia porque já deveria ter tido aquela conversa com ele antes, e falhara em convencê-lo. Não ia porque, independente de gostar da ideia ou não, de concordar com ele ou não, Nyx de Saint Ignis jamais negaria seu apoio a Frosty. Ela ficaria ao seu lado, pois fora isso que sempre fizera… mesmo que significasse se separar dele mais para frente.

Se Nyx não conseguira fazê-lo mudar de ideia, Selene jamais o faria.

Frustração amargou seu paladar, e ela precisou respirar profundamente para não xingar todos os palavrões que vieram a sua mente.

— Não vou brigar com você, Sel.

— Não é você que decide isso. — ela endireitou sua mochila nos ombros, assim como o arco e a aljava. — De qualquer forma, estou exausta… onde devemos ir?

Quando olhou diretamente para ele, teve certeza que o elfo evitaria o máximo possível a continuação daquela conversa. Ele olhou para Anne inclinando a cabeça. Fingindo que estava tudo sob controle. Que nada de mais estava acontecendo. — Você pode levar as meninas para a casa em que está hospedada com Neco? Eu guio os rapazes.

— Er… tudo certo! Venham comigo, Trixia, Selene.

Depois de trocarem alguns olhares, ambas seguiram-na. Frosty esperou elas saírem de seu campo visual para se sentir aliviado. — Por que eu não fico surpreso dela ter reagido assim?

— Porque tens noção da própria idiotice… o que não lhe impede de fazer bobagens… — a voz de Nyx soou, entediada.

— Você está perdido com elas… — Gravor abriu um sorriso apaziguador.

— Tenho noção. Lidrin vai ajudar, não é? Nyx, tente não ficar até muito tarde desta vez…

Algo no tom preocupado que Frosty usou fez o shifter questionar quanto tempo de descanso Nyx vinha tendo. Preferiu não fazer a pergunta em voz alta, ela poderia muito bem trocar as margaridas por ele.

— Decida-se se quer que eu me apresse ou não. — ela resmungou. Gravor uniu-se a Frosty e passaram a caminhar, deixando a pilha para trás.

— Ei, cara… não quero parecer redundante nem nada, mas tem certeza que vai fazer isso… se tornar Rei? Porque, se for pelo problema das Chaves já utilizadas, talvez haja outra forma de resolvermos…

— Está tudo bem, Gravor. — ele garantiu. — Esse é o meu lugar. Precisei me ausentar por um ano para perceber isso.

— E quanto às meninas?

Frosty inclinou a cabeça, sorrindo sutilmente. — Eis o grande problema. — ele parou de andar, encarando a grama convidativa, franzindo o cenho. — Onde está Skylar?

— Er… sobre isso…

 


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Notas finais do capítulo

Yooo!

+A imagem de hoje é referente ao Frosty. Ele tá meio dark, mas um Rei Gelado combina muito com a situação atual, não? -q

+O segundo guardião é baseado no Gato de Cheshire de Alice no País das Maravilhas (mas especificamente, na aparência de outro personagem com referência a ele,do jogo Alice Mare).

+A Advinha não é minha, tirei de O Hobbit (porque eu tava sem ideia e não sou muito boa com enigmas, e os outros que achei não eram tão legais).

+Próximo capítulo (se tudo correr bem) será dos Pesadeletes.

Eu tenho certeza que tinha algo mais pra pontuar, mas agora não estou lembrando Hihi. Espero que tenham gostado, pessoal, e até a próxima. ♥