Crônicas do Pesadelo {Interativa} escrita por Dama dos Mundos, Kaline Bogard


Capítulo 52
Como guerrear contra o Destino.


Notas iniciais do capítulo

Gente, consegui voltar antes da virada!!!
Uhu
Sou foda -q
Well... não sei francamente o que vão achar desse cap, eu pessoalmente ameio-o profundamente e ele está na minha cabeça a meses, assim como alguns outros que virão.
Bem, esse cap - por mais atrasado que esteja - é dedicado à Enma e ao Koke, que fizeram aniversário a um tempo atrás -q
Desejo a todos desde já um próspero ano novo, que o próximo ano seja repleto de coisas boas - incluindo fics - e etc... bom, não me culpem, sou péssima desejando felicidades pros outros -q
Façam uma boa leitura ^^



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Devido a sua condição, foi-lhe difícil entender muito bem o que veio a seguir. O pouco que conseguiu perceber foi uma Nyx de aparência irritada balançando perigosamente o machado e investindo contra Samira, de uma forma que ambas acabaram saindo do seu campo de visão. Pelo barulho e os gritos, parecia que a guardiã estava em extrema desvantagem. E não deveria sair dali inteira…

— Mas que criança mais imprudente… ela vai acabar num estado lastimável quando sairmos daqui. — Frosty conseguiu ouvir a voz familiar dizer, enquanto duas pernas femininas passavam pelo seu campo de visão. Logo o corpo da pessoa agachou-se, e ele pode ver seu rosto. — E por falar em imprudência… você está péssimo.

— Uh… eu me sinto péssimo. Esperava não parecer tão ruim, mas você acaba de tirar minhas esperanças.

— Diria que é minha função normal. — Selene inclinou a cabeça, abrindo um sorrisinho zombeteiro, e logo virou-a para fitar as duas outras silhuetas atrás de si. — Nyx nos trouxe bem a tempo.

— “Nos trazer” é meio que um elogio, sabe, acho que meu estômago ficou em algum lugar lá atrás… — a voz de Skylar protestou. — De qualquer forma… você está realmente péssimo, cara.

— Frosty… os seus dedos… tipo, eles estão…

O elfo fez um gesto para impedir Gravor de afirmar onde exatamente estavam os dedos que havia perdido. — Não é tão ruim quanto parece, não é como se eu fosse morrer ou algo assim.

— Eu diria que você estava bem próximo disso. — o shifter tigre franziu o cenho, parecendo preocupado, e pela sua movimentação deveria aproximar-se para ajudá-lo, mas Selene fora mais rápida.

— Deixe comigo, garoto-tigre… irei cauterizar essas feridas, afinal não tenho certeza se você vai poder conter o sangramento de outra forma. — os olhos lilases voltaram a focar nele. — Você consegue suportar algo assim?

— Tsc… com quem você acha que está falando? — apesar do sorriso normalmente despreocupado, Frosty ainda parecia sentir muita dor. A elfa estreitou os olhos, logo meneando a cabeça.

— Que idiota… Eu já lhe disse um milhão de vezes para não fazer essas coisas desnecessárias.

— Esse é o tipo de coisa que Nyx diria, se estivesse aqui.

— Logo ela irá passar esse mesmo sermão. Se não apagar antes de ter a oportunidade. — Ela ajoelhou-se no chão em frente dele, colando seus corpos com certo cuidado e abrindo com calma as mãos, dirigindo-as aos locais feridos. Optou por começar pelo ombro, e espalmou a mão direita no mesmo pela frente, enquanto enlaçava o corpo dele com o braço esquerdo, de maneira que a mão deste também pudesse tocá-lo, mas pelas costas. Sem muita opção para poder movimentar-se, Frosty acabou descansando a cabeça no ombro dela. — Respire fundo.

— Que amável você está… — ele cortou a frase trocista habitual pela metade, fazendo um barulho que era obviamente um grito abafado. Enterrou ainda mais a cabeça no ombro dela, enquanto a mão boa subia para segurar suas costas, o que causou visível desconforto a elfa, mas ela nada reclamou com relação a isso. O cheiro de pele sendo queimada pairou no ar por um tempo, enquanto aqueles sons estrangulados iam ficando cada vez mais esparsos, Selene passando de um ferimento a outro, até chegar à mão mutilada.

Skylar fazia uma careta de repulsa, mais pela dor que o companheiro estava sentindo na hora do que por outra razão. Afinal, ele próprio havia sido cauterizado pela magia ígnea de Selene, e mesmo que estivesse inconsciente na ocasião, quando despertou sentia a pele arder e repuxar. Óbvio, ela ajudara a salvar sua vida daquela forma, mas isso não tornava o processo menos doloroso. E só de se lembrar das cicatrizes que percorriam a Grã-duquesa, ele já tinha calafrios. Desviou o olhar, focando-o ao longe, embora não pudesse ver nada naquela direção, só ouvir as pancadas e guinchos causados pela luta entre Nyx e Samira. A mestiça poderia até estar ganhando, mas de alguma forma aquilo lhe soava estranho. Muito estranho.

Cutucou Gravor com o dedo indicador. O outro shifter sentia-se incomodado por não poder ajudar, e enquanto esperava Selene terminar seu trabalho para ao menos cuidar das queimaduras, mantinha os olhos baixos, mas a cabeça levemente voltada para o lado, como se tentasse escutar também os ruídos da batalha. Sua expressão ia ficando cada vez mais cismada. — Você reparou também, não é?

— Sim… está fácil demais…

— Samira deve ter sido pega de surpresa. — Selene comentou do seu lado, aparentemente atenta a tudo que a cercava. — Quando ela conseguir despertar do choque… as coisas vão complicar. — Agora havia concentrado seus dedos no local onde os do elfo haviam sido amputados. Se ele já chiara antes, agora parecia mortalmente abatido, respirando rapidamente e com gotas de suor escorrendo pelo rosto. No ponto em que segurava as costas de Selene, uma camada fina de gelo podia ser notada. — Ainda assim, estou surpresa por Nyx aguentar tão bem a situação, no estado em que ela está… ei, elfo idiota, você está me congelando!

— Desculpe… — ele deixou escapar, parecendo recuperar um pouco a compostura ao notar que Selene acabara seus “cuidados”. Retirou com cuidado a mão, sentindo-a afastar-se novamente e equilibrar-se para ficar de pé em um movimento só. Com algumas batidas leves, a elfa retirou a crosta de gelo que começava a se formar na área de seu ombro.

— Sua magia parece funcionar bem, por que não a usou?

— Eu tentei… ela não estava funcionando antes. — Frosty respondeu num tom que chegava muito próximo a um choramingo, e pôs-se a mexer com cuidado o braço recém-tratado. Parou seus olhos azuis sobre os dedos decepados, e não conseguiu evitar de fazer uma careta. — Parece que eu subestimei demais a situação…

— Você subestimou…? — Sky colocou as mãos nos quadris, chocado. — É sério… eu não aguento lidar com vocês!

Gravor desfez-se da sua preocupação por um segundo para abrir um sorriso compreensivo. — Pelo menos o pior não aconteceu, né?

— Estou cercada de irresponsáveis. Não posso desgrudar meus olhos por um segundo sequer… — Selene continuava a resmungar consigo mesma, ocasionalmente bufando. — Da próxima vez, elfo, deixo-te sangrar até morrer.

— Que hostil… — o alvo do xingamento riu baixinho, endireitando-se para ficar sentado e apoiando o braço bom na perna do mesmo lado, que mantinha dobrada.

— Hostil? Hostil? Hostilidade define bem o que vou fazer com aquela guardiã quando eu puser minhas mãos nela…

Skylar revirou os olhos, assumindo finalmente uma atitude mais relaxada. — Oh, por que será?

Selene abriu a boca para protestar, mas não o fez. Ao invés disso, ficou de frente para o local onde a trilha de sangue indicava o caminho até a guardiã da Chave do Ar. — Ora… ela voltou.

De fato, uma Nyx cambaleante arrastava o machado atrás de si. Sua boina havia miraculosamente permanecido sobre sua cabeça, mas estava tão torta que tampava metade de seu rosto. As roupas estavam cobertas de sangue – que aparentemente não pertencia a ela – e pedaços de coisas não identificáveis. Ela parou e fincou o machado no chão, apoiando o corpo nele como se fosse algum tipo de poste. — Hum… estou pior do que pensava…

— Eu te avisei, sua estúpida, mas você nunca me ouve! — Selene a viu ficar ereta novamente, arrancar a arma do chão e entregar a Gravor pelo cabo.

— Agradeço…

— Er… disponha, eu acho, mas você está se sentindo bem?

— Não muito… o teleporte consumiu muita energia. — Ela deixou-se cair sentada no chão, estava claramente exausta. — Eu calculei mal os efeitos, creio…

— Pare de me ignorar, criança maldita. — a elfa protestou, voltando a pegar seu arco e aljava que havia deixado cair no chão assim que chegara no local. Ao ajeitá-los em mãos, deu alguns passos a frente, emparelhando com a mais nova. — E então, qual é a situação daquela garota?

— Ah… eu só arranquei os dedos… e os membros… e a língua… e a cabeça. Hum, acho que eu deveria ter deixado a cabeça para ti, no fim das contas. — Nyx parecia meio apática ao dizer isso, como se não se importasse ou não estivesse prestando muita atenção. Seus olhos correram em direção a Frosty, encontrando-se com os dele. — Estou sã. Não se preocupe…

— Tsc… quem liga para como deixou ela… já deve estar se regenerando mesmo. — Selene deu de ombros, empunhando suas armas familiares. — Além do mais… agora que as coisas vão ficar realmente interessantes. Irei cobri-la… descanse um pouco para tentar recuperar as energias.

— Estou indo também… — Skylar pegou seu bastão, girando-o entre os dedos enquanto seguia Selene de perto. — Afinal, mesmo que não me agrade muito, vocês ainda são nossos aliados e… bem, ninguém machuca meus aliados e fica por isso mesmo… o que me diz, Gravor? Vamos nos divertir um pouco?

— Como você quiser… — Gravor estava bem cético com relação aquilo inicialmente, mas acabou apoiando o machado no ombro e suspirou, sorrindo levemente. — De qualquer forma… creio que seria bom se pudessem ter uma conversa decente… — e começou a andar na mesma direção que os outros dois, afagando sutilmente a cabeça de Nyx ao passar por ela. — Descansem vocês dois… vamos mantê-la ocupada.

O silêncio caiu quando os três se afastaram, deixando apenas um Frosty com o rosto encoberto pela própria perna e uma Nyx escondendo igualmente o seu com a boina. Depois de um tempo, ela decidiu que estava bem o suficiente para arriscar alguns passos e se aproximou dele, indo sentar-se ao lado de seu braço sadio.

— Dói muito?

— É suportável… e você, sente-se melhor?

— Não muito. Não me perguntarás nada?

— Agora não. Podemos conversar sobre isso mais tarde. E você, não vai me passar um sermão? Pensei que gostava de fazer isso, afinal é sempre você que faz as bobagens e eu que a repreendo…

— Não creio que seja necessário. — Nyx ignorou a provocação, encostando-se na parede e retirando a boina com cuidado da cabeça. Dessa forma, seu rosto ficava completamente a mostra, belo e neutro como uma boneca de porcelana. — Pode me odiar se quiser… tens todo o direito.

— Eu deveria mesmo, não é?

— Não sei. Creio que deva. Mas não desejo que o faça.

— Eu estou zangado…

— Eu sei.

— E você é uma egoísta.

— Eu sei.

— E fará tudo de novo.

— Provavelmente. É a minha natureza, afinal.

— Sim. É claro que é. — ele abaixou finalmente a perna, movendo sua atenção para o braço queimado, para a mão onde lhe faltavam agora dois dedos. Um sorriso melancólico havia brotado no seu rosto. — Assim como a minha é terminar tudo da forma como comecei.

— Discordo. — Nyx disparou a afirmação rapidamente, como se não quisesse lhe dar nem a oportunidade de pensar sobre o assunto. — Ichabod…

— Já faz um tempo que não me chama por esse nome… algo me diz que vai ser um longo discurso.

— Não tanto… nada que já não saibas… — ela deu uma pausa, fechando os olhos, esperando que ele a interrompesse uma segunda vez, mas ao notar que não o faria, continuou: — Sabes bem que não sei consolar. Não sou boa com palavras de afeto. Não sei agir com carinho, e muito menos tenho capacidade para curar alguém. Pois… eu só sei destruir. Causar dano, mutilar, intimidar… isso sei fazer, é minha especialidade.

Uma segunda pausa, mais longa do que a outra, seguiu-se. Ela mordeu os lábios com cuidado, e afirmou, num tom abaixo: — Eu não posso curar sua dor, e possivelmente lhe causarei ainda mais sofrimento. A única coisa que está ao meu alcance é… ficar ao seu lado. Até que a dor passe. Para ouvir suas queixas, suas confidências e seus pesadelos. Eu sei que é muito pouco… que chega a ser “nada”. Ainda assim, aconteça o que acontecer, estarei ao seu lado. Para que nunca mais fique sozinho…

— … afinal, ambos sabemos que ficar sozinho é assustador. — ele completou a frase por ela, erguendo a cabeça. Seu braço fez um arco, passando pelo outro ombro dela e fazendo-a chegar mais perto, prendendo-a em um meio abraço. A mão boa puxou sua cabeça, de maneira que a mantivesse junto da dele.

— Então, Frosty… mantenha-se sorrindo sinceramente. Sorria por nós dois, já que eu não sou capaz.

— Tsc… que criança mais teimosa e dramática. Eu já lhe disse que você tem que ao menos tentar ser feliz, não é? — o sorriso dele alargou, tornando-se brilhante, apesar de toda a dor e todo o desespero que aquele lugar causava em ambos. — Minha desengonçada, egoísta, insensível e amada irmãzinha…

oOo

Selene mirou sua terceira flecha, mas Samira a evitou com maestria. Reconstruindo com eficacia o corpo que Nyx tão facilmente havia retalhado, a guardiã havia conseguido esquivar-se e consequentemente fugir de todos os ataques que os três caçadores lançavam contra ela.

— Mas que desgraçada! — A elfa praguejou baixo, tateando as flechas que restavam em sua aljava. Estava gastando-as a toa, afinal aquela peste não podia morrer, assim como todos os outros guardiões, fadados guardar as Chaves Principado até o fim dos tempos, ou até que alguém os libertasse de sua obrigação.

— Ela é rápida. — O comentário de Gravor passou despercebido, quando a guardiã deixou-se cair sobre o machado dele e tentara atacá-lo com a adaga, sem muito sucesso. Ainda assim, quando ele sacudiu-se e preparou-se para descer outro golpe, a garota já estava distante novamente. — Muito rápida.

— Eu disse que estava muito fácil. — O líder dos Beast Hunters já havia tentado agarrá-la várias vezes, e agora descobrira-se sem o tapa olho e sem paciência. O acessório era girado pelo dedo indicador de Samira, que dava pequenos saltinhos de um lado para o outro. Ela já havia livrado-se do próprio tapa-olho em forma de relógio, assim como de toda a sua roupagem exótica, e mantinha apenas um robe de tecido fino cobrindo seu corpo, que não era lá muito desenvolvido.

— Hu… vocês pensaram que estavam em vantagem, não é? Pois eu digo que não! Este é meu território… meu castelo, minhas leis.

— Acho que ela nunca ouviu falar em golpes, traições, motim… — Gravor estalou a língua, com um tom de reprovação, ao que Selene apenas respondeu com um revirar de olhos.

— Nesse caso só precisamos ensinar isso a ela… assim como boas maneiras.

— Boas maneiras vindo de você? É sério mesmo? — Skylar perguntou com descrença, levando a mão ao sobretudo que usava e retirando-o com um movimento amplo. — Já que é pra ser grosseiro… vamos ser grosseiros da maneira certa.

A elfa lançou-lhe um olhar de quem não estava entendendo a situação. Uma frase dita por Gravor logo depois, porém, fez com que tivesse uma ideia do que estava por vir e ela deu um salto para trás, ganhando distância.

— Bem, Skylar… tome cuidado para não ter uma indigestão…

— Eu não vou engolir nenhum pedaço que chegar a arrancar, pode ter certeza. — ele mal se deu o trabalho de arrancar a camisa e seu corpo já estava sofrendo transformação, alongando-se e cobrindo-se de pelos. Foi questão de minutos para o lobo de um só olho saltar próximo a Samira, fechando os dentes em sua perna antes que ela conseguisse fugir outra vez.

— Ai! Mas que…

Uma flecha varou sua garganta, impedindo-a de falar. Em seguida, o machado de Gravor girou no ar para parti-la ao meio, na altura da cintura.

O corpo de Samira desmontou, com Skylar fechando ainda mais os maxilares e arrancando os pedaços a medida que estes iam ameaçando se juntar novamente.

— Ela ficou chocada com a transmutação?

— Vai saber… — Selene respondeu a pergunta de Gravor, observando com tédio o lobo destroçar aquele corpo infante. — Ela me parece bem infantil.

O terremoto que se seguiu pegou-os desprevenidos. Era forte o suficiente para tirar o equilíbrio, e fazer pedras e reboco caírem do teto. Ainda estavam na teia de túneis escuros, aparentemente, mas agora o ambiente estava mudando. Era a mesma sensação que tiveram ao adentrar o Templo do Fogo… as paredes aumentaram o espaço entre si, alargando-se infinitamente, ampliando o espaço. Skylar foi forçado a largar a presa, pois ao seu redor surgiram estacas afiadas de ferro. O lugar onde os restos de Samira descansavam levantou-se, começando a tomar a forma de um trono ou algo equivalente. Luzes fortes acenderam em lugares específicos, mostrando a configuração atual do lugar em que estavam.

Agora lembrava muito um anfiteatro coberto. Haviam nichos e pilastras, e fileiras de arquibancadas de pedra. Tudo era cinza, menos a luz que incidia diretamente sobre eles. Ela era amarelada, forte e fazia os olhos arderem se observassem-na diretamente. Quase como pequenos sóis a observarem-nos.

— Okay… acabou de ficar muito pior.

— E mais bizarro… — Selene concordou com o parceiro, meneando brevemente a cabeça. — Era pedir demais que ela se deixasse matar?

— Creio que ela não possa de fato morrer…

— Não importa, esse negócio de ser imortal é irritante, quando eu enfio uma flecha na garganta de alguém estou esperando que a pessoa agonize até a morte, não que levante como se nada tivesse acontecido e sente num trono. — agora ela apontava com visível irritação para o centro do anfiteatro, onde a guardiã estava devidamente sentada, com as pernas cruzadas e uma careta de poucos amigos.

— Não deixarei que profanem mais este corpo, bando de saltadores!

Skylar rosnou, mostrando suprema indignação. Ela estava alta o suficiente para que o lobo não pudesse alcançá-la, e a pilastra em que ficava seu trono era completamente lisa, impossível de escalar.

— Ei, nós estamos do lado certo, qual é a dessa atitude?

— Considerando que invadimos a casa dela e a retalhamos algumas vezes, pensando bem, não parecemos muito bonzinhos. — Gravor comentou, o que fez tanto Selene quanto Skylar trocarem olhares ameaçadores. — O que foi? É verdade!

— Vamos esquecer as minúcias… — a voz masculina e suave soou, acompanhada por uma reprovação de outra voz, mais grave.

— Deixe de ser tão bonzinho, Grav. — Foram exatamente as palavras que Nyx usara ao chegar, apoiando e sendo apoiada por Frosty, parando bem em frente ao trono de Samira.

— Quando foi que deu para me chamar com tanta intimidade? — o rapaz em questão perguntou, fazendo uma careta. A jovem ignorou-o completamente, como era de praxe, e ergueu sua cabeça em direção a sua anfitriã.

— Oh… você se reestrutura desagradavelmente rápido.

— É uma vantagem de ser a escolhida dos deuses…

— Grande coisa. Seus deuses são ridículos. — Nyx inclinou a cabeça com simplicidade.

— Isso vindo de alguém como você.

— É exatamente por eu ser como sou que digo isso.

— Ora, ora, Nyx… pare de provocá-la, nós dois não estamos em condições de aguentar a fúria dessa criança, sabia? — Frosty suspirou. — E ela parece ter algo pessoal contra a gente.

— Não haja como se não soubesse a razão. — Nyx voltou sua atenção para os outros, estreitando os olhos verdes com cuidado. — Todos estão inteiros, não é?

— Por enquanto, eu diria que sim. — Selene abaixou o arco apenas para descansar os braços, deixando a próxima flecha em posição.

— Não tivemos muitos problemas até agora… bom, acho que Skylar está com o orgulho ferido. — o rosnado de aviso fez Gravor calar-se por algum tempo. — E vocês? Já descansaram, recuperaram forças, resolveram suas divergências…

— Não temos divergências… — a resposta de ambos saiu ao mesmo tempo. Samira, como a criança curiosa e intrometida que era, sentou-se no trono de maneira que pudesse ouvir e ver melhor a situação que acontecia lá em baixo, esquecendo-se momentaneamente de qual era o seu trabalho.

— Como assim não tem, pensei que estivessem brigados… — o shifter ergueu uma sobrancelha, ao passo que Selene dava de ombros. Provavelmente ela já estava pra lá de acostumada.

— Sim e não… — o elfo sorriu de canto, disposto a explicar. — Na verdade, nós costumamos nos desentender de vez em quando, isso é normal. Mas nunca brigamos realmente a sério.

— A questão da liderança foi apenas uma desculpa.

— Na realidade eu fiquei revoltado de verdade com essa situação. — cortou Frosty, revirando os olhos. — Por vários motivos. Mas era o tipo de coisa que poderíamos ter resolvido apenas na conversa, se…

— Se não estivéssemos prestes a buscar uma Chave.

— Não estou entendendo… — o shifter confessou. Até mesmo Selene havia feito uma cara de quem diz “algo está muito confuso aqui”. Skylar sentara-se sobre as pernas traseiras, com a clara vontade de acabar aquela conversa fiada logo e partir para a ação.

— Nós deixamos esse assunto inacabado de propósito. — Nyx girou nos calcanhares, mantendo os olhos fixos no chão.

— Nós abrimos nosso coração para toda a desconfiança, receio e medo que sempre tivemos um do outro, propositalmente. — o elfo ficou de costas para ela, de maneira que a tampasse quase completamente, pois sua altura era maior. — O que de fato foi doloroso, e meio irresponsável. Afinal Nyx não pode sentir nada com muita intensidade sem que fique a beira do colapso.

— Isso não vem ao caso. — ela interrompeu rapidamente. E Selene cortou-a, por sua vez.

— Vocês dois são idiotas!? O que estavam pensando ao fazer isso? É tão desnecessário que nem sei como descrever o tamanho de sua tolice!

— He… — o barulhinho que Nyx fez assemelhou-se mais a uma tosse do que um começo de risada. — Para chamar a atenção dela, é claro. Ou pode-se dizer que nós dois declaramos guerra…

— Vocês declararam guerra a quem? — Gravor estava francamente nervoso ao perguntar isso. Algo no jeito que eles dois falavam fazia parecer que a pessoa em questão seria problemática. E não aparentavam estar referindo-se à Samira.

— Ah, ah, ah! Deixem-me responder, eu adoro charadas! — Samira levantou a voz, inquieta sobre seu trono, ficando em pé sobre ele e saltando, como se isso realmente fosse chamar a atenção. Por mais idiota que a cena era, não deveria estar realmente brincando, porque no fim abriu um sorriso macabro ao responder: — Destiny. Eles dois, esses mortais patéticos e prepotentes compraram guerra com o próprio Destino.

Três pares de olhos voltaram-se para Frosty e Nyx, indo da surpresa a reprovação. Pelos deuses, o que aqueles dois estavam pretendendo com aquilo? O que, o que… o que valeria a pena com tanto trabalho, um risco tão alto? Mas aos poucos, eles pareceram entender. No fim, a mentalidade tanto dos shifters quanto da elfa havia trilhado a mesma linha de pensamento que aqueles dois haviam tido. Algo que a mente infantil de Samira não conseguiu raciocinar.

— Que estúpidos… estúpidos, estúpidos e estúpidos, um milhão de vezes! — a garotinha ainda ria, rolando de cá para lá no trono muito maior que seu diminuto corpo. — Irei matá-los. Irei matá-los, matá-los, matar todos, irei brincar com vocês e depois finalizarei e ai… ai vou separar os dois estúpidos que se dizem irmãos e que ousaram apostar contra o Destino! Hahaha… hahahahahaha!

— Olhe bem, garotinha… você deveria se calar… — Frosty, como sempre, o eterno cavalheiro, em todas as situações. Nyx foi mais direta.

— Cale-se, tonta.

— Tonta? Tonta!? Como ousa?

— Você não parece ter entendido muito bem, moça… a aposta, que foi a razão de tudo… ela nunca valeu. Nunca foi levada a sério, afinal existem laços que nem a Morte ou o Destino podem cortar.

— Porém, é como dizem em todos os lugares. Vá contra a palavra de um deus, e este vai focar toda a sua ira em ti. — Nyx espalmou as mãos, saindo de trás de Frosty finalmente, com passos lentos e alongando o pescoço. — Eis que… Destiny resolveu entrar em contato com o próximo fiel guardião, para tentar provar que de fato conseguiria dar um jeito em nós. Quando o guardião em questão optou por realizar a tarefa, moveu a maior parte das suas forças na direção de um alvo só, deixando os outros a própria sorte. Eis que… és uma tonta.

A intenção por trás de tudo era…

Fazer com que o outro grupo passasse despercebido e pudesse encontrar a Chave.

— Estavam abrindo caminho… para Trixia e os outros… — Gravor piscava os olhos, surpreso, mas teve a noção de dizer isso em voz baixa. Se Samira conseguisse pensar depois daquilo tudo, forte como era, seria-lhe fácil escapar deles para tentar impedir que os outros chegassem ao objetivo final.

— Tsc… como foi que não levei em consideração uma loucura dessas… — Selene meneou a cabeça, erguendo-a logo depois para fitar Samira. Seu rosto expressava um ódio tão puro que poderia ser capaz de matar só de encarar.

— Ela está com raiva. Ainda não percebeu que pode…

— Bom, é uma felicidade que seja uma garota tão tonta. Vamos aproveitar isso… ganhar tempo.

— Vocês… vocês!! Eu irei destruí-los. Farei-os em pedaços, não vai ficar nem mesmo poeira para trás!

Enquanto as feições infantis estavam completamente deturpadas pela raiva extrema, uma rachadura começou a se abrir no chão, em frente a pilastra com o trono. O grupo afastou-se, entrando em posição defensiva. Uma garra emergiu do abismo, arranhando o piso cinzento, deixando marcas profundas. Outra seguiu-a, e logo uma cabeça descomunal ergueu-se.

Uma cabeça de coelho.

Mas não um coelho comum.

Algo que lembrava um frankstein ou uma colcha de retalhos. O corpo era todo remendado com cores que variavam entre cinza, bronze e vinho. Os olhos eram botões vermelhos com uma cruz alaranjada como retina, e davam a impressão de que aquele ser estava vivo. A boca abria-se num sorriso doentio de tubarão, os dentes triangulares parecendo afiados…

Com extremo mal estar, Frosty notou que a coisa que antes seguira-o e ajudara Samira a subjugá-lo, agora era muito maior que ele. É desta vez, a Guardiã da Chave do Ar ia levar as coisas realmente a sério…


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Notas finais do capítulo

Oieeee! :3
Espero que tenham gostado. A imagem é da Selene, pra quem estiver na duvida - sim, eu sei que o cabelo dela é escuro mas meu photoscape parou de funcionar assim como toda a maioria dos programas do meu note.
.
Bom... o que acharam da trolagem máxima de Frosty e Nyx? Aposto que ninguém esperava por isso hahahaha. Ou ninguém se importa e estou contando vantagem a toa.
.
O coelho demoníaco do mal está de volta - pra quem ficou se perguntando onde diabos ele estava nessa confusão toda. - Agora eu posso dizer que as coisas esquentaram e muito. Ainda mais porque temos dois personagens fracos e uma guardiã muito irritada mesmo.
.
Próximo capitulo vai abarcar o segundo grupo. E o que vem depois é uma surpresa... espero conseguir chegar nele kkkk
.
Acho que é isso por hora. Qualquer dúvida, crítica, xingamento, ameça de morte e etc podem deixar nos comentários ou me mandar por M.P
.
Então é isso, pessoal! Até ano que vem, e saibam que foi divertido passar mais um ano ao lado de vocês. :3
Kisses, kisses.



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