Crônicas do Pesadelo {Interativa} escrita por Dama dos Mundos, Kaline Bogard


Capítulo 45
Demonstração de poder.


Notas iniciais do capítulo

Bem, começo pedindo desculpas eternas pela demora… estou oficialmente sem internet – de novo – e por tempo indeterminado. Tendo isso em mente estou usando o computador da minha irmã para poder postar. Por questões complicadas demais para explicar aqui, só vou poder atualizar fics uma vez por semana, então juntarei todas e postar no mesmo dia.
Grata pela compreensão de vocês, seus lindos!
Ahn, como prometido o capítulo está grande – em parte porque eu prometi que seria grande, em parte por compensá-los do tempo que passei sem postar.
Divirtam-se.



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Qualquer um ficaria perturbado ao ver uma chuva de flechas caindo em sua direção. Entraria em choque ou correria, expressando o receio óbvio de morrer perfurado por dezenas de setas. No caso daquele grupo, em especial, o choque falou mais alto… quatro cabeças levantaram automaticamente na direção do ruído. A confusão virou uma certeza arrasadora, e ai…

A única garota do grupo estalou a língua, entediada. Seu foco visual voltado exatamente para as flechas que deveriam cair sobre eles, mas haviam parado em pleno ar

— Que patético… e eles ainda chamam isso de cilada? — ela descansara uma das mãos dentro do bolso em seu sobretudo, enquanto parava de rodar a tesoura na outra. Estreitando os olhos para a aparência das flechas que flutuavam a alguns palmos acima deles, pareceu reconhecê-la de algum lugar.

— Ei…! Não diga como se não fosse nada de mais, quase fomos mortos! — protestou Sky, tocando a ponta de uma seta com o dedo. O mero pressionar fez com que o local sangrasse. — De onde veio isso?

— Pode ser dos guardiões de Etherea, talvez? — sugeriu Gravor, tossindo suavemente ao reparar que se aquela chuva tivesse acertado-os, faria um grande estrago.

— Uou! Você parou elas todas, foi tão legal! Me ensina!? — Ryan arregalara os olhos, mais empolgado do que assustado, enquanto puxava a parte de trás do sobretudo da garota.

— Nem se eu realmente quisesse eu poderia fazer tal coisa… — ela respondeu primeiro à pergunta do mais novo, e nesse instante todas as flechas despencaram ao seu redor, com seu poder destrutivo anulado. Algumas caíram sobre suas cabeças, mas sem realmente machucar, apenas levantando grunhidos ameaçadores de Skylar. — São flechas negras… só há um povo que usa essa característica…

— Devo dizer que mantêm-se bem informada, Demon Lady… ou melhor, minha querida Nyx… — a voz vinha de baixo, onde uma tropa élfica começava a se juntar, atrás de uma figura deveras interessante. Apesar de usar uma armadura, ainda parecia extremamente delicada em suas feições. Os longos cabelos loiros e os olhos azulados eram perfeitos para a elfa que lhes falava, se ignorassem o sorriso ligeiramente sádico que ela abriu logo após disso. A armadura era completa o suficiente para causar certa dúvida se seria fácil derrubá-la… cota de malha, gorjal, peitoral, ombreiras, uma saia e botas que chegavam até o joelho, praticamente. O capacete tinha asas nas laterais, fazendo-a lembrar uma valquíria.

A tropa de elfos atrás dela mantinham o mesmo padrão de armadura, mas masculinizado. A maior diferença eram os enormes arcos preparados em suas mãos, enquanto a elfa portava apenas uma espada. Nyx ignorou completamente a saudação dela, sendo sua conhecida ou não, e voltou os olhos verdes para Sky. — Eu ia mencionar que isso seria um problema, contudo… creio que só vai nos atrasar…

— Eles são elfos de Zaphiria, não é? — Skylar pareceu lembrar-se de alguma coisa, porque trincou os dentes, uma expressão irritadiça aparecendo em sua face.

— Ahn… parece que sabe bem do que se trata…

— Mas eu não sei… alguém me explica? — cortou Ryan.

— Dizem as más-línguas que o povo élfico de Zaphiria é uma vergonha para a raça… eles tratam mestiços e bastardos – assim como alguns humanos – como escravos. — Gravor respondeu de maneira sucinta, descendo os olhos em direção ao aglomerado que encontrariam. — Falando de uma maneira mais prática… se existisse uma recompensa pela rainha, Fiore, estaria com o status de “viva ou morta”.

— O que significa…

— Que vamos caçá-los, apenas. — De alguma forma, Skylar e Nyx pareciam ter tido o mesmo pensamento, expondo-o para que os outros ouvissem.

— Oh, parece que chegamos a uma conclusão…

— Vamos aproveitar esse pequeno milagre… — eles trocaram um olhar rápido, enquanto a garota dirigia o mínimo de atenção possível a Fiore, que voltava a lhe falar.

— Que deselegante, estão ignorando uma Rainha… devem ser realmente os estorvos dos quais todos falam. Eu vou ser direta, de qualquer forma. Entreguem a mestiça e aquela elfa traidora e os deixarei ir em paz… sabe-se lá para onde estão se dirigindo.

— Elfa traidora? Mestiça? — Ryan coçou a cabeça, obviamente pensando sobre quem exatamente a moça loira se referia.

— A mestiça sou eu… — Nyx inclinou um pouco a cabeça, levantando a mão, com o mesmo tom de voz de alguém que fala sobre o tempo. — Devo dizer que estou confusa… isso quer dizer que ela está atrás de Selene…?

— Ou de alguma das outras meninas…

— Não. Eles nos encontraram no local ideal, alguém os avisou. E, nesse caso, já deveriam saber que Selene estava conosco. — Gravor estreitou os olhos, pensativo… ele também não parecia prestar muita atenção a tropa lá em baixo. Talvez até imaginasse que seria fácil dar um fim nela.

— Se for esse o caso, eles infelizmente não contaram com o gênio explosivo daquela garota. — Skylar mexeu brevemente o pescoço, retirando o bastão das costas.
— Me pergunto se é algo bom ou ruim nessa situação. — o mais novo do time fez uma careta de descrença, enquanto Skylar voltava a falar, desta vez finalmente dando resposta a rainha lá em baixo.

— Não vamos entregar ninguém, Fiore!

— Que ousadia… — o belo rosto ficou visivelmente zangado. — É majestade, para uma criatura bárbara como ti.

— Podia ser até o deus Surm, estou pouco me lixando pra isso! Diga uma coisa, majestade… — ele continuou, num tom sério. O bastão começava a girar de maneira rápida em sua mão, o que forçou os outros três a se afastarem. A maneira que disse o título honorífico soou extremamente sarcástica. — Fiquei sabendo por ai que é uma escravocrata, seguindo o exemplo de seu pai, e que vários seres são sacrificados nas famosas minas de cristal de Zaphiria. Verdade ou mentira?

— Vai fazer alguma diferença a resposta?

— Mas é claro que vai! — e Skylar alegou ainda, de uma maneira que só os parceiros pudessem ouvir. — Assim eu sei se simplesmente derroto ou se devoro todos.

— Pobrezinhos… — A mestiça meneou a cabeça lentamente. — Eu admiro essa certa inocência de vocês… os rumores são verdadeiros.

— Como sabe…? — Gravor perguntou abaixando um pouco a voz, e se Nyx estava para responder, foi cortada por uma risada maléfica vinda lá de baixo.

— Ora, a aberração que está convosco não lhes contou? Muitos dos empregados mais recentes que a mãe dela usou para cobrir os que essa garota pródiga libertou vieram das minhas minas. — Fiore tampou de maneira hábil os lábios, como se quisesse evitar que seu sorriso aparecesse. — Hum, de fato… eu os escravizei. Isso serviu para manter a pureza do meu povo, é claro! É um motivo perfeitamente valido!

— Só na sua mente doentia! — protestou Gravor. Nyx mantinha-se calada, mordendo ligeiramente o lábio inferior. Sim, os novos empregados da mansão Saint Ignis foram escravos de Fiore, afinal ela e Meredith mantinham um relacionamento amigável. E isso acontecera exclusivamente porque…

A linha de seu pensamento foi cortada pela metade com o próximo comentário de Skylar. Agora ele estava realmente nervoso, a ponto de um rugido estrondoso vir de seu peito… era o mesmo som que escutara quando lutara contra o shifter. Ela mais que prontamente saiu do caminho, preparando-se para o que viria. — Tipinhos como você… são os que eu mais detesto. Pode ter certeza que irei despejar esse seu sangue tão puro de que tanto se orgulha por este chão, vadia! — No minuto seguinte ele já havia saltado velozmente na direção dela, mirando-a com o bastão bem na testa… contudo, foi impedido por um par de lâminas afiadas, que de alguma forma haviam entrado em sua frente. O rapaz silencioso que havia barrado seu avanço fez uma mesura com a cabeça, lentamente, enquanto mantinha-o afastado da sua rainha.

— Que deselegante… ela nos chama para uma pequena briga e manda outros fazerem o trabalho sujo. — alegou de maneira cética Nyx, guardando a tesoura e fazendo um sinal amplo com os dedos. As flechas que antes haviam sido atiradas contra eles ergueram-se no ar, desmontando-se e unindo suas partes metálicas para formar uma foice de tamanho considerável. — Eu deveria agradecer… Nyele ficou com a minha antiga foice, mas graças a essa burra consegui juntar o que restava para criar uma nova.

— Vamos, antes que ele faça alguma bobagem. — Gravor começou a descer também, preparando seu machado pelo caminho. Tanto ele quanto Ryan podia sentir o ódio potente do lider correndo pelo cérebro deles próprios, como se fosse algo contagioso. O mais novo grunhiu, pronto para se deslocar também, quando Nyx colocou uma mão em seu ombro.

— Preciso de você acordado, tudo bem? Temos de acabar com os arqueiros antes que eles resolvam cobrir aqueles dois de flechas.

— Oh, é verdade… — Ele apenas assentiu, tendo o novo alvo em mente. Os dois desceram juntos, tomando direções diferentes.

A confusão já tinha sido instaurada lá em baixo. Skylar, ao ter o golpe aparado pelo desconhecido, mesmo com a mesura do mesmo, não pareceu esfriar em nada sua cabeça. — Saia da minha frente, vou desfigurar a sua mestra!

Não houve resposta do rapaz. Sua aparência era tão jovem quanto a da rainha, beirando os vinte e cinco anos, no máximo, mas pela sua aparente devoção podia estar a seu serviço a muito mais tempo. Os cabelos tinham um tom indefinido, algo entre o preto e o azulado, chegando até a cintura, mas presos em um rabo de cavalo na altura dos ombros. Os olhos eram muito claros, de um azul tão indistinto que parecia mais cinza. Não usava armadura, apenas as roupas distintas, com uma qualidade que sugeria nobreza. O sobretudo que era o mais visível ali parecia completamente negro, até Skylar recomeçar as investidas, tentando forçá-lo a sair da frente. Desviando, ele girou o corpo para lhe dar um chute, e nesse instante foi possível ver um símbolo em vermelho que lembrava muito uma flor. Seria uma rosa? O shifter não teve tempo para raciocinar sobre isso, pois agora preparava-se para aparar o chute cruzando os braços em frente do peito.

Não podia dizer que não fora um chute potente. Apesar da defesa, ele o fez escorregar alguns centímetros da posição em que antes estava. Quem diabos era aquele cara? — Você não vai realmente sair do caminho, não é?

Um balançar negativo da cabeça. Não, ele não iria. O ruivo trincou os dentes, voltando a entrar em posição de ataque, vibrando o bastão em sua direção. Ele foi bloqueado pelas espadas duplas mais uma vez, e os dois logo estavam em um duelo. Sua raiva pela rainha não havia arrefecido em nada, contudo, e depois que ele acabasse com aquele cara, sem dúvida iria atrás dela.

Lógico que ela já não estava mais por perto…

Gravor, ainda que estivesse um pouco mais ciente da situação, também tinha em mente capturar a elfa… com a rainha rendida, os outros teriam de se acalmar. Teoricamente era um ótimo plano, na prática a história era bem diferente. Fiore era rápida e esquiva, e quando esteve próximo a capturá-la ou chegar perto de começar uma luta com a mesma, também foi parado por um desconhecido que não parecia em nada com um soldado comum. Ele vestia-se exatamente igual ao homem silencioso que lutava com Sky, contudo a semelhança terminava ali. Os cabelos eram curtos e prateados, levemente ondulados, mal chegavam aos ombros. Os olhos eram escuros, quase negros. Metade de sua face fora marcada com símbolos sinuosos e estranhos, de cor vermelha, e Gravor não sabia dizer se eram uma tatuagem como a do amigo, Sean, ou se eram algum tipo de cicatriz.

Ele apenas tinha uma faca em mãos, cumprida o suficiente pra defender-se de uma espada ou algo que o valesse. Contra um machado, no entanto, aquela pequena lâmina era completamente questionável. Mas do jeito que girava-a com pouco caso, era capaz de ter muito mais coisas por baixo do sobretudo negro. — Ah… você realmente quer brigar, não é? — Gravor inclinou a cabeça, recuando. A parte de seu machado estava virada para o chão, mas por pouco tempo.

— Brigar? Uma palavra muito ofensiva… não esqueça que minha rainha está envolvida. — a voz dele era um tanto quanto incomoda. Mirou a adaga e atirou-a contra Gravor, logo sumindo completamente de sua vista. O shifter ergueu a mão para aparar a lâmina, deixando-a presa entre dois dedos, mas ao sentir uma movimentação atrás de si, virou-se. Uma espada de dois gumes deslizava ameaçadoramente em direção ao seu pescoço, e ele abaixou no último segundo, investindo com o machado. O rival afastou o corpo, o gume do machado chegando a cortar algumas pontas de seu cabelo, nada mais que isso. — Eu diria que é o que se ganha por ter uma cretina daquelas como rainha… sendo franco, não deveria pedir demissão?

— Majestade Fiore é uma recatada dama, o maior tesouro para um coração que ama.
Gravor estreitou os olhos. Ele estava rimando propositalmente? Aquele cara era absolutamente estranho… infelizmente, não poderia simplesmente ignorá-lo. Até porque este não deixaria tal coisa acontecer. — Tanto faz… — ajeitou sua postura, jogando a cabeça para trás. — Posso saber o nome da pessoa que sou forçado a enfrentar?

Um sorriso condescendente passou pelos lábios do outro, e ele levou a mão ao peito, inclinando ligeiramente a cabeça. — Usa palavras fortes demais, que não causam nenhum deleite. Mas lhe direi apenas que me chamam, em outras terras, de Break.
As rimas vão ficando cada vez piores… pensou, controlando a careta de desgosto que pretendia fazer e logo apoiando o machado no ombro. — Me deram o nome de Gravor…
— Fico grato por tão notável educação… Que inicie-se a contenda, então!
O shifter meramente desistiu de prestar atenção no que o homem falava e partiu para cima dele.

O machado de Ryan parecia mais propenso a derramar sangue. Com golpes precisos e poderosos, ele saltava, girava e caia em cima de qualquer elfo que barrasse seu caminho, decepando ora cabeças, ora braços e pernas. Não parecia estar disposto a tomar sua forma lupina por enquanto, talvez levando em consideração o pedido de Nyx. Algumas flechas eram arremessadas contra ele, mas agora que estava prestando atenção, raramente chegavam perto de atingi-lo. Na maioria das vezes pegavam-no apenas de raspão, ou ele colocava um corpo na frente como escudo… essa última precaução era prática, afinal mesmo que esse fato enervasse-o profundamente, a grande maioria dos arqueiros era maior que ele.

Nyx havia corrigido a rota no último instante, subindo em vez de descer, num salto digno de uma artista marcial. Com isso, conseguiu encontrar o reforço de tropas mais acima, possivelmente sendo dali que viera as flechas atiradas contra seu grupo ao chegarem. Era um planalto um pouco mais alto do que a posição em que estavam originalmente, uma extensão das montanhas que abraçavam o templo bem mais abaixo.

Ela fincou a lâmina de sua foice contra as rochas, pousando o pé em uma saliência e usando-o como alavanca para subir mais… ao começar a cair novamente, já conseguia notar pelo menos duas dezenas de arcos apontados em sua direção.

— Tsc… não brinquem comigo… — essas palavras foram direcionadas para ninguém em especial, enquanto ela finalmente tocava os pés no solo e impulsionava-se para frente.

Duas dezenas de flechas foram disparadas em sua direção, batendo contra uma barreira invisível e sendo mandadas de volta imediatamente. Para quem podia ver a situação daquela tropa em especial, a única coisa distinguível era um vulto esverdeado correndo por entre os soldados e riscos prateados que dançavam no ar, erguendo uma verdadeira névoa vermelha ao seu redor.

Fiore observava com eterno desgosto sua armadilha virar-se contra ela mesma. No fim, deveria ter escolhido apenas soldados especiais para a tarefa de capturar Nyx. Sem dúvida aquela mestiça imunda estava literalmente fatiando seu reforço, enquanto um garotinho ruivo colocava a baixo, machadada após machadada, sua força principal. Os únicos pertencentes a Guarda-Real que trouxera, escolhidos a dedo, pareciam ser os que estavam levando mais vantagem, duelando separadamente dos demais. Eles eram sua principal esperança. Kalth e Break nunca perderiam para aquelas criaturas selvagens.

Ela havia dado atenção à carta de Meredith e ao seu mensageiro puramente pelo fato de terem mencionado Selene. A bastarda do pai havia desaparecido a tanto tempo que mal se lembrava dela, para ser sincera. Não que houvesse acreditado que tal criatura morrera, claro que não. Vasos de péssima qualidade não eram capazes de se quebrar facilmente, não é verdade?

Claro que ouvira os rumores sobre uma Mestra das Chamas nas regiões próximas a Hathea, mas não lhes deu tanta atenção quanto deveria, na época. Não era um poder de todo incomum. Alguns elfos e humanos tinham certa habilidade de aprender magia elementar, tornando sua prática comum. No entanto… as coisas mudaram depois da última Noite das Máscaras. Cartazes de procurados vivos ou mortos foram espalhados aos quatro-cantos de Meroé, e um chegou as suas mãos.

Ela reconheceu um dos rostos. Na verdade, foram dois. A filha pródiga de sua aliada continuava a mesma de sempre, mas a outra… teve dúvidas no princípio, estava mais velha, a última vez que tivera vislumbres daquela criatura patética fora quando ainda eram crianças. Mas estava lá, os traços não mentiam. Começou uma busca pessoal para tentar encontrar os fugitivos antes, afinal queria reencontrar a meia-irmã. Suas intenções para com Selene depois disso eram nebulosas.

E então aquele homem chegara, pedindo com a maior petulância do mundo sua ajuda! Ele entregara-lhe a carta e informações exatas, sobre quem encontraria e o local. Depois, simplesmente fora embora, alegando ter mais assuntos a tratar. Não dera nome ou qualquer coisa que pudesse identificá-lo depois, apesar de sua fala ser mansa e sedutora. Poderia jurar que queria algo mais carnal com ela, mas seu desaparecimento inexplicável havia tirado – em parte – essa desconfiança.

A rainha manteve seus lábios cheios fechados, observando aquela situação catastrófica, e sentiu o ar esquentar violentamente a sua volta, de um minuto para o outro. Mal precisou virar a cabeça para saber quem havia encontrado-a.

— Ah… parece que me atrasei para a brincadeira, mas ainda cheguei a tempo para encontrar o tesouro…

A impecável dama precisou desviar da verdadeira coluna fumegante que foi lançada em sua direção…

Skylar inicialmente estava numa situação precária… apesar de bloquear todos os ataques do adversário, que iam ficando cada vez mais ousados, uma flecha ou outra ainda era atirada contra ele, o que forçou-o a manter-se apenas na defensiva. Em um dado momento, porém, notou que as setas pararam de chegar. Ao mesmo tempo o rapaz silencioso havia mirado perfeitamente um golpe em seu pescoço, e o shifter precisou abaixar e rolar no chão para evitar o combo que este já preparava, usando a segunda espada. Isso fez com que ambos mudassem de lugar e o ruivo conseguiu finalmente fixar seu olho em Ryan, que fazia praticamente uma chacina ao seu redor. — Bom trabalho, Ryan!

O garoto parou momentaneamente para acenar para seu líder, e então voltou a carga, cortando mais alguém ao meio… Sky precisou imediatamente dar atenção ao oponente. Este era inteligente, seus golpes mais pesados e certeiros vinham sempre do lado onde o shifter mantinha seu tapa-olho. E provara o bastante do fio daquelas duas espadas no último golpe – superficial – que o rival acertara-lhe para saber que não podia ficar recebendo-os sempre.

O ruivo desviou de outro golpe, achando uma brecha para atacar e acertando seu bastão na área ao redor do estômago. Isso fez o outro recuar, por um breve período de tempo. Talvez se conseguisse tirar aquelas armas dele, pudesse ter uma vantagem no quesito força física. Ele arquitetou um plano mental para fazer tal coisa enquanto continuava a ora defender, ora atacar aquele que chamavam de Kalth. Os movimentos de ambos os lados eram perfeitos, as brechas quase nulas. Se pudesse ser comparado a algo, aquela batalha parecia muito com uma dança.

Em uma das muitas investidas do rapaz silencioso, Sky aproveitou para descer o bastão na hora certa, prendendo-o ao chão pelo sobretudo. Automaticamente, o outro subiu uma das espadas, tentando perfurá-lo, e teve a arma presa pelo shifter, que atirou-a no chão, antes de colocar o pé em seu peito para mantê-lo deitado e girasse em instantes o bastão para acertar a outra mão do rapaz. A segunda espada voou longe com o movimento.

Ele não pôde evitar de abrir um sorriso vitorioso, recuando o braço e fechando o punho para começar uma sequência de socos, mas… só o primeiro acertou.
Sim, ele conseguiu acertar o rosto do Guarda-real, mas uma movimentação estranha surgiu no canto de seus olhos. Viu quando Kalth fez uma lâmina subir de lugar nenhum e golpeá-lo pelo lado. Era uma sorte a posição em que ambos estavam não ter permitido uma investida mais pesada, ou o shifter estaria em sérios apuros. Ele ergueu-se e deu um pulo para trás, segurando o flanco ferido. Olhando atentamente para o inimigo, podia notar que ele acertara-o com uma das próprias espadas… mas Skylar havia garantido que a arma estava completamente fora do alcance dele… como que havia…?

A resposta veio imediatamente, quando o rapaz, depois de levantar-se, abriu completamente a mão vazia e fez algo parecido com um buraco negro aparecer dentro dela… e dali puxou a sua segunda lâmina. A mesma que Skylar havia mandado para bem mais longe a instantes atrás.

Gravor não estava numa situação muito diferente… o fato das flechas terem parado de chegar também facilitou-lhe um pouco as coisas, mas não o bastante… além de ser extremamente ligeiro e escorregadio, Break tinha um verdadeiro arsenal debaixo do sobretudo. Cada vez que conseguia desarmá-lo, o homem aparecia com uma arma completamente diferente da anterior. No exato momento, precisara recuar, afinal a última arma que ele retirara lá de dentro era uma raríssima pistola. As armas de fogo começaram a ser desenvolvidas a pouquíssimo tempo, sendo difíceis de encontrar. Possivelmente nas tão lendárias Terras de Baixo deveriam haver várias, ainda mais evoluídas, mas sobre Meroé, eram uma tática de guerrilha imprudente.

— Esse cara está começando a me irritar… — ele desviou de mais algumas balas, que de alguma forma absurda não acabavam nunca, e arremessou o machado. A arma passou rente ao rosto de Break.

— Que péssima mir… — antes que o rapaz de cabelos claros conseguisse pensar em uma rima – ou sequer terminar o primeiro verso – Gravor já estava bem na frente dele, agarrando-o pela garganta e tentando levá-lo ao chão. A arma foi apontada para o seu rosto, mas por algum motivo Break não estava usando-a de um ângulo impossível de desviar. Na realidade, foi até fácil para o shifter jogar o rosto para o lado e evitar o tiro… fácil demais.

— Onde você acha que está mirando?

— Eis alguém que olha e não vê… quem lhe disse que estava mirando em você?
Pelo barulho que se seguiu ele já podia ter uma pequena ideia de onde o Guarda-real estava pretendendo acertar. Depois de uma cacofonia de sons indistintos que parecia de algo – ou milhares de coisas – caindo, uma voz chegou até eles com um tom ligeiramente ameaçador.

— Deveria cuidar melhor do seu rival, Gravor… — a segunda sentença, contudo, fora direcionada ao outro rapaz. — Break, não é? Atacar pelas costas é definitivamente um joguinho covarde. Diga-me… perdeu o amor à vida?

— Oh… sinto muito, Nyx… — O shifter parecia estar um pouco sem graça por não ter percebido a situação antes. Break, por sua vez, ergueu novamente a pistola, apontando-a para a testa de Gravor. Dessa vez, ele com toda certeza não erraria.

— Milady, sinto muito ter de lhe afirmar que… ambos são estorvos para nós, e terão de morrer.

— Você está falando demais para um futuro cadáver… — foi questão de instantes para Gravor sentir a parte de trás de sua camisa ser puxada para trás, enquanto uma foice separava ele de Break, cortando a pistola em duas no processo. — Leia bem o roteiro da próxima vez. Mortos nem sequer se movem… — ela usou a foice como alavanca e desceu um chute poderoso na cabeça dele, afundando-a no chão com violência.

— Hum… você não podia simplesmente ter tirado a pistola da mão dele?

— Cale-se! Você também abaixou muito sua guarda. Além disso, as coisas que esse infeliz cria não são feitas de metal, não posso simplesmente movê-las do caminho. — enquanto respondia a pergunta de Gravor, Nyx mexia o pé de um lado para o outro, com a cabeça do rival ainda embaixo dele.

— Ahn… eu não estava realmente preocupado… — ele caminhou até o machado que havia jogado antes e recuperou-o. — Eu sabia que não ia me deixar levar um tiro.

— Acho que está sendo otimista demais. Da próxima vez, vou deixá-lo ser baleado.

— Nesse caso eu morreria.

— Quem disse que me importo?

— Oh, você é realmente cruel… — ele fechou os olhos, suspirando. Algo chamou sua atenção e então foi a vez dele puxá-la para longe de Break, que havia empunhado desta vez uma espada de aparência estranha, longa o suficiente para conseguir acertá-la em um dos seus flancos. — Mas que droga, as armas não acabam nunca!

— É porque ele está recriando-as sem parar. — Nyx botou uma mão no ombro dele para recuperar o equilíbrio, que perdera completamente ao ter sido puxada, e logo em seguida empurrou-o para um lado, enquanto fazia um rolamento para o outro. Break havia cortado o ar, fazendo uma faixa afiada de vento ir na direção deles.

— Como…?

— Materialização… ele está materializando a própria energia e transformando-a em armas sagradas. Desarmá-lo não é uma opção… vamos ter de colocá-lo para dormir.

— Por que não matá-lo?

— Boa sorte, se pensa que pode simplesmente matar um membro da Guarda-real…

O homem havia colocado-se novamente em posição de ataque, e embora seu rosto estivesse parcialmente irreconhecível graças ao golpe de Nyx, ele não demonstrava estar nem um pouco preocupado. Sua arma era sinuosa e ondulada, lembrava bastante o corpo de uma cobra. Estranhamente silencioso, metade de sua concentração parecia estar dirigida a outro lugar…

Skylar já esgotara completamente sua lista de xingamentos. Desarmar o inimigo era inútil, então teria de tentar desacordá-lo, ao menos. Agora ele já havia lembrado o porquê daquele símbolo, uma rosa vermelha em fundo negro, ser tão familiar. Eram os chamados membros da Guarda-real, criaturas criadas exatamente para proteger as famílias nobres de praticamente toda a Meroé. Obviamente, as famílias reais eram sua prioridade. A criação de um Guarda-real era envolta em mistério, mas uma maneira de simplificá-la para os leigos era: são humanos alterados em nível genético por magia. Vulgarmente afirmando, experiências mágicas em cobaias vivas.

Suas características mais marcantes eram extrema resistência e agilidade, poderes inimagináveis e fidelidade absoluta aos seus mestres. Isso para não dizer que sua regeneração era mais rápida do que a de uma criatura normal – talvez até mais do que a de um Mokolé – tornando-os quase impossíveis de matar.

O shifter começara a atacar mais pesadamente, sabendo disso. Uma comoção acima de si, envolvendo fogo, fez com que se lembrasse também de quem eram os alvos principais naquela pequena batalha. A primeira era Nyx, e a segunda… havia acabado de chegar, pelo que podia notar. Forçou-se a prestar atenção em sua própria contenda. Kalth também havia reparado que sua rainha estava com problemas, pois recuara um pouco, sua expressão calma sofrendo uma mínima distorção. Skylar notou esse movimento que acarretaria numa fuga e cercou-o, voltando a estocar rapidamente com o bastão. Cabeça, ombros, pernas, não adiantava em quantos lugares mirasse, o homem era difícil de acertar.

Viu quando sua atenção desviou-se mais uma vez, e não foi em direção a Fiore. Era meio tarde quando conseguiu reparar onde seu rival estava mirando para invocar um portal, desta vez…

Tanto Nyx quanto Gravor mantinham-se em constante movimento, evitando as ventanias cortantes que Break mandava contra eles. Sincronizando-se, o ataque deles era lançado ao mesmo tempo, formando um combo pesado, começando com movimentos rápidos com a foice e terminando a machadadas… isso até um dado momento. Enquanto Nyx saltava para trás, depois de finalizar um de seus ataques, ela literalmente sentiu o chão sumir debaixo de seus pés. Um portal de intenso negrume havia se aberto bem abaixo dela.

— Droga…

E ela caiu… e caiu, atravessando por um tempo aquele lugar de vazio absoluto. Quando uma certa luminosidade apareceu debaixo de si, não pode dizer que ficou aliviada. Kalth a transportara para um ponto a quilômetros do chão. A queda seria realmente feia, sem mencionar que a gravidade incidindo diretamente sobre ela fazia sua respiração tornar-se difícil. Girou no ar, procurando um ponto onde pudesse enfiar a foice de maneira que fosse capaz de ao menos diminuir sua velocidade e minimizar os danos.

Não havia nada.

Ela se permitiu praguejar como fazia pouquíssimas vezes. Se Neko estivesse ali…

Fechou os olhos para a colisão inevitável, sabendo que escapar viva dela seria praticamente impossível. E então sentiu algo bater-se contra ela na horizontal… sem nem sequer pensar ela agarrou-se àquela coisa que mais parecia uma bola de pelos negros e deixou-se ser levada quase em segurança para o chão. Recuperando-se do susto, afagou com certa gentileza a cabeça do lobo que a encarava, uivando baixo, numa pergunta silenciosa.

— Sim, eu estou bem… bom garoto… obrigada, Ryan…

Para ser sincera ela estava dolorida pela colisão entre ambos, possivelmente ele também estaria, mas preferiu não comentar. Regularizou sua respiração, colocando-se de pé, um pouco tonta. Só então reparou na luta que começara um pouco mais distante, onde Selene e a meia-irmã se enfrentavam. De onde a elfa havia saído, afinal?

Observou o lugar onde Ryan e ela haviam ido parar, era a mesma plataforma em que estava lutando antes, onde destruíra os reforços de Fiore. Boa parte dele havia despencado quando Break atirara contra ela, mas ainda havia ferro suficiente concentrado naquele local.

Com alguns movimentos sutis, conseguiu forjar uma espada longa, e voltou seu olhar para as elfas, assobiando alto o suficiente para chamar a atenção de sua parceira. Em seguida, atirou a lâmina em sua direção. — Pegue!

Selene havia começado uma luta ferrenha com a irmã, desistindo de usar o arco e flecha e apenas bombardeando-a com suas chamas. Contudo Fiore não era tão inútil quanto parecia, e esquivava com uma velocidade digna dos guardas que tinha. Em um dado momento, ela parou, sem tirar aquele sorrisinho quase lunático do rosto. — É assim que trata sua irmãzinha?

— A partir do momento que está tentando me matar, tenho direito de tratá-la do jeito que eu achar melhor.

— Mas quem disse que desejo matar-lhe? Na realidade, pensei em torturá-la primeiro e depois colocá-la para trabalhar nas minas de cristal novamente. Como castigo e compensação pelo tempo que passou foragida. Creio que consegue entender o problema que causou a mim e a meus pais naquela época, não?

— Que simpático da sua parte. — O olhar que Selene lhe lançou estava carregado de desdém. Ela se lembrava bem de algumas coisas. Aliás, sua memória havia retornado completamente a alguns dias atrás, mas… ela não sentia necessidade de contar isso para ninguém. Seria um sintoma relacionado ao seu desejo…?

Não importava, de qualquer forma. A única coisa que sabia era que o pai era um cretino filho da puta e que a meia-irmã era pior. Ela bem que merecia uma lição… uma lição que só Selene podia fazê-la engolir, na base da força bruta. Ou queimar em sua pele…

— Hum… parece estar séria quanto a isso.

— Tenha certeza.

— Então irei saldá-la da mesma forma. — Fiore levou sua mão para a empunhadura da espada e a desembainhou num só movimento. — Despertai, Engolidora de Chamas!

Se o nome da arma já despertara um certo calafrio na espinha de Selene, o que ela fez depois definitivamente mostrou-a que estava com problemas. Todas as chamas que lançara contra Fiore e ainda queimavam foram literalmente sugadas pela espada de aparência comum, que assumiu uma coloração rubra. Um instante, e a lâmina já estava encostada em sua pele, queimando-a. Apenas no sentido de tato, pois sua pele era naturalmente imune ao fogo.

— Filha de uma puta…

Certo… seu fogo era ineficaz contra ela… enquanto ganhava distância e pensava em um jeito de esmurrar a cara da elfa, ouviu um assobio. Os olhos violetas foram na direção do som e ela viu sua antiga líder arremessando uma espada em sua direção. Selene rolou no chão, desviando de um golpe da rival e de alguma forma conseguiu agarrar o cabo da espada que lhe fora enviada. — Opa… valeu!

Não soube muito bem se o agradecimento chegou aos ouvidos da mestiça… ela agora sentia-se quase culpada por tê-la estrangulado.

Quase.

Pôs-se de pé novamente, sentindo o peso da lâmina, bloqueando com facilidade o golpe que vinha por trás. Permitiu-se sorrir um pouco daquela situação. — O que você ia dizendo mesmo, irmãzinha?

Gravor havia obviamente ficado preocupado com Nyx, afinal ela poderia ter ido parar em qualquer lugar depois de ter caído naquele portal. Sua paciência havia chegado ao fim, e ele conseguiu chegar perto o suficiente de Break para acertar seu rosto com um soco, abaixando-se para desviar de outro golpe com a espada e desta vez mirando o estômago.

Para ambos os guardas, a situação de sua rainha era mil vezes mais preocupante que a deles mesmos, e ao serem impedidos de protegê-la, sua atenção dispersava… o shifter segurou o braço que segurava a espada do oponente e ergueu-se, acertando sua testa contra o rosto dele. O crack desagradável que se seguiu provava que havia quebrado alguma coisa, talvez o nariz. Sem parar para pensar, acertou um segundo soco na face e passou-lhe uma rasteira, fazendo-o cair no chão.

De alguma forma Nyx havia conseguido chegar até ele novamente, seguida por Ryan, e observou o corpo semi-inconsciente no chão. Aquilo não ia funcionar por muito tempo. Ela voltou a reunir metal, fazendo várias chapas se formarem e logo após empurrando-as em direção ao guarda. No fim, um verdadeiro casulo metálico o envolvia, e a garota parecia ofegante por causa do esforço. Talvez controlar os elementos não fosse assim tão simples, no fim das contas. — Acho que… dessa vez ele não vai fugir…

— Que cara difícil… — Gravor murmurou para si mesmo, balançando de um lado para o outro a mão ferida de tanto esmurrar Break. Sua testa também estava doendo bastante. De que raios era feita a pele dos Guardas-reais, ferro?

No mesmo instante Skylar havia rendido Kalth. O rapaz dera bastante trabalho, mas quando deixou outra brecha se abrir, o shifter aproveitou-a primorosamente. Houve outro golpe no estômago, forçando-o a se ajoelhar, e em seguida Skylar desceu o bastão com toda a força que tinha, empalando-o no chão pelo antebraço. Um chute fez com que caísse completamente para trás, e Kalth ainda conseguiu dar-lhe mais algum tempo de luta antes de ser desarmado, suas espadas sendo utilizadas principalmente para manter seu outro braço bem preso ao chão, assim como uma de suas pernas.

De alguma forma, o líder dos BeastHunters não matou-o, apenas dando-lhe as costas e começando a andar em direção ao local onde deveria estar a rainha. — Descanse um pouco por aqui, sim?

Ele juntou-se ao resto do grupo, vendo a batalha entre Selene e Fiore ir aos poucos abrandando. A integrante da JusticeBlade havia conseguido desarmar a rival depois de algum tempo, e agarrara sua cabeça para acertá-la contra o próprio joelho. Quando esta finalmente caiu, começou a distribuir, com certa satisfação, socos por toda a sua face. Ah, ela não gastaria mais suas chamas com aquela vadia loira. Não mesmo.

Ergueu-se depois de um tempo, jogando os cabelos para trás. Suas juntas dos dedos estavam quase em carne viva. Ela colocou ambas as mãos na cintura, observando os outros parceiros, ligeiramente ofegante. Seus cabelos ainda estavam mais bagunçados que o normal. — E então… o que íamos fazer com ela mesmo?

— Creio que… a bola de pelos caolha mencionou algo referente à matá-la? — Nyx sugeriu, endireitando o corpo. Ryan rosnou, parecendo aprovar a ideia. Gravor parecia cansado demais para dizer qualquer coisa, então apenas assentiu com a cabeça. E Skylar…

Era Skylar, de qualquer forma… com seu habitual problema para perdoar qualquer pessoa que fosse. Só de olhar para ele, a elfa estreitou os olhos, logo chutando Fiore de uma maneira que seu corpo rolasse e chegasse bem perto dele.

— Por mais que seja uma cretina maldita, ainda é minha meia-irmã. Não participarei disso, mas também não impedirei. Faça como achar melhor.

A rainha perdera o capacete tão bonito que usava entre os cabelos, e seu rosto era uma deformidade sangrenta, desprovido de beleza. Mesmo que sobrevivesse àquele encontro, seu orgulho ficaria destruído.

Skylar, contudo, não foi capaz nem de fazer um movimento em direção a ela. Um vulto voltou a surgir em sua frente. Um dos seus braços havia sido arrancado, causando uma extensa hemorragia. O outro estava bastante ferido, também, assim como uma das pernas. Mal conseguia ficar de pé, mas mantinha-se firme, barrando seu caminho. Olhos silenciosos, expressão absolutamente determinada.

— Ele… arrancou o próprio braço para salvá-la? — algo na voz de Nyx sugeria choque. Normalmente Skylar zombaria de tal coisa, mas estava ocupado demais trocando olhares com Kalth.

Aquilo pareceu durar uma eternidade… antes que o líder fechasse seu único olho e suspirasse. — Pode ir… mas eu juro que se entrarem em nosso caminho de novo, e se sua mestra maldita não tomar vergonha na cara, eu não terei misericórdia.
Kalth apenas assentiu com a cabeça, uma expressão francamente agradecida passando pelo seu rosto. Então deu dois passos para trás, abaixando-se para segurar sua rainha com seu braço restante, e logo um buraco negro os engoliu… assim como o casulo metálico onde Break estava preso.

Vocês não conseguem retalhar uma “vítima” a sangue-frio, não é? Nyx pensou, enquanto observava os shifters com cuidado. Ryan conseguira reencontrar sua mochila naquela confusão toda e manteve-a entre os dentes, procurando um lugar para mudar de forma longe do alcance de visão das garotas. Selene suspirou, descrente, enquanto ajeitava os cabelos escuros, jogando-os para trás e apoiando a espada que Nyx lhe dera de tão bom grado no ombro.

— Ei, mestiça… vou ficar te devendo uma, certo?

— Hum… certo. — a mais jovem replicou, massageando a nuca com cuidado. Aquilo era o mais perto de reconciliação que poderia haver entre as duas.

— Bem… vamos ver como abrimos aquela porta, então? — Skylar, que havia ficado silencioso por um tempo, começara a descer em direção ao templo. Os outros foram atrás, seguidos por Ryan, que havia retornado a sua forma humana novamente e resmungava alegando que precisaria arranjar outra muda de roupas.

— Deve haver alguma alavanca ou coisa parecida. — sugeriu Gravor. Seus punhos estavam tão detonados quanto os de Selene, e sua testa estava com um belo hematoma roxo no local onde tinha acertado Break. Só pareceu dar-se conta desse detalhe quando viu Nyx observando esse ponto fixamente, e logo abaixando a cabeça, rindo baixinho. — Que foi?

— Está roxo…

— E o que tem de engraçado nisso? Espera! Você está rindo?

— Bom, eu posso rir também, por incrível que possa lhe parecer. — ela alegou, voltando imediatamente ao seu tom sério e acertando um peteleco exatamente na testa dele.

— Ai! Que Surm a carregue…

— Não reclame… irei cuidar disso depois.

— Hein?

— Dos seus ferimentos… — ela alegou, em seu habitual tom neutro. — Você sempre cuida dos meus… é o mínimo que eu poderia fazer.

— Ah… é, pode ser… — ele gaguejou, virou o rosto para o outro lado e tossiu, um tanto quanto corado.

— Falando em ferimentos… você está bem, Skylar? Tipo, aquele cara chegou a te perfurar. — Ryan perguntou, enquanto ajeitava a mochila nas costas.

— Que? Ah… não, está tudo bem, foi superficial. — respondeu, passando a mão levemente no flanco esquerdo, onde havia sido atingido.

O grupo desceu até os portões do Templo da Deusa Irmã evitando os corpos que se encontravam no caminho, e começou a vasculhar o local. Depois de algum tempo, Selene chamou a atenção dos outros para um dispositivo que havia em saliências de cada lado do grande portão. Parecia uma pedra fora do lugar, arredondada, com algumas fissuras que poderiam ser usadas para colocar os dedos da mão. Ela girava em sentido horário, fazendo algo estalar dentro das paredes de pedra.

Apenas quando Skylar e Ryan giraram os dispositivos ao mesmo tempo a entrada pareceu se mover, as pesadas portas abrindo-se para dentro. O local era escuro, o sol não conseguia adentrá-lo de forma alguma. Depois de entrarem, o portão fechou-se atrás deles, e Selene precisou invocar uma esfera de fogo para não terem de ficar tateando o caminho. Com cuidado, eles seguiram aquele corredor que parecia único, com um declive que descia cada vez mais para dentro da pedra.

O que haveriam de encontrar abaixo do solo, com certeza haveria de surpreendê-los…


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Notas finais do capítulo

Well! Vamos aos avisos uhu.
Pelo fato de eu estar sem internet eu não consegui puxar a imagem que eu queria, então vou ficar devendo-lhes imagens até minha situação se ajeitar, tudo bem? Uma pena, agora que eu ia testar minhas imagens novas. -_-
Eu sei que vai ter alguém perguntando como o Break conseguiu derrubar uma plataforma inteira… levem em consideração que a arma e as balas eram de energia, ele podia mudar a concentração da mesma como quisesse, produzindo explosões menores e maiores.
Se não ficou completamente claro, o poder de Kalth é criar portais. Basicamente é como um teletransporte, se for pensar bem, mas os corpos e coisas viajam por uma dimensão diferente. Essa dimensão seria equivalente ao “Vazio”, onde atualmente está preso o Pesadelo. Outra coisa relacionada a ele é o fato de “não falar”. Kalth, como era uma cobaia, acabou tendo sua língua arrancada antes de chegar a seu estado atual, então ela não pôde ser regenerada.
A luta da Selene não foi muito mostrada pelo fato de eu ter dado muita ênfase na ultima batalha dela contra o Loke, então quis dar mais atenção desta vez as lutas do Gravor e do Skylar.
Eu tenho certeza absoluta que tinha mais alguma coisa pra falar, mas não me recordo o quê (sempre acontece!) Próximo capítulo – que eu posto só quando Deus quiser – vai ser do grupo da “Ilha Flutuante”
Até lá, e espero que tenham gostado!
Kisses



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