Crônicas do Pesadelo {Interativa} escrita por Dama dos Mundos, Kaline Bogard


Capítulo 39
Alameda das Lembranças 03


Notas iniciais do capítulo

Lindos de my heart



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/548522/chapter/39

+O líder de uma alcateia.+

Em um mundo onde existem várias raças distintas, é meio inevitável que haja atrito entre uma e outra. E os problemas entre elas nem sempre terminam de uma maneira amigável. Um evento isolado acaba sendo generalizado e transformado numa verdadeira disputa pela vida. Era isso que acontecia em algumas partes da grande terra de Meroé, mas por esses serem distúrbios pequenos, nunca eram levados em consideração.

Olhando por este ângulo, quem tem a razão? Onde o pensamento de que tudo que é diferente é assustador ou perigoso, quem são os verdadeiros monstros?


Skylar, apesar de sua curiosidade falar sempre alto demais, teve motivos desde pequeno para desconfiar das pessoas à sua volta. Sua família residia nos confins de Zaphiria, em uma vila aparentemente pacata.. Só nas aparências, realmente, pois aquele aglomerado humano era um tanto quanto primitivo intelectualmente. Eles acreditavam que lobisomens existiam.

Aquilo sem dúvida alguma era um grande equivoco, porque tais criaturas não existiam. Eram histórias contadas, na maior parte do continente, para fazerem as crianças dormirem cedo. Ameaças veladas, assim como quando invocavam os deuses, mesmo sabendo que esses não iriam se intrometer em suas pacatas vidas.

Ninguém soube exatamente explicar como o boato começou e ganhou força. A mãe de Skylar vivia observando o marido de esguelha, acusando-o de ter sido descuidado e ter se transformado onde alguém que não fosse da família pudesse ver. Ele rebatia, negando com veemência. Se aquela família shifter já era normalmente reclusa, tornaram-se mais. O cuidado com relação às suas transformações foi redobrado, principalmente depois que começaram a surgir outros rumores, dizendo que o tal lobisomem havia matado pessoas ultimamente.

Alguns aldeões que saiam da vila não conseguiam voltar. Outros eram encontrados semi-devorados pelas trilhas da floresta. O medo apossou-se dos corações daquelas pessoas, e elas se tornaram cada vez mais desconfiadas. Armas foram forjadas para expulsar o invasor se ele ousasse adentrar os limites habitados: archotes e garfos afiados, arco-e-flechas, lanças de madeira. Eles estavam realmente preparados para uma guerra, se fosse possível.

Os shifters começaram a ficar preocupados, também. Era óbvio que não era nenhum deles que estava fazendo aquele estrago. Marido e esposa eram os únicos que caçavam, e faziam tal coisa aleatoriamente, o mais longe possível dos limites da vila, justamente para não serem vistos. Além do mais, não caçavam humanos, apenas animais de grande porte. Um tinha plena confiança no outro, sabendo que mesmo que estivesse tomando conta de Sky e de suas duas irmãs mais novas, seu par não faria nenhuma bobagem.

A explicação parecia óbvia, pelo menos para eles: havia um outro shifter na região, completamente selvagem. Eles teriam de dar cabo dele antes que o risco se estendesse a sua própria família, e as crianças corressem perigo. Para que ficassem seguros, aquela criatura teria de perecer.

As coisas não saíram como o esperado, contudo. Afinal, nas mãos de Destiny, a deusa do destino, tudo sempre ficava mais complicado. De fato, o intruso foi morto, mas o pai de Skylar saiu ferido da luta que se seguiu e alguns aldeões viram quando ele se transformou para ser cuidado pela esposa.

Silenciosamente, eles esperaram.

Eles maquinaram e tramaram.

Em uma noite, botaram fogo na casa. Todos estavam dormindo, e foi difícil de escapar, ainda mais porque o pai estava bastante ferido. As meninas mais novas não conseguiram sobreviver ao fogo, assim como ele. Na tentativa de salvar o único filho que sobrara, a mãe transformou-se, e agarrou o já transmutado Skylar pela pele da nuca, tentando correr.

A dor a dilacerava. Tanto das queimaduras, quanto dos entes queridos perdidos. Existia um ódio profundo nascendo dentro dela. Ela iria vingar-se! Iria desmembrá-los pedaço por pedaço pelo que haviam feito a sua família. Deixar-se levar por tal sentimento hediondo foi o seu pior erro, naquele instante. Ela não conseguiu desviar da lança que lançaram em sua direção, transpassando-a na altura do peito. A última visão que teve foi de seu pequeno Sky sendo retirado da sua boca por uma criança. E chegou uma hora em que até mesmo a dor sumiu.

Skylar foi acertado várias vezes naquela noite com pedaços de pau. Um golpe acertou seu olho direito, tão profundamente que lhe tirou a visão. Sem ver outra maneira de escapar, o pequeno lobo cinzento passou por uma brecha e pulou no rio que corria ali ao lado. Isso pareceu dar o assunto por encerrado para os moradores da vila, que se sentiram vingados, sem saberem que haviam matado uma família inocente.

Ninguém contava que aquela criança-lobo sobreviveria, mas ela de alguma forma conseguiu sair viva daquela situação. Seu trauma fora tão grande que ele recusou-se a tomar sua aparência humana novamente, capengando sobre suas quatro patas enquanto andava e andava, em busca de alguém ou algo. Seu diminuto coração lupino sangrava pela dor daqueles que perdera, e nas noites ele uivava dolorosamente para a lua, esperando que ela lhe desse uma resposta.

A resposta chegou alguns dias depois, quando Skylar já havia desistido de andar e deitara-se para morrer. Um casal humano estava viajando pela estrada em uma carroça, até que a mulher apontou para algo na beira da estrada de terra. Parecia um corpo. Um cachorro ou algo do tipo. Talvez estivesse morto.

— Você está vendo?

— Sim.

— O que é aquilo?

— Um cachorro eu acho. Parece morto.

— Mesmo que esteja morto não podemos deixá-lo aqui, alguém pode acabar atropelando ele!

O homem uniu as sobrancelhas, prestes a alegar que se o animal estivesse morto, não faria diferença alguma ser atropelado ou não, mas preferiu não discutir com a mulher. Ele fez com que os cavalos parassem e deixou-a, dando a mão para que a esposa pudesse descer também. Juntos, se aproximaram do pequeno corpo.

— Está vivo... — A mulher levou ambas as mãos à boca, num gesto de alívio, ao notar a respiração fraca, mas que ainda existia. Seu companheiro abaixou-se, verificando a mesma coisa, e pegou Skylar nos braços, observando-o atentamente.

— É um lobo... não, espere... — Ele viu quando a criatura abriu o olho bom, observando-o com uma expressão quase inteligente. E de ódio absoluto. A pequena fera rosnou, de maneira ameaçadora, tentando mordê-lo, mas ele apenas segurou sua mandíbula com a mão, de maneira que a mantivesse fechada. — Ei... calma, calma, não vamos te machucar. Querida, preciso de uma roupa antiga que não esteja usando para embalá-lo. Ele não é um animal.

— Como assim não é um animal?

— Esse filhote... aliás, essa criança é um shifter. E está muito ferido. Possivelmente perdeu a visão de um dos olhos.

— Oh... pobrezinho... — ela não perdeu tempo lamentando esses fatos, e minutos mais tarde trazia um de seus vestidos para servir de manta para Skylar.

O casal teve problemas com ele no começo. Sua raiva pelos humanos ainda estava fresca, e ele mordia e arranhava se chegassem muito perto. Lentamente, porém, seu comportamento arisco foi amainando, quando reparou que aquelas duas pessoas queriam apenas seu bem. Até que, um certo dia, Skylar foi capaz de retornar à forma original de um garotinho de cinco anos.

Eles adotaram-no, afinal sempre quiseram um filho, mas a mulher, Helen, era estéril. E a criança também não tinha lugar para voltar, o que pesou bastante em tal decisão. Eles estavam de viajem quando o encontraram, mas agora voltavam para sua casa, em Palas. Distante o suficiente da vida que ele deixara para trás. Mas nunca da dor.

Aqueles dois lhe ensinaram muitas coisas, com o passar dos anos. Seu amor por livros desabrochou por causa deles, assim como a vontade de conhecer toda a Meroé. Transmitiram-lhe todo o tipo de conhecimento e também a vontade de continuar vivo, pela família que perdera tão precocemente. Seu novo pai ensinou-o tudo que sabia, como se localizar em um lugar, reconhecer e observar rastros para se orientar. Como “ler” a natureza e o ambiente a sua volta.

Skylar aprendeu a honrar seus compromissos e a palavra dada, mesmo que isso custasse sua vida. Isso tornou-o leal e firme. Com esses cuidados tão amorosos, o ódio pela raça humana sumiu, afinal entre eles haviam aqueles que tinham um coração bom, os quais valia a pena proteger.

Aos quinze anos, contudo, o rapaz já tinha uma ideia formada. Ele queria sair para descobrir aquele mundo que não conhecia, queria explorar. Seu espírito aventureiro havia crescido consideravelmente, assim como sua curiosidade. Skylar sentia necessidade de ser livre. Por isso agradeceu tudo que o casal havia feito por ele, de todo o coração, e partiu numa longa jornada. Mesmo que raramente tenha encontrado com eles pessoalmente depois disso, nunca deixou de escrever para dar-lhes notícias.

Ele tinha todos os motivos do mundo para não envolvê-los, afinal tomara uma decisão arriscada: caçar criminosos. Era isso que queria, para tentar fazer daquele mundo um lugar melhor. Um lugar onde famílias não fossem queimadas e nem sacrificadas sem motivo. Skylar conheceu pessoas e foi apresentado à outros grupos de caçadores. Descobrira que a maneira mais simples de resolver seus intentos era criar sua própria equipe, e por seu temperamento tão inclinado à não perdoar, era necessário também que só aceitasse recompensas de Vivo-ou-Morto.

Sua intenção era criar uma nova equipe apenas com shifters, justamente por essa última razão. A tendência da fera dentro de si era dilacerar, e com sua inteligência, ele reparou que essa era a melhor opção. Mas não sabia por onde começar, então começou a aceitar trabalhos mais simples, agindo sozinho.

Aquelas primeiras caçadas não lhe traziam diversão alguma. Tudo que aprendera com o pai era utilizado e ele conseguia matar os criminosos com certa facilidade, até. Sentia-se sozinho. Queria companheiros, alguém que pudesse pelo menos andar ao seu lado quando não estivesse caçando. Quando recebia a recompensa, separava todo o dinheiro extra que achava que não necessitava e mandava, junto com uma carta, para os pais adotivos.

Um dia, contudo, sua sorte acabou. Uma caçada dera completamente errado, e Skylar foi profundamente ferido. Ele conseguiu matar o rival, mas não seria capaz de arrancar sua cabeça para provar aos contratantes que havia eliminado-o. Estava muito mal, no fim das contas, e precisou meio que se arrastar em meio a floresta em busca de ajuda, ou quem sabe, abrigo. Estava em território de Niger, era sabido que ali os shifters eram bem vindos em qualquer lugar, portanto deveria haver um por perto.

Foi assim que conhecera Gravor, seu braço direito e amigo mais chegado. A visão daquele tigre de bengala foi a ultima coisa que passou por seus olhos antes que ele apagasse, e quando acordou novamente estava numa cama quente e aconchegante, com todos os seus ferimentos devidamente tratados. O rapaz que salvara-o era jovem, não deveria ter mais de dezessete anos. Bem próxima de sua idade atual.

Eles trocaram palavras hesitantes no começo. Nomes, trivialidades. Enquanto conversava com aquele rapaz, ele via a mesma ânsia que fizera-o deixar seu lar. A vontade de conhecer o mundo, de sair por ai sem ter hora ou lugar para retornar.

— Você viria comigo? — Skylar perguntou certa vez. O outro negou, num primeiro momento. Não estava preparado para deixar a família que tanto amava. No entanto, quando o ruivo agradeceu e partiu, algumas horas mais tarde podia ouvir alguém correndo pela mata. E ele até já imaginara o que significava, quando vira aquele moleque indeciso saindo do meio das folhas com uma mochila pendurada no ombro e um enorme machado na mão. Pelo sorriso ansioso que ele exibia, Sky notara que não precisava se preocupar com aquele machado (mesmo que tivesse ficado realmente assustado com ele num primeiro momento).

Os dois começaram a caçar juntos, e as coisas pareceram se ajeitar por um tempo. Era muito mais interessante viajar com alguém, e Gravor tinha um bom senso de responsabilidade. Mesmo que aquele grupo crescesse, ele sempre seria seu braço direito. Mesmo que Grav reclamasse e brigasse toda vez que tentava jogar essa mesma responsabilidade para cima dele.

Sean foi o segundo a aparecer em seu caminho. Ele era extremamente esquivo, e ao contrário de Gravor, o primeiro encontro entre ambos não foi nada agradável. Quando as coisas esfriaram, no entanto, o impulsivo e calado shifter decidiu juntar-se ao grupo. O BeastHunters ganhou essa nomeação exatamente por sugestão dele. Uma sugestão mais resmungada do que exposta, para ser sincero.

A vida do líder só pareceu dar um salto conclusivo, contudo, quando encontrou-se com Trixia Oliver. Aquela pequena louca havia saído de casa na maior empolgação, dizendo que queria viver uma aventura. Não dava para negar que ela era esperta e talentosa, e sua forma de pantera faria a maior parte das pessoas mal-intencionadas saírem correndo. Mas era inocente, achando que o mundo lá fora era um lugar tranquilo.

Ela havia sido cercada por caçadores quando o grupo a encontrou. Sem dúvida ficara extremamente agradecida por ter sido salva. Era uma garota realmente adorável, mas tentara sair de mansinho depois de Skylar afirmar categoricamente que ia levá-la de volta antes que se machucasse de verdade. Logicamente ela não conseguiu, e foi praticamente arrastada por todo o caminho até o Principado de Path.

Ao chegarem, houve uma longa e cansativa discussão sobre o porque daquele estranho ter trazido a filha do Grão-duque de volta, considerando que ele próprio havia autorizado-a a sair do Reino. O equivoco foi tão longo que Skylar cansara-se e decidira passar a noite por lá mesmo. E então conheceu Yan.

Seria muito agradável alegar que ambos trocaram olhares e se apaixonaram automaticamente. Não foi, porém, bem isso que aconteceu. Na verdade, apesar de ambos terem sentido uma extrema e potente atração desde o minuto que seus olhos se cruzaram, o que significava que havia um fator incontrolável agindo ali (talvez algo como destino), na segunda observação eles se estranharam. Yan era completamente mimado, e adorava pregar peças.

O líder dos BeastHunters caiu em cada uma delas antes de revoltar-se completamente e agarrá-lo pelo colarinho, assim que aquela raposa-cretina passou novamente por ele. Estava pouco se lixando se estava ligado aquele ruivinho miserável ou não, ele iria...

Ele não iria fazer coisa alguma, afinal aquela sensação tomou conta dele outra vez, principalmente ao fitar aqueles olhos azuis, tão claros que poderia até confundi-los com a cor cinza, tão de perto. Sky se perdeu completamente naquele instante, não era capaz de pensar num xingamento sequer dos que escolhera para usar. De alguma forma seu cérebro desligou por um momento, o suficiente para que seus lábios se tocassem pela primeira vez.

E então já era tarde demais para negar qualquer coisa que fosse. Aquele ruivinho mimado e irritante era seu, e ai daquele que ousasse fazer qualquer maldade que fosse à ele. Não haveria perdão, não haveria nada. Consequentemente, com os dois tão próximos, ele e Trixia acabaram se aproximando e... bom, havia mais um membro para a equipe.

Ryan foi o último a se juntar, assim como Sean foi encontrado perambulando pela floresta. Mas aquele garoto era tão animado e mala-sem-alça que seguiu-os por todo o caminho desde que toparam com ele. Nem tentando despistá-lo eles eram capazes de escapar, e apesar da idade, o shifter acabou ganhando pela insistência.

Skylar tinha formado sua grande família feliz e problemática, mas no fundo de seu ser ainda guardava um desejo antigo e insistente: o de voltar àquela vila onde nascera e descer seus dentes por todo habitante que encontrasse pela frente. Mas isso, logicamente, não era compartilhado com mais ninguém. Era um passado dele, só dele. Quando seus novos parceiros perguntavam sobre como perdera o olho, ele apenas piscava o outro e sorria, alegando que aquilo fora uma questão de aprendizado.

E nas raras noites em que a solidão tomava conta, quando ele se lembrava do que não devia, apertava com força o cordão que mantinha sempre no pescoço, escondido por dentro das vestes. Nele, cuidadosamente escondida, havia uma imagem de seus pais adotivos, pintada a mão por sua mãe. Desde que tivesse aquilo, e o seu bando consigo, nunca mais precisaria sentir-se abandonado novamente.

Ele sempre teria um lugar para onde retornar...

oOo

Em algum lugar do território de Sidnary:

Skylar não parecia incomodado com a decisão que fora tomada ao separar os grupos. No seu estavam Gravor e Ryan, o que era um belo consolo. Também havia Selene, a elfa de frios olhos violeta, que fora responsável pelas queimaduras na mãe de Trixia. Por mais que ele tivesse uma opinião única com relação ao perdão (que estava relacionada a não fazer tal coisa), todos os envolvidos no teletransporte de Lidrin que estavam em seu grupo tiveram as memórias misturadas.

Ele vira a verdadeira face da elfa naquele instante, e mesmo que lhe doesse admitir, não poderia culpá-la completamente. E mesmo que fosse fazer tal coisa, o contrato anulava qualquer possibilidade de algo como vingança. De maneira que simplesmente deixou para lá. Certas coisas resolvem-se sozinhas, afinal.

A última integrante do grupo era Nyx. Por algum motivo ela havia mudado completamente suas vestimentas (não que cada um ali tivesse apenas uma muda de roupa, mas a diferença para o seu estilo habitual era gritante). Estava usando roupas mais justas, feitas de couro marrom: botas e uma calça, ambas cheias de fivelas e algo que lembrava muito um corpete. Um sobretudo de cor esverdeada cobria toda a vestimenta, e ela tentava ajeitar uma boina da mesma cor na cabeça... parecia que ela estava tentando ser outra pessoa.

— Qual é a desse estilo novo?

— Nós pretendemos pegar Etherea, o que vai acabar em confusão, e minha cabeça está a prêmio, se é que não se lembra.

— A minha também está. — alegou Selene, abrindo um sorriso de zombaria. — Mas me contento com uma capa e um capuz, e acho que já basta.

Ryan, que andava na frente, parou e voltou para perto de Nyx, observando-a de cima a baixo, antes de coçar a bochecha. — Ei... Lady Nyx... agora que estou pensando nisso, mas e os seus chifres?

Os movimentos dela pararam automaticamente e uma aura maligna surgiu a sua volta. Ela parecia realmente incomodada, talvez até mesmo zangada com tal pergunta, o que fez Ryan recuar rapidamente.

— Sobre isso... — Selene alegou, vendo que a outra não responderia. — Parece que os chifres e as asas mágicas acabaram sendo tomados como “preço” por aquela mulher.

E com isso uma risada extremamente debochada escapou de seus lábios, mas ela estava longe o suficiente da líder para que esta não notasse.

— Aquela megera amaldiçoada... ela não faz ideia do trabalho que tive para recolher aqueles artefatos... — queixou-se a mestiça, enterrando com mais força ainda a boina em sua cabeça e praguejando mais algumas coisas baixinho. Possivelmente Nyele havia trocado sua roupa inteira de propósito.

— Você pediu por isso, Nyx, chamou ela de anciã. E só os deuses sabem o que você fez a mais com ela naquela sala.

Aquela coisa é uma anciã. E eu não fiz nada, além de escutar as cinquenta milhões de ameaças veladas de sempre. — Estapeou o ar com indiferença, espantando algum inseto que ousara chegar mais perto dela.

— Ah, disso eu duvido muito. — Selene arqueou uma sobrancelha, enquanto Gravor apenas suspirava. O líder dos shifters deu apenas de ombros, com simplicidade. Ele não estava nem ai para aquilo afinal de contas, porque a tal Etherea ficava nas redondezas do Principado de Path. Isso queria dizer que ele estaria por perto. Só essa ideia já melhorava cem por cento o seu humor, ainda que estivesse viajando com as duas garotas mais irritantes de Meroé. E que o tempo parecesse esquentar novamente, talvez fossem ter outro dia estupidamente quente.

Ele estralou o pescoço, espreguiçando-se logo em seguida e acabou sorrindo para os que vinham mais atrás, independente dos parcos integrantes da JusticeBlade estarem junto. — Animem-se, pessoal! Isso vai ser uma bela aventura.

— Eu vejo que vai ser um belo problema. — Nyx desviou os olhos.

— Tanto faz. — Selene ajeitou seu arco-e-flechas no ombro, parecendo mais pensativa que o normal. Algo estava incomodando-a bastante, mas nada disse. A proximidade com aquelas terras... faziam-na ter um péssimo pressentimento. — Só ir na frente, garoto-com-o-tapa-olho.

— Yei! Estou empolgado.

— Você está sempre empolgado, Ryan... — Gravor sorriu de canto, endireitando seu machado nos ombros, seguido de perto pelo menor. Eles trocaram toques de mão, e logo começaram o caminho.

Mas é claro que Destiny havia preparado especialmente os obstáculos que os levariam até Etherea. E possivelmente ela estaria em algum lugar, lendo essas páginas e rindo consigo mesma. Ela adorava uma boa história. E boas histórias precisam ter ação.

E muita tragédia...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bom... eu esqueci tudo que tinha pra escrever aqui, mas vou tentar lembrar, calma!
.
Sim, eu sei que coloquei que o Yan tem olhos azuis e no chibi ele está com olhos roxos, mas a culpa é toda do personagem que a Enma escolheu pra ser a caracterização dele, aquela praga aparece em cada lugar de um jeito diferente. Uff...
.
Esse capítulo, assim como muitos outros, mostram o quanto a primeira visão de Meroé é errada: quando dizemos que os povos vivem pacificamente entre si, é em "visão global", onde os pequenos incidentes são excluídos. Então entramos naquela discussão moral, será que os Pesadeletes não teriam razão em querer a destruição daquele mundo imperfeito?
.
As partes que tem relação ao Gravor e a Trixia são maiores exatamente porque não pretendo fazer outro capítulo especial deles, afinal a Kaline já havia feito eles mais para trás. Mas como ela não chegou a mostrar como se conheceram, isso entrou na visão do Sky também.
.
Acho que é só isso por enquanto rsrsr... kisses para vocês e até a próxima!
.
Ps.: Próximo capítulo vai pegar o passado do Lidrin e outra pequena cena no presente para que não haja uma fuga muito grande do enredo de CdP.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Crônicas do Pesadelo {Interativa}" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.