LYLA X TRIXIA

Trixia começara a luta relativamente bem, apesar dos ferimentos. Sua oponente também sofria com a mordida que esta lhe causara mais cedo, portanto elas pareciam estar em pé de igualdade. Mas Lyla era extremamente forte, o que deixava claro que ela não devia se aproximar demais. Afinal, havia visto o que a mulher fizera com a foice de Nyx, com apenas um golpe, e o que fizera as suas próprias costelas.

Estava concentrada, contudo, como não estivera há muito tempo. Controlada, com a cabeça fria. Era assim que gostava de lutar, sem fatores externos, sem nada que lhe tirasse sua sanidade. Entre os dedos, trazia uma faca de atirar. Seu arco-e-flecha havia sido deixado com seu grupo. Não precisaria dele lá em baixo. Era o que pensava, pelo menos.

A garota saltou para trás quando Lyla tentou acertá-la com um soco. Sua força era tanta que o deslocamento de ar causado pelo golpe fez os cabelos de Trixia repuxarem. A garota aproveitou para prender o braço da maior e atirá-la por cima de si. Mas a mulher levantara-se mais rapido do que esperava, o que não lhe deu tempo de lhe apunhalar. A faca cortou o ar, fazendo-a perder o equilíbrio por um instante, e Trix rolou no chão para evitar um segundo soco. A rocha abaixo de sua cabeça afundou numa cratera, e ela ficou feliz pelo golpe não ter lhe acertado.

Colocou força nas pernas e chutou-a na barriga, fazendo-a se afastar, e conseguindo ficar de pé. Seu corpo miúdo tornou fácil dela desviar da chuva de golpes que a mais velha lançou sobre ela. Esquerda, direita, baixo, cima. O padrão não era tão dificil de prever, mas se um golpe acertasse, ela sabia que teria problemas. Esperou que Lyla golpeasse novamente por cima e desceu o corpo, preparando a faca e enterrando-a em seu flanco esquerdo.

Isso causou uma reação imediata da parte da outra, que agarrou-a pelo pescoço e bateu sua cabeça contra o chão com violência exagerada. O machucado que inflingira na rival parecia profundo, mas aquela porrada fez sua cabeça girar por algum tempo. Fora que seu rosto deveria estar deprimente, ela podia sentir o nariz que obviamente saíra do lugar e o sangue que escorria dali.

– Sabe... você fica mais adorável assim. - ela finalmente pôde ouvir a voz da outra, perto demais de si. Ela havia abaixado ainda mais o corpo sobre o dela, observando-a com um olhar pervertido. Por todos os deuses, o que ela estaria pensando?

– Cale-se.

Um breve assobio partiu dos lábios de Lyla. - Você é corajosa, gracinha.

– Você não faz ideia.

– Uh... que medo! Acho que irei brincar um pouco com você antes de matá-la. - Em nenhum momento ela havia soltado o pescoço de Trixia. A força que fazia no local não mudara em nada. A garota podia ver o sangue escorrendo pelo ferimento feito à faca, mas sua oponente não parecia ligar para a dor ou perda deste.

– Eu ainda estou lutando, então cale-se e vamos terminar isso logo!

– Eu não quero. - voltara a abrir aquele sorriso sarcástico. - Afinal posso fazer coisas muito mais interessantes com você. Como por exemplo...

Ela pressionou o pescoço da menor com mais força, de maneira que está não conseguisse mover a cabeça, e desceu os lábios até os dela, beijando-os. Trixia sentiu uma língua quente e úmida abrir caminho e invadir sua boca.
E a mordeu. Com tanta força que em dado momento conseguiu arrancá-la de sua dona e cuspir sua ponta para longe, enquanto Lyla recuava por causa da dor. Aquela ela realmente sentira, o que era incrível, considerando todos os outros pontos que Trix acertara antes. Aproveitando-se que o aperto em seu pescoço havia diminuído consideravelmente, a moça ergueu a cabeça para bater na testa da outra, o que sem dúvida causou-lhe ainda mais vertigem. Seu corpo girou rapidamente, antes que a outra tivesse tempo de se organizar, e usou a faca que ainda estava em sua mão para tentar acertar o coração da oponente.

Mas ela segurou.

Desgraçada, filha de uma puta...

– O que foi, gracinha? Achou mesmo que ia ser fácil assim? - Ela sorria, sangue escorrendo pelos cantos da sua boca, falando estranho graças a língua mutilada. Sua mão segurava o braço que ela usava para tentar esfaqueá-la pela segunda vez.

– Não. Não achei mesmo. - Trix usou sua mão livre para agarrar o ferimento no ombro de Lyla, o mesmo que fizera mais cedo, em sua forma de pantera. Forçou sua mão através da pele, fazendo-a estremecer. Ela podia ter uma resistência absurda pra um humano, mas não era feita de ferro. A garota continuou a afundar suas unhas na carne, até que a pressão em seu pulso afrouxou.

A luta fez com que sua mira no coração da mulher se perdesse completamente, e Trixia precisou pensar rápido. Logo ela daria um jeito de sair daquela situação, e a shifter perderia sua chance. Cavou um pouco mais fundo com a outra mão, enquanto a que segurava a faca ia para um ângulo acima do olho esquerdo da rival.

E então a lâmina desceu, cortando o globo ocular e tudo que havia em seu interior. Extremamente afiada, chegou ao cérebro.

Os espasmos do corpo abaixo de si pararam praticamente ao mesmo tempo em que Ryan começara a uivar. Seu sangue gelou. Uma dor profunda nasceu em seu coração, parecia que aquela lâmina que tentara enfiar na mesma área em Lyla, havia acertado ela mesma. Seus olhos cairam sobre a mulher que acabara de matar, enquanto os uivos iam ficando cada vez mais fracos, até cessarem.

Trixia levou ambas as mãos ao rosto, ignorando completamente a quantidade de sangue que havia nelas, e chorou.

SELENE X LOKE

– Oh... você outra vez? - Loke ergueu uma sobrancelha, observando a sua rival. Ele parecia francamente decepcionado com tal escolha. - Eu queria tanto lutar com a Lady Nyx...

– Pode esquecer. Seu assunto é comigo hoje. - Ela cravou os olhos lilases nele e aprontou uma flecha. - Também pode esquecer essa sua obcessão por aquela pirralha, você não vai colocar suas patas nela outra vez.

Ele apenas riu, jogando os cabelos para trás. - Ha... que divertido. Ela virá até mim por vontade própria. Um dia. Mas enquanto esse dia não chega, que tal nós jogarmos, Rainha de Copas?

O fato dele saber seu título não lhe dizia nada, afinal muitos conheciam. Selene fez a primeira flecha voar, e esta passou rente ao rosto dele quando este desviou a cabeça. Ele era rápido, sem dúvida, logo ganhando terreno e chegando bem perto dela. Uma lâmina de sombras surgiu entre seus dedos, e ela usou o arco para proteger-se, barrando o golpe que podia tê-la partido em duas. Girou o corpo agilmente, dando-lhe um chute para que ganhasse distância, e pôs outra flecha no arco. Loke atirou algo contra ela, possivelmente algum outro objeto feito de sombras, mas ela rolou para desviar e firmou-se novamente, atirando a segunda flecha.

Essa poderia ter acertado-o bem no peito se ele não tivesse subido um escudo de sombras na frente do local. A elfa praguejou, irritada. Por enquanto, não queria ter de usar suas habilidades com o fogo. Mas já estava claro que as flechas seriam inúteis.

Correu até ele, desviando de mais alguns projéteis e fazendo os pés deslizarem pelas diminutas rochas que haviam espalhadas pelo seu lado da arena. Loke notou a movimentação e subiu uma vez mais o escudo, mas com o escorregão proposital Selene passou por baixo dele, armando a terceira flecha e atirando. Esta acabou acertando o ombro do homem, pegando-o de surpresa. Contudo, Selene já havia desistido das flechas, e antes que ele pudesse fazer algo com relação à haste varando sua carne, ela ficou de pé novamente e acertou a mão violentamente sobre o ferimento, fazendo a flecha afundar mais.

Loke segurou seu braço, mas ela usou as pernas para derrubá-lo com uma rasteira. Tentou acertá-lo novamente, mas desta vez ele fora mais rápido e atingiu-a antes, com um filamento afiado de sombras, que acertou sua coxa. A elfa caiu, e sentiu uma vibração no ar, movendo a cabeça para evitar ser ferida novamente. No entanto, não foi rápida o suficiente e as sombras deceparam uma de suas orelhas pontudas.

A dor foi tão intensa que lágrimas vieram aos seus olhos, e ela acabou soltando um grito de agonia. Sabendo da situação que estava, contudo, tentou esquecê-la e focar na luta. Podia sentir nitidamente o liquido quente e viscoso escorrendo por seu pescoço e xingou-o com todos os palavrões que conhecia, fazendo uma bola de fogo surgir em sua mão. Atirou-a contra ele, já sabendo que seria barrada facilmente, mas aquilo era apenas uma forma para consgeuir levantar de novo. Com a ponta dos dedos, rasgou uma das mangas da blusa que usava e tentou enfaichar o ferimento de uma maneira rápida e precisa.

Loke estava com uma expressão entediada, ele sabia ser irritante, completamente miserável quando queria. Um sorrisinho travesso surgiu no canto dos seus lábios ao ver que seu golpe havia surtido efeito, afinal. - Oh... espero que isso não atrapa-lhe sua audição, querida.

– Seria ótimo, afinal eu não precisaria ouvir você latir.

– Nossa, estou ofendido. - Ele levou uma mão ao coração, fingindo uma careta de tristeza, mas não demorou muito para sorrir novamente. - Au, au!

Selene trincou os dentes. Se pudesse, arrancaria a língua daquela cobra traiçoeira pela raiz para que ele nunca, jamais pudesse falar mais coisa alguma. Fez com que uma faixa ardente a circundasse, entrando em posição de ataque. Loke reparou que ela ficara séria novamente, e com isso também se endireitara, fazendo com que suas sombras dançassem caoticamente ao seu redor.

– Estou curioso, Rainha de Copas. Se você é uma arqueira, como corta as cabeças?

– É um segredo. Você descobrirá quando eu arrancar a sua.

– Oh! Estou tão empolgado! Mas me pergunto, sinceramente... cortar minha cabeça ou me queimar vivo, como você não conseguiu da última vez... De que forma será que pretende me matar, elfa?

Selene não respondeu. A faixa incandescente ergueu-se e encontrou-se com as sombras dele, e houve uma explosão. Aproveitando-se da fumaça que se erguera, ela contornou, aproximando-se mais e acertou uma esfera de fogo nas costas dele. Apesar de ter sido atingido, Loke ainda assim girou e materializou outra vez sua espada, usando-a para acertar o ombro da elfa. Ela esquivou, mas não viu uma outra sombra vindo em sua direção, que desta vez perfurou-a na canela.

Ele estava tentando pará-la, era óbvio. Estava focando seus golpes em suas pernas, para que ela não pudesse desviar quando começasse a jogar à sério. Mas deduzir isso agora já nem adiantava, Loke já havia atingido-a no mesmo membro duas vezes, e mesmo que sua coxa não duesse tanto no momento, sentia que o ferimento na canela tinha chegado até o osso, quiçá atravessado-o. A perna não aguentou o peso do próprio corpo e ela caiu, tentando usar o fogo como defesa, enquanto não pudesse andar.

Seu cérebro trabalhava rapidamente. Os gritos começaram a chegar nos outros campos, mas ela não conseguia concentrar-se neles. Seu foco estava completamente ali, no seu oponente. A barreira de chamas era inútil contra ele, sabia perfeitamente bem. Se conseguisse fazer algo para separar a cabeça dele do corpo...

Suas mãos buscaram algo nos seus bolsos, dando imediatamente por sua falta. Seu cenho se franziu, e Loke deu uma risadinha maldosa. - Me parece que perdeu alguma coisa, elfa.

Ela voltou a tentar atacá-lo, vendo que o plano que começara a arquitetar não funcionaria. A parede de fogo foi em direção a Loke e este conseguiu sair dali por pouco, tentando tirar o fogo que pegara em suas roupas com tapas. Selene tentou levantar outra vez, conseguindo por pouco tempo ficar de pé, mas seu oponente de alguma forma já chegara por trás de si.

Rápido demais...

Seu raciocínio estava lento, possivelmente por causa da dor e dos gases que subiam de ocasionais frestas na rocha. Não sabia se eles eram tóxicos, mas estavam atrapalhando-a um bocado. Antes que pudesse girar para confrontár o homem mais uma vez, porém, sentiu algo afiado passar por seu pescoço. Uma linha tão fina que era dificil notá-la, não fosse o sangue começando a escorrer pelo local que ela pressionava. Aquela era...

– Era isso que estava procurando, não é?

Ela engoliria em seco, se não soubesse que até mesmo esse movimento iria cortá-la mais.

“Estou curioso, Rainha de Copas. Se você é uma arqueira, como corta as cabeças?”

As palavras dele passaram mais uma vez por sua cabeça. O cretino já sabia, deveria ter pego aquela linha dela no começo da luta. Se usasse as sombras, ela nunca notaria.

– Diga suas últimas palavras, Rainha de Copas.

Ela já havia calculado suas chances. A menor pressão vinda da parte dele cortaria seu pescoço, e uma ainda mais forte faria sua cabeça cair. Aquela linha era especial, uma arma sutil e letal. A mais forte e mais afiada de toda Meroé e, de fato, a melhor maneira para decapitar alguém.

Pateticamente, sua arma secreta iria ser usada contra ela mesma.

Selene mordeu o lábio inferior, Uma de suas mãos fechou-se com toda a força que conseguira juntar. - Sa tuled mööda.

Loke demorou alguns segundos para entender o que ela dizia, mas quando a compreenção atingiu sua mente, era muito tarde. Mesmo quando arrancou a cabeça de Selene com um movimento preciso, o fogo já havia acorrentado-o por completo. Chamas infernais, quentes, insanas lamberam sua pele, sua carne e até mesmo seus ossos, parecendo engoli-lo de dentro para fora.
Loke não teve sequer tempo de amaldiçoá-la. Ela havia usado a mesma técnica de morte instântanea que tentara contra ele no dia do Baile de Máscaras. Desta vez, contudo, ela havia atingido-o.

Ele se desfez em cinzas com um único pensamento em mente, além da dor. Era o significado para as palavras que a elfa usara antes de morrer.

Sa tuled mööda.

Você vem junto.

oOo

Shakrat parecia entusiasmado com seu pequeno torneio de horrores. No momento em que Selene e Loke se mataram, causando um empate, as estruturas voltaram a tremer violentamente, e o véu foi retirado sobre o campo. Aqueles que ficaram de fora, suspiraram de alívio. Pelas contas, seu lado havia ganhado.

Num primeiro momento eles estavam preocupados com seus amigos lutando lá dentro, mas o guardião deixara bem claro que “a luta até a morte era dentro da arena, somente”. Basicamente, eles só iriam morrer dentro dos limites demarcados, e não do lado de fora. Colocando de um jeito que fosse mais fácil de entender: eles estariam vivos quando o jogo terminasse. Era tudo uma ilusão? Não, era um tanto quanto mais complicado que isso.

O guardião tinha as bençãos de Seamus, o Deus da Criação. E também fora, nos seus tempos de glória, um sacerdote da Deusa Irmã. Apesar desta ter seu legada na força da água, Shakrat havia ficado com a Chave Principado do Fogo na divisão que houvera entre os heróis, para que Pesadelo não despertasse novamente.

Sua benção combinada com a fé na dita Deusa Primária lhe deram uma habilidade tão rara e incrível que ele mantinha em segredo absoluto. Seu dom era da ressurreição. E foi com isso que ele trouxe de volta a vida, intactos, aqueles que pereceram na arena.

Ao ser questionado do porquê de não ter avisado aquele fato antes, ele alegara em seu favor que “Se eu houvesse dito, o teste não faria sentido”, o que deixou subentendido que Shakrat estava realmente testando a convicção de lutar até a morte por um objetivo.

Neco e Selene chegaram junto aos seus com expressões distintas. A primeira parecia aliviada por ter ganhado sua luta, e pelo fato dos outros estarem bem. A ideia de luta até a morte a deixara assustada, mas agora que tudo havia sido resolvido, estava bem mais tranquila.

A elfa mais velha não compartilhava de alivio nenhum. Estando viva agora ou não ela tinha sido assassinada. Pela sua própria técnica. Se pudesse teria queimado Loke um milhão de vezes mais, mas o guardião havia afastado-os antes que se atracassem de novo. A única razão para ficar mais tranquila era que, matando Loke junto consigo, havia de certa forma garantido a vitória dos Relicários, impedindo que ocorresse um empate e que Lidrin fosse convocado a lutar.

– Eu fico te devendo uma, Selene. Mesmo sabendo que não ia morrer “de verdade”, não estava a fim de lutar.

– Cale a boca, Lidrin, ou vou queimar essa sua língua.

Nyx deixou uma mão pousar em seu ombro. - Foi um belo trabalho. Queimou aquele cretino. Sinta-se feliz. - Logo depois, começou a bagunçar o cabelo de Neco. - Também fez um bom trabalho, Neco. Ajudou a conseguir nossa vitória. Depois penso em uma recompensa digna, certo?

– N-não precisa. É sério. - a jovem corou brevemente, juntando as mãos sobre o peito. - Não foi nada de mais. Foi pura sorte.

– Sorte ou não foi uma bela luta. - cortou Frosty, chegando por trás e sorrindo para a pequena. - Mas da próxima vez que resolver fazer algo no meu lugar eu vou encher essa sua cabecinha de cascudos, fique logo avisada. - ele andou mais um pouco e dependurou o peso no ombro de Selene. - E a Rainha de Copas perdeu a cabeça...

– Você quer morrer agora ou depois?

– Oh, mas já não tivemos mortes demais por hoje? - ele inclinou a cabeça, com uma expressão cínica. Ela não respondeu, e ele logo suspirou, desta vez com um sorriso contido, quase aliviado. - Eu estava preocupado... é bom tê-la de volta.

– Tá... - ela desviou os olhos para o chão, como se este fosse a coisa mais interessante dali. - Mais tarde conversamos sobre isso.

Ryan e Trixia chegaram na sua plataforma se escorando. Aquele guardião filho de uma cadela havia negado-se a ajeitar os ferimentos daqueles que haviam ganhado a luta, o que significava que a pantera ainda estava com o rosto detonado e com marcas da pressão que a outra mulher botara em seu pescoço. Já Ryan parecia completamente inteiro. Não fosse seu orgulho ferido.

– Desculpem. Não deu desta vez.

– Está tudo bem, Ryan. Você foi corajoso de ir contra aquela coisa verde e asquerosa. - Trixia abraçou-o por trás, bagunçando os cabelos arruivados com a mão. Ela duvidava que se tivesse ido contra aquela coisa (mais conhecida como Kenai), teria conseguido sobreviver. Lyla já fora uma oponente e tanto... o que lhe lembrava...

Trixia botou a língua pra fora. Até que aquela cretina beijava bem. Não, não, não mesmo! Não ia ficar pensando nisso. Ela fora praticamente abusada ali dentro – ou deveria ter sido, se não tivesse feito nada.

– Trix... o seu rosto... - Skylar fez um sinal apontando para a própria face, junto a uma careta.

– Está tão ruim assim?

– Er... eu evitaria os espelhos por um tempo.

A cara emburrada que a garota fez foi suficiente para desarmar a piadinha dele. - Okay, okay. Quando sairmos daqui vamos tratar disso e você vai ficar novinha em folha.

– Isso é o que ela ganha por ir contra as ordens do Alfa. - Murmurou Gravor, implicante, desviando o olhar.

– Ah, Gravor, não enche.

– Estou brincado... mais ou menos. O que importa é que vocês voltaram vivos, independente se ganharam ou perderam. - Ele sorriu para ambos, logo depois se endireitando.

Sean, do seu lado, apenas ergueu o polegar num gesto otimista. - Bom trabalho.

– Faço das palavras dele as minhas. - Sky parecia com preguiça naquele dia, ou estava preocupado com alguma coisa, o que diminuía consideravelmente seu nivel de piadas e de palavras também. - A Chave é nossa... mas eles podem tentar roubá-la, ainda.

Os shifters convergiram seus olhares na direção dos quatro Seguidores do Pesadelo. Sem saber que seus novos aliados faziam o mesmo.

Kenai, Lyla, Loke e Liam se encararam por alguns segundos. Era lógico que cada um ali estava muito contente por estar vivo (com exceção de Kenai, que sequer perdera sua luta), mas aquele fracasso estava pesando bastante em seus ombros.

– Eu nem falo nada, bando de fracotes. Como vocês conseguem perder para garotas? - questionava o mokolé, passando o braço pelo ombro de Liam, não dava para ter certeza se era para ajudar a apontar o dedo na cara dele ou com segundas intenções. Afinal, nenhum deles vira a reação bombástica do rapaz quando descobrira que seu parceiro de campo havia morrido.

– Número um, me solte agora mesmo! Número dois, confesso que eu subestimei aquela elfa minúscula. Não vai acontecer novamente.

– E você vai fazer o que se eu não soltar, Quatro-Olhos?

– Ei... foco aqui, projeto de casal. - Alegou Loke, erguendo uma mão para chamar a atenção de ambos para si.

– Quem você está chamando de projeto de casal!?

– E deixando isso de lado... - Liam, depois de protestar em únissono com Kenai e empurrá-lo para tirá-lo de perto de si, ajeitou os óculos e continuou. - Você também perdeu miseravelmente pra Rainha de Copas. Que vergonhoso.

– E eu ia saber que aquela vadia podia me incinerar antes de morrer de vez? Quanto tempo que uma pessoa fica viva sem a cabeça, uns três segundos?

– Obviamente ela só conjurou o feitiço no mesmo momento que você cortou a garganta dela, talvez segundos antes, então o fogo apenas fez o resto do trabalho.

– Ótimo, sabe-tudo, agora me sinto muito melhor. - Loke voltou sua atenção para Lyla e apontou para ela. - E você... sua desgraça, aposto que estava se divertindo com a sua rival ao invés de matá-la.

Lyla fez uma careta de desagrado, estreitando os olhos. - O que posso fazer, ela era uma gracinha... trabalhar apenas com homens é tão sexualmente frustrante.

– Sexualmente frustrante é ter uma única mulher no grupo e ela não gostar de... - antes que Loke pudesse terminar, um pedaço de rocha voou em sua cabeça.

– Cale-se! E deixando as opções sexuais de cada um aqui de lado... o que vamos fazer agora? - A mulher limpou as mãos sujas de terra (da pedra que acabara de jogar) e ficou séria novamente. - Eles ganharam a Chave justamente.

Loke massageou a testa, onde começava a crescer um galo, e mentalmente arquitetou um milhão de maneiras de matar Lyla. Depois de alguns segundos, porém, pareceu se acalmar. - Isso é muito simples, querida. Nós vamos tirá-la deles, assim que botarmos os pés pra fora daqui... Ou podemos deixá-la com eles apenas por enquanto, teremos mais duas oportunidades para consegui-la de volta.

oOo

A entrega da Chave fora relativamente fácil. Shakrat havia feito ela surgir no meio da sua boca ígnea e a tal fora levada por uma força invisivel até Skylar. No minuto seguinte, porém, as coisas ficaram bem complicadas.

– Agora... sumam.

O chão de rocha, assim como todo o ambiente, pareceram se moldar novamente, e em alguns instantes todo mundo foi literalmente catapultado para fora do subterrâneo, na direção do litoral.

Neco desesperadamente tentou erguer uma mão de terra para segurá-los, mas alguns passaram direto pelo vão dos dedos e continuaram a queda livre. Sky conseguiu virar um lobo em pleno ar, diminuindo o impacto da queda ao cair sobre as quatro patas. Frosty também não tivera sorte e criara uma lança de gelo para fincar no chão, impedindo que caísse sobre este e se quebrasse todo. O que, de alguma forma, não evitara que ele deslocasse um ombro.

O terceiro fora Lidrin, que simplesmente parara em pleno ar e descera com toda a calma do mundo até o chão, sem sofrer um arranhão sequer.

– Neco! - protestou Frosty. Aquela garota deveria odiá-lo.

– Me desculpa!!!

Eles se reagruparam rapidamente, tendo certeza que estavam todos bem (ignorando a mais nova torsão de Frosty) e puseram-se a observar a chave. Ela era prateada, parecia nova, era estilisada e continha uma pedra absolutamente vermelha em sua ponta, tão vermelha quanto o sangue. Fora isso, não parecia mais que uma chave comum.

– Parece tão... simples. - Selene soergueu uma sobrancelha, incomodada, enquanto voltava sua atenção para o lugar a sua volta. - Não vejo aqueles quatro. Talvez seja melhor irmos embora antes que resolvam aparecer.

De fato os Seguidores haviam saído sem serem vistos, e poderiam estar em qualquer lugar... à procura do seu barco pra voltar para o continente, ou tramando o próximo plano para conseguir as Chaves.

– Odeio concordar com a moça esquentada, mas ela tem razão. - Trixia inclinou a cabeça em direção a Nyx. - Como vamos embora?

A mestiça estralou o pescoço, movendo a cabeça de um lado para o outro, e logo após bateu as mãos. - Certo. Formem um círculo. Espero que Nyele já tenha se preparado.

– E se ela não estiver pronta?

– Lidrin deve resolver. - levou a mão aos ouvidos, prevendo o piti que o outro daria, sobre ele não ser escravo e coisa parecida. O círculo foi formado, como ela pediu, e Nyx murmurou algumas palavras irreconhecíveis.

Houve uma luz forte caindo sobre eles, e no minuto seguinte, não estavam mais lá.