Crônicas do Pesadelo {Interativa} escrita por Dama dos Mundos, Kaline Bogard


Capítulo 29
Aqueles que carregam uma cicatriz...


Notas iniciais do capítulo

Quem dera ser um peixe...

To zoando, gente. Calma, não vou mergulhar no aquário de ninguém, apesar do calor xD Lembram de mim? Sou eu, Kaline Bogard! Venho do futuro com uma mensagem para vocês: "Save the Cheerleader, save the world". Brinks. Again.

Falando sério, eu devia ter postado isso em dezembro. Dezembro!! Acreditam no tamanho da minha cara de pau? Até eu me surpreendo. Não sei como a Ame chan aguenta... well, no fim das contas acabei digievoluindo para uma andorinha e voei pelo céu as férias inteiras!! Mentira. Dormi o dia todo, assisti anime, séries e enchi a cara de cerveja. Culpem o calor.

Enfim, perdoem essa pobre andorinha e saboreiem a cerveja, digo, o capítulo. Deixem a loirinha só pra mim!

Divirtam-se!!



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A explosão mágica atingiu proporções épicas. Tão forte e incontrolável que, por um temeroso momento, pensou que fosse morrer. Ou talvez por um abençoado momento...

Mas não morreu.

Ao contrário disso sentiu como se seu corpo se diluísse em milhões de pequenas partes, minusculas como grãos de areias entregues aos caprichos do vento, deslocando-se muito rápido para um lugar distante.

Havia uma consciência, sim. Inundada com pensamentos estranhos e familiares ao mesmo tempo.

Cenas da infância... uma garotinha morena de grandes olhos verdes, um garotinho de cabelos ruivos e olhos travessos. Shifters com quem crescera. Seus queridos amigos...

Cenas de uma mina. Uma sentença a cumprir. Aquela sensação esmagadora de culpa por ter perdido o controle e ferido pessoas inocentes. O remorso...

Cenas de chegar em casa esperando o pior e encontrar. Talvez não o pior cenário de todos, mas ver a própria mãe inconsciente em uma cama, ferida de tal modo que nunca seria a mesma novamente...

Cenas de uma casa perdida na floresta, uma família feliz e unida, atacada por pessoas que não aceitavam criaturas de outra raça. A dor de perder todos os que são amados...

Quais daquelas lembranças eram suas? Alguma era sua? Talvez sim, talvez não. Já não sabia mais o que fazia parte de si e o que pertencia a outra pessoa. Seria, aquilo, a insanidade?

Quando pensou que a magia de teletransporte duraria para sempre, acabou.

oOo

Os corpos caíram no chão com um baque surdo. Gemidos vieram em seguida. A primeira pessoa a recobrar a consciência foi Trixia Oliver, que sentou-se no chão meio macio e úmido, encostando-se na parede de igual constituição. Sombras deixavam o lugar na penumbra. Era começo da noite, fato que dizia que tinham viajado por um grande espaço de tempo e distância.

Gemeu longamente passando a mão pela testa e sentindo sangue. Ferira-se em algum momento da queda.

A próxima coisa que notou foi o companheiro de equipe, Skylar, caído próximo, inconsciente.

– Sky! – arrastou-se até ele. O ruivo parecia nada bem, com alguns ferimentos, o pior deles sendo o ombro atingido pela arma da inimiga. O corte era profundo e ainda sangrava. Estava feio.

Sem pensar nas consequências Trix fez menção de tirar a própria blusa para cobrir a nudez do companheiro, mas antes que o fizesse algo a atingiu na cabeça. Era um casaco.

– Use isso – Lidrin ofereceu com uma voz fraca.

A garota rosnou baixo, mas aceitou a oferta. Usou o casaco para cobrir o corpo de Skylar. Continuou analisando o amigo brevemente, fingindo que Lidrin não estava ali. Ou a outra pessoa...

Com Sky começando a se aquecer, Trix prestou atenção no lugar. De alguma forma tinham caído no fundo de um buraco! Era largo o bastante para parecer uma caverna, mas a única saída era se escalassem as paredes, muito úmidas e escorregadias. Perigosas. Luz da lua penetrava parcamente, impedindo que a escuridão fosse total.

– O teletransporte acabou com minhas forças – Lidrin disse fraco – Só em algumas horas consigo tirar a gente daqui e curar o ferimento desse garoto. Então podemos procurar os outros.

Trix ouviu e não disse nada. No canto, Selene moveu-se desconfortável.

– Eu sinto... – começou a dizer. Porém Trixia rosnou mais alto e a cortou.

– Não diga nada – sua voz soou seca. Durante o teletransporte Trix dividira pensamentos e emoções com os demais. Vira dentro da mente da Rainha de Copas, sentira sua culpa, vira como foram enganados e manipulados pelo inimigo. Compreendia agora. Mas ainda era cedo para falar de perdão, mesmo que já não tivesse mais a sede de vingança – Por algum motivo bizarro estive dentro da sua cabeça e... eu sei. Só não estou pronta ainda – terminou olhando para Lidrin, com uma questão brilhando nos olhos – Essa coisa estranha de entrar na mente não é normal em teletransportes.

– Não. Deve ser a colisão de magias. Como vocês viajaram comigo e fui eu quem lançou o teletransporte, vocês meio que se misturaram a mim. Ouso dizer que tivemos sorte de nos juntarmos perfeitamente bem depois da viagem...

– O quê?! – Selene exclamou.

– Como assim? Você diz trocar de consciência? Tipo minha mente indo para outro corpo? Algo bizarro dessa forma? – ela estremeceu com a simples sugestão que pudesse deixar de ser ela mesma – Tem certeza que os outros estão bem, Lidrin?

– Que bagunça – o rapaz respirou fundo, feliz porque Trix o chamara pelo nome pela primeira vez que se encontraram – Pelo jeito tudo deu errado, ou melhor, quase tudo. Os outros devem ter seguido pelo teletransporte usual, não acredito que suas mentes se bagunçaram como aconteceu com a gente. Sinto muito por tudo. Eu só queria tirar vocês do campo de batalha em segurança.

– Sei disso – Trix resmungou – Vi seus malditos pensamentos também.

– Alguma magia ancestral estava agindo ao redor de Nyx e esse garoto – Lidrin ignorou o mau humor da amiga de infância – Quando a minha magia se misturou... olhem o resultado!

– Acha que os outros estão juntos? – Selene perguntou para ninguém em especial.

– Talvez sim. Vocês vieram comigo porque eu lancei a magia e estava mais preocupado com vocês. Minha intenção era separar os grupos, ninguém deve ter ficado sozinho.

– Você se preocupou comigo e com ela – Trix apontou Selene com a cabeça– Pelo que aconteceu com a minha mãe. E com Sky porque ele estava atacando a líder dos Elfos de um jeito estranho e era uma ameaça para a mestiça.

– Algo assim. A forma como a Nyx estava lutando... – Lidrin frisou o nome correto da meio-elfo.

– Como se ela... fosse incapaz de ferir esse garoto gravemente – Selene sentou-se e encostou-se na parede também.

Lidrin respirou fundo e concordou.

– Nyx podia ter finalizado a luta e vencido muito antes. Mas era como se ela não pudesse. Não é o estilo dela.

– Estranho – foi a vez de Trix falar, evitando olhar para os outros dois. Ainda sentia-se magoada com o amigo de infância e com aquela mulher que ferira sua mãe – Não parecia Skylar lutando também. Ele investiu sem estratégia! Com a guarda aberta e...

Parou de falar, consternada. Ao assistir a luta acreditara que Sky escolhera o caminho mais fácil: se lutasse e perdesse, os Beast Hunters teriam que se afastar e manter a palavra de honra. Os JusticeBlade nunca matariam pessoas inocentes. Todos sairiam vivos e ilesos, exceto claro, os lideres das equipes que ficariam feridos. Mas o pensamento logo sumira de sua mente. Conhecia e convivia com Skylar, sabia que ele nunca tomaria uma decisão tão leviana e imprudente.

Nesse caso, a única explicação para que ele lutasse despreocupado...

– Ele não se movia como se sentisse que não seria morto? – Lidrin questionou. Nem esperou resposta e continuou falando – Não parecia algo consciente, mas sim instinto. Senti uma ondulação na magia, algo tão antigo que não me foi familiar. Eu saiba que tinha que impedir a luta. Por isso fiz o teletransporte. Queria enviar vocês para longe e avaliar a situação. Pelo visto não foi minha melhor ideia.

– Nem de longe – Selene respondeu de mau humor – O que acha que aconteceu?

– A magia que despertou com o encontro de Nyx com esse garoto é incompatível com a minha – ele foi explicando. Sua pele empalideceu visivelmente, mostrando que aquele simples diálogo já cobrava um preço alto – Estou exausto. Sinto muito... preciso me recuperar um... pouco. Em algumas horas serei capaz de... curar esse garoto, pelo menos...

Mal terminou de falar e seus olhos se fecharam. Lidrin praticamente ficou inconsciente de tão cansado.

O clima pesou na mesma hora. Trix voltou os olhos para Skylar e ignorou a presença da elfo. Analisou a face pálida do amigo e ergueu um pouco o casaco que o cobria para analisar o ferimento. Já não sangrava tanto, mas ele perdera bastante sangue.

Selene observou em silêncio. Durante a indescritível viagem compartilhara os pensamentos mais íntimos possível com aquelas três pessoas. Estivera na mente de cada um deles, assim como cada um deles estivera em sua mente.

Já notara que a postura da garota shifter mudara em relação a si. Ela não a olhava mais com ódio. Agora evitava olhar em sua direção, porque era difícil condenar alguém que já se culpava tanto. A menina sabia que não houvera má intenção em seu ataque na festa, em relação às pessoas inocentes. Queria odiá-la por ferir a mãe e marcá-la para sempre também: olho por olho. Mas não podia.

Selene compreendia o rancor. Desejava ter a chance de voltar no tempo e mudar suas ações. Como essa opção era impossível só restava seguir em frente e encarar o que quer que o Destino lhe trouxesse. Só não sabia como concertar as coisas ali. Talvez nem houvesse como...

Ia dizer alguma coisa qualquer, algum clichê do tipo “tudo vai ficar bem”, quando ergueu os olhos sem querer. Sua visão aguçada notou algo preso nas altas paredes, inalcançável.

– Aquilo é de vocês? – apontou.

Trix olhou para cima e estreitou os olhos. Reconheceu a forma de uma mochila. Estava distante e presa em um galho. Parecia a mochila de Skylar.

– Sim – respondeu baixo. Tocou a parede e comprovou o óbvio: era impossível escalar aquela estrutura ingrime e escorregadia. Quando Lidrin acordasse poderia usar magia e pegá-la.

– Posso queimar o galho e derrubar a mochila.

– Claro – Trixia falou com amargura – Do jeito que se controla bem não duvido que mataria nós quatro com suas chamas.

A Rainha de Copas não respondeu. Ao invés disso concentrou-se e reuniu uma pequena chama em suas mãos, que lançou em direção ao galho onde a mochila estava presa. Calor agradável espalhou pelo buraco por breves segundos, foi uma sensação muito boa!

Selene conseguiu sua intenção: o fogo envolveu o galho, mas antes que alcançasse a mochila ela caiu. Trix moveu-se rápida, como a felina que era, e pegou-a antes que tocasse o chão. Não agradeceu o que a elfo fez. Apenas sentou-se novamente e foi ver o que tinha de útil na mochila do líder.

A outra não se irritou ou se ofendeu. Apenas assistiu os resquícios das chamas dissiparem-se do galho alto, levando consigo a luz e o calor. Não perdera o controle daquela vez. Não queria perder nunca mais, nem arcar com as consequências.

Trixia encontrou um casaco e o trocou pelo de Lidrin, arremessando-o de volta ao dono que continuava inconsciente. Também descobriu um vidrinho com pomada em um dos bolsos externos. Aquilo ia ajudar com os ferimentos. Shifters possuíam um fator de cura acelerado, principalmente na forma animal. Embora fosse impossível que Skylar pudesse transformar-se em lobo no momento, ainda assim curava-se mais rápido que um humano normal. Se usasse o remédio, seria mais veloz! Só não podia dizer com certeza a respeito do machucado no ombro. Aquilo estava mais grave do que jamais vira antes.

Com esse pensamento rasgou uma das camisas que o ruivo possuía e usou como improvisado curativo para estancar o pouco de sangue que fluía pelo ferimento. Nada mais havia de útil para a situação. Os Beast Hunters não carregavam comida, sempre preferindo caçar alimento fresco. O cantil com água não estava em seu lugar, por isso Trix deduziu que ele se perdera em algum ponto daquele teletransporte. A despeito da própria mochila, só os deuses sabiam onde ela estava.

Respirou fundo e olhou rápido para o outro lado do buraco, não tão distante, onde a Rainha de Copas estava em uma pose gêmea à sua: sentada contra a parede, naquele chão úmido e frio, ambas envolvidas pela penumbra e com os companheiros ao lado sem sentidos.

As duas não tinham muito o que falar uma com a outra. Não depois de terem compartilhado os pensamentos. Agora Trix sabia que seu amigo não a traíra. Compreendia que a elfo não tivera intenção de machucar ninguém no baile além de um mau caráter. A raiva em seu interior se acalmara, assim como a pantera dentro de si parecia ter se acalmado, afinal não sairá do controle nem uma vez desde o encontro com os JusticeBlade.

Todavia, mesmo que não mais buscasse vingança ou alimentasse o rancor, sabia que jamais seria amiga, sequer próxima daquela que sem intenção causara tanta dor à sua família. Talvez em condições diferentes, talvez...

A Rainha de Copas tinha o mesmo pensamento. Respeitava Trixia e sua dor. Carregaria a culpa por seus atos para sempre, assim como aquela consequência: a ação no baile de máscaras resultara em um abismo que separaria as duas. Provavelmente para sempre. Cansada, suspirou e recostou a cabeça contra a parede. Apesar de tudo não sentia sono. E não precisava ser um gênio para ver que a garota shifter também estava inquieta. Aquela seria uma longa, longa noite.

Tomada por um incontrolável sentimento de frustração, Trix socou o chão com as duas mãos.

– Droga! – extravasou.

Estavam no fundo do poço. Literalmente.


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Notas finais do capítulo

Chibi Lidrin! Grande culpado por esse twist na história! Não é um fofo? :3

Ufa, esse foi mais um grupo. Sem tretas, porque eu não gosto de tretas. Mentira. Tenho preguiça mesmo de descrever. Dá taaaanto trabalho. Me julguem u.u

Lembram que eu falei que tinha umas imagens extras dos BH? Então. Do Skylar não tenho, a dele foi uma só que eu fiz. Por isso vou começar com as da Trix. Além daquela que foi pro capítulo, tinha essas:

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Só isso! A gente se vê na quarta, com o último grupo dessa separação maluca!