Crônicas do Pesadelo {Interativa} escrita por Dama dos Mundos, Kaline Bogard


Capítulo 23
Baú das Memórias 02


Notas iniciais do capítulo

Nah... não tenho muito o que dizer hoje... só uma coisinha... Selene, corre para as colinas, talvez a Kali te proteja...!
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Acho que não tenho nenhum aviso kkk só lembro mais uma vez que temos um grupo de leitores/escritores no face, se quiser fazer parte é só mandar uma M.P. para o Liam (ou Little Dreamer). E vou aporrinhar mesmo com isso até os que tem medo de facebook fazerem um só pra conversar com a gente :v
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Boa leitura pra vocês :P



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Ela se orgulhava de nunca ter matado um inocente...

Se havia uma coisa que Selene sempre se orgulhara, era o fato de jamais ter ferido ou matado uma pessoa inocente...

Por todos os seus oitenta e sete anos, isso foi uma marca registrada. Ela sabia dar valor a vida, apesar de retirá-la com verdadeira paixão daqueles que não a mereciam. Era uma máquina de matar, uma estrategista, mas em momento algum tinha sido considerada ingrata ou injusta.

Selene, hoje, não consegue se lembrar de sua infância. Ela transcorreu no palácio do pai, um Rei Élfico cujo território era localizado em Zaphiria. Era uma filha bastarda, pelo que se contava, e o ódio da esposa oficial do pai fez com que ela trabalhasse como escrava nas minas de cristal que haviam por aquelas bandas.

Sua mãe não havia resistido ao parto, afinal, quem se incomodava de ajudar uma mulher devassa? Selene não acreditava que a mãe tinha feito tal coisa por desejo. Ela sabia que seu desvirtuado pai tinha costume de trazer belas moças para sua cama, algumas vezes à força. Sabia também que ele deveria ter um filho em cada bordel das cidades humanas – pois nos reinos élficos, a prática da chamada “prostituição” era abolida – e estes deveriam, com toda certeza, ser sacrificados, ou fadados a ter o mesmo trabalho que ela mesma.

Tivera sorte de não ter puxado nenhum dos belos traços do pai, nenhum fio de cabelo loiro ou nem sombra de seus olhos azuis. Assim pode sobreviver por mais tempo. Se estivesse muito na cara de que era filha dele, possívelmente a rainha teria de fato mandado executá-la sem pensar duas vezes. No entanto, em contra-partida, ela assemelhava-se tanto com a mãe que isso enfurecia sua Majestade, e então Selene fora mandada para trabalhar na mina mais distante possível do palácio.

Mas, é claro, haveria de ter um pouco de sorte em seu destino. Ela nascera com um dom, podia invocar chamas e controlá-las. Quando pequena, os outros escravos ajudaram-na a esconder isso dos guardas e de qualquer outra pessoa da cidade. Enquanto ia crescendo, seu controle por tal poder ia evoluindo. Até um belo dia, um fantástico dia, em que ela julgou estar pronta para fazer o impossível... fugir do reino de seu pai.

Na teoria era algo dificil, o exército dele estava armado e alimentado, enquanto muitos dos escravos passavam fome. Mas ela tinha, afinal, o fogo a seu favor. E o usou bem. No seu aniversário de 13 anos, Selene invocou uma verdadeira fogueira e escapou, levando um grupo consigo. As chamas eram tão fortes que arrasaram até as muralhas do castelo, o que era um feito incrível, ainda mais para uma criança como ela. Claro, muitos soldados foram feridos. Alguns tiveram sua carne violada pelo fogo e correram, e gritaram, até não poder mais, e então o chão ficou salpicado por cadáveres fumegantes.

E ainda assim, ela sabia que eles mereciam. Aquele reino era uma vergonha para os outros de sua raça, era um antro de corrupção que faria os outros Senhores Élficos chorarem. Não teve pena de ninguém ali. E nunca, em hipótese nenhuma, voltou lá.

Selene guiou os escravos até bem longe dos domininos do pai, e depois separou-se deles. Não tinha direito algum de trazer a eles mais sofrimento, ou perigo. Agora ela seria caçada por muito e muito tempo, e não queria envolvê-los ainda mais, afinal, quem cuidara dela desde uma criança foram eles mesmos. Humanos, outros elfos e algumas criaturas ditas “impuras” se despediram de sua amiga, e então se separaram. E ela seguiu sozinha.

Não se tem certeza exata de como ela perdeu essas memórias, se foi em algum acidente, ou se ela bloqueou-as de sua mente propositalmente. Um feitiço, talvez? Mas ela esqueceu. De sua infância, e disso tudo. Suas memórias mais antigas remetem-se a família que a acolheu, um casal de Niger, veteranos de guerra. Naquela época pipocavam conflitos em toda parte, e era preciso saber se virar. Nunca se sabia quando o Reino seria atacado por outro.

Seu pai nunca veio atrás dela, no fim das contas, ninguém se importava com escravos fugidos... conseguir outros seria relativamente fácil. E quanto a garota, nunca imaginou que ela pudesse sobreviver por tempo o suficiente. Então apenas voltou-se para sua única filha legítima, cuja qual herdara todos os seus traços, e continuou a ensiná-la, condicioná-la para assumir o trono quando este morresse. O que posso dizer? Sua vida não foi longa. O Rei e a Rainha foram assassinados em uma das batalhas que se seguiram, e a filha ficou com o trono. Mas isso é outra história.

Selene cresceu mais, tornou-se uma mulher, uma especialista em enigmas, magia e batalhas. Com o tempo, o incomodo em seu interior surgiu, e aquela urgência de partir antes que algo de ruim acontecesse a sua nova família, retornou com força total. Por esses dias ela já sabia se virar sozinha, e mesmo com os pedidos dos pais adotivos, não desistiu de seu intento.

A elfa partiu mais uma vez. Se tornou uma andarilha, fazendo trabalhos aqui e ali... a guerra tinha passado, mas criminosos estavam soltos por toda parte. Ela ficou intima do sistema de recompensas, começou a entendê-lo melhor. E só então tornou-se aquilo que é hoje. Uma caçadora de recompensas.

Aos trinta anos Selene perdeu todas as suas memórias relacionadas a infância.

Aos quarenta, deixou a guerra de lado e se apaixonou, quem sabe pela primeira vez. Não durou. Seu primeiro amante se encontra num túmulo em uma colina, o corpo destroçado por servos das sombras. Naquele fatídico dia, ela amaldiçoou Surm, o Deus da Morte, e pediu para que levasse sua alma também.

Surm não lhe deu ouvidos...

Aos sessenta, se encheu de Niger e partiu novamente, em direção a outras cidades, por algum motivo evitando passar por Zaphiria. Ela apenas sabia que não deveria se instalar lá, mas agora ignorava o porquê dessa impressão.

Agora ela era fria, calculista, solitária... nunca mais deixou-se apegar por alguém, e nem esperava que isso acontecesse até darem um fim na sua vida. Por escolha própria, esqueceu também do morto sob a colina. Começou a caçar mais criminosos do que nunca, sempre cortando suas cabeças por fim. Só escolhia meliantes em cujo cartaz estava marcado “vivo ou morto” e bem... eles jamais eram entregados vivos. Nessa época, recebeu o apelido de “Rainha de Copas”, referente a um conto recorrente, sobre uma personagem que sempre mandava cortar as cabeças de seus súditos. No começo, detestou o apelido. Ela matava apenas aqueles que considerava culpados. Com o passar lento dos anos, porém, acabou se acostumando. E aderiu ao apelido, ou codinome, com certo orgulho.

Aos oitenta anos, Selene chegou a Hathea, e montou sua base de operações lá.

Aos oitenta e seis, conheceu a JusticeBlade. Ou melhor, aqueles que faziam parte da mesma. Uma moça que não parecia passar dos dezenove anos, de cabelos cheios e olhos vazios. Um elfo de porte impecável, e gentileza estonteante. E a elfa mais jovem, uma timida menina que não devia passar dos dezesseis anos.

A princípio, eles apenas chamaram sua atenção por causa dos poderes que demonstravam. Metal, Água e Terra. Talvez fosse algo proposital. Ela podia vê-los caçar criminosos durante a noite, saltando no ar, procurando aqueles que eram menos perigosos, que não valia a pena estampar um “vivo ou morto” na testa. Da taverna que costumava observar, Selene apenas suspirava, praguejava algo e pedia mais um pouco de vinho.

Eles se encontraram algumas vezes, principalmente quando havia uma recompensa mais gorda em jogo. Nessas ocasiões, havia muita discussão da parte dos dois lados, para ver quem ficaria com o ouro. Algumas vezes ela até ajudara-os a completar a missão, e dividiram a recompensa irmamente. Então, um dia, Frosty, o galanteador-élfico-mais-insuportável-que-ela-já-conheceu, convenceu-a a juntar-se a eles.

Selene nunca chegou a conclusão do porquê tinha aceitado. Nyx tinha uma personalidade irritantemente controlada, com um quê de petulância e mania de fazer caras de paisagem dependendo do assunto que falavam com ela. Neco era apenas timidez, gostava de ficar sozinha e quando abria a boca para falar, suas palavras vinham em baixo tom, quase sussurrado. Se gritavam com ela, era problema na certa.

E Frosty... bom, aquele jeito calmo e apaziguador dele a irritava, de certa forma. Ele nunca deixava-a matar ninguém. Bom, quase nunca. Quando as coisas ficavam feias, é claro que ela não ia ficar esperando uma permissão dos outros para fazer o que era preciso. Entretanto, enquanto os dias iam passando e ela ia conhecendo um pouco mais de cada um ali, Selene acabou apreciando-os. Começou a se abrir um pouco mais, voltar a ser menos anti-social. Até aprendeu a implicar com os outros membros, até mesmo irritá-los, de brincadeira. Principalmente o elfo de cabelos loiros. Ele causava-lhe verdadeira confusão. Não sabia o que sentir em relação a ele, e isso a incomodava. Porque não queria passar pela dor que um dia passara, não queria se apegar demais a alguém. Ela não queria descobrir que havia se apaixonado uma segunda vez. E não iria adimitir isso para ninguém.

oOo

Selene foi retirada de seus pensamentos pela aproximação do djin. Ela podia apenas vê-lo de canto de olho, nada mais. Estavam em uma planicie de Shion, onde na teoria ninguém ia. Era a fronteira com Sidnary, ninguém morava por lá, mas eles não poderiam descansar muito mais, logo as buscas chegariam até ali. Todos esperavam pela volta de Lidrin, que utilizava-se dos chifres de Nyx para buscar informação na cidade vizinha. Queria saber em que pé as coisas estavam, o quanto as autoridades sabiam.

Sim ele era um djin. Mas era preguiçoso, também. Muito preguiçoso, então achou mais fácil usar os chifres mágicos do que sair por ai gastando sua própria magia. Era uma atitude meio esperada dele. Nyx cedeu o acessório sem pensar duas vezes, mas alegou que não combinava com ele, logo que este o colocou. O djin ignorou completamente a implicância da lider e saiu.

Agora ele retornava, no entanto...

Lidrin parecia fora de si, mas não era seu lado Ifrid que tinha aflorado... ele estava em perfeito juízo, a bem dizer. Sua mão segurou o pescoço de Selene, pressionando-a contra a parede onde estava encostada minutos antes. - Foi você!? Selene, você fez de propósito?

– É lógico que não fiz nada... e me solte, ou vou incinerá-lo também, sendo um djin ou não.

– Você não pode realmente me fazer tanto estrago, garota...

– Vocês dois, podem parar. Agora. E Frosty, abaixe isso.

Nyx chegara ao centro da confusão nesse instante, e olhou para o elfo, cujos sais já estavam preparados contra Lidrin. O frio pareceu aumentar, mas a garota nem ao menos tremeu. Seus dentes apenas trincaram, e ela manteve-se firme. -Parem todos vocês... acham que nos matarmos vai fazer alguma diferença?

–As chamas da sua subordinada, Nyx, deixaram uma mulher entre a vida e a morte...

– A duqueza do Principado de Path... eu soube. - a mestiça continuou, com sua voz metódica, fria. Neco se juntou a eles, surpreendida por toda aquela movimentação. - E afirmo para você, que Selene não é mais culpada do que todos nós. Acha que não conheço a subordinada que eu tenho?

– Cale a porra da boca, Nyx, se me chamar disso de novo, juro que vai ser a sua cabeça que vai rolar.

– Mesmo que eu esteja do seu lado...?

– Mesmo assim. - a elfa repetiu, tendo sua traquéia comprimida... ela ainda tinha uma boa dose de orgulho nas veias, e nesse instante uma bola de fogo realmente grande – e quente – se formava em sua mão, pronta para ser estrategicamente jogada no rosto de Lidrin.

– Como quiser, então. Mas como eu ia dizendo, Selene tem um controle absurdo pelas suas chamas, em questão de técnica, ela é aquela de nós todos que mais tem capacidade para manter seu elemento sob perfeita sincronia.

– E dai? - Lidrin protestou, sem desfazer o aperto.

– E dai que Selene não mata inocentes, por mais cabeça-quente que seja. - Foi a resposta de Frosty, que ao notar o clima esfriando, tentou acalmar-se.

– Você diz isso porque está apaixonado por ela...

– Deixando de lado essas questões óbvias... cortou Nyx, enquanto tanto Frosty quanto Selene começavam uma verdadeira cacofonia com as frases “não é bem assim” e “isso não é da sua conta”. Neco suspirou, coçando a cabeça, olhando de um para o outro. Aqueles dois nunca iam chegar a um consenso, pelo visto. Nyx, entretanto, não pareceu incomodada com nada que acontecia ali, e voltou a falar, no seu jeito contido de sempre. - Eu coloco minha mão no fogo, ela já fez muito estrago enquanto participa da JusticeBlade, e até mesmo antes disso, mas nunca, em momento algum, feriu alguém inocente.

– Então o que foi, você queimou-a sem querer? - Lidrin voltou a fitar os olhos violetas de Selene, ao que ela abriu um sorriso ironico.

– Oh, e você acha realmente que sou capaz disso, seu idiota?

– Escutem vocês dois! - Nyx subiu a voz alguns tons, e piscou, mantendo seu humor neutro. Era pertubador fitá-la daquela forma. - Só posso pensar em duas opções para que tal coisa tenha acontecido.

– A primeira é nossos poderes estarem completamente fora de controle. - Frosty alegou, recompondo-se, respirando fundo.

– Mas não acho que seja isso. - intrometeu-se Neco. - Afinal, pelo que já vimos, se os poderes de Selene estivessem nessa situação, as coisas teriam ficado muito piores. Não acho que seria algo bonito de se ver.

Selene apenas assentiu com a cabeça, e voltou a fitar o rapaz que a ameaçava, a bola de fogo sumindo em um amontoado de fumaça. Nyx continuou. - A segunda opção, a que faz mais sentido, por enquanto, é que o corpo que ela tentou insinerar se dissolveu antes de morrer, ou seja, isso fez com que o calor se espalhasse. Como as coisas já estavam completamente bagunçadas, não tinhamos como ter certeza do que aconteceu depois.

– Isso significa que o traidor está vivo. - foi a única coisa que saiu da boca de Selene, enquanto Lidrin decidia-se por soltá-la. O djin franziu o cenho, levou a mão a testa, e então ergueu seus olhos para um morro ali perto de onde estavam.

– Sinto informar, mas não é a mim que terão de prestar contas... a duqueza é mãe de Trixia.

– Er... aquela pantera negra super adorável dos BeastHunters? - questionou Frosty, se lembrando com certo desagrado da ultima vez que as duas equipes haviam batido de frente. Nessa ocasião a “super adorável pantera negra” quase desmembrara um de seus braços.

– Desgraça pouca é bobagem, não é. - resmungou Selene, passando as mãos pela nuca. Despreocupada, a principio, mas em seu intimo o remorso estava presente, alisando as paredes da sua cabeça, martelando continuamente seu cérebro. Ela se orgulhava de nunca ter ferido ou matado um inocente... esse orgulho havia sumido. E agora os BeastHunters estavam também no encalço deles, e a culpa era dela.

– Eles já estão aqui... - foi o comentário baixo, quase interno, de Lidrin, enquanto este se afastava. Cinco vultos surgiram na colina para onde ele olhava. No centro, um conhecido rapaz de cabelos ruivos e um olho verde, usando tapa-olho, fazia um sinal para que os outros esperassem. A moça diretamente a sua esquerda, de longos cabelos negros e ensandecidos olhos esmeralda, encarava o grupo a sua frente com verdadeira vontade de parti-los em pedaços. Pedaços bem pequenos.

A JusticeBlade havia se tornado seu prato principal...


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Notas finais do capítulo

Hei, hei, hei!!! Finalmente as duas equipes se encontraram... que comece o show de horrores!
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Isa, precisei dar uma incrementada na história, espero que tenha gostado... e não tenha saído muito do que você imaginou... afinal a Selene é bem velha considerando o padrão dos outros.
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Brak, Eis a foto do Lidrin, deixei os dois lados dele a mostra... espero que goste ^^
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Nah... acho que é só isso... que eu me lembre pelo menos. Até o próximo, onde LLLK vão caçar a próxima chave... hum, Selene, sua hora está chegando também. Kisses :3



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