Crônicas do Pesadelo {Interativa} escrita por Dama dos Mundos, Kaline Bogard


Capítulo 12
Que tal arrumar uma briga?


Notas iniciais do capítulo

Hei, pessoas! Estamos de volta com um capítulo dos Seguidores do Pesadelo.
Como sempre, revisamos, e blá, blá, blá, todos estão cansados de ouvir isso...
Boa leitura :3



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Pegue um homem explosivo. Adicione alta dose frustração, uns goles de bebida forte e está armada a confusão.

Liam respirou fundo tentando reunir a paciência que ainda existia em si e desviou os olhos para o destilado que bebia, ficando indiferente à bagunça que seu companheiro começara.

– Idiota – o rapaz resmungou. Não ia interferir pois sabia que Kenai dava conta do recado. Sem contar que os oponentes na briga estavam tão bêbados que pareciam piada e não lutadores.

Kenai e Liam estavam em uma jornada secreta, cujo objetivo final iria mudar o mundo tal qual o conheciam. Despertar o Pesadelo. Uma criatura das trevas, um monstro abominável aprisionado séculos atrás por forças extremamente poderosas.

E o mundo seguira em frente. Se recuperara e esquecera. Nos dias atuais Pesadelo parecia apenas uma lenda para assustar criancinhas. Fazia parte das fabulas e dos contos de fadas.

Pobres criaturas alienadas. Não sabiam que um grupo organizado estudava com afinco tudo relacionado ao Pesadelo, reunindo pistas, dicas, fragmentos do passado de modo a montar um quebra-cabeças surpreendente: o Mal estava aprisionado, mas podia ser trazido de volta.

Sendo bem sincero tinha que admitir que a culpa não era daquelas pessoas. O tempo tem o poder de amenizar as coisas, esmaecê-las até que as memórias ruins não sejam mais tão dolorosas e assustadoras.

Ele próprio não acreditaria no retorno do Pesadelo, se não tivesse ouvido a voz em sua mente. Não uma voz como a de criaturas comuns como as que estavam naquele bar. Mas uma voz, uma... insinuação! Algo como um presságio o convocando para a missão.

Pouco a pouco compreendeu que as histórias sobre Pesadelo não eram simplesmente lendas. O rapaz começou a estudar cada vez mais e mais, aprofundando-se no lado mais sombrio do conhecimento. Logo o material que possuía a disposição não era suficiente. Então a voz ordenou que partisse e encontrasse com outros seguidores.

Não fora fácil localizar os demais, muito menos um lugar seguro que pudessem nomear de “base”. Fazer as pesquisas sem levantar suspeitas exigia cuidado, precaução. Não queriam chamar atenção causando alarde.

A pesquisa ficara a maior parte por conta do jovem de cabelos castanhos. Liam Succubus era apaixonado por conhecimento. Saber é poder. Tal lema guiava cada um de seus passos, por isso usualmente nunca ia às missões de reconhecimento ou em busca de pistas.

Só saíra do esconderijo aquela vez por perseguir uma pista sólida a respeito das chaves. O rapaz queria, precisava recuperar aquela Chave Principado. Desejava sentir em suas mãos o poder ligado ao Pesadelo. Que criatura magnífica era aquela capaz de espalhar destruição pela Terra de Meroé? Que ser de tamanho poder só fora contido após o sacrifício de um grupo de heróis? Quem era Pesadelo, aprisionado em uma cela mítica por séculos e séculos, porém com poder suficiente para se insinuar na mente do jovem estudioso e convocá-lo para uma missão? Só havia um meio de descobrir a resposta: despertando Pesadelo e espalhando as trevas pelo mundo!

Liam deu mais um gole na bebida destilada e ajeitou o óculos que escorregara em seu rosto. Sofreram um atraso significativo ao investigar uma pista falsa. Mas ao estudar o fragmento de um poema sob novas perspectivas surgira uma chance sólida de recuperar a Chave Principado da Água.

Então sua linha de pensamento foi interrompida quando um homem caiu sobre a mesa ao seu lado, quebrando-a. Tinha sido atingido pelo punho potente de Kenai. Acabou suspirando entediado. Odiava violência. E odiava a atitude impensada do idiota do seu companheiro, sempre explodindo e chamando atenção desnecessária.

Apesar disso não interferiu. Não se importava desde que aquele estardalhaço não colocasse os planos em perigo. Enquanto as demais pessoas olhassem para Kenai e vissem apenas um bárbaro em busca de encrenca estava tudo bem.

Kenai que, naquele momento, passava a mão pela testa limpando o suor que escorria. Bebida forte e de péssima qualidade esquentava sua mente e animava suas ações. O Mokolé sentia-se frustrado por ter perdido tempo atrás de uma pista falsa!

Cada dia em vão o enchia de raiva, que se misturava a inquietação. Ele queria chegar logo ao objetivo final! Kenai olhava para as pessoas ao seu redor, sabia que todo mundo tinha um monstro dentro de si.

Nem todos se transformavam como shifters e outras raças, incluindo a sua própria. Mas toda criatura que caminhava sobre aquela terra carregava um monstro voraz dentro de si, aprisionado pelas amarras da hipocrisia, dos falsos sorrisos e treinada educação.

Com o incentivo certo o pior dentro de uma pessoa vinha a tona sendo exposto para os olhos do mundo. E o incentivo certo tinha um nome daquela vez: Pesadelo. Ah, Kenai estremecia de jubilo apenas de pensar em que lugar maravilhoso se tornaria a Terra de Meroé quando Pesadelo estendesse suas garras de norte a sul, de leste a oeste! Caos, guerra, morte... um cenário perfeito!

Infelizmente estava acompanhando um humano na importante missão. O Quatro Olhos precisava parar para descansar, afinal era fraco e se cansava fácil.

Pararam na taverna para recuperar as forças, comer algo. Beber.

Kenai Nimble viu ali a oportunidade de quebrar um pouco o tédio e descontar a frustração. Assim que entraram no local deu tempo apenas para que o companheiro pegasse algo para si e se ajeitasse em uma das mesas de canto.

Só então exigiu uma garrafa com bebida destilada e tomou um grande gole direto do gargalo. Sabia que seu porte físico alto e forte chamava a atenção. O jeitão prepotente atraia ainda mais os olhares dos demais fregueses.

Qual foi o estopim? Não sabia e não se importava. Talvez o interesse de uma das prostitutas que deixara o freguês de lado, talvez o cochicho trocado entre os homens sentados no balcão...

Kenai não sabia e não se importava. Ele queria apenas machucar. Queria sentir o cheiro de sangue. E foi atendido.

Apesar dos gritos de alerta do atendente do bar Kenai pegou um dos homens que cochichara pela gola da camisa e, com um sorriso que dominou seus lábios sem alcançar seus olhos, bateu a cabeça do infeliz contra a madeira do balcão.

O amigo dele tomou-lhe as dores achando que seria capaz de deter o homem forte e feroz. Provavelmente fosse o álcool falando mais alto, já que o punho fechado de Kenai o acertou no rosto, partindo-lhe os lábios e jogando-o no chão atordoado.

Cadeiras foram arrastadas enquanto outros freqüentadores se preparavam para se juntar a confusão e ensinar uma lição ao recém-chegado. Algumas mulheres soltaram gritinhos de medo. E incentivo. Alguém quebrou uma garrafa achando que poderia usar como arma contra Kenai.

O Mokolé se permitiu sorrir um pouco mais. Pobres coitados. Não teriam a menor chance!

Mas o que o animou de verdade foi um pensamento muito simples: Pesadelo não fora despertado ainda e o caos podia ser trazido com gestos tão simples... quando o Mestre fosse libertado de sua prisão traria consigo o fim do mundo. E o fim seria regado a fogo, morte e destruição.

Seria perfeito.

oOo

Loke conseguiu desvincilhar-se das amarras invisíveis que ameaçavam prendê-lo. Ele podia sentir aquela energia catastrófica se expandindo através de sua pele, como se fosse algo tangível. Todos aqueles vultos pareciam mais uma única coisa, com consciência coletiva. E quando as vozes começaram a chegar a sua cabeça, pareciam vir de todas aquelas bocas. Às vezes de um lado, às vezes do outro. Virar-se para vislumbrar qual deles estava falando era inútil, pois toda vez que o fazia, a voz mudava de direção.

Quem ousa...

–... adentrar...

–... nossos domínios?

Ele respirou profundamente, tentando manter a calma... caso se desesperasse, aquela energia voltaria a acossá-lo. E precisava pensar antes de fazer qualquer coisa.

– Senhoras e senhores... ou melhor, entidade? Como preferem ser chamados mesmo?

Um verdadeiro golpe de impaciência foi lançado em sua direção, e ele pode ver um vulto de mão gigantesco fechar seus dedos a volta de seu corpo, erguendo-o no ar. Praguejou, enquanto invocava seu dom, o manejo das sombras. Uma lâmina negra se formou, decepando o braço e deixando-o em liberdade, mas ele sabia que só aquilo não seria capaz de parar aquela coisa. Afinal, só se transformava em algo físico quando lhe convinha, e tinha tantas almas presas ali dentro, tanto poder acumulado, que se quisesse fazer qualquer mal a ele, ou até mesmo matá-lo, já teria feito. No entanto... Loke sabia que existia um ponto fraco no ser, e tudo o que tinha que fazer era barganhar com ele, esperando que tivesse algo útil para oferecer em troca de sua proteção.

Não teve muito tempo para pensar nisso. Com o canto dos olhos viu uma movimentação a sua esquerda, e se jogou no chão bem a tempo de evitar ser empalado vivo por um tentáculo (que mais lembrava uma estaca) cujo qual passou rente a sua cabeça, na altura em que antes estava seu abdome. Aquilo seria um pouco mais difícil do que previra.

– Não zombe...

–... de nós!

– Responda...

–... a pergunta.

Era irritante ouvir aquelas frases picadas vindas de todas as direções. Loke voltou a se levantar, e com um movimento regular de seus dedos, sua sombra se dividiu em quatro, moldando-se uma a uma para formar o mesmo número de lâminas afiadas. Duas delas ele capturou com as mãos, enquanto as outras duas mudaram de posição, ficando na horizontal e apontando suas pontas afiadas em direção à massa de vultos.

– Por que eu haveria de zombar? Bom, tanto faz. Eu só quero chegar ao cárcere do Pesadelo.

– Você não...

–... pode entrar.

A atenção da tal consciência voltou-se pesadamente para o Dorehan. Loke já sabia o que viria a seguir. Não se incomodava de ver sua montaria feita em pedaços, mas ele era útil. Como haveria de voltar para Hathea se acontecesse algo ao monstro?

– Certo, eu sei bem que vocês odeiam os Deuses, mas vou precisar desse carinha... ficaria muito grato se deixassem ele inteiro.

– Você não tem...

–... o direito...

–... de pedir...

–... nada!

– E se eu convencê-los de que nossa união favorecerá ambas as partes?

– Impossível.–as vozes ecoaram, desta vez em uníssono.

– Já nos enganaram

–... uma vez...

– Não fazemos...

–... mais pactos.

– Certo... que tal conversarmos de uma maneira mais civilizada? Focando a voz de vocês em um ponto apenas, talvez? Eu francamente não entendo o que dizem às vezes.

Houve um minuto de silêncio, e depois deste, um amontoado de tentáculos foi lançado contra ele mais uma vez. Loke conseguiu desviar, por muito pouco, de alguns, e com as espadas cortava os outros. Era um bom espadachim, para dizer a verdade, e as lâminas extras se moviam perfurando ou arrebentando as partes daquela coisa com uma extrema facilidade. Porém, ele era um contra milhares. Chegou um momento que não conseguiu mais desviar e teve o corpo envolvido por vários filamentos. E então, notou que os vultos estavam recuando e se juntando, formando uma única estrutura. Era uma árvore gelatinosa e retorcida, cujas raízes subiam do chão e o mantinham preso, e as folhas pareciam milhares de mãos se movendo freneticamente. O tronco era coberto de rostos, e mais abaixo, quase ao nível do chão, parecia sair de lá de dentro a parte superior de um corpo humano. Os braços estavam presos ao suporte da árvore, ficando de fora apenas o busto, pescoço e a cabeça. Lembrava vagamente uma mulher, mas era dificil ter certeza. E então ela falou. Embora sua voz fosse mixada, era mais fácil de entender do que o diálogo picado de antes.

– Tu sabes muito bem o que aconteceu a nós, e o que ganhamos quando aquela coisa foi posta naquele lugar...

– Sim... vocês foram traídos por aqueles que aprisionaram o Pesadelo. Eles lhes prometeram a liberdade, caso pudessem usar o portal, e se não se intrometessem na batalha. - Loke conseguiu dizer, num fio de voz. O aperto que sentia era incomodo, mas não era capaz de matá-lo.

– Mentirosos, mentirosos...– A cabeça pendeu para a esquerda, bizarramente, enquanto focava-o com seus olhos, parecidos com duas amêndoas. – São todos mentirosos, nesse mundo que está apodrecendo.

– Não tanto quanto eu. No entanto, não estou tentando enganá-los, principalmente quando digo que, se Pesadelo for libertado, todos eles irão sofrer. Até mesmo os Deuses.

No fim da frase ele notou com certo receio que as raízes começavam a apertar mais.

– Foi-nos oferecida redenção se colaborássemos, entretanto os Deuses não consideraram aquele ato como uma paga pelos nossos erros passados. E as criaturas que tanto prometeram, colocaram o rabo entre as pernas e foram enterrar seus mortos, esquecendo de que tinham um trato conosco. Seja quem você for, não ganhará nada vindo de nossas mãos.

– Mas eu só preciso passar... não quero nada. Eu irei colocar a Chave Principado da Terra e girá-la, somente.

Silêncio. As raízes pararam seus movimentos por um curto período, o suficiente para que ele conseguisse respirar um pouco melhor. E então, prosseguiu: – Mas pensem bem... Se me deixarem destrancar o Pesadelo completamente, seria o Caos total e completo... o mundo irá ruir, a ordem estará para sempre perdida. Os Deuses chorarão pela terra destruída, e os mortais que caminham sobre ela serão aniquilados. Não gostariam de algo assim? Uma vingança fria, mas completa.

Ele viu o projeto de corpo se endireitar, e piscar algumas vezes. Os tentáculos que o prendiam começaram a se abrir, e então ele se viu praticamente livre. –Isso é apenas uma consequência óbvia se aquela coisa for liberta. Aquilo está no patamar dos Deuses, porém... não pode ser controlado.

– Talvez eu possa.

– Isso está além de suas habilidades. Não conseguirá manter ele sob controle, assim como é incapaz de comandar-nos. Porém, queremos ver este mundo de desgraça do qual tanto se orgulha. Vá e faça seu trabalho.–E então, a boca da mulher fechou-se, e lentamente ela foi se dissolvendo, virando primeiro o que parecia lembrar uma marionete, e então desaparecendo completamente, assim como todo o corpo da enorme árvore que antes havia ali. Não ficara um só rosto para contar a história. O Dorehan também se viu completamente livre, e sacudiu-se completamente, rosnando alto.

– É, quase sobrou pra você também, cãozinho...

O ser mostrou os dentes grandes e afiados para ele, em sinal de aviso, o que fez Loke erguer as mãos. - Calma... é apenas uma piada... vamos em frente.

E seguiu, com a criatura em seus calcanhares, o caminho que o levaria até a prisão. A estrada de areia e cascalho ficava cada vez mais difícil de andar, e olhando em volta ele podia discernir as ruínas do que um dia fora uma cidade próspera. Hoje estava em pedaços, coberta pela areia e pela ação do tempo, que corroera tanto metal quanto pedra. De alguma forma ele já sabia onde deveria ir, e após quase uma hora de caminhada, chegou ao que parecia ser templo escavado dentro de uma montanha. A muitos e muitos anos, aquilo era um vulcão, mas agora estava extinto. Assim como na época da ascensão de Ragadash, como aquela área era chamada antes de perder toda a sua honra, e ficar marcada nos mapas como Terras Abandonadas.

Loke não deu total atenção a arquitetura do local( também em ruínas), apenas o suficiente para não ser esmagado por uma pedra ou coisa pior. Passando pela entrada, viu uma longa escadaria, que levava ao que parecia ser uma enorme porta de bronze, encrustada numa parede puramente negra e lisa. Na porta colossal, estavam dispostos cinco fechaduras de formas diferentes, duas em cima, duas abaixo, e uma bem no meio.

Ele não queria esperar mais. Sabia que tinha coisas para resolver ainda, e aquela era só a primeira das Cinco Chaves Principados. De maneira que não hesitou e apressou-se a enfiar a Chave da Terra na primeira abertura, correspondente a mesma, e girá-la. Só ouviu um “clique” quando deu a primeira volta completa, e uma das cinco trancas que mantinham a porta fechada foi se desfazendo até não restar nada. Talvez fosse só impressão, mas poderia jurar que havia algum som ecoando de dentro da porta.

Não ficou tempo o bastante para ter certeza. Girou nos calcanhares, pronto para voltar a estrada.

Ainda havia mais quatro Chaves a encontrar. Tinha de reportar sua situação atual aos seus “parceiros de crime”. E por último, mas não menos importante, voltar a tempo da Noite das Máscaras, consagrada ao Deus Hildyn. Afinal, como todos sabem, ele é o Deus da Trapaça e da Mentira, seu patrono, e o mínimo que ele deveria fazer era estar presente em tal celebração, não é?

Mas tal pensamento era perigoso demais, onde estava. Então montou uma vez mais no Dorehan, e uma vez mais ele fez as patas possantes cortarem a areia, e lançou-se para frente, deixando uma nuvem de poeira atrás de si...

continua...


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Notas finais do capítulo

Mais um capítulo dos Pesadeletes.
Eu sei que o autor do Loke infelizmente não comenta, mas vai que acontece um milagre, sabe... e então, você gostou da imagem ou não? (seja lá onde esteja, no além, talvez)
Voltando a lembrar que estamos reabrindo as fichas, e que o pessoal que não der o ar da graça vai ser cortado. E quando digo cortado, não to usando o sentido figurado da frase. :v
Enfim, por hoje é só, pessoal. Até o próximo capítulo, dos BH.
Kisses