A Menina da Bicicleta Vermelha escrita por Madchen


Capítulo 9
Please, let me know!


Notas iniciais do capítulo

pensei que esse fosse ser o melhor capítulo, mas não. deve ser o próximo ainda hueheuh



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Matt esperou sentado no banco do parque por quase meia hora, até que viu uma menina de cabelo azul se aproximando.

Seu coração de repente bateu mais forte.

A menina estava a pé, vinha caminhando decidida, e Matt não perdia um só passo dela, muito embora ela nem parecesse notá-lo ali. Ela veio se aproximando, se aproximando, viu Matt mas não o cumprimentou -- sentou-se no banco sem dizer uma palavra, arrumou o cabelo (do qual havia sentado em cima), encarou Matt nos olhos e disse:

-- Oi.

-- Oi -- ele respondeu, num tom mesclado de simpatia e curiosidade. E dúvida, sim, muita dúvida.

-- Bem, eu quis vir aqui falar com você por causa da história da bicicleta...

-- Sim, você veio sem a bicicleta hoje?

Blue respirou fundo.

-- ...mas antes de começar a falar disso, a gente podia se conhecer melhor. Assim, falar um pouco sobre a gente. Eu não gosto de falar com completos estranhos.

-- Oh, sim.

-- Então... -- Blue tamborilava os dedos no banco gelado de madeira em que estava sentada. Matt estava na outra extremidade do banco, e os dois estavam de frente um para o outro... Matt, com uma expressão tão boba quanto possível. Meio feliz. Sei lá. -- Você gosta de... bicicleta?

-- Não -- ele sorriu. -- Na verdade, acho que nem sei andar de bicicleta.

-- E você gosta de... -- sabe quando uma pessoa não tem o que falar mas se esforça ao máximo para ter? É o caso da Blue no presente momento. -- O que você faz durante a semana?

-- Eu vou pra aula -- ele continua sorrindo. Que cara de bobo. -- Depois vou pra casa... durmo até umas cinco... daí saio com meus amigos.

-- Pra onde?

-- Sei lá, por aí. Pra um bar.

Blue franziu a testa.

-- Mas quantos anos você tem?

-- 16.

-- ah.

Matt se acomodou melhor no banco e não desviava os olhos de Blue, mas a garota já havia desistido de encarar Matt de frente. Ela podia não ser tímida, mas Matt tinha um olhar tão esquisito que Blue ficava sem saber o que fazer.

-- E você? -- Matt perguntou, conseguindo um olhar direto de Blue para ele. Mas ela logo desviou novamente o olhar e respondeu:

-- Ah eu... eu gosto de jogar RPG...

-- Eu também -- ele deu um sorriso aberto agora.

-- Às vezes gosto de ir ao parque ver os patos nadarem...

-- eu também!

-- Eu passo muito tempo com meu namorado...

-- Eu também!

Blue estava prestando atenção num esquilo que subia na árvore, mas de repente lhe veio um clarão na mente. Ela franziu o cenho e encarou Matt, sem virar a cabeça; olhou de rabo de olho, como dizem. Imagine uma expressão que ilustre exatamente a palavra "quê?".

-- Ahm... tá. -- ela sacudiu a cabeça, olhou para trás, mas ainda com o cenho franzido. Ou o Matt tinha falado uma merda muito grande ali ou ele era gay. -- Você... namora?

-- Na verdade não é bem isso -- finalmente, ele parou de sorrir. Passou a mão no cabelo. -- Eu tenho ficantes.

-- Oh... -- droga, substantivo andrógeno. Enfim, deixa pra lá. -- Sabe, chega disso. Eu tinha um plano, mas desisti. -- Blue se levantou da cadeira, mas Matt fez cara de assustado e segurou sua mão.

-- Não -- ele pediu. -- Não, por favor, me explique alguma coisa. Eu sei que você pode me ajudar! -- Blue encarava, de cima, os olhos esverdeados do garoto, quase suplicantes. -- Por favor, não me deixe assim. É muito ruim.

Blue olhou para um lado, para o outro... suspirou. Sentou-se de novo no banco e encarou os próprios coturnos por alguns segundos.

-- Eu... eu não sou a dona da bicicleta. Nem dos cartazes, nem de nada -- ela percebia que Matt a fitava quase aflito enquanto ela falava, ams ela continuava a encarar as próprias botas. Sentia o coração de Matt acelerando. É como se ele estivesse descobrindo... a razão de viver. -- ...mas eu conheço... conheço quem fez isso.

De repente, Matt pareceu tão entusiasmado que ficou vermelho, os olhos grandes, os pulmões cheios de ar. Sem demora, ele chegou bem perto de Blue e perguntou o que se perguntava todos os dias:

-- Quem?

-- Eu... -- Blue não sabia o que responder. Estava nervosa, talvez tanto quanto Matt. Não sabia se era o momento certo de apresentá-lo à amiga; não sentia que era, e não teve uma impressão muito boa de Matt. A começar pela sua roupa, mas que diabos... -- Ei,  porquê que a parte de trás do seu casaco está cheio de terra? Parece que dormiu num chiqueiro...

Aí os olhos entusiasmados de Matt deram lugar a um olhar de fracasso desesperado.

-- Está bem, está bem -- Blue decidiu. Sem pensar.

Saltou do banco, pôs as mãos na cintura, encarou Matt com um olhar determinado que ele ainda não tinha visto: um olhar determinado e até otimista. Azul.

-- Eu vou te mostrar quem é ela, onde ela mora, mas você tem que me prometer uma coisa.

Ele continuou sentado, mas brilhinho voltou a preencher seus olhos e suas bochechas também voltaram a ficar rosadas. Era uma cena tão meiga que até Blue teve que se controlar para continuar séria. Imagine um menino altão, forte, com cara de que encara qualquer desafio, sentado num banco do parque e totalmente submisso a uma baixinha magrela de cabelo azul, quase disposto a fazer qualquer coisa que ela pedir para poder resolver o que parecia ser o mistério de sua existência.

Nem Blue esperava isso de um garoto que, até aquele momento, sequer sabia o que estava procurando.

-- Me prometa. Levante-se, assim você está parecendo um cachorro abandonado.

Matt obedeceu sem questionar ou hesitar.

-- Me prometa. Abra as mãos.

Matt ergueu e abriu as mãos, tão rápido quanto possível. Sua respiração estava forte.

Blue, pela última vez, suspirou, e então disse:

-- Não a machuque.

Matt asquieceu, seus olhos quase imersos em estrelas, sua respiração quase tão quente quanto a de um dragão.

-- Muito bem. -- Blue prendeu um rabo-de-cavalo. -- Vamos lá. -- mas, antes que ela pudesse virar de costas, Matt lhe deu um abraço tão apertado, tão apertado e tão quente que Blue sentiu suas costelas furando os pulmões. Tentou se livrar ao máximo do abraço, mas só conseguiu porque Matt também tinha pressa de descobrir quem era a tal pessoa que espalhou os cartazes.

 

***

 

-- Vamos investigar o garoto -- disse o delegado à sua trupe de policiais. -- A mãe dele disse que ele sai muito sozinho, que não sabe o que ele faz ou com quem ele anda. Vamos investigar e anotar tudo. O engraçadinho dos cartazes pode ser qualquer um.

Os policiais todos concordaram.

-- Vamos enviar um policial com essa missão para cada ponto importante da cidade, lugares que o garoto com certeza frequenta, e monitorá-lo. Vou mandar o detetive Vince segui-lo mais de perto. -- pausa. -- Vamos descobrir cada detalhe da vida desse rapaz, e então chegaremos naturalmente ao criminoso. Todos de acordo?

Os policias bradaram um forte "sim".

 

***

 

-- Ela mora aqui. -- Blue disse a Matt, ao chegarem à casa dela. Estavam ambos de frente para a portinha da cerca, encarando a casa de paredes brancas.

Matt não disse nada. Olhava com atenção, contemplava (já menos angustiado) a morada de seu perseguidor. Mas... onde estava a bicicleta?

-- E a bicicleta? -- ele perguntou. -- Fica lá dentro?

-- Não -- Blue respondeu, procurando a bicicleta também. -- Ah, ela deve ter saído. Que azar.

-- Ela? -- Matt olhou para a janela de esquina do segundo andar. -- É uma menina?

-- Pensei que você já soubesse -- Blue respondeu. -- Já tinha dado pra notar.

-- Que horas ela volta?

-- Não sei. Ela sempre sai assim, do nada, e volta a hora que quiser.

Os dois conversaram por mais uma hora inteira sentados em um banco perto da casa onde a menina da bicicleta vermelha morava. Conversaram sobre a escola, sobre amigos, sobre a vida. Conversaram sobre pais, cachorros e duendes, o que fez Blue rir.

Mas uma hora ela teve que ir embora. Estava muito tarde. Blue se despediu de Matt com um abraço, e nesse abraço podia-se notar que ambos estavam muito mais tranquilos. É como a sensação de tranquilidade que se sente depois de ter pulado de pára-quedas e chegado ao chão. E blue, caminhando, aos poucos desapareceu atrás das casas e prédios.

Matt ficou sozinho. Ele não quis ir embora. Não queria voltar, justo agora que ele estava a alguns metros de distância da casa da menina da bicicleta vermelha. De onde ele estava, dava para ver a tal janela da esquina do segundo andar... é lógico que ele não sabia, mas era a janela do quarto da menina.

E, pendurado do outro lado da janela, logo ali, com vista para o Matt, estava um coração feito de pedaços de relógios muito antigos.


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