A Menina da Bicicleta Vermelha escrita por Madchen


Capítulo 7
The Wrong Girl




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Enquanto Blue pedalava a toda velocidade ao veterinário, que não ficava longe dali, um grupo de sete amigos se embebedava em um bar medieval também não muito longe de onde ela estava.

-- Ao Harry! -- berrou um menino de cabelo cor-de-mel e olhos de mesma cor. -- Pela primeira viagem!

Os garotos brindaram com uma espécie de grito pirata "Yo-ho", e beberam até não conseguir mais. Matt bateu a caneca vazia na mesa e esfregou os olhos. Não estava com sono, não podia estar com sono. Não ainda.

O dito Harry, sentado em um canto da mesa de madeira rústica, ria com o resto dos amigos. Levantou-se, foi rindo até o Matt e apoiou a mão esquerda em seu ombro, aproximando a boca de seu ouvido, até que Matt pôde sentir um hálito repleto de álcool junto a uma voz que dizia:

-- Quanto custa outra, hein? Quero levar pra casa.

Matt demorou um pouco para pensar. Afastou a cabeça, ficou de frente para Harry e franziu o cenho.

-- Não, ainda não. Você ainda não está acostumado.

-- Eu vou só guardar, cara -- Harry deu mais um tapinha no ombro de Matt. -- Só guardar.

-- Não, e se te pegarem? Eu te vendo na próxima vez que nos encontrarmos.

Harry fez cara de manhoso.

-- Ah não, eu quero agora, por que não agora? -- então fez uma pausa. Olhou para Matt com olhos de quem teve uma ideia, aproveitou o fato de todos os outros estarem bêbados e distraídos demais para prestar atenção nele e quase colou seu nariz com o de Matt, num movimento repentino. -- Eu posso fazer o que você quiser. O que você quer?

-- Harry, eu não quero nada -- Matt tentou virar o rosto, mas Harry estava ainda mais perto. Um só conseguia ver os olhos um do outro.

-- Por favor. -- o menino com aspecto de Harry Potter (vocês achavam mesmo que o nome dele era Harry? Ora, é só um apelido) sussurrou. -- É verdade. Eu posso. Eu consigo. Por favor, Matt. -- Foi um sussurro próximo, baixo, quase ofegante. Matt já havia fechado os olhos.

Quando os lábios de Harry estavam prestes a tocar os de Matt, este despertou e, com um movimento brusco, virou o rosto e empurrou Harry para trás.

-- Eu disse que não.

Harry cambaleou e caiu no chão com o empurrão, e isso acabou chamando atenção de algumas pessoas que estavam mais próximas. Juntamente a ele, os espectadores olharam Matt se levantar da cadeira, repentinamente sóbrio, e sair do bar com passos firmes e um olhar severo.

Matt não olhou para trás ao deixar o bar, e na verdade não estava sóbrio -- ora, claro que não, não é tão rápido assim o efeito do álcool no sangue. Mas era essa a impressão que passava: um garoto rico, mas sujo e com o cabelo emaranhado, olhos decididos e imersos em um universo particular. Parcialmente sóbrio, pensava ele: afinal, hoje ele só havia bebido, mais nada. O normal era ficar totalmente maluco.

Caminhou alguns quarteirões e sentou-se num banco em baixo de um poste. Olhou o celular, nenhuma chamada. Sua mãe já não o procurava mais, e na verdade Matt não sabia exatamente se isso era bom ou ruim. Olhou ao redor e depois para suas botinas. Talvez não tivesse caído direito a ficha do que acabara de acontecer. Gay? Não, ele não era gay, mas o Harry? Puxa.

Pegou o celular de novo, ia telefonar para o amigo de cabelo comprido mas aí lembrou-se de que ele provavelmente estava zoneando demais e nem ouviria a chamada.

Foi aí que uma sombra veloz passou por ele. Não que ele estivesse prestando atenção nessa hora, mas ele levantou o olhar e depois de alguns segundos viu a sombra passar em uma parede logo adiante. Era uma bicicleta.

Matt ainda não havia esquecido dos cartazes, não mesmo, e na verdade nem acreditava que aquela seria a bicicleta certa: mas já que não tinha mais o que fazer, ele se levantou e correu atrás da sombra. Não, aquela não era a certa, ele repetia consigo mesmo; mas a necessidade de descobrir o autor dos cartazes já era tão grande que ele precisava se agarrar a alguma esperança. Ele já nem sabia mais o que estava procurando: se era uma bicicleta, um maníaco ou...

Ele perdeu a bicicleta de vista. Estava escuro, difícil de ver ali (o que é um pouco raro no centro de Londres), mas era um bairro residencial e a maioria das pessoas estava dormindo. Antes de voltar, Matt olhou ao redor e se deparou com um consultório veterinário aberto. Diante da porta havia uma menina de cabelo azul, um cachorro ferido e... uma bicicleta vermelha?

Matt esperou a menina entrar no prédio para examinar a bicicleta. Não, não podia ser, era improvável demais. Quando a menina entrou, ele se aproximou com cautela da bicicleta, agachou e examinou-a. Não havia nada escrito, nenhuma marca, assim como no panfleto. Ah, ele estava em seu bolso, lembrou; sempre o levava consigo. O pegou, desdobrou e comparou com a bicicleta.

Sim, só podia ser.

Então não perdeu tempo e entrou no consultório, dando de cara com a simpática recepcionista:

-- Boa noite, em que posso ajudar?

Matt olhava para todos os lugares, menos para ela, e assim respondeu com outra pergunta:

-- Você sabe pra onde foi uma menina de cabelo azul que acabou de entrar aqui?

-- Uh, para a emergência... -- a recepcionista estranhou a pergunta, e Matt percebeu.

-- Ela é minha namorada -- ele mentiu. -- Eu estava no telefone ali fora.

-- Tudo bem, é por ali -- a moça indicou a porta, e Matt entrou com passos mais largos do que deveria. Havia várias portinhas naquele corredor, mas uma delas ainda estava aberta e lá dentro ele viu metade de uma menina baixinha, bem branca e com o cabelo azul preso numa trança que descia até a bunda (esse é um termo vulgar, mas foi o que Matt pensou na hora). Ele então petrificou ali, ficou olhando como se olhasse alguém que levantava um carro.

Não, ele não podia entrar, não tão de repente. Ele esperaria ela sair, seguraria seu braço e veria sua reação. Então volou para a porta, onde estava a bicicleta, sem sequer dar satisfação ou se despedir da recepcionista (ela realmente o achou muito estranho).

Meia hora. Uma hora. Uma hora e meia. Matt já estava cansado de andar em círculos, chutar pedras ou encarar a bicicleta. Sentou-se apoiado na parede, abraçou os joelhos, apoiou neles a testa e fechou os olhos.

Depois de um tempo indeterminado a porta abriu, Matt demorou alguns segundos para acordar, e quando acordou, demorou para se lembrar do porque estava ali. Mas assim que viu a menina (dessa vez sem o cachorro, que se dane o cachorro, não era ele que Matt queria) se lembrou, levantou de repente e segurou seu braço.

A menina já havia se assustado com a "levantada" repentina, e agora com esse movimento brusco ela quase soltou um grito; mas ao invés disso, apenas perguntou, amedrontada:

-- Quem é você, eu não te... -- então ele olhou para o rosto do estranho. Estranho? -- conheço.

Ele, nada disse. Seu coração batia forte como mil tambores e sua respiração estava pesada. Seus olhos úmidos com olheiras estavam quase arregalados, congelados. A menina teve a mesma reação, só que com olhos tão azuis quanto o cabelo e a pele tão branca quanto a neve que viria a cair daqui a um mês. Ambos ficaram assim parados por mais ou menos um minuto inteiro, até que ela disse:

-- Quem é você?

E ele respondeu:
-- Eu sou eu... e você?


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, gente.