A Menina da Bicicleta Vermelha escrita por Madchen


Capítulo 6
Dawgs!


Notas iniciais do capítulo

Capítulo meio confuso. Ou não? Preciso de reviews, só assim vou saber como melhorar meu texto, gente.



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As quatro em ponto, Blue estava plantada na frente do portão que tinha uma bicicleta vermelha encostada. Logo, uma menina de blusão cor de vinho e galochas pretas desceu correndo os degraus que davam até a porta, chegou no portão, passou por ele e disse:


-- Oi, Blue.


-- E aí, qual é a casa?


A menina apontou para a casa verde, e a senhora já estava no jardim, esperando-a. Pelo aspecto da senhora, Blue pensou que os cachorros não dariam tanto trabalho assim; afinal, quantos anos a mulher tinha? 70? Isso melhorou o humor da garota de cabelos azuis.


Não por muito tempo.


A simpática senhora entregou nada menos que um pastor alemão, um pit bull, dois lhasa apso e um pintcher. Bem, ao menos os três últimos eram controláveis, Blue pensou.


-- Eu quero os pequenos.


-- Não, EU quero os pequenos!


-- Então cada uma fica com um grande e um pequeno.


-- Quem vai ficar com dois pequenos? 


É claro que, sendo naturalmente a mais forte, Blue ficou com dois pequenos e um grande, o pastor alemão. Era grande mas também era manso, não estava dando muito trabalho. Nem os dois que ficaram com a menina estavam dando trabalho. Na verdade, o passeio estava até agradável.


-- Blue -- a menina falou, desviando a atenção dos cachorros. Blue respondeu com um "hm". -- Eu sei que é esquisito, mas desde a semana passada eu percebi que estou procurando o menino em todo lugar que vou. E estou reparando cada vez menos nas outras pessoas. -- ela puxou a coleira do lhasa que tentou correr. -- Pare com isso, seu chato.


-- Mas e daí? Em geral é isso que acontece com todos os apaixonados.


-- É como se todas as outras pessoas do mundo estivessem com um saco na cabeça. -- ela imaginou um saco na cabeça de Blue. Um grande saco de papel com cabelo azul. Ela riu. -- Daqueles sacos marrons que tem em desenho animado, sabe.


-- Sei -- Blue também riu. -- Eu sou um saco também?


Nesse momento, o pit bull se desprendeu da coleira, que estava frouxa na mão da menina. Ela nem teve tempo de dizer "caramba" quando o cachorro já havia atravessado a rua. Blue também não disse nada, mas as duas sentiram um gelo súbito por baixo da pele. Atenção (e tensão) absoluta.


-- Aquilo é... -- Blue semi cerrou os olhos numa tentativa de ver melhor. -- Um algodão doce? -- diante do silêncio da menina, prosseguiu: -- Porque alguém deixaria um algodão doce inteiro no chão, por favor. 


Foi aí que viu a expressão de espanto da menina, que disse:


-- Algodões doces não se mexem. 


Quando a menina pôs a mão na boca, Blue entendeu o recado e empalideceu de terror absoluto:


-- Caralho, aquilo é um poodle!


Depois do momento catatônico, veio o momento "e agora?" da história. As duas se olhavam, pálidas de terror, e pulavam e rodavam no lugar, se enroscando com as coleiras. O pintcher Lulu foi pisoteado ao menos duas vezes.


-- Segura aqui, eu vou correr lá -- a menina passou a coleira para Blue, que se atrapalhou mais ainda com as outras. -- Caramba, Blue, você pisou na Lulu!


-- Vai logo, porra!


Então a menina atravessou a rua correndo o mais rápido que pôde, mas quando chegou onde estavam os cães briguentos, ficou com medo de levar uma mordida e não soube ao certo o que fazer. Foi aí que ela vestiu as galochas nas mãos e deu verdadeiras sapatadas nos cachorros. 


O pit bull soltou o poodle. Agora o suposto algodão doce era um algodão doce... meio torto, meio comido, meio vermelho e meio manco.


Os olhos da menina se encheram de lágrimas, mas o pit bull tentou avançar de novo e ela teve que praticamente lhe dar um abraço para detê-lo. No maior desespero, sem outra opção, a menina enfiou uma galocha na cabeça do cachorro, que logo foi rolar e se sacudir para tirar; aí ela correu para o poodle, que mal  estava andando.


-- Que crueldade -- a menina sentiu escorrer uma lágrima. -- A culpa foi minha, sr poodle, me desculpe! Me desculpe! Droga, você está ferido por minha causa! Droga! -- e então ela olhou a coleira do cão. Tinha o nome do cachorro, endereço e telefone. -- Frodo, você mora bem lonje daqui. Onde está seu dono? -- ela olhou ao redor e não viu sinal de provável dono. -- Você se perdeu, Frodo? 


-- Velha caduca que não põe focinheira na droga do cachorro -- Blue resmungava, vendo tudo do outro lado da rua. -- Porra, Lulu, pára de meter a pata debaixo do meu sapato.


A menina abraçou o poodle, disse que ia ficar tudo bem, quando ouviu um barulho de borracha e de súbito se lembrou do outro cachorro.


-- Essa não -- ele devia estar perdendo o ar, pois já estava deitado agonizando no chão. A menina soltou o poodle, tirou a galocha da cabeça do cachorro e sentou em cima do tórax dele. Há. Mas e como ela ia pegar o poodle agora?


-- Está tudo bem? -- Blue gritou, e a menina não respondeu. Gritou mais uma vez, e ouviu:


-- Sim, eu só preciso... -- e aí o som ficou baixo demais para ela entender.


-- Cachorrinho... psiu psiu -- a menina falava no tom mais infantil possível. -- Frodo! Frodoo, vem cá, eu vou ajudar você! Nã-não, Frodo, NÃO, POR AÍ NÃO! Isso, vem pra cá, aqui, psiu. -- Frodo andou até mais ou menos 1 metro diante da menina e sentou. A menina esticou bem os braços, mas aí o cachorro se afastou um pouco mais. O pit bull deu um coice violento. -- Droga, droga, droga, e agora?


A menina estava prestes a pedir ajuda para um estranho, mas nem havia estranhos naquele lado da rua. Em compensação, Blue estava rodeada deles. Mas espere, ela não estava de pé. Estava agachada diante de um poste, mas que diabo...


Logo Blue atravessou correndo a rua, livre dos cachorros. A menina sorriu quando viu que todos estavam amarrados no poste, e depressa falou:


-- Blue, o Frodo está perdido! Vamos cuidar dele, rápido, ele é muito frágil!


Então Blue se deteve. Olhou com curiosidade para a menina:


-- O que você andou fumando?


-- Frodo é o nome do cachorro! Pega ele, a gente tem que cuidar dele antes que o dono descubra que ele está quase morrendo!


Blue pegou o poodle e as galochas da menina, que tirou uma das alças de sua fiel mochila e amarrou no focinho do cachorro, como uma verdadeira focinheira. Se levantou, pegou a coleira e, com a sua amiga, voltou descalça para casa.


Blue levou o poodle antes e deixou a menina entregar os cães sozinha. Ela, é claro, tirou a "focinheira" do pit bull antes da dona abrir a porta com um sorriso e agradecer. Depois de pagar a menina, ela perguntou:


-- Onde estão seus sapatos?


-- Estão... na mochila. Tirei. Sou uma dessas pessoas que... gosta de sentir a grama nos pés -- ela falou isso em pleno asfalto. Na rua toda tinha asfalto. As calçadas eram de asfalto. Até as árvores pareciam cinzentas de asfalto. Mas a menina sorriu da melhor maneira que pôde.


Encontrou Blue na frente da sua casa e disse que sua mãe não aceitaria o cachorro em casa. Blue disse que não ia deixar sobrar pra ela, que ia largar o cachorro por aí, e a menina insistiu. Blue negou até o fim, disse que nem fazia ideia de como cuidar do bicho, e a menina retrucou dizendo que também não sabia.


-- Quer saber -- ela disse, enquanto calçava as galochas. Ugh, uma estava nojenta. -- Pegue minha bicicleta e vá até o veterinário mais próximo. Ainda tem sol.


-- Por que não vai você?


-- Eu disse pra minha mãe que estaria em casa as cinco, e já são cinco e meia! Por favor!


Blue, a contragosto, montou na bicicleta com o cachorro enrolado no casaco.


-- Não fui eu quem soltou o pit bull -- resmungou, e saiu pedalando. 


A menina suspirou de cansaço, esperou um tempo no jardim até que ouviu o celular tocar. Mãe.


Ela fechou o portão, subiu os degraus que levavam à porta e entrou em casa.





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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo: a falsa menina da bicicleta vermelha.