A Menina da Bicicleta Vermelha escrita por Madchen


Capítulo 2
Papers around the city




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-- Você é maluca, maluca! -- a amiga ria o tempo todo.

A menina não respondeu, só ria junto. As duas apressadas usando clandestinamente a máquina de xerox do colégio jogavam tudo que copiavam dentro de uma mochila preta. 

-- Rápido, rápido, a tia da xerox está vindo -- a amiga falava enquanto abafava o riso, e a menina também tentava ser silenciosa enquanto jogava as últimas cópias dentro da mochila. -- Cuidado, está amassando! 

-- Não dá pra ser rápida sem amassar!

Logo depois desse comentário, a menina fechou a mochila e ela e a amiga correram para trás de um balcão e se esconderam. Do outro lado havia uma porta, por onde elas planejavam sair sem ser vistas, mas não deu certo porque a moça da xerox chegou primeiro.

-- E agora, o que a gente faz? -- perguntou a amiga. A menina levou um tempo pra pensar, depois disse:

-- Concorde com tudo o que eu disser -- e se levantou, atraindo o olhar da moça no mesmo instante. A menina sorriu:

-- Er, me desculpe, é que... -- ela olhou para baixo -- pode parar de procurar, eu já encontrei! 

A amiga então se levantou e disse:

-- Ah... tá... que bom.

-- Moça, eu queria uma xerox desse desenho, por favor -- ela entregou o desenho à moça, que a encarava desconfiada. -- A gente veio correndo para não perder a aula, e o desenho... escapou da minha mão -- a menina encarou a amiga, que assentiu com a cabeça.

A moça da xerox apenas soltou um muxoxo e disse:

-- Eu conheço muito bem as desculpas que os alunos dão pra matar aula, mas essa é nova.

Silêncio por alguns minutos. A moça entregou o desenho e a xerox.

-- São 25 centavos. Não vou dedurar vocês.

As meninas sentiram um alívio (mais por terem feito a moça acreditar na conversa do que por terem se livrado de uma acusação),  pagaram a moça, agradeceram e correram para fora.

Esperaram o próximo horário para entrar em sala novamente, e quando bateu o último sinal, a menina deixou seus livros no armário (pois eles não cabiam na mochila cheia de papel), se despediu da amiga e... e aí a amiga lhe segurou pelo braço:

-- Você vai mesmo fazer isso?

-- Ora -- a menina respondeu. -- Não me arrisquei à toa.

Montou em sua bicicleta vermelha e saiu em disparada para casa. Chegando lá, sua mãe não estava, o que era uma ótima oportunidade de comer fora. Ligou para a mãe, descobriu que ela voltaria tarde por conta de uma reunião com o gerente do Mac Donald's, pegou alguns salgados no fogão, encheu a garrafa de suco e saiu de casa novamente com a sua bicicleta.

Pedalou até uma esquina e parou. Naquela esquina tinha uma cafeteria muito antiga e ainda badalada, e a menina gostava de ver o movimento por lá. Sentou-se no meio-fio oposto e comeu um salgado, observando uma mulher com casaco de peles sentar em um banco sujo de refrigerante e, logo depois, se queixar de ter arruinado o casaco. Quando terminou o salgado, a menina montou de novo na bicicleta e partiu em direção ao lago.

O lago estava com uma neblina branca por cima, o que fica ainda mais evidente de manhã por conta do frio, e por lá tinham muitas árvores, além de um grande parque. A menina foi ao parque, não em busca de ar fresco e diversão, e sim em busca de mendigos. Viu um descansando em baixo de uma árvore com um cachorro felpudo e marrom, se aproximou e disse:

-- Ei, moço. Tenho uma proposta de trabalho para você.

O homem não tardou a se levantar: "pois não", ele disse. Sujeito educado, a menina pensou, e tirou algo do bolso. Era um papel dobrado, que ela desdobrou e revelou o desenho do menino:

-- Se você espalhar vários cartazes desse pelo parque até as seis da tarde, eu te pago dois euros.

-- Dois? -- o mendigo pareceu insatisfeito. -- Não faço por menos de quatro.

-- Quatro então -- a menina pegou um bolo de papéis da mochila e entregou ao homem. -- Às seis eu te encontro na frente do Green Cafe Shop e te dou o dinheiro. -- Ela tirou algo do bolso e deu ao homem. -- Tome, um adiantado, como garantia.

O homem sorriu, acenou e chamou o cachorro para começar o trabalho. Aí a menina se alegrou e "contratou" mais duas pessoas: uma moça que vendia bolinhos e um menino que queria dinheiro para comprar bolinhos. E é claro, a própria menina também foi espalhar cartazes pela cidade.

Cada um foi a um endereço diferente, e a menina ficou com a própria rua, é lógico. Logo, diversos prédios tinham pregado em si um cartaz que dizia: "Quem É Você?" em letra infantil e, embaixo do escrito, o desenho de um menino de blusa xadrês.

-- Você viu? -- a mulher roliça de longos cabelos negros (quando eu digo longos com um 'o' só, quero dizer que o cabelo vai até as omoplatas) comentou.

-- Vi o que, mãe? -- a menina respondeu. Diferente da mãe, ela tinha o cabelo negro bem curtinho, estilo channel. 

-- Os cartazes -- a mãe fez uma pausa para tomar suco. -- Estão em todo lugar. Na frente do Mac Donald's tinha um!

-- Ah, eu sei -- a menina se esforçou para não parecer culpada e enfiou um pedaço de filé na boca. -- O que será? -- seus olhos riam por ela.

-- Não sei -- a mãe respondeu. -- Pensei que fosse alguma campanha publicitária, mas nenhum dos meus colegas soube dizer do que era... então eu não sei. O que você acha?

A menina deu de ombros.

-- Deve ter alguém procurando por aquele menino. Cara. Quer dizer, rapaz. 

-- Sim, ele já é um rapaz -- disse a mãe. -- E parece ser bonito.

-- Você ja o viu? -- a menina não conteve a curiosidade.

-- Não, nunca na vida. Mas ele deve existir. -- a mãe levantou e levou seu prato até a pia.

A noite foi agitada. A menina virava-se o tempo todo na cama e não encontrava sono. Olhava o tempo todo pra janela, vendo um cartaz no bloco da frente, e algumas pessoas paravam para olhar. Toda vez que alguém olhava o cartaz, a menina tampava do nariz para baixo com o travesseiro e sorria. Que loucura.

-- Você FEZ? -- a amiga falou tão alto que alguns colegas ouviram também, e a menina teve que disfarçar e falar mais baixo:

-- Fale mais baixo -- ela disse, com o dedo em frente a boca. -- Sim, eu espalhei. Quase todos.

-- Eu pensei que no fim você não fosse ter coragem -- a amiga estava exaltada, quase dando pulinhos na cadeira. -- Você é tímida até pra falar com o cara da cantina.

-- Ninguém sabe que fui eu -- a menina explicou -- e nem precisa saber. 

-- Você acha que ele vai responder?

-- Não sei, espero que sim, eu tinha pensado em... pare com isso, você tem formiga na bunda?

A amiga parou se se mexer.

***

Em algum lugar perto do famoso relógio Big Bang, um garoto de cabelo preto, liso e bem longo (quando eu digo bem longo, quero dizer que vai até a cintura), arrancou um papel da parede de um prédio, fez uma cara de deboche e guardou no bolso. Pegou um ônibus, se distanciou um pouco do centro e parou em um lugar gramado e cheio de casinhas. Bateu na porta de uma das casas, onde uma mulher gorda e loira atendeu a porta, sorriu e o deixou entrar.

-- Matt -- o garoto disse, entrando em um quarto muito bagunçado. -- Olha só o que eu achei na rua hoje. -- tirou o papel do bolso, exibindo-o à frente.

O tal do Matt ficou encarando o desenho por alguns segundos, e seus olhos foram se abrindo até não poder mais. Ele tomou o papel e disse:

-- Mas que diabos... 

-- Será que é você mesmo? -- o garoto de cabelo preto riu. -- Caramba, olha onde você foi se meter.

-- Não, não pode ser eu, não pode...

-- Matt, convenhamos... você tem uma aparência exótica. Tem que ser você. Camisa xadrês, óculos, esse cabelo... é você.

-- Pode ser o Patrick Stump -- ele amassou o cartaz.

-- Do que está falando, o Patrick é gordo, e é diferente.

-- Ah, não.

Ficaram em silêncio por um tempo, encarando o nada. Até que Matt falou:

-- O que eu faço?

-- Nada, ué -- o amigo respondeu. -- Devia fazer alguma coisa?

-- Não sei -- Matt respondeu, voltando-se para o computador. -- Talvez?

-- Não mesmo, é só um maluco tentando achar você. Deixa pra lá, se não sabe do que se trata.

Matt concordou, e continuou assistindo seu filme no PC. Logo, o amigo chegou mais perto para assistir também.


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo: Matt decide responder aos cartazes. O que será que ele vai fazer?



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