A Menina da Bicicleta Vermelha escrita por Madchen


Capítulo 11
Three are too much




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/54840/chapter/11

-- Brian? Já se arrumou? Vamos sair em uma hora!

-- Se eu já me arrumei? man, quando faltarem 10 minutos para sair de casa você me dá um toque. Até parece que levo 1h para me arrumar.

-- Eu já me arrumei.

-- Bicha.

-- Também te amo, beijo.

-- Mas que porra, nunca repita isso. Nunca.

Matt quase riu ao desligar o telefone, quase. Estava muito nervoso. Finalmente, conheceria a menina dos cartazes.

Mesmo faltando uma hora para sair de casa, ele não estava se aguentando dentro do quarto. Andava de lá pra cá, em círculos, olhava os minutos passarem, nem se lembrou de tomar sua dose de droga do dia. Hoja era o que? Maconha? nem se lembrava.

De  tanta agonia, decidiu esperar o tempo passar no jardim da frente, já pronto para sair assim que o relógio marcasse 10h. Sendo assim, saiu do quarto, passou pelo corredor, atravessou a sala, abriu a porta e... BAM!

-- Yohanna?

-- Oi -- Yohanna entrou na casa sem pedir licensa e sentou-se no sofá. Fingindo que não percebia a cara de perplexidade do Matt, ela falou na maior naturalidade possível: -- Eu vou com você.

-- Yohanna?

-- Sabia que você ia de manhã, pois é o horário que ela provavelmente estará em casa, já que poucas pessoas saem no domingo antes do almoço. -- ainda vendo a cara do Matt, ela completou. -- Ah, estou aí na sua porta desde as 8. Tinha de me garantir, sabe.

-- Yohanna?

-- Não, o fantasma da sua  vó. Pára de repetir meu nome, isso é irritante.

-- Estou com medo de você. Por que você... você... o que você está fazendo aqui? Pensei que não quisesse mais me ver, eu...

-- Esses dramas são coisa de criança. Não foi nada. Quero ver quem é essa tal menina dos...

Nesse instante, a campainha tocou. Matt abriu a porta de novo, e ali estava Brian.

-- Brian?

-- Man, quando você me disse que já estava arrumado, pensei que estivesse com algum problema psicológico sério e vim aqui para te ajudar. Pode desabafar comigo, não gosto de te ver assim. Você penteou o cabelo? -- então olhou para a figura que estava no sofá. -- Yohanna?

-- Oi.

-- O que ela...

-- Ela vai com a gente -- Matt respondeu antes do tempo.

-- Doidos, estão todos doidos. Por que isso?

-- Não estou doida. Quero saber quem é a garota dos cartazes. Todos querem.

-- Mas pensei que você gostasse do...

-- shh!

-- Matt... você contou? -- de repente, o olhar casual de Yohanna ficou terrivelmente ameaçador.

-- Hanna, ele é meu melhor amigo, eu acabei contando...

-- Tudo bem. Veja, está quase na hora de irmos. Vamos comer alguma coisa antes? -- voltou a ficar simpática.

Matt levou os "convidados" até a cozinha, pegou dois pacotes (um em cada mão) e perguntou:

-- Pão ou bisnaga?

-- Tecnicamente, bisnaga é um pão...

-- Estava perguntando para Yohanna. Pão ou bisnaga, HANNA?

-- Pão francês, obrigada -- ela riu.

Matt deu um pão e um facão a ela, que apoiou o pão em um prato e ouviu a pergunta de Brian:

-- Mas então... como será essa menina?

-- Aposto que é uma gorda... -- Yohanna deu uma facada direta no pão. -- sem capacidade para arrumar namorados, então persegue pessoas aleatórias... provavelmente assiste canais pornôs a noite inteira -- ela dava facadas violentas no pão, cortando-o em rodelas meio estraçalhadas e olhando diretamente para ele, sem perceber o olhar ligeiramente apavorado dos meninos. -- Ou uma vagabunda querendo pregar peças e aparecer. Com certeza, um dos dois.

Depois de terminar o assassinato brutal do pão, Yohanna olhou para os meninos com seus gentis olhos azuis. Os dois estavam meio catatônicos.

-- gente?

-- Beeem, não acho que ela seja gorda... ela anda de bicicleta, né? -- Brian tentou quebrar o gelo, e ironicamente abriu a geladeira. -- E sem dúvida desenha muito bem.

Yohanna não tinha resposta dessa vez, e nem Matt. Este apenas repreendeu Brian:

-- Brian, sem cervejas no café da manhã. Sem essa, cara! Isso é doente!

Brian colocou a cerveja de volta na geladeira.

 

***

 

O trio estava sentado no banco do metrô na ordem da esquerda para a direita Matt, Brian e Yohanna. Em silêncio.

De repente, os três ouvem uma musiquinha. É "Caramelldansen", e Yohanna logo começa a fuçar dentro da bolsa até tirar de dentro o celular.

-- O que foi? Nunca ouviram música de matsuri antes? -- atendeu o celular. -- Alô. Oi, Rick! Estamos indo agora, já estamos no metrô! Vai passar aí, já fica na estação que eu vou aparecer na porta, aí você entra. Isso, isso, legal, até logo!

Alguns segundos de silêncio, e Matt pergunta:

-- O que foi isso, Yohanna?

-- Richard. Ele vem também.

-- Quem é Richard? -- Brian perguntou.

-- É o namorado de uma amiga minha... droga, porque ela não atende o celular?

-- Yohanna, qual é o seu problema? Íamos só nós três! -- Matt protestou. -- Devíamos ser discretos!

-- Ué, Londres toda quer saber quem é a menina, não só você! E não chamei muita gente. Só alguns amigos.

Em poucos minutos, o metrô estava lotado. Domingo, 10 da manhã, metrô lotado.

-- Não sabia que você tinha tantos amigos a ponto de achar isso aqui pouco -- Matt murmurou.

-- Amigos? Mas eu não conheço nem metade dessas pessoas!

-- Loucos, todos loucos -- Brian resmungou.

-- Hey, tire a bunda da minha bolsa! -- Yohanna gritou para o sujeito que havia sentado em sua bolsa por acidente. -- Vá sentar num cabo de vassoura!

-- Eu não acredito que isso está acontecendo -- Matt se encolhia sobre o próprio corpo. -- Não acredito.

Quando o metrô parou na estação certa, ninguém se moveu (nem mesmo o trio que começou com tudo isso). Apenas olhavam um para a cara do outro, até Yohanna cochichar:

-- Acho que eles não sabem que é aqui. Se a gente sair, vão descobrir.

-- Você que nos pôs nessa, Yohanna -- Matt respondeu. -- Agora dê um jeito de nos tirar daqui.

-- Venham, vamos pelo chão.

Mas assim que Yohanna se agachou e começou a engatinhar em direção à porta, todos os olhares se voltaram para ela e a multidão ficou muda. Segundos de silêncio.

-- Aaai, acho que perdi minha carteira. Matt, viu minha carteira? -- Yohanna disse.

-- Hã? Ah, não, não vi.

-- Brian, viu minha carteira?

-- Não, deixa eu ver se está aqui, opa, não está.

-- Devo ter deixado cair lá fora. Oh, não! Temos de pegar outro metrô de volta! Vamos descer aqui, meninos!

-- Ei -- Uma voz na multidão falou. -- Não íamos ver a menina dos cartazes? -- Era Rick. -- Você me chamou para isso, Yohanna.

A multidão toda começou a concordar e falar a mesma coisa uns dos outros: "mas você disse que iríamos..." "você me convidou pra..."

-- Aquele não é o cara dos cartazes? -- Alguém apontou. Umas meninas gritaram agudo, alguns caras comentaram, e todos concordaram. -- É ele, é ele!

-- O cabelo penteado não disfaçou, bro -- Brian disse.

-- Vamos embora, ou o metrô volta a andar -- Matt levantou, ajudou Yohanna a se levantar e saiu do metrô, logo seguido por toda a multidão.

Ao sair do vagão, perceberam outros vagões de esvaziando, e todas as pessoas os seguindo. Yohanna riu, Brian não parava de repetir "todos loucos" e Matt estava tão sério quanto nunca esteve antes. Sério, determinado e em pânico.

Os três amigos guiaram a multidão que crescia por ruas e ruas desconhecidas, dando voltas desnecessárias, guiados por Matt -- ele tentava desesperadamente despistar o grupão, mas uma hora acabou chegando na rua certa e travou na primeira casa.

-- Talvez pudéssemos tocar em outra casa, descobrir que não era ali, dizer "foi mal, galera" e todo mundo ia embora! -- Yohanna sugeriu.

-- Ou podíamos simplesmente mandar todos à merda. -- Brian se virou para a galera. -- VÃO TODOS À MERDA!

-- É ali -- Matt apontou para uma casa logo a frente. No jardim, uma bicicleta vermelha.

O trio de frente ficou em silêncio, todos olhando para a bicicleta. Matt sentiu o coração bater mais forte, os olhos sem piscar. Aos poucos, a multidão foi se tocando que havia algo errado e silenciou também.

De braços dados com Yohanna, sentindo o vento gelado do princípio de inverno, Matt caminhou em direção à bicicleta. O resto do grupo (incluindo Brian) ficou para trás, apenas olhando, mais atentos impossível.

Matt e Yohanna pararam em frente à porta. Viram a bicicleta amarrada a um toco, algumas flores plantadas na jardineira, uma janela aberta no segundo andar. Algo estava pendurado ali, e Matt tentava ao máximo identificar o que era: parecia uma pequena esfera metálica... esfera? meio amassada, talvez...

Yohanna prestava atenção em outra coisa. Havia arrancado um papel que estava colado na cerca, e olhava atentamente para ele, como que preocupada ou simplesmente espantada. Matt logo percebeu isso e olhou o papel também.

Havia um desenho feito às pressas: uma bicicleta vermelha na traseira de um carro da polícia. Sem dizer nada, Yohanna e Matt pensaram a mesma coisa, e Yohanna virou o papel. No verso havia um desenho muito mais bem feito. Nele havia um menino de cabelos cor de mel e camisa xadrês ao  lado de uma menina de camisola vermelha e cabelo estilo Amelie Poulain. Ela segurava uma flor; ele, um avião de papel.

-- Ah não -- Yohanna disse, sem piscar.

Em segundos, a multidão inteira os cercava e o silêncio deu espaço ao barulho de centenas de vozes misturadas. Entre "o que foi?", "o que está acontecendo?" e "por que eles pararam?", algumas pessoas gritavam "a polícia! a polícia encontrou a pessoa! E é uma menina!". Algus espiavam o desenho por cima do ombro de Yohanna e contavam aos outros, e logo todo mundo já sabia o que havia acontecido. Ninguém sabia quem era a menina, é claro; só Yohanna.

-- Deixa eu ver o outro lado de novo -- Matt disse.

-- Não -- Yohanna ainda não piscava. -- Não.

E então, a porta da casa abriu.

 

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Menina da Bicicleta Vermelha" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.